23.1.07

Mister Juventus

Del Piero recebe homenagem da Juventus no jogo de sábado, 20/01, na partida contra o Bari, a de número 500 com a camisa bianconera.

Na história contemporânea da Juventus é contada a carreira de Alessandro Del Piero. Há 14 temporadas ostentando a camisa bianconera, o habilidoso meia-atacante italiano não se sente acanhado ao declarar amor incondicional pela equipe alvinegra de Turim. Essa espécie de “perpetuação” do jogador com o clube, algo impensável no seio de um futebol globalizado e cada vez mais profissional, não é algo incomum nos times italianos. Além de Del Piero na Juventus, temos os casos de Paolo Maldini no Milan, Javier Zanetti na Inter e de Francesco Totti na Roma.
Na vitória deste sábado da Juventus sobre o Bari (4 a 2 pela Série B italiana), além do bom resultado que garantiu a liderança para a Vecchia Signora, Del Piero teve outro motivo pra comemorar: completava o seu jogo de número 500 com a camisa bianconera. Homenageado antes da partida com um carro e a réplica de uma placa “ALE 500”, referente aos 500 jogos pela Juve, os presenteados foram os torcedores bianconeros – na partida, Del Piero marcou um e deu assistência para outros dois gols. Vamos contar um pouco mais sobre essa história, contada até aqui por 500 jogos e 204 gols, que fazem de Alex o maior artilheiro da história do clube.

Início de Carreira

Nascido em Conegliano, filho de Bruna e Gino Del Piero, cresceu no meio rural, praticando o futebol com alguns amigos de infância. Começou a carreira pela equipe local do San Vendemiano, mas aos 16 anos foi contratado pelo Padova, que atuava na Série B italiana. Franzino, habilidoso e com uma excelente visão de jogo, faz com que sua estréia pela equipe profissional do Padova acontecesse com apenas 16 anos, em 1991. Entre 1991 e 1993 ele ficou transitando entre o time juvenil e o principal. No total, foram 14 jogos pela equipe principal do Padova, com um gol anotado. Na época de sua chegada ao Padova, o treinador da equipe Mauro Sandreani afirmava que ver Del Piero jogar era como apreciar uma “obra de arte”. O promissor futebol de Alex chamou a atenção da Juventus, que tratou de contratá-lo rapidamente, mediante o interesse de outras equipes italianas nele, dentre elas, o Milan.

Na Juventus

A estréia de Del Piero pela Juventus aconteceu no dia 12 de setembro de 1993, no empate contra o Foggia em 1 a 1, quando ele substituiu ao famoso atacante bianconero Fabrizio Ravanelli. E marcaria o primeiro de seus 204 gols pela Juve na rodada seguinte, na vitória de 4 a 0 sobre a Reggina. O jovem Alex, com cinco gols, fez parte do elenco que vice-campeão da temporada de 1993/94. Mas o melhor estava por vir, com a chegada do treinador Marcello Lippi ao clube. Apesar do crescimento, Del Piero ainda era coadjuvante na equipe, e cogitou-se seu empréstimo ao Parma, para que dessa forma pudesse ganhar mais oportunidades de atuar e experiência. Mas Lippi fez questão da permanência de Del Piero no elenco bianconero.

A Era Lippi, como ficou conhecido o período entre 1994 e 1999, além de formar um dos elencos mais vencedores da Itália, colocou o ascendente Del Piero ao lado de grandes jogadores da época, como Gianlucca Vialli e Roberto Baggio. Eles ajudaram a conquistar, na temporada seguinte, o scudetto – o último havia sido durante a temporada 1984/85. O presidente da Juve na época, Gianni Agnelli, deu ao meia o apelido de Pinturicchio, famoso pintor renascentista do século XV. Afirmava que a relação entre Del Piero e Baggio era semelhantes a dos artistas Pinturrichio e Caravaggio na pintura renascentista do século XV, ou seja, entre pupilo e mestre. Mas durante a campanha, Del Piero ganhou mais espaço na equipe, atuando mais que o cerebral Baggio durante a temporada, pois o experiente meia italiano ficou fora dos jogos por conta de uma contusão. Alex anotou 10 gols em 50 partidas, dando seu primeiro passo concreto rumo ao estrelato no futebol. Era o pupilo começando a ocupar o espaço do mestre no coração da equipe.

Recuperado, Baggio não conseguiria recuperar o espaço deixado por ele e por isso, deixou o clube. Com isso, Del Piero, então com apenas 20 anos, assumiu a parte de criação da Juve e ficou responsável por municiar os atacantes Vialli e Ravanelli. E foi o que aconteceu. Numa temporada mágica, a Juve conquistou o bicampeonato do Cálcio e a Copa da Itália, sob a batuta de Alex – 32 jogos, sete gols. Mas a Itália não era o limite para a Juventus de Del Piero e Lippi. A equipe ia muito bem na Liga dos Campeões daquela temporada. Após eliminar Real Madrid e Nantes, a Vecchia Signora de Del Piero fazia a final da Copa dos Campeões da temporada 1995/96 com a fabulosa equipe do Ajax, que contava com jogadores do quilate de Van der Sar, os irmãos Frank e Ronald de Boer, Kanu e Litmanen. A grande final, disputada em Roma, acabou empatada em 1 a 1 e a Juve levou o caneco nos pênaltis. E para fechar com chave de ouro, Del Piero garantiu o título do Mundial Interclubes, ao marcar o gol da vitória na final sobre o River Plate, em Tóquio. Nessa temporada, nasceu o “gol à la Del Piero”, onde a bola é chutada da esquerda e descreve uma parábola fantástica rumo ao ângulo direito da meta. Decididamente, foi a temporada de afirmação de Alex na Juve.

Alex foi o quarto colocado do prêmio Bola de Ouro (96 e 97) e chegou a um patamar incrível na temporada 1997/98: marcou 21 gols em 32 jogos pelo Calcio e 10 gols em 10 jogos na Liga dos Campeões, a qual ele terminou como artilheiro da competição. Nesse mesmo ano, formou o chamado “tridente”, o ataque formado por ele e Filippo Inzaghi, além de Zidane na meia.

Mas o prenúncio de dias difíceis viria para Alex a partir de uma denúncia do técnico tcheco Zdenek Zeman (na época treinador da Roma), de que jogadores da Juventus – entre eles, Del Piero – de terem tomado substâncias irregulares e dopantes com o objetivo de ganharem massa muscular. O caso arrastou-se até a Corte de Turim e a Corte Internacional do Esporte, que inocentaram os jogadores e profissionais responsáveis pela preparação física do time.

Após o imbróglio, veio a contusão mais grave de toda a sua carreira. Em 8 de novembro de 1998, durante partida da Juventus contra a Udinese, Del Piero rompeu os ligamentos cruzados do joelho, o que o obrigou a parar por cerca de nove meses. Na temporada seguinte, Alex só atuou em 14 jogos, anotando três gols. Mesmo recuperado, era evidente que ele precisaria de toda a paciência possível, pois seu jogo e sua velocidade não eram as mesmas de antes da contusão. A saída de Marcello Lippi do comando técnico da Juventus coincidiu com esse período de recuperação de Alex. Apesar da enorme confiança depositada nele pelo novo treinador, Carlo Ancellotti, Alex não conseguia ser constante em campo. Agora adaptado definitivamente a função de atacante, havia marcado 12 gols em 45 partidas, pouco perto da capacidade real de seu futebol.

A volta de Lippi, em 2001, fez renascer toda sua capacidade técnica. Como capitão da equipe e atuando ao lado de Nedved e Trezeguet, Del Piero fez boas temporadas após a lesão no joelho. Entre 2001 e 2003, conquistou dois scudettos e conquistou seu segundo vice na Liga dos Campeões, quando a Juventus foi batida pelo Milan, na temporada 2003/04, nos pênaltis (o primeiro vice foi na final de 1997/98, contra o Real Madrid).

Mesmo perdendo espaço no time, Del Piero exercia uma liderança natural sobre o elenco. A presença cada vez mais constante de Alex na reserva não fez com que ele deixasse de lado o profissionalismo e principalmente, a paixão pela Juve. E mesmo não sendo o principal protagonista em campo, ele sempre dava um jeito de decidir as partidas. Entrava bem e quase sempre mudava a cara do time. Nos scudettos caçados pelo escândalo do Calciocaos (2004/05 – 2005/06), que manipulava entre outras coisas resultados e transações entre clubes da Série A do Campeonato Italiano, Del Piero teve papel importante, mesmo não sendo a principal estrela dentro de campo.

A queda da Juventus para a Série B, por conta dos escândalos no futebol italiano, marcou a debandada de vários jogadores do elenco campeão para fora da Juve. Especulava-se até a saída do próprio Del Piero, que optou por ficar em Turim para trazer a Vecchia Signora de volta à divisão de elite do futebol italiano. Ato esse considerado pelos torcedores do clube como a maior prova do amor de Del Piero pelos torcedores e pelo clube bianconero.
E 2006, apesar da queda do seu clube de coração, foi um excelente ano para Alex. No dia 10 de janeiro, superou o recorde de gols do atacante Giampiero Boniperti, ídolo da Juve que atuou entre 1946 e 1961 e que detinha a marca de maior artilheiro da equipe de todos os tempos, com 182 gols marcados. Em 28 de outubro do mesmo ano, marca o gol de número 200 com a camisa bianconera, contra o Frosinone. Fora a Copa do Mundo que ele havia conquistado pela Azzurra, na Alemanha.

Na Azzurra

Del Piero também é um dos maiores jogadores que defenderam a camisa da tetracampeã Itália. Veste a camisa da Azzurra desde o sub-17. Na equipe sub-21, comandada por Cesare Maldini, foi bicampeão europeu da categoria, em 1994 e 1996. A estréia na Seleção principal ocorreu na vitória de 4 a 1 sobre a Estônia, em 25 de março de 1995. Seu primeiro gol pela Azzurra aconteceria em Novembro do mesmo ano, na vitória contra a Lituânia por 4 a 0, durante as eliminatórias para a Eurocopa de 1996. Não teve muitas oportunidades de atuar durante a Euro, disputada na Inglaterra, mas na Copa de 1998 já era um dos principais jogadores da seleção, mesmo não tendo anotado nenhum gol naquela Copa, em que a Itália foi eliminada pela campeã França nos pênaltis, nas quartas-de-final.

Na Euro de 2000, disputada na Holanda e na Bélgica, a Itália teve a oportunidade de dar o troco à França. Na final, que foi muito disputada, Del Piero perdeu duas boas chances durante a partida e viu o título escapar mais uma vez, quando Trezeguet anotou o gol de ouro na final, disputada em Roterdã. Os novos fracassos italianos na Copa de 2002 (perdeu nas as quartas para a Coréia do Sul) e na Euro 2004 (eliminada na 1ª fase) parecia o fim da carreira de Del Piero na Azzurra. Mas Lippi o convocou para a Copa da Alemanha, e mesmo na reserva, teve papel importante quando sacramentou a vitória contra os donos da casa, nas semifinais do torneio. E na final, Del Piero pode participar do tão esperado troco italiano à França. Após o empate de 1 a 1 no tempo normal e prorrogação, deu sua contribuição para a conquista do título da Itália, ao converter a quarta cobrança da série de pênaltis que decidiu a Copa. Saldo na Azzurra: É o terceiro atleta mais convocado da seleção italiana (95 convocações), o oitavo que mais atuou pela Azzurra (80 jogos), o quarto em número de gols marcados (27 gols), além de ter sido o capitão da equipe em cinco oportunidades.

Jogador de técnica refinada, de pensamento rápido e exímio batedor de faltas, Del Piero detém diversos tipos de recordes na Juventus e na Azzurra. Provavelmente baterá o recorde de número de jogos pela Juventus, pois ele é o terceiro jogador em número de jogos pela Vecchia Signora, perdendo apenas para Gaetano Scirea (552 jogos) e Giuseppe Furino (528 jogos), além de ser o quarto maior artilheiro em atividade da Série A italiana. Como Del Piero completou 32 anos recentemente, ele ainda terá uma boa lenha para queimar na Juventus.

Prêmios como esses são mais do que merecidos por Del Piero, que optou em algo mais que ser apenas um profissional de futebol. Optou por ser uma grande referência de toda uma nação. Optou por amar a Juventus, e mais do que amar, de fazer parte da história do clube. E para quem se sente “apenas uma pequena malha” do pano que forma a bandeira da Juve, ajudar a construir a história recente do clube não tem preço. Nesse futebol profissionalizado e versátil, esse quê de “amadorismo” é uma atitude rara e muito louvável. Acompanhe alguns dos mais belos gols de Alex na Juve e na Azzurra no vídeo abaixo.


Perfil

Nome: Alessandro Del Piero
Nascimento: 9 de novembro de 1974, em Conegliano Veneto, Treviso – Itália
Clubes: Padova (1991 – 1993) e Juventus (desde 1993)
Jogos pela seleção: 80
Títulos: 1 Liga dos Campeões da UEFA
1 Mundial de Clubes
1 Supercopa de Europa
1 Copa da Itália
5 Scudettos
1 Copa do Mundo

4 comentários:

Uilians Uilson disse...

não é à toa que a Itália, que com um craque desses é a segunda força do futebol mundial. Eu não consigo entender como eles não conseguem repetir esse mesmo desempenho nas quadras de futsal...

Samantha Abreu disse...

olá!

muito obrigada pela visita! Volte sempre!
não tenho muito conhecimento em futebol... só sei quer torço para o Palmeiras, desde criancinha! (e nem me pergunte porquê!)
rsrsrsrss


Beijão

Thiago Braga disse...

Oi André, excelente esse perfil sobre a carreira do Del Piero, um dos meus ídolos. Tenho a camisa da Juve com a qual a Vecchia Signora conquistou a Liga dos Campeões contra o Ajax. Acho até que ele sofre um pouco com a falta de reconhecimento, talvez se ele não tivesse se contundido, ahistória fosse diferente. E a Copa de 1998 poderia ser muito diferente com o ele em forma!

Ah, e claro que podemos ser parceiros

Grande abraço e parabéns!

Unknown disse...

Fala André tudo bem, muito boa essa matéria sobre o Del Piero, esse grande craque, até mais que um jogador, um exemplo de profissional, me inspiro muito nele quando estou batendo minha bolinha, infelizmente o Lippi dificilmente o chamará para o Mundial da África em 2010, o Lippi quer fazer uma renovação na seleção, se ele não convocar o Del Piero, o Totti e o Perrotta pra montar campo, a minha querida SQUADRA AZZURRA não passará da primeira fase, acorda Lippi.