28.2.11

Argentina 1, Brasil 0

Enquanto os clubes brasileiros e as redes de televisão se degladiam para tentar chegar a um novo acordo de transmissão do Brasileirão no Triênio 2012-2014, o governo da Argentina anuncia uma medida, no mínimo, irônica e contrastante com a realidade de seus vizinhos e maiores rivais: a partir de 1º de março, o futebol da segunda e terceira divisões do país (Primera B Nacional, Primeira B e Torneo Argentino A, respectivamente) e outros esportes como rúgbi, boxe, basquete, vôlei e tênis serão transmitidos gratuitamente pelo Canal 7, de propriedade do governo, numa medida camada “Esporte para Todos”. Na prática, é a extensão do “Futebol para Todos”, vigente desde 2010 e que transmite todas as partidas do Torneio Clausura e Apertura do Campeonato Argentino gratuitamente, na TV aberta.

A presidente Cristina Kirchner garante que esse avanço para a “popularização do esporte” será pago tão e somente com propagandas comerciais, sendo que o subsídio não partirá diretamente dos cofres do governo (o que parece difícil de se acreditar). Participações argentinas em torneios mundiais, olímpicos e continentais serão transmitidas rotineiramente. Até mesmo competições que não envolvam argentinos, mas que sejam de grande relevância – como a próxima Copa América, que será sediada por eles, terá jogos transmitidos. "Ao 'Futebol para Todos' se soma o 'Esportes para Todos', para que todos possam desfrutar do esporte, todas as pessoas que não podiam ter acesso porque não tinham meios para isso", analisou a presidente.

O acordo firmado com os canais ESPN, Fox e Torneos y Competencias (do grupo Clarín) determina que os canais fechados terão direito a transmitir uma das partidas de determinado evento com exclusividade, enquanto as outras serão veiculadas pelo Canal 7 gratuitamente. Sempre respeitando o “artigo 77”, que listará os torneios relevantes a serem transmitidos com o sinal aberto, determinados com antecedência. Fechado na última quinta-feira, o acordo foi anunciado por Kirchner, ao lado de esportistas como o tenista David Nalbandian, o técnico da seleção argentina de futebol Sergio Batista, o ganhador do ouro olímpico no ciclismo Juan Curuchet, o presidente do Comitê Olímpico Argentino, Gerardo Werthein, e os ex-atletas Guillermo Vilas, Ubaldo Fillol e Agustín Pichot, entre outros de relevância no esporte local.

Naturalmente, as críticas da implantação desse programa passam pelo seu uso durante o período de eleições no país (que acontecerão em outubro de 2011) e a chamada política do “pão e circo”, ocultando outros problemas argentinos com a massiva transmissão de eventos esportivos, usando-os como palanque eleitoral.

Em uma situação diametralmente oposta ao Brasil, não seria correto afirmar que o subsídio das transmissões esportivas fosse uma solução correta ou viável por aqui – penso que o subsídio deve ocorrer com massividade na formação de novos atletas, em todas as modalidades, exceto futebol e vôlei, de mais estrutura, além da influência das grandes redes de TV. Mas a veiculação de diversas modalidades, apesar das críticas citadas, pode se reverter em um benefício relevante: o interesse do público no conhecimento e prática de outros esportes, como basquete, tênis e rúgbi, em que o país portenho é uma das referências mundiais.

Diferente de seus vizinhos, a medida terá algum benefício em favor da população, por mais questionáveis que sejam seus métodos ou fins. Já em terras tupiniquins, TVs e clubes discutem a forma de faturar ou se beneficiar mais, deixando aquele que faz boa parte do espetáculo ter algum sentido em segundo plano: o torcedor/telespectador. A transmissão do futebol no Brasil, em sua maioria, é massiva. Mas, segundo os interesses globais, sempre de forma regionalizada e visando tão e somente a audiência. Tanto que, se um clube carioca ou paulista não está na final de uma Libertadores, por exemplo, o telespectador desses estados é privado de ver times de outras regiões em campo, como aconteceu nas duas últimas edições – onde Cruzeiro e Inter decidiram o caneco continental. O torcedor vê todo o torneio, mas é privado da final, o suprassumo, que passa somente nos canais a cabo. Portanto, é ponto para nossos hermanos.

27.2.11

Prejuízo de quem?

Privatizar os lucros, socializar os prejuízos. Essa frase, muitas vezes citada para descrever a forma como são tocados grandes negócios brasileiros, sobretudo na indústria e nos grandes projetos de infraestrutura, se encaixa perfeitamente na forma de gestão da nossa grande confederação de futebol.

Ricardo Teixeira toca a CBF como se fosse uma empresa particular, fundada por ele e sem nenhuma responsabilidade perante órgãos governamentais. No poder desde 1989, Teixeira terminou seu quinto mandato a frente da organização e está garantido no posto até a Copa de 2014. Ele já superou inclusive a longevidade de seu ex-sogro, João Havelange, que dirigiu a entidade, na época ainda CBD, por 17 anos, entre 1958 e 1975.

Os lucros da CBF (provavelmente os do próprio Ricardo Teixeira) sempre foram colocados acima do bom senso na hora de decidir questões importantes como o melhor horário para o torcedor ir ao estádio/Melhor horário para não atrapalhar a novela da Globo, Número de partidas semanais/Integridade física dos jogadores, Habilidade do atleta/Preferência da patrocinadora.

Enquadrado pela CPI do futebol e pela CPI da CBF/Nike, Teixeira se mostrou incrivelmente influente, manipulando o corrupto parlamento brasileiro e saindo fortalecido de uma devassa que mostrou nepotismo, propina e apropriação de verbas para fins particulares. Há até quem diga que ele vendeu uma Copa, a de 98.

O que recebe esse sujeito como punição? Uma Copa do Mundo. E agora o estado brasileiro corre atrás de tornar realidade esse evento bilionário, gastando o dinheiro público ou emprestando a juros mais baixos que os do mercado, construindo grandes elefantes brancos, como os estádios de Manaus e Brasília. Qual será a parte de Ricardo Teixeira nisso tudo? Ninguém sabe, mas só sendo ingênuo para duvidar que seja muito.

Mais poderoso do que nunca, o presidente da CBF decidiu que pode inclusive mudar a história do esporte para atender aos interesses de seus acordos com os cartolas dos clubes confederados. Assim nos últimos meses títulos foram “reconhecidos” a granel enquanto a única associação que poderia fazer alguma oposição à CBF, o Clube dos 13, vai definhando. Senhor absoluto de seu feudo, Ricardo Teixeira transformou um dos maiores patrimônios de nosso país, o futebol, em uma empresa dos sonhos: quando vem o lucro, é dele; quando entram as despesas, é nosso.

P.S.: Não obstante todos os podres, Ricardo Teixeira fez uma importante contribuição para o mundo da dramaturgia emprestando seu rosto para o Zed da versão animada de MIB - Homens de Preto

25.2.11

Novo marco zero

*Redigido originalmente para a seção "Meninos ganham campeonatos", do Olheiros

Imagine um ídolo do seu clube. Visto como símbolo de uma era vitoriosa, é identificado, inclusive, com toda a cultura e tradição que o moldaram ao longo de mais de um século de vida. Recém-chegado à vida de técnico, nem mesmo o fato de possuir pouca experiência no banco de reservas inibiu a diretoria em chamá-lo para assumir a equipe principal. E, apenas um ano depois, esse profissional comanda uma equipe que venceu tudo o que disputou, acabando com um pequeno jejum de taças. Com cara de roteiro de filme, é assim que podemos resumir a trajetória de Josep Guardiola i Sala. Volante de rara técnica que brilhou nos anos 90 pelo Barcelona, Pep não imaginaria que pudesse alçar os blaugranas às glórias novamente, como já havia feito nos tempos em que envergava a camisa quatro.

Reverenciado como “modernista”, “revolucionário” e um confesso apreciador do futebol bem jogado, poucos sabem que o início de sua trajetória como treinador foi alicerçada, sob os mesmos moldes do time atual, no Barcelona B. Campeão da Tercera División de 2007/08 (equivalente à quarta divisão da Espanha), o comandante usaria algumas peças-chave desta conquista no aclamado time principal, como Sérgio Busquets, Pedro e Jeffrén, entre outros. O ambiente e o futebol criados por Guardiola na filial fizeram com que sua escolha para substituir o holandês Frank Rijkaard, desgastado no cargo, fosse tomada de forma unânime pelos cartolas. O resto é história.

“Guardi”, o autêntico culé

Catalão da pequena Sampedor, “Guardi” (apelido dos tempos escolares) começou no Gimnástic de Manresa. Numa das competições, seu time enfrentaria os jovens do Barcelona, do qual era torcedor, além de frequentador do Camp Nou. Relatos dizem que a paixão pelo clube de coração não fez com que jogasse bem e o Manresa perdeu o duelo. Ainda assim, os olheiros da base do Barça continuavam-no observando e logo o chamaram para integrar o time preparado para as canteras de La Masia (onde fica sediada a base do clube), em 1984.

Segundo reportou o jornalista e escritor britânico Phil Ball, radicado na Espanha, o então técnico do time principal, Johann Cruyff foi ao Mini Estadi – local onde a equipe B manda suas partidas –, e perguntou ao assistente Carles Rexach quem era o jovem magrelo no lado direito do campo, referindo-se a Guardiola. Após os elogios de Rexach à Pep, Cruyff pediu para que o deslocassem para o meio, como uma espécie de segundo volante. O jovem se adaptou à nova função e encantou o cético holandês na hora.

Em 1990, o meio-campista estreava profissionalmente. Com apenas 19 anos, sua liderança e visão de jogo em campo impressionavam. E a ascensão meteórica logo o levou a titularidade da equipe de Cruyff, que ficaria conhecida como Dream Team, ganhando quatro Ligas e uma Copa dos Campeões entre 1991 e 1996. Posteriormente, capitão na era Van Gaal, Guardiola não vivenciaria mais o ritmo de títulos do fim da década. E, em agosto de 2000, uma grave contusão deu início ao seu calvário. Uma série de outras lesões encerraria sua passagem pelo clube como o maior vencedor de ligas espanholas da história culé (seis, ao lado de Rexach) e o segundo maior vencedor de títulos oficiais (16, no total), ao fim de 379 partidas com a camisa blaugrana.

Fora da Catalunha, Guardiola peregrinou e pensou bastante antes de pendurar as chuteiras. Esteve em outros quatro clubes até parar definitivamente. Pela seleção espanhola, a medalha de ouro em Barcelona-92 foi seu ponto alto. Integrante da equipe da Copa de 1994, perdeu os dois mundiais seguintes por conta de lesões. No total, foram 47 partidas pela Fúria e cinco gols.

Caminho familiar

Estudando para a carreira de treinador e sem clube, o meio-campista resolveu se aposentar dos campos, em novembro de 2006. Oito meses depois, ele iria andar por caminhos mais do que conhecidos: o Barcelona o convidou para assumir a equipe B, recém-rebaixada à Tercera División, em julho de 2007.

A primeira experiência como treinador, porém, não apagou a sua forte personalidade, aliada à liderança. Mesmo com a equipe garantida à fase de playoffs há semanas antes do final da fase regional, o técnico fez questão de dizer ao time para não se acomodar com a vaga e buscar o primeiro lugar da chave. Foi o que o Barça B fez. E antes mesmo de garantir a vaga, a diretoria gostou do entusiasmo daquele elenco. Resolveu apostar no inexperiente Guardiola na equipe principal, em lugar do desgastado Frank Rijkaard no comando da equipe principal. Era como se Cruyff voltasse a apostar suas fichas no garoto de 1990, agora com 37 anos.

Pupilos de Guardiola garantem título do Grupo 5 da Tercera: campanha impressionou cartolas blaugranas

Antes da missão maior, porém, Guardiola tinha mais quatro jogos pela fase de playoffs à Segunda División B. E o time subiu com maestria, ao marcar nove gols e sair com sua meta ilesa. Na final contra o Barbastro, o Mini Estadi estava lotado com 10 mil pessoas. E os torcedores viam uma equipe compacta, com disciplina tática e que sabia marcar gols. Em sua primeira experiência como comandante, segundo o próprio site do Barcelona, o aproveitamento do agora comandante era "espantoso": em 36 jogos, 24 vitórias, sete empates e cinco derrotas, com média de 1,9 gols por partida. Estava lançada ali a semente para o segundo “Dream Team”, que superaria o time em que o então volante ostentava a camisa quatro, em relação ao número de taças e recordes batidos.

Outro legado de Pep é o excelente aproveitamento dos novos talentos da cantera de La Masia. Além dos já consagrados, como Victor Valdés, Piqué, Puyol, Iniesta, Xavi e Messi, Guardiola adicionou mais dois talentos da base como peças importantes deste elenco: Sérgio Busquets e Pedro. Enquanto o primeiro era o responsável por auxiliar a defesa e dar maior liberdade aos talentosos meio-campistas, o segundo se tornou uma espécie de “talismã”. Ambos estiveram no elenco da Espanha que se sagrou campeã mundial da Copa de 2010.

E mais de um time inteiro da base saboreou a oportunidade de atuar pela equipe de cima. Bartra, Botía, Muniesa, Fontàs, Busquets, Abraham, Xavi Torres, Thiago Alcântara, Jonathan dos Santos, Gai, Soriano e Jeffrén – quase todos eles estiveram sob as ordens de Pep em La Masia. Mal sabia Joan Laporta, presidente do Barcelona à época, que a decisão por “unanimidade” pela escolha por Guardiola, que recentemente ultrapassou a marca de 100 jogos pela equipe catalã, seria a mais acertada da sua gestão.

LEIA MAIS:
100 vezes Guardiola, do blog Quatro Tiempos

23.2.11

Tudo igual, tudo diferente

Finalmente, Fàbregas comemora vantagem inglesa contra o Barça: final diferente em 2011?

Esta fase de oitavas de final repetiu três confrontos do mata-mata da edição 2009/10 da Champions League: Arsenal x Barcelona (quartas), Lyon x Real Madrid (nas próprias oitavas) e Inter x Bayern de Munique, finalistas do último torneio. Com pouco menos de um ano para os reencontros, as situações mudaram bastante – em certos casos, se tornaram até opostas.

Na partida realizada na última quarta-feira no Emirates Stadium, o Arsenal esteve longe de impressionar contra o algoz Barcelona (que além de eliminá-los na última temporada, tiraram dos Gunners a única chance de título da Champions, na finalíssima de 2005/06). Porém, a boa vantagem conquistada em casa e o jogo de volta no Camp Nou – exatamente a ordem do ano passado – permitirão ao ainda jovem time comandado por Arsène Wenger que aprenda com os erros anteriores.

A defesa é o ponto mais preocupante, já que o incisivo Barcelona tem Pedro e Villa jogando “espetados”, convergindo para o centro da área, enquanto Messi faz às vezes de um falso centroavante. Municiados pelos seus excelentes meias e com a volúpia de Daniel Alves, pela direita, a retaguarda da equipe londrina passou apuros, principalmente na primeira etapa, perdendo por 1-0. Porém, os ingleses se aproveitaram de um branco do Barça (e de uma substituição estranha de Villa pelo volante Keita) para mostrar um surpreendente poder de reação e virar o placar em cinco minutos, levando a vantagem mínima para a Espanha. Porém, o Barcelona de Guardiola mostra que ficar apenas se defendendo pode ser fria. Com a vantagem do empate por até um gol em 2009/10, o Arsenal até saiu em vantagem no Camp Nou, mas sucumbiu ao envolvimento blaugrana e acabou massacrado por 4 a 1. Já os pupilos de Guardiola estarão desfalcados do pontual zagueiro Gerard Piqué. Mais do que nunca, a torcida culé é para que o capitão Puyol possa retornar à equipe: em 41 partidas do Barcelona nesta temporada, o defensor não atuou por 11 vezes e o time não venceu em seis delas (quatro derrotas e dois empates). Além das dúvidas na zaga, Xavi e Victor Valdés completam o departamento médico e ainda não têm presente confirmada para o duelo de volta. Os ingleses veem a sorte lhe sorrir, finalmente?

Contra o algoz do ano passado, o Real quebrou uma parte da maldição: marcou seu primeiro gol na casa do Lyon, onde ambos já haviam se enfrentado por duas vezes, antes da partida desta última terça-feira. O gol tardio (e achado) de Gomis deu uma pitada de drama ao maior campeão da história da Champions, que tenta acabar com um incômodo tabu que lhe perseguiu nas últimas seis edições, sendo eliminado justamente na fase de oitavas.

Porém, após um início animador de temporada, o Real de José Mourinho vem jogando o trivial e penando bastante contra equipes mais fechadas. Certamente, o astuto português usará o contra-ataque, que sabe armar como poucos, já que o empate sem gols no Santiago Bernabéu dá a vaga aos merengues. Resta saber se uma postura mais zelosa será adotada, como a de deixar o ofensivo lateral Marcelo no banco. Na frente, duas dúvidas: Özil ou Kaká e Adebayor ou Benzema. A experiência em Champions parece mostrar que as apostas no meia brasileiro e no atacante francês, para esta partida, parecem a melhor pedida. Um gol inaugural do OL, porém, pode por tudo a perder, como vimos nas últimas eliminações dos blancos. A volúpia em atacar e a tendência de Cristiano Ronaldo em “resolver tudo sozinho” nessas situações podem ser a perdição da equipe da capital espanhola. Filme repetido, nos últimos anos.

Mas nenhuma das repetições mudou tanto Inter e Bayern. A começar pelos alemães, que mantiveram a base vice-campeã. Mas diferente dos italianos, algo parece ser primordial: a mesma filosofia de jogo, já que o técnico Louis Van Gaal continua no comando da equipe bávara, enquanto os nerazzurri estão com o seu segundo treinador, após a saída do campeoníssimo Mourinho para o Real. Se o Inter foi uma equipe dominante naquela final de 22 de maio de 2010, em Madri, o Bayern não se intimidou por jogar a primeira partida destas oitavas no Giuseppe Meazza, nesta quarta-feira. Sem os irregulares e veteranos Demichelis na zaga e Butt na meta, a equipe alemã ganhou em vitalidade com o “faz-tudo” Luis Gustavo (brasileiro contratado recentemente junto ao Hoffenheim), a “eterna promessa” Breno na zaga e a jovem revelação Thomas Kraft, jovem goleiro da base do Bayern, de 22 anos. Com eles e com a velha categoria e eficiência de Arjen Robben, jogando em nível semelhante ao de 2010, a partida foi franca e os bávaros carimbaram por duas vezes as traves de Júlio César, além de abusar dos chutes de média e longa distância.

Do outro lado, o recém-chegado Leonardo deu gás à Inter, de péssima primeira metade desta temporada. Com Diego Milito se tratando de nova lesão (uma constante, depois que o argentino fez os dois gols e foi o herói do título europeu), Eto’o deixou de se sacrificar pelo time, como na Era Mourinho, para fazer o que sabe de melhor: ser a referência no ataque. Mas o camaronês e seus companheiros pararam na ótima jornada da revelação Kraft. E o frio Júlio César, de raras falhas, rebateu mal a bota chutada por Robben, que sobrou limpa para Mario Gomes deixar o Bayern em vantagem e a um passo da vingança, em seus domínios.

20.2.11

Quase fenomenais

Antes do clássico diante do Santos, neste último domingo, Ronaldo foi até o gramado do Estádio do Pacaembu para se despedir dos torcedores corinthianos e receber diversas homenagens por toda a sua brilhante carreira, recém-encerrada na última semana. Em diversas declarações e em sua própria camisa de despedida, o Fenômeno diz que aprendeu a amar o Timão, exaltando seus torcedores. Porém, se seguisse à risca aos desejos de seu coração, o atacante teria ido para o Flamengo, do qual é torcedor confesso, no final de 2008. Acabou optando pelo projeto do time de Parque São Jorge, mais ambicioso – e que inaugurou a tendência de voltas apoteóticas de grandes craques brasileiros do passado.

Operado de outra grave contusão no joelho, em fevereiro de 2008, o camisa 9 fez a parte final da recuperação na Gávea, chegando a envergar o uniforme de treinamento do Fla e se condicionando no rubro-negro. Com as declarações de amor e admirador do time, parecia natural que Ronaldo defendesse seu clube de coração. Mas o Flamengo não foi o único time que quase teve o Fenômeno em suas fileiras. Mesmo com todo o talento do jovem atacante, ele poderia ter estourado para o mundo bem longe de Belo Horizonte, onde surgiu com brilho no Cruzeiro.

Após dar seus primeiros chutes pelo São Cristóvão, Ronaldo tinha metade do seu passe ligada ao ex-jogador Jairzinho (conhecido como Furacão, campeão do Mundo e artilheiro da Copa de 1970), que o descobriu em 1989, em um torneio de futebol de salão realizado no Rio, levando-o aos Cadetes (alcunha do time carioca que o revelou). Em 1992, o ex-camisa sete da seleção ofereceu a revelação ao recém-fundado Paraná Clube. Por 50% de seus direitos, os paranistas desembolsariam cerca de R$ 150 mil. Mas os diretores não “pagaram para ver”, considerando tal aposta muito alta para um franzino garoto de 16 anos, de acordo com o site Parana Online.

Porém, não foi só o Paraná que deixou o Fenômeno escapar. Na busca incessante de um clube para seu pupilo, Jairzinho também ofereceu o atacante ao São Paulo de Telê Santana, no início de 1993. Porém, o vitorioso técnico, responsável pela resposta final, estava na Europa, curtindo merecidas férias após o recém-conquistado primeiro campeonato mundial do Tricolor, como mostra reportagem de época do jornal Estado de S. Paulo. Sem a resposta final do comandante (que tinha olho clínico para jovens talentos, vide o sucesso do “Expressinho”, em 1994), Ronaldo acabaria comprado pelo Cruzeiro no mesmo ano, por R$ 250 mil

Antes de arrebentar no Brasileirão daquele ano, com 12 gols, o então garoto se juntou ao elenco profissional da Raposa que excursionou pela Europa. Particularmente, impressionou a muitos em Portugal, em série de amistosos com clubes locais. E no empate entre Benfica e Cruzeiro, em agosto e 1993, o então técnico dos encarnados Jesualdo Ferreira só fala do garoto. Entrava em campo, novamente, o destino. A sondagem feita junto à direção do clube mineiro revelou que o atacante poderia ser do Benfica por dois milhões de dólares. Mas os portugueses atravessavam grave crise financeira – inclusive, com rescisões por atraso de salários – e não tinham o dinheiro. Quando voltaram à carga por ele, Ronaldo já havia sido negociado com o PSV, em 1994, por seis milhões (valorização de 300%!). “Era impossível não ficar admirado. Tinha uma mobilidade e uma potência anormais para um miúdo de 16 anos. Em poucos minutos deu para projetar um grande futuro”, declarou o técnico ao site Maisfutebol.

Profissionalmente, Ronaldo atuou por apenas sete clubes em uma carreira de 18 anos. Mesmo com sua trajetória podendo ser escrita com outros personagens ou enredo, parece consenso que, desde jovem, tratava-se de um grande talento. E sua história corroborou uma trajetória fenomenal.

17.2.11

Definição de Fenômeno

Sem entrar no mérito do momento em que resolveu parar ou seu respectivo motivo (como fez o Arthur, no post abaixo), a aposentadoria de Ronaldo encerra uma era. Aos nascidos na primeira metade da década de 80, o atacante foi o primeiro fora de série que teve sua carreira acompanhada integralmente. Desde a rápida aparição no Cruzeiro, no Brasileirão de 1993, até a disputada coletiva de adeus, nesta semana. Fase do PSV à parte, pela pouca expressividade da Eredivisie, todos acompanharam sua capacidade arrebatadora em Barcelona, Inter, Real Madrid, Milan e Corinthians. E, com maior interesse, na Seleção Brasileira, da qual é o segundo maior goleador da história. Perde somente para Pelé, o maior de todos.

Poucos sabem dos feitos de Charles Miller, o difusor do futebol no Brasil; menos ainda sobre Arthur Friedenreich, mulato com sobrenome germânico e primeiro grande goleador do futebol nacional; alguns outros sabem sobre o primeiro craque midiático, Leônidas da Silva, artilheiro, inventor da bicicleta e inspirador de um chocolate, famoso até hoje; o duo Garrincha-Pelé, gênios da era em que se popularizou o vídeotape e, por consequência, suas jogadas se imortalizaram em nossas memórias; Zico, o último grande craque a fazer carreira somente dentro do futebol tupiniquim, mas que encerrou a carreira no início da década de 90 – justamente, na época de surgimento de Ronaldo.

Primeiro craque "multimídia", Ronaldo mostrou-se inteligente além das quatro linhas. Exatamente por saber se aproveitar desses recursos, como um dos nichos de evolução dos bastidores do esporte bretão (cerca de 300 jornalistas estavam no CT do Corinthians, no dia do anúncio do craque). É a força de um Fenômeno, craque do nosso (neste caso, do meu) tempo. Mas que, seguramente está na listagem dos maiores da história. Ao lado de contemporâneos como Zidane e Romário, de antecessores, como Zico, Maradona e Platini, e inspiradores eternos, como Pelé, Garrincha, Di Stéfano, Puskás, Gerd Miller e tantos outros. E inspirador de aspirantes ao seleto grupo de imortais, como Messi, Cristiano Ronaldo, Kaká e outros craques atuais.

Segundo definição do dicionário Michaelis, Fenômeno é:
fe.nô.me.no
sm (gr phainómenon) 1 Qualquer manifestação ou aparição material ou espiritual. 2 Tudo o que pode ser percebido pelos sentidos ou pela consciência. 3 Fato de natureza moral ou social regido por leis especiais. 4 Tudo o que é raro e surpreendente. 5 Maravilha. 6 Pessoa que se distingue por algum dote extraordinário.

Porém, personalidades do futebol usam outras palavras, além das "oficiais", para tentar explicar esse amálgama entre Ronaldo e Fenômeno:

"Eu fico feliz de ter visto um golaço do Ronaldo, que maravilha. Faz mesmo a diferença. É um jogador que tem um aproveitamento muito grande. De todas as bolas, 99% ele mete para dentro. Então é um jogador que não pode ter a bola no pé. Tem que cuidado com ele" (Pelé, o Rei)

"Foi o melhor de sua geração. Era um jogador magnífico que podia fazer coisas difíceis de se imaginar. Tinha uma facilidade de transformar uma não tão clara chance de gol em um tento incrível" (Zinedine Zidane, ex-jogador)

"Desde que tinha 12 ou 13 anos sonhava em conhecê-lo. Ainda não acredito. É um jogador incrível, o maior de todos os tempos." (Karim Benzema, atacante do Real Madrid)

"É um dia triste para o futebol, porque o Ronaldo anunciou a sua retirada. Foi o melhor jogador que vi numa temporada completa: 96/97." (Cesc Fabregas, meia do Arsenal)

"Não estamos falando de qualquer jogador, falamos de um dos maiores jogadores que o futebol já conheceu, entre os cinco maiores de todos os tempos." (Carlos Alberto Parreira, técnico)

"Eu gostaria de ter jogado com ele, porque o deixaria na cara do gol toda hora. Ele está sempre bem posicionado para receber a bola. Ele pensa muito rápido, e isso é fundamental para um jogador. Foi um dos maiores que eu vi jogar. Não foi à toa que conseguiu ser individualmente várias vezes o melhor do mundo." (Zico, ex-jogador)

"Eu marquei Zidane, marquei Maradona e mais ou menos, consegui controlar, mas Ronaldo, sinceramente, não deu. Foi o jogador mais extraordinário com quem eu tive junto jogando contra e a favor." (Mauro Silva, ex-jogador)

"Um dos melhores jogadores que já atuaram. As contusões o impediram de ser o melhor da história. Vamos fazer um minuto de silêncio." (Rio Ferdinand, zagueiro do Manchester United)

"Ronaldo ficará para sempre na história do futebol e nos olhos das pessoas que amam esse esporte, independentemente da cor de suas camisas, de sua torcida e suas bandeiras."(Alessandro Del Piero, atacante da Juventus)

"Ronaldo era magro e forte, mas tão rápido quanto um corredor olímpico e alguns gols que ele marcou me fizeram balançar a cabeça em descrença." (Bobby Robson, técnico do Fenômeno à época do Barcelona)

"Estou ligeiramente entristecido pela ideia de não ver mais Ronaldo num campo de futebol porque eu o considero o maior centroavante da história." (Massimo Moratti, presidente da Inter)

"Lembro dos tempos de Romário e depois Ronaldo, que é um dos melhores de todos os tempos. É o jogador mais completo da história." (Ibrahimovic, atacante do Milan)

"Um velho adversário se despede de um amigo" (Capa do diário argentino Olé, no dia seguinte à aposentadoria de Ronaldo)

14.2.11

Um gênio e ídolo que deixa o futebol

Ronaldo leva os filhos para dizer adeus ao futebol

Ronaldo Nazário de Lima, o Fenômeno, anunciou nesta segunda-feira a sua aposentadoria do futebol. Segundo o agora ex-jogador, o corpo não aguenta mais as dores. O excesso de peso é outro problema que o acompanha já alguns anos e do qual ele não consegue se livrar. Simplesmente um gênio, um dos maiores de todos os tempos, tanto na bola quanto no carisma, Ronaldo deixa os campos, os torcedores e todos aqueles que gostam e apreciam o futebol mais tristes e órfãos de um grande craque.

Três vezes eleito o melhor do mundo e maior artilheiro da história das Copas com 15 gols, exemplo de superação, é desnecessário elencar aqui seus feitos e histórias durante sua carreira. Isso pode ser encontrado em qualquer lugar do Brasil e do mundo. Vou então dar a minha opinião sobre a despedida do craque.

Acredito que parou um pouco depois do que deveria. Já no ano passado já estava ficando claro que o atacante não conseguia manter o excelente nível - o que se espera de um dos maiores craques da história -, por causa dos problemas físicos. Acredito que não parou antes por causa da obsessão do Corinthians pela Libertadores. Acabou passando por uma situação que não precisava depois da eliminação do clube na competição deste ano pelo Tolima. Não que as críticas fossem injustas - ele não vinha jogando bem -, mas por sua história. Por isso que poderia ter parado antes.

Acabou juntando tudo o que precisava para ele parar. As dores insuportáveis, as longas viagens e concentrações, a falta de motivação, pelo futebol em si e pela eliminação e fim do sonho corintiano na Libertadores, o rótulo de responsável pela queda e a cobrança da torcida. É triste que saia num momento conturbado, por baixo. Talvez pudesse esperar o fim do Campeonato Paulista, esperar a poeira baixar para preparar um jogo oficial de despedida, ou até mesmo fazer o último gol. Mas também poderia ser pior. Sempre dizemos que um atleta deve parar por cima - mas, se isso não é possível, é melhor encerrar a carreira antes que piore.

Para nós fica, com toda a certeza, a tristeza pela aposentadoria de um grande ídolo! Ronaldo briga palmo a palmo com Zidane pelo posto de maior jogador que já vi jogar - e creio que essa é a opinião da maioria da minha "geração", nascida na década de 80. Um gênio que certamente deixa o futebol menos "bom" e mais brucutu. A um dos maiores da história, só nos resta dizer "obrigado Ronaldo!".

10.2.11

Mais valia

Mano Menezes acumula sua segunda derrota seguida no cargo da seleção brasileira (em cinco partidas), após a derrota para a França, nesta última quarta, em Paris. Certamente, a expulsão de Hernanes – por falta violenta e desnecessária em Benzema, ainda na primeira etapa, na qual foi superior durante a primeira parte do jogo – teve peso direto neste novo revés diante dos nossos algozes. É importante vencer sempre, sob qualquer circunstância. Porém, neste momento de experimentações, a derrota é longe de ser catastrófica, ainda mais contra duas equipes da elite do futebol mundial (além da França, a Argentina, também pelo placar mínimo).

Historicamente, não me recordo de uma sequência de amistosos contra equipes de tão alto nível, como faz o Brasil de Mano. Além de Argentina e França, as próximas partidas amistosas serão contra a Holanda (em junho) e diante da Alemanha (em agosto), com a disputa da Copa América entre elas. É o período que marcará a primeira análise mais crítica ao trabalho do sucessor de Dunga, já que ele terá montado uma base, sem tantas variações de atletas – principalmente no meio-campo.

Como parâmetro, podemos analisar o início da trajetória de Dunga à frente da seleção: o ex-treinador só conheceria sua primeira derrota no sétimo jogo, contra Portugal, em Londres, em fevereiro de 2007. Até o primeiro revés, uma vitória significativa sobre a Argentina, em setembro de 2006 (3 a 0, em Londres). E adversários batidos da estirpe de País de Gales, Kuwait, Suíça e o doméstico Equador – além de um empate contra a Noruega, na estréia. Mano havia comandado a seleção nas vitórias contra os medianos Estados Unidos e Ucrânia, além de bater o frágil Irã.

A mentalidade de enfrentar grandes seleções é válida, já que no pós-Copa América, o Brasil não terá seu “laboratório” para testes nas Eliminatórias, já que é o país anfitrião para 2014. Quanto mais testes de qualidade, melhor para tentar se corrigir pontos falhos. Contra a França, dois problemas crônicos: falta de confiabilidade na lateral-esquerda, com André Santos avançando timidamente e marcando mal, e falhas no setor de criação. O debutante Renato Augusto esteve sumido e a expulsão de Hernanes dificultou as coisas, já que Lucas ficou mais fixo na marcação e Elias não mostrou eficiência na transição ao ataque (algo aperfeiçoado durante a estadia de Mano no Corinthians).

Mesmo já tendo questionado aqui alguns nomes convocados pelo técnico, à época da convocação para este amistoso, Mano segue no caminho certo: o de testar. Porém, ainda acho que ele se deixa levar por algumas cadeiras cativas (a “intocabilidade” excessiva de Robinho é uma delas). Além das experiências, jogadores como Kaká, Ganso (quando estiverem 100%) e Neymar devem se tornar caras frequentes nas listas. E outros poderão surgir dentro do próprio futebol nacional, praticamente ignorado por Dunga em sua gestão. Neste momento, vale mais tropeçar diante de seleções de porte do que ganhar amistosos caça-níqueis, diante de equipes inexpressivas. E esconder evidentes falhas, como muito já se fez na história do Brasil.

Seis primeiros jogos de Dunga à frente da seleção: Noruega (E), Argentina (V), Paíse de Gales (V), Kuwait (V), Equador (V) e Suíça (V)
Seis primeiros jogos de Mano Menezes à frente da seleção: Estados Unidos (V), Irã (V), Ucrânia (V), Argentina (D), França (D) e Holanda (junho de 2011)

8.2.11

À espera do matador

Ainda é começo de temporada para o Trio de Ferro da capital paulistana. Como não podia deixar de ser, os ajustes ainda estão no início. Ainda assim, foram fatais ao Corinthians, que perdeu sua vaga na fase de grupos da Libertadores por conta de seus maiores problemas: a falta de gols (nas partidas contra o Tolima, o goleiro Silva não foi vazado). Porém, a situação dos rivais não é tão melhor que a do Timão. O ataque é pouco efetivo, analisando friamente o setor de cada um deles.

Dentre os três, indiscutivelmente, o maior nome é de Ronaldo. Mas atualmente, o camisa nove alvinegro vive exatamente disso: seu nome – escrito com toda a justiça no rol dos maiores atacantes da história do futebol. O veterano atacante ainda se escora no primeiro semestre de 2009, onde foi decisivo nos títulos da Copa do Brasil e do Paulistão. Porém, desde então, vemos fagulhas de futebol e polêmica aos montes. A falta de forma ficara cada dia mais evidente. Ainda assim, em 2010, o Corinthians não passou por pouco, diante do Flamengo. Jogo em que o Fenômeno chamou a responsabilidade e participou dos dois gols. A saída de Elias e a má forma recente de Bruno César (aliás, o artilheiro do time no Brasileirão de 2010, com 14 gols), porém, escancararam a maior deficiência de Ronaldo: ele precisa de um escudeiro, para lhe servir a bola ou dar opção de boas jogadas. Contra o Tolima, o nove alvinegro era, literalmente, um peso morto. Jorge Henrique lutava, mas não era o goleador que poderia resolver. Dentinho, apático, se escondia entre os laterais que o arcavam nos flancos. No banco, Edno jogava menos do que no meio-campo e nada fazia. Deu no que deu.

O Palmeiras tem um goleador nato. Técnico, habilidoso. E esquentado. Artilheiro do atual líder do estadual (quatro gols, dos 11 marcados), Kléber sofre com a falta de um armador de qualidade. Valdívia era a esperança, mas vive às turras com o departamento médico. O sonho da chegada do excelente Alex caiu por terra, já que o ex-ídolo do Verdão anunciou, há poucos dias atrás, sua renovação de contrato com o Fenerbahce por mais dois anos. A vinda do polêmico Ronaldinho também falhou. Enquanto isso, Felipão se vira com os volantes Tinga e Marcos Assunção, longe de terem características de armadores. Espécie de talismã, o rápido Patrik mostra qualidade, mas ainda não conquistou a confiança de Felipão. Parceiros de ataque do Gladiador, jogadores como Luan (que, aos poucos, vem crescendo de produção) e as incógnitas Dinei, Adriano “Michael Jackson” e Max Santos (ex-Pardalzinho) ainda não estão à altura de Kleber. Mas o futebol solidário e os resultados magros vêm suprindo tal deficiência.

Uma das discussões recentes no São Paulo era a do centroavante titular. Em uma época, Adriano e Borges brigavam pelo posto. Depois, o veterano Washingotn veio como solução e teve um início proveitoso. Contudo, cairia na desgraça do torcedor tricolor, que não perdoava suas “dominadas de canela” e a escassez de gols. E desde então, a posição anda “esquecida” no Morumbi. Carpegiani assumiu o time, que subiu de produção. Inclusive Dagoberto, que caminhava para tentar reeditar seus velhos dias de Atlético-PR, escassos pelo São Paulo. Mas um entrevero com o treinador pode ter posto tudo a perder. Apesar da qualidade, Rivaldo não é solução, neste caso. Tanto que, dos treze gols anotados até aqui, tem oito marcadores distintos. Dagoberto, ainda titular, tem três, seguido de perto pelos reservas Marlos e Marcelinho Paraíba, além do goleiro-artilheiro Rogério, com dois.

A esperança, no caso dos rivais, reside no futuro próximo. Apresentado nesta última terça-feira, Liédson, apesar dos 33 anos, mostrou boa forma durante sua estadia no Sporting. E em menor escala, os episódios de violência dos “torcedores” no CT do Timão podem despertar de vez a vontade de Ronaldo em jogar. Mas as chances parecem cada vez mais remotas para o Fenômeno, dado o último ano e meio de carreira.

O São Paulo confia nas revelações. No Sul-Americano Sub-20, William José (recém-contratado) vem mostrando alguma qualidade e pode evoluir. Ainda há Henrique, grande promessa da base de Cotia que demora mais do que o esperado para estourar. E, na teoria, o Palmeiras tem seu artilheiro engatilhado. Maikon Leite, há poucos meses do fim do vínculo com o Santos e um dos artilheiros deste Paulistão (seis gols, ao lado de Elano), cairia como uma luva ao lado de Kléber. Porém, nem o pré-contrato poderia garantir sua chegada ao Palestra Itália, no final deste mês de junho, uma vez que o bom começo animou o Santos a demovê-lo da ideia de trocar de camisa. Uma nova novela para os torcedores do Verdão, desgastados com o caso Ronaldinho, de final infeliz.

2.2.11

Para quebrar a banca

Coincidência ou não, no mesmo dia em que anunciou seu primeiro superávit desde a compra por Roman Abramovich (por 70 milhões de libras, mais pagamentos de dívidas de 90 milhões), o Chelsea resolveu apostar todas as suas fichas para a recuperação nesta Premier League e principalmente, na busca pela Champions League – maior obsessão desde que o clube passou às mãos do mecenas russo. Duas contratações cruciais para sanar os problemas da equipe comandada por Carlo Ancelotti, o atacante Fernando Torres e o zagueiro David Luiz, juntos, custaram impressionantes 73 milhões de libras. Para se ter uma ideia, somente o valor dessas duas transferências corresponde a pouco mais de 10% de todo o dinheiro usado pelo bilionário Abramovich em contratações, desde que oficializou a aquisição do clube londrino, em 2003 (investia no clube desde 2000): 700 milhões de libras.

Dono do maior "flop" do futebol mundial – a vinda de Shevchenko, junto ao Milan, por 46 milhões de euros –, o Chelsea havia "sossegado" no mercado das contratações bombásticas, acabando por manter várias de suas estrelas, contratando alguns bons jogadores e tentando investir um pouco mais em jovens talentos a serem lapidados em sua base (Mancienne, Kakuta, Di Santo, Bruma). Porém, o time acabou envelhecendo, nenhuma grande promessa foi puxada para o time de cima e o clube viu o Manchester United voltar ao topo do futebol dentro da Inglaterra e da própria Europa. A tríplice coroa de 2009/10 (Inglês, Copa da Inglaterra e Copa da Liga) mostrava uma base ainda respeitável. Mas a saída do zagueiro Ricardo Carvalho, as contusões que assolaram o elenco e o "isolamento" de Drogba como único fazedor de gols (Anelka mostra irregularidades e Kalou não é de confiança) fez o time perder terreno novamente nesta temporada: Manchester United e City, Arsenal e até o Tottenham vêm mostrando futebol mais consistente. E no último dia de janela, era hora de sacudir a ilha.

Torres e Drogba são goleadores, possuem técnica e podem, perfeitamente, causarem estragos. Mesmo com bom porte físico, não são atacantes de movimentação previsível. Em suma, uma dupla respeitável. Atrás, o promissor David Luiz, já integrante do renovado brasil de Mano Menezes, deve formar dupla com Terry (que não vinha atuando 100% fisicamente há tempos), além do suporte do brasileiro Alex, em fase final de recuperação. Mas o investimento, como qualquer outro, possui riscos. E consideravelmente grandes. De passagem consistente pelo Liverpool (142 partidas e 81 gols, cerca de 0,58 gol/jogo), na sua temporada de estreia pelos Reds, o camisa 9 anotou 30 vezes em 41 presenças, em 2007/08. Porém, no último ano e meio em Merseyside, conviveu com uma fase irregular e seguidas lesões. Decisivo na final da Euro 2008, com o gol do título espanhol, "El Niño" já não brilhara tanto pela Fúria. Foram apenas cinco gols em 18 partidas neste ano. Mas a médida no clube continuava boa. Porém, o desempenho pelo Liverpool também registou queda. Na Copa do Mundo de 2010, não mostrou a mesma estrela, perdeu a posição e também ficou fora de diversos jogos da sua equipe. Nesta temporada, foram apenas 12 bolas na rede, em 29 presenças (pelos Reds, 9 gols em 22 jogos da Premier League). Contudo, os 26 anos do espanhol mostram que ele pode chegar ao auge em breve.

David Luiz ainda é jovem. E ao contrário de Torres, é seu primeiro desafio em uma liga de primeiro escalão (a melhor da atualidade, na minha visão). E o exemplo pode ser seu próprio ex-companheiro de Benfica, o meio-campo Ramires: contratado no início desta temporada, por 22 milhões de euros, o ex-cruzeirense vinha de excelentes temporadas com a camisa encarnada. Contudo, mesmo com o tato apurado de Ancelotti para com os brasileiros, o camisa 7 demorou para embalar. Só agora, pouco depois da metade de 2010/11, o brasileiro começa a reeditar suas boas jornadas pelo Chelsea.

Há dez pontos do ainda invicto e líder Manchester United, na Premier League, a cartada principal deverá ser a rápida inclusão de ambos no esquema tático do técnico italiano para a fase mata-mata da cobiçada Champions. A chegada à zona de classificação do torneio continental para a próxima temporada deve ser mesclada a uma espécie de laboratório, para que os reforços possam se integrar nos afunilamentos do torneio europeu. E ajudar o Chelsea a chegar longe, o mais rápido possível. Ainda assim, a aposta é a médio prazo. Mas a jogada foi alta e ousada.