24.6.10

Só a camisa não bastou

Cannavaro: de imponente capitão do tetra a um apático capitão do fiasco italiano

Muito se falou que a Itália iria dar a volta por cima, porque, historicamente, a tetracampeã do mundo sempre começava mal o Mundial para depois ficar nas cabeças. Só que em outras campanhas em que a Itália começou mal e fez bom papel, havia um craque adormecido ou um jogador que poderia fazer a diferença em seu elenco: foi assim com Paolo Rossi em 1982, Roberto Baggio, em 1994 e Francesco Totti e Alessandro Del Piero, em 2006.

A Azzurra de 2010, tecnicamente, só oferecia um Pirlo – bom jogador, mas nunca um protagonista no Milan – que veio limitado por uma contusão. A aposta na envelhecida base tetracampeã em 2006 foi insuficiente e os campeões caíram precocemente, mas com justiça. O vexame se converteu na quarta vez em que o campeão mundial caiu ainda na primeira fase da Copa seguinte ao título conquistado (Itália de 1950, Brasil de 1966 e França de 2002)

Só vontade não bastou para um time com o peso da Itália. Resolveu acordar faltando 10 minutos para o fim de sua participação da Copa, diante de uma limitada, mas precisa Eslováquia. Que foi melhor durante quase todo o jogo, fez o placar e conseguiu uma classificação histórica em cima do frágil miolo de zaga italiano, principalmente pela debilidade de Fabio Cannavaro, que há quatro anos atingia seu esplendor técnico – coroado com o prêmio de melhor do mundo da Fifa. Contudo, o capitano de 2010 é apenas sombra do zagueiro vigoroso e técnico de outrora.

Muito contestado quatro anos após conduzir a Itália ao tetra, Lippi apostou nos velhos. É verdade que o futebol local pouco se renovou - a Inter foi campeã europeia sem um atleta italiano na decisão contra o Bayern. Ainda assim, deixou alguns dos poucos atletas que poderiam fazer alguma diferença de fora, como Antonio Cassano, Totti e Fabrizio Miccoli, por exemplo. E levou um elenco que deixou o Grupo F do Mundial na última colocação, atrás até do time "semi-profissional" da Nova Zelândia – de campanha surpreendente e que na rodada anterior havia segurado os italianos. Ao contrário de ingleses e alemães, que se classificaram no sufoco, a Azzurra simplesmente não tinha um time capaz de chegar à segunda fase, dado o futebol apresentado nas três partidas deste torneio.

Tanto se falou na entrada de três atacantes na partida decisiva contra os eslovacos. Lippi veio com a dupla Di Natale/Iaquinta, mas manteve um insosso Pepe como falso terceiro atacante/quarto homem do meio-campo. O problema é que o camisa sete já havia sido ineficiente nas duas primeiras partidas. A opção por Gattuso em lugar de Marchisio ajudou a engessar o meio-campo, completado por um inexistente Montolivo, teoricamente, o armador desta equipe. Tanto que a Itália ganhou mais dinâmica apenas quando Quagliarella foi a campo.

Mesmo com o resultado de Nova Zelândia e Paraguai favorecendo os tetracampeões, a Eslováquia começou melhor. O gol a 25 minutos - numa falha bisonha de De Rossi - desmontou a Itália, que queria passar a impressão de poder empatar a qualquer hora, fazendo uma partida pragmática, sem nenhuma criatividade no meio-campo e isolando a dupla de ataque entre os botinudos zagueiros adversários. A equipe acordou com o segundo gol de Vittek (que alcançou a artilharia da Copa ao lado de Higuaín, com três gols), que se postou cirurgicamente nas falhas do miolo de zaga italiana. Depois do revés, a camisa tetracampeã “assumiu o comando” e os italianos deram uma fagulha de esperança que tudo seria como em 1982 ou 1994. Não foi suficiente e a vergonha se consumou. A eliminação fez com que os dois finalistas da Copa de 2006 caíssem – cada um a seu modo – vergonhosamente.

África dos americanos

Com freio de mão puxado, o Paraguai não se esforçou para empatar sem gols com a Nova Zelândia e confirmou mais uma liderança na Copa do Mundo dos americanos. À exceção de Honduras (que ainda tem chances matemáticas, mas não deve se classificar), o continente já classificou seis equipes: Uruguai, México, Argentina, Estados Unidos, Brasil e Paraguai – sendo que o Brasil está a um empate do primeiro lugar e o México foi segundo colocado no Grupo A, onde os líderes foram os uruguaios. Nas partidas desta sexta, um empate basta ao Chile para garantir a ponta do Grupo H, da badalada (e ainda adormecida) Espanha, e coroar o ótimo desempenho das seleções do continente.

Mais do que nunca, o caminho parece pavimentado para um novo confronto Brasil e Holanda em Copas. Mesmo que a Espanha fique em segundo e cruze com a Seleção nas oitavas, esta parte do chaveamento é a mais simples até a final e por isso, os brasileiros precisam garantir a ponta diante dos portugueses. E fazer valer sua tradição na hora certa, ao contrário da Itália, que a convocou e contou tão e somente com ela desde o início deste Mundial, uma das chaves do seu fiasco.

2 comentários:

Vinicius Grissi disse...

De fato, a camisa não bastou à Itália. Uma participação ridícula dos atuais campeões. Por mais que não desse para esperar muita coisa deste time, ficar na lanterna de um grupo teoricamente fácil, foi demais.

Thiago Barretos disse...

Discordo de vc, qdo fala dos não-convocados de Lippi. Totti não queria mais atuar pela Azurra, enquanto que Cassano e Miccoli não são melhores nem mais eficientes do que os outros. Há outras ausências mais sentidas.
Como Grosso e Legrottaglie, que são pelo menos um pouco melhores que Criscito e Chiellini.
Agora, sacar o Marchísio e deixar o Pepe no time é sacanagem. Já o Montolivo só foi mto mal hoje.
O gde problema foi apostar nos limitados Di Natale e Iaquinta deixando Quagliarella no banco (teve chance de entrar somente hj).
No mais, é uma pena essa desclassificação, já que para quem gosta de ver bom futebol, este time da Eslováquia é horrível...