31.7.08

Ipatinga: sinônimo de baba?

Atletas do Ipatinga comemoram o melhor resultado no Brasileiro:
4 a 1 sobre a Portuguesa

Entre todos os Campeonatos Brasileiros da era dos pontos corridos, o atual é indubitavelmente aquele que apresenta, até o momento, o maior equilíbrio. Tudo está embolado, seja na parte superior ou na fração inferior. A cada rodada temos um novo líder, uma nova equipe sendo ameaçada pelo fantasma do rebaixamento...

Esse perde-ganha é tão claro que até mesmo aquelas equipes que demonstravam grande potencial de fracasso, podendo repetir as péssimas campanhas de América de Natal (em 2007) ou Santa Cruz (em 2006), conseguem conquistar os seus pontinhos. A dificuldade é tanta que times grandes que perderam preciosos pontos nas rodadas iniciais, como Santos e Fluminense, penam até agora para sair da temida Zona de Rebaixamento.

Um bom exemplo disto é o Ipatinga. Relegado a Segundona estadual no início do ano, foi visto como o coadjuvante que sempre seria goleado. Ledo engano. Apesar do time mineiro ser o lanterna da competição e principal candidato ao descenso, dentro do gramado ele não demonstra um desnível técnico tão aparente.

Afinal, o caçula da primeira divisão também tem as suas virtudes. É um time rápido, veloz, que normalmente tranca o adversário pelo meio com uma forte marcação exercida por seu trio de volantes formado por Paulinho Dias, Leo Silva e Augusto Recife.

Arma suas jogadas geralmente pelas pontas através dos seus alas Beto e Leandro Salino, este originalmente meio-campista. Na frente, Rodriguinho é o responsável pela criação, enquanto Adeílson e Marinho, eterna promessa do Atlético-MG, têm que marcar gols.

Parece pouco, mas funciona. Principalmente quando enfrenta rivais que saem a busca de um gol a qualquer custo e não encontram organização suficiente para proteger-se de um bom contra-ataque.

Foi justamente nestas situações que o Ipatinga, nas 15 primeiras rodadas, já realizou alguns feitos que nem mesmo os líderes conseguiram. Acabou com a série invicta do Internacional ao batê-lo por 1 gol, empatou com o Cruzeiro em 2 a 2, passou pelo Vitória com bons 2 a 0 e segurou o São Paulo, em pleno Morumbi, com um “simpático” 1 a 1. Não é para qualquer um!

Logicamente, a inconstância de seus resultados e o acúmulo de vacilos, como nas derrotas em casa para Atlético-PR e Figueirense, por exemplo, podem custar o rebaixamento da mais nova terceira força de Minas Gerais. Mas se isso vier mesmo a acontecer, convenhamos que, até o momento, vemos uma “baba” muito mais complicada do que prevíamos.

28.7.08

Deu branco no rubro-negro?

Flamengo: quatro jogos sem vencer, fora a maré de acontecimentos contra.

Janela de transferências ativa, jogadores contundidos, uma quase troca de técnico inesperada. Tudo acontece com o Flamengo, que ganhou apenas um dos últimos seis jogos e está há quatro partidas sem vitória, o que consequentemente lhe custou a até outrora folgada liderança. Incompetência do Flamengo?

Um ponto sempre ressaltado nos últimos posts sobre o Brasileirão é a malfadada janela internacional de transferências. Nela, o Flamengo já perdeu três jogadores de relevância no elenco: Souza, Renato Augusto e Marcinho, sendo que este último vinha sendo a principal referência da boa campanha do Fla. Também quase perdeu o seu atual comandante, Caio Júnior, o qual quase foi seduzido pelos petrodólares árabes. E muitos jogadores estão atualmente no departamento médico. A lista é grande e inclui jogadores importantes como Bruno, Toró, Diego Tardelli e Kléberson.

Alheia ao azar flamenguista, a diretoria não parece estar se agitando de acordo nos bastidores. As negociações com Vandinho (27 gols pelo Avaí/SC em 2008) e Felipe (aquele mesmo, ex-Vasco, Flamengo, Palmeiras...) mostram-se pouco pretensiosas em se tratando de uma equipe cujo elenco está fragilizado, tanto pelas contusões, quanto pelo assédio do exterior aos seus atletas. Apesar da queda de rendimento do Flamengo no campeonato, a equipe está apenas um ponto atrás do líder Grêmio. No entanto, os postulantes ao título estão se movimentando bem. O Inter já confirmou Daniel Carvalho e D’Alessandro. O Grêmio garantiu Orteman e Souza, o São Paulo trouxe Anderson, Rodrigo e André Lima, só pra citar os principais exemplos.

Em um Brasileirão que pinta como o mais equilibrado da era dos pontos corridos – no que diz respeito a potenciais candidatos ao caneco – o Flamengo precisa pensar grande e buscar melhores peças de reposição, já que sua base se mostrou boa o suficiente para fazer mais bonito no Brasileirão, como pudemos observar nesta temporada de 2008.

24.7.08

Espírito (de porco) Olímpico

Além do pouco tempo de preparação, o Brasil tem outra preocupação para Pequim: o endurecimento da postura dos clubes na liberação de atletas.

A exemplo da novela para liberação de jogadores para a Copa América e a Copa Africana de Nações, os clubes europeus não querem ceder seus jogadores – até aqueles com menos de 23 anos - às seleções sul-americanas. Especificamente, Brasil e Argentina - que dão muito mais importância ao título dos jogos olímpicos que os europeus - já haviam sido podados os seus principais atletas, os mais experientes, para a disputa das Olimpíadas.

Novamente no meio do fogo cruzado, a FIFA, entidade máxima do futebol. Tal qual em outros episódios – como o dos jogos na altitude, por exemplo – a FIFA não tem um estatuto ou algo do tipo definindo a situação. Historicamente, após acordo com o COI em 1992, as seleções levariam um elenco sub-23 e dentre eles, contar com até três jogadores além do limite etário pré-estabelecido. No entanto, com o calendário cada vez mais apertado e após uma Eurocopa que tomou quase um mês deste 2008, os clubes desejam se preparar adequadamente para outra desgastante temporada e com os jogadores concentrados em Pequim, isso demoraria mais a acontecer. Somado a esse fato, os jogos olímpicos não constam no calendário oficial da FIFA. Mesmo assim, Joseph Blatter apelou ao “espírito olímpico” dos clubes e determinou que “criar obstáculos à participação de jogadores com menos de 23 anos nos Jogos poderia ser interpretado como um atentado ao espírito olímpico, já que esses jogadores formam o núcleo das equipes que participam do torneio”. Porém, não estipulou nenhum tipo de determinação aos desobedientes ou mesmo incluir as olimpíadas no calendário oficial, por um motivo muito simples: A FIFA sempre deixou claro que não deseja valorizar o torneio olímpico de futebol, temendo que este fosse confrontar a menina dos olhos da entidade, a Copa do Mundo de Futebol.

De outro lado, os clubes estão se apoiando nas brechas dadas por Blatter. Especificamente nessa briga, os clubes diretamente envolvidos – Barcelona (Messi), Werder Bremen (Diego) e Schalke 04 (Rafinha) – estão apoiados pelas respectivas federações nacionais e pela Associação Européia de Clubes (ECA, substituta do G-14). Tanto estão amparados que os alemães estão dispostos a levar o caso às últimas conseqüências, ou seja, julgamento no Tribunal Arbitral do Esporte. Tudo isso a pouco mais de duas semanas do início do torneio.

Enquanto isso, os jogadores não sabem o que vai acontecer. Os clubes ameaçam com a recisão de seus contratos (o que racionalmente, jamais aconteceria) ou dão um “jeitinho”, como no caso Robinho-Real Madrid, que está contundido em uma situação não esclarecida e por conta disso, está fora dos Jogos. Contudo, o camisa 10 está “se tratando” na pré-temporada dos merengues. O choque de interesses é notório, mas não é aberto. Se a FIFA não deseja um torneio que possa “rivalizar” com a Copa, deveria estabelecer a ida de jogadores juniores a Pequim, ou mesmo ponderar a retirada do futebol dos Jogos, já que o futebol não pode - e não é - mais importante a Olimpíada. Falta uma resolução definida e peitar os clubes, já que ela é a manda-chuva no mundo do futebol. E apesar do metodismo, os clubes estão exercendo seu direito de investimento sobre os jogadores, apoiando-se estritamente nas falhas da entidade máxima do futebol. Coisas que envolvem dinheiro e interesses devem ser bem claras e especificadas. Ou não há espírito olímpico que valha a disputa dos Jogos Olímpicos.

23.7.08

O que é que o Vitória tem?

Ramón Menezes: O bom filho que à casa retornou

Quando se iniciou o Campeonato Brasileiro confesso que se fosse para apostar em 4 prováveis equipes que seriam rebaixadas, uma delas seria o Vitória. E a derrota dos baianos na rodada inaugural frente ao Cruzeiro, em pleno Barradão, apenas serviu para confirmar esta hipótese...

Atualmente, porém, não é isso que acontece em campo. Hoje, o Leão da Barra sequer lembra o apático time que não ofereceu um mínimo de resistência à Raposa há quase dois meses e meio atrás.

Aos poucos, o promissor técnico Vagner Mancini, que, diga-se de passagem, foi injustiçado no início desta temporada quando fora demitido do comando gremista ainda invicto, mostra que é possível montar um bom time mesclando atletas rodados e outrora consagrados com talentosos jovens desconhecidos.

Além disso, Mancini mostra muita modernidade em seu esquema tático. Hoje, a exemplo do que já fazem várias equipes estrangeiras, o Vitória aposta em um 4-5-1, com dois homens do meio-campo bem abertos sendo utilizados como “falsos-pontas” ou extremos, como preferem os europeus.

Com esta formação que embola o meio-campo e oferece uma maior maleabilidade nos contragolpes, os baianos têm se dado bem. Tudo começa com os volantes Renan e Vanderson, que marcam bem e tocam a bola com certa qualidade.

Na frente dos dois, o veterano Ramon Menezes é o cérebro do setor cuidando do setor da criação, enquanto os garotos Williams Santana e Marquinhos são os responsáveis pelas puxadas de contra-ataques. Assim, mesmo sozinho, o único avante Dinei dificilmente permanece isolado.

Mais atrás, também há nomes que merecem destaque, como o veloz ala canhoto Marcelo Cordeiro, ex-Atlético Sorocaba, o seguro zagueiro prata-da-casa Anderson Martins ou o experiente arqueiro colombiano Viáfara. Nada mal...

Outro ponto que favorece uma surpreendente permanência dos baianos até o final do Brasileirão é o fato de seus principais jogadores ainda serem desconhecidos internacionalmente. Dificilmente algum atleta será negociado até dezembro.

Mesmo com mais de 25% do torneio já disputado, ainda é muito cedo para fazer alguma previsão. Pensando um pouco mais além, se o Vitória conseguisse o feito de, ao menos, chegar a Libertadores em 2009, seria no mínimo engraçado ver dois representantes do Nordeste participando do torneio...

20.7.08

Remédio amargo, mas necessário

Muito bem marcado, Herrera não pôde evitar a queda do último invicto da Série B.

Dentinho e Chicão fizeram falta, Douglas não jogou 100% e Felipe falhou no gol. Apesar de jogar contra um adversário com vários desfalques, técnicamente mais fraco e de perder muitos gols, o Corinthians não conseguiu transpor a blitz defensiva do Bahia ontem, no Pacaembu. É evidente que, tecnicamente, o elenco alvinegro sobra na Série B. No entanto, é um campeonato onde somente a técnica não ganha jogo. É necessário algo mais. O coração na ponta da chuteira, acreditar em todas as jogadas, isolar a bola nas arquibancadas, como o aguerrido Bahia fez ontem. O gol achado de Elias acentuou a tática defensiva e os volantes e zagueiros do Tricolor não inventaram, isolaram a bola e o atacante Herrera, sempre muito bem marcado.

Mas há aspectos positivos nessa derrota. É muito difícil manter-se invicto em um campeonato de 38 rodadas, onde a maioria dos times é muito parelho. E o oba-oba de muitos órgãos da imprensa esportiva em ganhar o campeonato sem uma única derrota começou a incomodar, mesmo que indiretamente, o time em campo. A derrota certamente acenderá uma luz vermelha na equipe e mostrará que a estada no Corinthians na Série B não seria esse passeio todo, esse mar de flores que estava sendo pintado. Talvez a derrota já devesse ter vindo no jogo contra o Santo André, onde o time jogou muito mal, mas achou um gol quase no fim do jogo.

A falta que Douglas faz ao meio-campo do Timão se evidenciou no primeiro tempo, onde Lulinha atuou praticamente como terceiro atacante, não armando jogadas na meia, e os volantes não conseguiam chegar com qualidade à frente. No lado esquerdo da defesa do Bahia, estava o maa da mina. Mas Denis e Eduardo Ramos não se entendiam e batiam cabeça na hora da ultrapassagem para o ataque. André Santos não editou uma boa jornada – apesar de sempre se apresentar para o jogo – e Elias só melhorou após a entrada de Douglas, no segundo tempo. Novamente, Acosta não correspondeu como titular e Herrera não conseguiu produzir muito, pois sempre estava muito bem marcado.

Por conta da derrota inesperada, uma lição: o espírito deve ser o do início da competição, de muita luta e dedicação, acima de tudo. E a técnica mais apurada do time vai se sobrepor, naturalmente. Por isso, as vezes o remédio parece pior que a doença. E não é.

18.7.08

Petrodólares que empobrecem

Roger: Seduzido pelos petrodólares do Qatar Sports Club.

Que a maioria dos clubes brasileiros está atravessando graves dificuldades financeiras, não é novidade pra ninguém. Que perdemos os nossos principais craques para a Europa, também. Mas a onda que está surgindo e que está desfalcando muitos elencos Brasil afora é a do êxodo times de origem árabe.

Historicamente, a relação entre o futebol de países como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Catar com os profissionais brasileiros sempre foi estreita. Profissionais como Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari, muito antes de alcançarem destaque na Seleção Brasileira, já tentavam a sorte e davam os primeiros passos como treinador no futebol, na década de 80. Em contrapartida, levavam diversos profissionais brasileiros para compor sua comisssão, principalmente auxiliares técnicos, fisiologistas, preparadores físicos, de goleiros, etc. As vezes, um ou outro jogador, normalmente já veterano ou de pouco destaque no futebol nacional arriscava a ida ao Oriente Médio. Os maiores empecilhos para que mais jogadores se deslocassem às Arábias – o choque de culturas e o dinheiro, que não era muito mais do que por aqui – limitavam a ida dos profissionais.

Contudo, os tempos mudaram. Principalmente no início desta década. Os Sheikhs começaram a investir grandes cifras para desenvolver o futebol nos países árabes, quase sempre oriundas dos petrodólares. O nível dos profissionais que passaram a se mudar para a terras das mil e uma noites aumentou consideravelmente. Países como a Arábia e os Emirados Árabes Unidos sentiram o gosto de fazer parte de uma Copa do Mundo. E com isso, as propostas milionárias começaram a se multiplicar. Grandes jogadores consagrados, caminhando para o fim de carreira, como Weah, Batistuta, Cocu e Romário chegaram a atuar no futebol árabe.

E a onda árabe – assim como a onda em que “Eldorado” do futebol se concentrou no Japão e no Leste Europeu - chegou ao Brasil com força. Atualmente, alguns dos trienadores de ponta do Brasil estão por lá, tais como Paulo Autuori (Al Rayyan/QAT), Abel Braga (Al Jazira/EAU) e Emerson Leão (Al Sadd/QAT). E como num efeito dominó e contando com a bala na agulha proporcionada pelos petrodólares, os treinadores passaram a solicitar a contratação de seus "protegidos". Tanto aqueles com os quais trabalharam ao longo dos anos, quanto os que se destacam nos diversos campeonatos. Foi assim com Marcinho e Roger, destaques deste início do Brasileirão e com Fernandão, ídolo recente da história Colorada. Caio Júnior quase deixou o Flamengo por conta do assédio árabe. E em curso, propostas formalizadas por Guiñazu, Leandro Amaral e Alex, citando os exemplos principais

Por conta dessa nova tendência, as ligas locais viraram verdadeiros redutos brazucas. Figuram como grandes destaques jogadores do calibre de Marcos Assunção (ex-Santos e Betis), campeão com o Al-Ahli/EAU que se transferiu recentemente para o Al-Shabbab/EAU e o atacante Araújo, campeão e artilheiro do último artilheiro da Q-League com 27 gols. O sucesso e os grandes contratos fazem com que os números do êxodo brasileiro no mundo árabe cresçam a cada ano. Nada menos que 12 brasileiros jogam na liga do Catar, 10 na dos Emirados Árabes e oito na liga saudita. As estrelas são jogadores como Renato (ex-Corinthians e Flamengo), Magno Alves (ex-Fluminense), Felipe (ex-Vasco) e Josiel (ex-Paraná). Se não têm técnica suficiente para estar entre os grandes brasileiros, poderiam estar engrossando o elenco de times médios e pequenos, dando um pouco mais de técnica e competitividade ao Brasileirão. E o consequente sucesso no futebol local rende convites de naturalização - regados a muito dinheiro - para que esses mesmos jogadores possam defender as Seleções da região, principalmente a do Catar, conhecido pelas diversas propostas dessa natureza. Um ótimo especial, que foi ao ar pelo site do GloboEsporte.com, mostra as diversas nuances dessa nova tendência, abordadas aqui nesse post.

A janela de transferências - que já é cruel e enfraquece os clubes devido a falta de sincronia entre os calendários brasileiros e europeu - ganha mais um fator forte e desfalcador de elencos. São os petrodólares, que cada vez mais contribuem para o empobrecimento do futebol nacional, que apesar dos campeonatos equilibrados, vê seu nível técnico cair gradualmente nos últimos anos. Não há boa safra que resista a essa demanda, que como pudemos observar, tende a crescer.

16.7.08

Mais do mesmo, Gaúcho?

Com pompa, Ronaldinho é anunciado como reforço no site oficial do Milan.

Mesmo com este anúncio sendo previsto há tempos pelo Milan e por toda a imprensa esportiva nacional e internacional, não deixa de ter um tom irônico: O Milan tentará recuperar Ronaldo para o futebol. Não o Nazário, ou Fenômeno, mas sim o Assis, ou Ronaldinho Gaúcho. Situações semelhantes em alguns aspectos, tais como as letras garrafais e douradas na página principal do site rossonero; novelas intermináveis e mudança da Espanha para o San Siro; muito tempo parados e vendidos abaixo do preço pelo qual foram adquiridos, por conta das más atuações e a conseqüente reserva. E, finalmente, uma chance de recomeçar após o fiasco da Copa do Mundo de 2006, ponto comum da recente má fase de ambos.

Nos capítulos da novela Fenômeno, um começo gradual, porém animador. Depois, a contusão grave e, por fim, o desânimo para começar novamente, o que refletiu diretamente nas confusões em sua vida privada, amplamente noticiadas pela imprensa. Já Ronaldinho é uma incógnita. Ele atravessa um período onde comprovadamente a maioria dos craques atinge o seu auge de técnica e maturidade profissional, e é acreditando nisso que o tiffosi rossonero e o torcedor brasileiro ainda confiam no seu potencial. E antes do desafio no Milan, uma chance de redenção: as Olimpíadas de Pequim. Sendo o mais experiente da Seleção, tem a missão de liderar o Brasil rumo a uma conquista inédita e ainda, de quebra, salvar a cabeça de Dunga - mesmo a contragosto do técnico, ao menos neste início de preparação.

Era evidente que o meia necessitava de novos ares e que não sobreviveria ao turbulento processo de renovação do Barcelona. E o Milan é sempre uma ótima escolha, tanto pela sua ampla expressão no mundo futebolístico quanto no trato com os brasileiros, já que o clube e Carlo Ancelotti são admiradores declarados do futebol tupiniquim. E voltando lá atrás, no post sobre a chegada de Ronaldo ao Milan (31/01/2007), uso praticamente das mesmas palavras para o sucesso dele: “superar mais uma vez as críticas e a falta de velocidade de tempos passados, para que dessa maneira ele possa se impor novamente e trazer o pavor aos zagueiros. [...] conta com a técnica de sempre para brilhar com a camisa rossonera. Só depende da força de vontade dele.” E que o final dessa história no Milan seja diferente de seu xará, visivelmente em um momento obscuro e confuso de sua vitoriosa (nunca devemos esquecer disso) carreira.

15.7.08

Motivos para esquentar a "cuca"

Cuca: Promessa de demissão se o time não engrenar até o fim de semana

Quando o treinador Cuca foi contratado para o lugar do contestado Émerson Leão, muitos acreditavam que o Santos conseguiria almejar melhores colocações na tabela do Campeonato Brasileiro. O novo técnico santista assumiu o clube na 5ª rodada e, após 7 jogos, ainda não conquistou uma vitória sequer. Depois de 4 empates e 3 derrotas que deixaram a equipe no penúltimo lugar e com o pior ataque do torneio (9 gols), o clima ficou ruim. Em pouco mais de um mês de trabalho, o ex-treinador do Botafogo já enfrenta inúmeros problemas, como pressão interna da diretoria, insatisfação da torcida, “rachas” no elenco...

Outro fantasma que ronda a cabeça de Cuca é a fama de pé-frio que ele conquistou em seu clube anterior. Após acumular uma série de resultados negativos, geralmente em momentos decisivos, muitos vêem seu trabalho com certa desconfiança. Acreditam até que o promissor técnico que em 2003 tirou o inexpressivo Goiás da lanterna e alcançou a Zona da Copa Sul-Americana não serve para comandar times de maior expressão.

A fase é tão ruim que até os principais nomes do primeiro semestre vivem seu inferno particular. O cerebral Molina foi para o banco; o consistente Kleber não lembra nem de longe aquele ala que chegou a ser convocado para a Seleção; Fabão não mostra a mesma regularidade dos tempos de São Paulo; e até mesmo o intocável Kleber Pereira tomou um “chá-de-banco” na última partida.

A verdade é que o time ainda não encontrou um padrão tático. Nem Cuca sabe se é melhor jogar com três ou dois zagueiros, dois meias ou três volantes, um ou dois atacantes, enfim, tudo está muito aberto. A maré de azar é tão grande que o único atleta que vinha se destacando levemente sobre os demais, o volante Rodrigo Souto, foi pego no exame anti-doping e passará um bom tempo suspenso dos gramados.

Pior ainda é ver a lista de reforços que vieram com a missão de salvar a equipe desta vexaminosa zona de rebaixamento. O jovem Apodi, o rodado Fabiano Eller, o hábil Michael, o experiente Cuevas, o medíocre Roberto Brum ou o desconhecido Fabiano Capixaba. Tanto faz. Nenhum deles empolga. Parece muito pouco.

A pressão só tende a aumentar e as vitórias tornam-se cada vez mais necessárias. Porque apesar do time praiano ser bastante ruim, existem outros elencos que, pelo menos no papel, são piores ou no mínimo iguais. Goiás, Figueirense, Náutico, Portuguesa ou Atlético-PR são bons exemplos.

Ainda assim, confio no trabalho de Cuca. Qualidades ele tem de sobra, só precisa de tempo suficiente para demonstrar isso. Resta saber se a diretoria do Peixe conseguirá esperar por isso. Se não, “cucas” irão rolar...

13.7.08

Escravidão no futebol

“No futebol há uma intensa escravidão moderna em relação a transferência ou compra de jogadores. Isso não é bom para o futebol. Eu sempre estou do lado do jogador e se ele quiser ir embora é necessário que seja liberado. Estamos trabalhando para intervir nesses casos e defender os jogadores”.

Pois essa foi a pérola que soltou o presidente da FIFA, o suíço Joseph Blatter, alimentando a polêmica em torno da transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid. Lamentável o comentário deste senhor. Até Pelé, conhecido pelos seus feitos magistrais dentro de campo e por declarações infelizes fora dele, discordou.

Queria eu ser escravo ganhando os milhões que devem entrar na conta bancária do craque português todos os meses. Duro mesmo deve ter sido para os descendentes de escravos ouvirem isso, ao imaginar essa comparação.

Obviamente, o Manchester United foi rápido na resposta: “Todos os nossos jogadores, como em outros clubes, se comprometem com seus contratos através de uma negociação aberta e livre”, explicou por meio de um porta-voz. William Gaillard, assessor especial do presidente Michel Platini e diretor de comunicações da Uefa, ainda complementou: “Seria conveniente lembrar a todos que os escravos, em todos os sistemas de escravidão, nunca receberam um salário. E parece que os dois clubes estão negociando a saída do jogador antes do fim do contrato”, argumentou.

Nem é preciso falar muito mais. Quando um clube investe no jogador, e lhe oferece salários astronômicos, obviamente que a multa rescisória do contrato é alta. Se o atleta não quer ficar preso ao clube, que faça um contrato com duração menor e vencimentos também menores. Mas aí ninguém quer. Na hora de encher o bolso, tudo é perfeito. Claro que a vontade do jogador é importante, mas ele tem de estar ciente disso quando assina seus contratos. Se o Real Madrid que contrata-lo, é simples: basta pagar a multa, prevista no contrato.

Será esse o próximo uniforme do português?

Mas essa já tem sido uma prática corrente no clube merengue. Foi assim com tantos outros. O clube entra em contato com o jogador, sem o conhecimento do clube, e faz uma proposta milionária, seduzindo o atleta. Depois de tudo acertado, aí procura oficialmente o clube do atleta. Vai sendo criada uma situação que chega a ficar insustentável, e o clube fica sem opção a não ser vender o seu craque. Foi o que aconteceu com o Zidane, por exemplo.

O mesmo acontece em relação aos clubes brasileiros. O mais recente exemplo tem sido com Hernanes, jogador do São Paulo. O Barcelona oferece a metade da multa rescisória ao Tricolor, mas já tem tudo acertado com o jogador. O São Paulo não quer liberar, mas o jogador já fica com o pensamento lá na Europa. Um clube que agiu corretamente foi o Santos, segurando o Robinho até o Real (sempre ele) pagar todo o valor estipulado no contrato (o santista ainda teve que abrir mão de sua parte para acertar a transferência).Mas pra quem acha que isso só acontece aqui, estamos vendo que mesmo entre os poderosos clubes europeus esta “tática” é usada. A diferença é que o Manchester é o Manchester, um dos clubes mais ricos do mundo, é briga de cachorro grande. Já o São Paulo é só mais um time brasileiro.

10.7.08

O vilão da Seleção Brasileira

Saiu esses dias a convocação de Dunga para os Jogos Olímpicos, como o André mostrou pouco abaixo. Será realmente o grande teste que vai determinar a permanência ou não do treinador a frente da seleção pentacampeã mundial. Dunga tem sido bastante contestado, por inúmeras razões, e a principal delas, obviamente, é o mau rendimento do escrete nacional.

Há algum tempo venho colhendo alguns artigos e reportagens tratando deste assunto. O que serviu para eu reforçar a minha visão de que o maior vilão da seleção está sendo esquecido. Na verdade, não tem sido esquecido, muito pelo contrário, está cada vez mais presente na mídia, ao lado dos poderosos e “pagando” de salvador da pátria. Sim, é ele, o eterno Ricardo Teixeira, presidente da CBF desde 1989.

Dunga, é verdade, tem sido muito teimoso, e não vem conseguindo agradar o povo, mesmo com a conquista da Copa América. Em entrevista ao repórter Luciano Borges, afirmou que está sofrendo perseguição por desagradar muitos interesses, fazendo menção direta à Rede Globo, empresa que teve seus privilégios suspensos pelo treinador. Dunga reclama do resto da imprensa, que deveria lhe ser mais grata por conceder o mesmo tratamento. Diz também que faz o que seu chefe mandou, em relação ao tratamento dados aos medalhões – Kaká e Ronaldinho.

Acontece que o mesmo chefe que deu essas ordens, agora convocou Ronaldinho, na poderosa Rede Globo, esquecendo do que pediu ao Dunga quando este assumiu o comando. Na época, era conveniente ao poderoso chefão “baixar a bola” dos astros, por causa do oba oba que ocorreu na preparação para a Copa 2006 (ele não foi o maior responsável?). Agora não mais.

Teixeira faz questão de fritar o técnico. Não importa se Dunga cumpre o que ele manda. O importante é mostrar que faz de tudo pelo bem da seleção. E faz com que Dunga se curve. Em recente artigo publicado pela Folha de São Paulo, Juca Kfouri disse que, assim como Dunga, Parreira teve que engolir a convocação de Romário para a Copa de 1994. Felipão, pelo contrário, não aceitou a intromissão do poderoso chefão em 2002, quando tentou novamente convocar o baixinho. Felipão tinha moral pra isso. Dunga não tem. Aliás, se ele tem alguma moral, foi justamente Ricardo Teixeira quem lhe deu, ao oferecer o cargo a alguém que nunca tinha sido treinador na vida.

Do inferno – época da CPI que devassou o futebol nacional, mostrando todos os podres da CBF e do cartola-chefe, com inúmeras denúncias totalmente evidentes e mostradas no Globo Repórter, entre tantos outros veículos, ao céu – Teixeira está no comando do comitê organizador da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil, em 2014, bajulado por tudo e todos, inclusive as mais altas instâncias do poder público, sem contar com o apoio incondicional da maior emissora do país.

Teixera é bajulado pelo presidente Lula e por governadores, que querem destaque na organização da Copa a ser realizada em 2014

Muitos se queixam que a seleção perdeu o apoio da torcida, que perdeu a identificação com o povo, onde só jogam os “estrangeiros”, e fora do Brasil. Ora, quem decide onde joga a seleção, se não o todo poderoso? A culpa é do Dunga, ou dos jogadores que atuam fora? Quantos milhões a CBF ganha com isso? E os suspeitos contratos com os patrocinadores, que obrigam a presença de todos os medalhões em campo, não importa onde e quem seja o adversário? Será que Dunga tem total liberdade para escalar os jogadores? Se sim, não poderia acontecer a mesma coisa que houve com o Leão, na Copa das Confederações em 2001?

Claro que os jogadores têm bastante parcela na questão de peitar o clube para defender a seleção. Mas quem deveria ter mais autoridade, inclusive indo reclamar na FIFA, para fazer com que os jogadores atuem pela seleção canarinho? Seria a CBF?

Atual e futuro presidente da FIFA?

Teixeira teve seu mandato estendido até 2014. João Havelange, ex-sogro de Teixeira e ex-presidente da FIFA, em declaração à Folha de São Paulo, disse que o presidente da CBF será o próximo mandatário da FIFA. Sabemos que o Havelange conhece muito bem os caminhos e artimanhas necessárias para trilhar esse caminho, além de como se perpetuar no poder. E parece que o ex-genro aprendeu a lição, mostrando-se um aluno bastante esforçado e aplicado. Ainda na Folha, aliados do poderoso da CBF dizem que ele sairá de cena após a Copa de 2014, pois “os novos tempos exigirão rodízio no poder. Citam os fins de Alberto Dualib e Eurico Miranda como exemplo”. Esqueceram de um detalhe: Teixeira já está à frente da CBF apenas há 19 anos. E completará 25 em 2014. O exemplo não vale pra agora, só pra daqui a seis anos? Pois é. Dá-lhe o "doutor" Ricardo Teixeira!

8.7.08

Ele vibra, ele é fibra

Juan, Ibson e Obina comemoram o título carioca deste ano
Dobradinha no final da temporada?

Durante estes seis consecutivos anos em que a fórmula do Campeonato Brasileiro permanece inalterada, nunca nenhum clube chegou na 9ª rodada numa situação tão confortável quanto à do Flamengo: 9 jogos, 7 vitórias, 1 empate, 1 derrota e enormes 81% de aproveitamento.

Nesta hora, uma clássica pergunta fica no ar: Será que o clube de maior torcida do país tem cancha para agüentar o ritmo e levar o caneco?

Seguindo o pensamento de outros jornalistas, acredito que é muito difícil fazer qualquer prognóstico futuro antes da janela de transferências do mercado europeu fechar. Mesmo assim, impressiona-me a consistência e o bom futebol apresentados pelos rubro-negros cariocas até o momento.

Creio até que, no papel, o time de Caio Júnior não tem nada demais. Mas no gramado, a história é diferente. Mesmo sem ter uma zaga com a tranqüilidade de Miranda e Alex Silva ou um meio-campo com a velocidade de Vagner e Ramires, o time da Gávea, aos poucos, galga seu espaço e mostra que tem totais condições de levantar o caneco.

Boa parcela destes méritos vai para a diretoria flamenguista que enfim percebeu que nomes valiosos nem sempre trazem títulos e preferiu apostar numa base ainda construída no ano passado. Atualmente nenhuma equipe no Brasil tem atletas tão aguerridos e um conjunto tão entrosado.

Mesmo quando não jogam bem, como na fatídica derrota por 4 a 2 frente ao São Paulo, os atletas rubro-negros não se entregam: correm, marcam, trombam... Dá gosto de ver. Parece que aprenderam com os mexicanos do América que futebol nem sempre é vencido por aqueles que são mais habilidosos.

Não estou com isso falando que o Flamengo tem excepcionais jogadores ou um técnico diferenciado. Ainda há muito que melhorar. Bruno precisa melhorar nas bolas aéreas, Leo Moura e Juan não podem avançar toda hora e deixar suas costas tão desguarnecidas, Ibson tem que ser mais regular, o trio Obina, Tardelli e Souza pode melhor aproveitar as oportunidades de gol que aparecem...

Uma coisa, porém não há discussão. Em um campeonato de pontos corridos tão nivelado tecnicamente (mesmo que seja por baixo), a raça e a vontade de vencer devem estar sempre presentes. E nestes quesitos, pelo menos até agora, o Flamengo dá um verdadeiro banho em outros prováveis candidatos ao título como Cruzeiro, Palmeiras, Grêmio e São Paulo.

7.7.08

Os eleitos: para salvar ou derrubar Dunga?

Mesmo em má fase e convocado por Ricardo Teixeira, Ronaldinho é um dos principais jogadores do elenco canarinho na busca pelo ouro inédito.


Hoje, Dunga divulgou a lista dos 18 jogadores que vão à Pequim para a tentativa de conquistar a inédita medalha de ouro. E para muitos – incluindo este blogueiro que vos escreve – jogando para salvar a pele de Dunga. Muitos torcerão pelo fracasso, porque não agüentam vê-lo na seleção nem pintado de ouro. Mesmo o ouro de Pequim.

Falta de tempo, a não-liberação dos principais jogadores, ausência um planejamento prévio e, como de praxe, com larga preferência pelos “estrangeiros” - só cinco dos 18 atuam no Brasil – fazem com que o Brasil saia cheio de desconfianças e sem grandes expectativas, ao contrário do que ocorreu na Copa de 2006. Só que os recentes resultados do Brasil nas Eliminatórias e a falta de um futebol digno de Seleção Brasileira fazem com que o processo de fritura de Dunga se acentue cada vez mais. Mas caso ocorra o título – e Teixeiradas à parte – ficará difícil tirar o gaúcho carrancudo do cargo. Mesmo tendo de engolir a convocação de Ronaldinho pelo próprio Ricardo Teixeira, o craque dentuço terá a ingrata missão de ser um dos homens de confiança de Dunga, ao lado de Robinho (intocável na era Dunga) e o zagueiro-revelação Thiago Silva, de ótima temporada pelo Fluminense até aqui.

Goleiros

Dunga deve ter pensado em chamar alguém acima dos 23 anos para a posição. Mas a convocação justa de Diego Alves, após excelente temporada pelo Almería, e de Renan, do Inter, se mostraram acertadas. Apesar do goleiro do Inter ter sido chamado mais devido a falta de opções elegíveis no setor do que pela sua própria capacidade técnica, que é boa, mas não suficiente para firmá-lo no Internacional, onde divide a titularidade com o contestável Clemer. Talvez Dunga devesse ter queimado aí seu cartucho de jogador acima de 23 anos, mesmo não podendo contar com Júlio César, seu favorito.

Defensores

Mesmo encostado no Bayern, o ótimo Breno pode reeditar dupla de zaga com o “experiente” Alex Silva. O “Pirulito” tem bastante bagagem pelo São Paulo e deve ser o titular absoluto. A ponto de sair do Flu na próxima janela de transferências para a Europa, Thiago Silva será exposto na vitrine da Seleção. Boas atuações podem encurtar as distâncias até o futebol do Velho Continente. Foi o melhor de sua posição em toda a Libertadores, mesmo com as más atuações das finais contra a LDU. Apesar do desejo de Dunga em contar com um nome mais experiente no setor, os convocados têm condições de segurar o rojão na zaga canarinho.

Nas alas, as más atuações de Richarlyson este ano lhe custaram as vagas. A dele no elenco e uma para Dunga, que contava com o versátil ala/volante para ganhar uma posição em outro setor. Dos três, Rafinha foi o de temporada mais regular pelo Schalke e apostaria na titularidade dele. No entanto, Ilsinho já provou ter capacidades e ser o lateral titular, mas o seu estilo do jogo demasiadamente ofensivo pese para a escolha. Como única opção na esquerda, Marcelo está tranqüilo.

Meio-campistas

O setor mais promissor do Brasil, na minha ótica. Dunga tem a opção de montar um meio campo de volantes marcadores e habilidosos, como Hernanes e Lucas. Anderson pode ajudar no setor, pois no Manchester United soube ajudar a compor a marcação, inteligentemente descoberto por Ferguson. Ele vem de trás, mas não como um volante marcador, e sim como um jogador mais solidário, porém com capacidade de armar jogadas com extrema habilidade e velocidade. Já em relação a Diego e Ronaldinho, uma grande incógnita. O primeiro arrebenta no Werder, mas ainda deve uma grande partida com a camisa canarinho. O segundo vê Pequim como uma grande motivação para o reinício de sua carreira, desgastada na última temporada. Não questiono sua capacidade técnica, mas achei errada a aposta nele como jogador para as Olimpíadas. Ele primeiro precisa definir seu futuro e se recuperar em seu futuro clube para depois, voltar à Seleção. Já Thiago Neves, apesar das boas apresentações nas finais da Libertadores, não é o jogador vigoroso que encantou o Brasil no ano passado, mas pode vir a ser uma boa opção, inicialmente.

Atacantes

Dunga apostará suas fichas na dupla Robinho-Pato. O atacante do Real Madrid é homem de confiança do técnico, mas não está conseguindo render o que pode nas últimas partidas pelo Brasil. Pato fez bom papel em alguns amistosos e pode estourar. O ex-corinthiano Jô, recém-transferido para o Manchester City, fez bom papel na gélida Rússia. Tornou-se um dos principais - senão o principal – jogador do CSKA dos últimos dois anos e uma convocação sua para a Seleção de novos não é nada injusta. Já Rafael Sóbis não conseguiu se firmar na Europa após a grande campanha pelo Inter, no Brasileiro de 2005 e na Libertadores de 2006. Mas trata-se de um queridinho de Dunga que aparecerá como a primeira opção no banco.

Apesar de ter mais motivos de criticar o planejamento do que os convocados em si, não posso deixar de citar a ausência de dois jogadores que não podiam estar de fora de uma Seleção sub-23: o volante Charles e o atacante Guilherme, ambos do Cruzeiro e que acrescentariam muito a este elenco. Menções ao zagueiro Léo, do Grêmio, que vem fazendo bom papel no Brasileirão até aqui, inclusive sendo o Bola de Prata em sua posição, em avaliação feita pela Revista Placar e ao zagueiro Henrique, recém-vendido ao Barcelona, deixados de lado.

Apenas dois jogos amistosos, poucos dias de preparação até Pequim e um técnico teimoso pressionado no cargo. Será o Brasil tão favorito assim - mesmo com uma seleção reconhecidamente técnica - frente as seleções africanas, sempre perigosas e a uma Argentina que quer o bicampeonato olímpico a todo custo?

Convocados:
Goleiros: Diego Alves (Almería/ESP) e Renan (Internacional)
Laterais: Ilsinho (Shakhtar Donetsk/UCR), Rafinha (Schalke 04/ALE) e Marcelo (Real Madrid/ESP)
Zagueiros: Alex Silva (São Paulo), Breno (Bayern de Munique/ALE) e Thiago Silva (Fluminense)
Meio-campistas: Anderson (Manchester United/ING), Diego (Werder Bremen/ALE), Hernanes (São Paulo), Lucas (Liverpool/ING), Ronaldinho Gaúcho (Barcelona/ESP) e Thiago Neves (Fluminense).
Atacantes: Alexandre Pato (Milan/ITA), Jô (Manchester City/ING), Rafael Sóbis (Betis/ESP) e Robinho (Real Madrid/ESP).

4.7.08

Futebol e patriotismo

Todo mundo sabe o quanto o estadunidense é patriota em relação ao 4 de julho, data que marca o aniversário de sua independência do domínio inglês. No entanto, houve um dia em que essa importante data coincidiu com o maior evento de futebol.

Em 1994, a Copa do Mundo realizada nos EUA tentava colocá-los no mapa do futebol. Ou fazer com que eles se interessassem por isso. Não é preciso nem lembrar a importância e a rentabilidade de consumo dos norte-americanos em esportes como o futebol americano, basquete, baseball e hockey, por exemplo. A média de público de 60 mil espectadores foi, em números absolutos, a maior de todas as Copas. E no embalo da empolgada torcida da casa, a seleção dos EUA tentava fazer bonito na competição. Na época, os Yanks estavam tentando se reafirmar no futebol. Para isso, tinham como técnico o experiente Bora Milutinovic, à frente da equipe desde 1991.

Na Copa, começou a campanha no Grupo A (EUA, Suiça Romênia e Colômbia), com uma vitória, um empate e uma derrota. Conseguiu a classificação e iria pegar o Brasil nas oitavas. Somado ao fato de enfrentar a Seleção brasileira, o jogo seria em 4 de julho. No calor da Califórnia, os EUA proporcionariam um dos seus maiores momentos do futebol moderno, comparável ao terceiro lugar na Copa de 1930, a vitória sobre os ingleses em 1950 e ao proporcionar a “partida da paz”, com os eternos inimigos políticos, os iranianos, em 1998.

Na Seleção de Parreira, Raí sairia para entrada de Mazinho. O camisa dez fazia péssima Copa à aquela altura, deixando a cargo de Zinho a armação das jogadas. Mazinho o auxiliaria, mas sempre reforçando a marcação no meio, como pregava a cartilha de Parreira. No jogo, o Brasil penava para passar pela defesa, enquanto os EUA se propuseram a jogar mais atrás, com boa partida da dupla Balboa-Lalas. Com um Brasil pouco efetivo e algumas chances esporádicas americanas, a torcida do Stanford começou a acreditar no impossível. E após a expulsão de Leonardo, por cotovelada em Tab Ramos – a qual custou ao ala canarinho o restante da Copa por suspensão – muitos achavam que se os yanks fizessem um gol, e o Brasil poderia se desesperar. No entanto, após muita perseverança e algumas chanes perdidas, o passe de Romário achou Bebeto na direita, aos 28 minutos do 2º tempo. E o remate do camisa sete veio cruzado, vencendo Tony Meola.

Mesmo com a chegada de Beckham, grande expoente do atual momento futebol nos EUA, o futebol profissional por lá ainda peca pela falta de técnica e competitividade. Apesar do dinheiro, não tem o nível competição do seu vizinho, o México. Mesmo assim, muitos estadunidenses já brilham pelos campos europeus, tais como DaMarcus Beasley, Tim Howard e Freddy Adu, por exemplo. E o surgimento dessa geração se deve muito a aquela tarde de calor na Califórnia, onde muitos acreditaram que o patriotismo e a empolgação daquela geração de Balboa, Lalas, Wynalda e Meola pudessem vencer a técnica (apesar do simplismo de Parreira) de uma seleção triacampeã mundial.

1.7.08

Paradinha covarde

Defesa de Casillas durante a Euro: No Brasil, uma cena rara ultimamente.

Como goleiro (mesmo de salão), vejo essa onda de paradinhas na execução dos pênaltis como uma grande covardia. O tiro direto, que deve vencer as dimensões de 7,32m por 2,44 da baliza, dá uma chance de acerto de quase 75% ao batedor, na minha visão. Por isso, ele precisa de sangue frio, precisão e muita convicção ao se apresentar na marca da cal.

Como já enfatizei em várias oportunidades, para muitos o pênalti interceptado pelo goleiro é tão comemorado quanto um gol convertido pelo batedor. Recursos como a paradinha aumentam em muito as chances de gol. Porém, numa proporção quase que desumana para o goleiro. Some-se a paradinha o fato do goleiro, teoricamente, não poder se mover à frente da linha do gol. Se um juiz permitir a paradinha e for rigoroso quanto aos movimentos do goleiros no pênalti, é melhor mandar bater sem goleiro. A expectativa do pênalti não se converter vai se resumir apenas na incompetência do batedor, se ele mandar a bola fora do gol.

A regra sobre esse recurso não é clara. Pelo que entendi, o executor da penalidade pode fingir o movimento, mas não deve travar a perna quando o jogador armá-la para bater. No GloboEsporte.com, os comentaristas de arbitragens têm opiniões divergentes. Enquanto Arnaldo César Coelho enfatiza nos pênaltis convertidos por Alex Mineiro e Alan Bahia na última rodada do Brasileirão que “ambos correram em direção à bola, armaram o chute e no movimento do pé em direção à bola eles deram um bico na grama, pararam completamente e depois continuaram com o movimento do pé, chutando e fazendo o gol. Dar um bico na grama antes de tocar na bola, para mim, teria que voltar o pênalti”. Já José Roberto Wright acha que essa é mais uma forma de se punir o infrator: “Acho que o recurso é válido. Tirar a paradinha seria beneficiar o infrator que fez a falta. Se você impede do cobrador fazer a jogada, estará dando mais uma chance para o infrator de defender o pênalti”.

Cada um interpreta de uma forma. Na Europa, a prática é vetada, como pudemos observar nesta Euro. Já no Brasil especificamente, as paradinhas viraram mais um recurso de malandragem a serviço do gol, assim como as malfadadas cavadas de pênalti excessivas, onde o jogador prefere que o juiz marque a infração ao invés da tentativa direta ao gol. E enquanto isso, a moda vai se alastrando e os gols de penalidade máxima vão se sucedendo, um atrás do outro. Falta clareza. E na minha visão, um pouco de bom senso para com a situação dos goleiros.

Abaixo, a matéria do Globo Esporte sobre a polêmica: