29.11.10

Rotina blaugrana

Com ambos em ótima fase, pode-se dizer que El Clásico entre Barcelona e Real Madrid, nesta última segunda, era um dos mais esperados dos últimos anos. Se o Barcelona mantém a mesma base vencedora, com uma ou outra contratação de impacto, o Real continua nas apostas megalomaníacas. E desta vez, seu banco tinha um dos maiores técnicos do momento e que havia sido responsável por acabar com o sonho do bicampeonato europeu blaugrana, ao detê-lo com a fortíssima zaga da Inter, que levantaria o caneco da Champions 2009/10.

E já havíamos abordado aqui no blog a diferença que o técnico português fez ao time merengue. Até antes do embate deste primeiro turno de La Liga, o Real tinha o melhor ataque (ao lado do Barcelona, com 33 gols) e a melhor defesa, com apenas seis bolas nas redes em 12 partidas (média de um gol a cada duas partidas). O incômodo tabu de três anos e meio sem vitórias do time blanco poderia cair, mesmo atuando na casa do adversário. Porém, o massacre catalão evidenciou a grande diferença entre os rivais – que fazem um campeonato à parte na Espanha: a uniformidade.

Analisando nome a nome dos 22 jogadores que entraram em campo (10 deles integravam a Espanha, campeã da Copa do Mundo), são pouquíssimas diferenças técnicas. Porém, além de jogar há mais tempo junto, o Barça é um conjunto, onde Messi é o grande destaque com naturalidade. No Real, por vezes, a individualidade de Cristiano Ronaldo se sobrepõe ao time, que foi destroçado pela habilidosa frente ofensiva dos blaugranas.

Teoricamente com três homens de meio-campo (Busquets, Xavi e Iniesta), somente o jovem camisa 16 é o “brucutu”. A experiente e entrosada dupla faz de tudo um pouco: ajuda a compor a defesa, dão passes preciosos e sabem fazer gols. Pedro, Messi e até Villa tem tal senso de ajudar na defesa, quando preciso. Já o Real tem entrou em campo tem uma forte dupla de volantes (Khedira e Xabi Alonso). Porém, ambos não recebem o mesmo auxílio de Özil, Di Maria e Cristiano Ronaldo. E com Marcelo, um lateral ofensivo por vocação e deficiente na defesa, o Barcelona fez a festa. Principalmente na troca de passes rápida e abusando de tabelas e enfiadas de bola em meio à zaga rival.

Messi não marcou, mas ainda assim, foi o grande nome da partida. Caçado em campo, não fugiu da raia e deu dois passes açucarados para o matador Villa deixar a sua marca. A estrela de Pedro voltou a brilhar e o jovem asturiano deixou o seu. Dani Alves desfilou pela lateral direita e pouco foi exigido na defesa, uma de suas deficiências. A cada gol, era visível a decepção de Casillas, capitão do Real. Já a maior aparição de Cristiano Ronaldo foi num suposto pênalti cometido por Valdés na primeira etapa e no desentendimento com Guardiola, na lateral de campo.

Pior derrota na carreira de José Mourinho, que havia sido goleado por 4 a 1 quando ainda comandava o modesto União de Leiria, frente ao Sporting, em 2002. O jejum perante o Barça sobe para cinco partidas. A primeira e dolorosa de Mourinho em jogos oficiais à frente da equipe merengue. Perda da liderança de La Liga, além de uma invencibilidade que durava desde 10 de abril, quando o Real foi derrotado pelo...próprio Barcelona.

Após a surra de cinco, entrará em campo a capacidade de Mourinho de trazer o grupo pra si e se preparar para a segunda partida da “final” espanhola, já que ambos passeiam nesta temporada no país. E continuar com a jornada quase perfeita até antes do próximo clássico, para impedir o tri, jogando no Santiago Bernabéu.

27.11.10

Dupla fazendo história

O Barcelona recebe nesta segunda-feira, no Camp Nou, o grande rival Real Madrid, num clássico que vale muito mais que a liderança do Campeonato Espanhol - o time merengue lidera com 32 pontos, um a mais que o adversário, passadas 12 rodadas. É também o embate entre os dois atuais melhores jogadores do mundo - a discussão sobre quem está acima é polêmica: Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.

A temporada da dupla tem sido espetacular, principalmente depois da Copa do Mundo, onde ambos não conseguiram ir muito longe com as suas seleções. Mas depois da decepção no torneio sul-africano, o argentino e o português trataram de voltar a brilhar. Segundo o site oficial dos clubes, entre a Liga Nacional, a Liga dos Campeões e a Copa da Espanha, o camisa 10 do Barça já contabiliza 20 gols em 16 jogos, com uma média de 1,25 por duelo. O número 7 do Real fica pouco atrás - foram 19 gols em 19 confrontos, um por partida. Fora as assistências e participação decisiva em muitos outros momentos.

Na temporada passada, o Real fez a melhor campanha de sua história no Espanhol e ainda sim ficou com o vice, justamente por ter falhando ante o rival nos clássicos disputados. Ciente disso, o elenco está concentrado e quer acabar o tabu – Casillas já disse que o time vai até o Camp Nou para vencer. Aliás, as declarações envolvendo o aguardado duelo vêm de todos os lados e torcidas. Se Mourinho acertou a equipe da capital, o grupo de Guardiola continua com seu futebol vistoso e ofensivo.

Entre tantos tabus e duelos particulares, alguns se sobressaem. Messi, por exemplo, nunca marcou gols em um time dirigido por Mourinho, apesar de já ter tido sete oportunidades. No entanto, balançou as redes sete vezes em oito confrontos contra os merengues.

Fosse só por isso, já seria um grande jogo. Mas ainda tem o Xavi, Di Maria, Iniesta, Özil, Daniel Alves, Marcelo, Villa, Higuaín etc. Ingredientes não faltam. Eu, pelo alto e constante nível apresentado nos últimos anos, ainda sou mais Barcelona. Mas o Real Madrid, nas mãos de Mourinho, parece ter se revitalizado, mostrando uma personalidade e confiança que não via no clube desde as últimas conquistas do esquadrão comandado por Zidane. É esperar para ver.

24.11.10

Dois Cantonas

Um dos jogadores mais lendários da história do Manchester United. Ator, técnico (campeão do mundo com a seleção francesa de futebol de areia), cantor, pintor, fotógrafo, brigão dentro de campo e polêmico, fora dele. E na conta de atribuições de Eric Cantona, adicione “candidato a revolucionário”. Tudo graças a um vídeo que ele postou no YouTube (vídeo no final desta postagem), onde conclama a população mundial a ir ao banco e sacar todo o seu dinheiro, ao mesmo tempo, no próximo dia 7 de dezembro. Dessa forma, os bancos – bases do atual sistema financeiro – “quebrariam”, ouvindo os protestos dos insatisfeitos com o sistema vigente. Um site foi criado por internautas para a iniciativa, que já conta com 12 mil adeptos.

“Nós não pegaremos em armas para matar pessoas para começar uma revolução. É muito fácil se fazer uma revolução nos dias de hoje. Qual é o sistema? O sistema é construído sobre o poder dos bancos. Por isso, deve ser destruído através dos bancos”, analisa o francês. O sentimento de repulsa contra o atual sistema financeiro veio após a situação recente da economia irlandesa. Em crise, o país pode ter que aceitar uma ajuda correspondente a 50% do seu Produto Interno Bruto (PIB) para tentar se reerguer. Segundo economistas, uma das causas para este fato foi a concessão de créditos de forma desenfreada e com poucos critérios. A inadimplência e a retração no mercado imobiliário do país aumentaram uma situação, que chega a três anos de duração.

A vida deste francês – que já declarou ser maior que Platini e Zidane – é cheia de controvérsias. Da famosa agressão a um torcedor do Crystal Palace durante uma partida, em 1995, da qual declarou inúmeras vezes que nunca se arrependeu e que não pretendia ser um modelo para ninguém, a uma conscientização econômica. “Quanto mais você observa mais percebe que a vida é um circo”, disse ele mesmo à Four Four Two inglesa. Emblemático demais, para este descedente de italianos e espanhóis, que já gravou comerciais para Nike e L’Oreal, por exemplo. Mas que já lançou um livro de fotografias chamado “Ela, ele e os outros”, onde retrata a vida dos sem-teto, com sua venda revertida para uma fundação que atende a essas pessoas.

Seu avô materno foi um soldado espanhol que lutou contra a ditadura do General Francisco Franco, na Guerra Civil Espanhola ocorrida no final da década de 1930. O avô paterno, italiano da Sardenha, construiu a casa da família em um antigo observatório nazista na França, dominada pela Alemanha de Hitler. Radicado no país, se tornaria pintor e psiquiatra. Eric diz ter forte influência de ambos – tanto que tem um projeto onde quer contar a história de seu avô paterno, ao lado de seu irmão Jöel. Longe do esteriótipo de ignorante, que permeia a maioria dos atletas, é amante do teatro e da filosofia, ambas notadas no filme em que teve a atuação mais aclamada pela crítica, À procura de Eric (analisado aqui).

Uma das fotos do ensaio de Eric para o livro "Elle, lui et les autres"
(Ela, ele e os outros), que retrata moradores de rua


É o enorme quebra-cabeças que se molda num pedido como esse, com um quê maradoniano. Cantona está interpretando um personagem? Não sabemos. Contudo, uma de suas comparações mais famosas é de que o futebol é muito semelhante a um palco de teatro. Mas fico com Platini, ao analisá-lo para um perfil traçado pelo jornal inglês Independent. “Temos dois Cantonas: um que existe e um que se expressa”. Fico com o segundo, neste caso.


21.11.10

Quebrando tabus

Se não é um multicampeão na Inglaterra, o Tottenham prima pela tradicionalidade. Equipe com quase 130 anos de vida, acumula apenas dois títulos do campeonato inglês ( o último ganho há exatos 50 anos). Porém, proporciona com o Arsenal um dos clássicos mais antigos e tradicionais da terra da rainha: o North London derby, com o por muito tempo "vizinho" Arsenal – quando a equipe jogava no estádio de Highbury, o estádio dos Spurs, White Heart Lane, estava a poucos metros de distância.

Porém, o clássico havia perdido um pouco da graça, tão grande era a freguesia dos Spurs frente aos Gunners nas últimas décadas. Entre 1999 e 2008, o Arsenal não conheceu a derrota diante dos arquirrivais. E a quebra do tabu só se deu por conta do uso de um "mistão" na Copa da Liga. Com força máxima, o Tottenham meteu 5-1 e chegou à final da competição – da qual acabaria com o caneco, ao bater o Chelsea.

Pela Premier League, eram 17 anos sem bater o time de Arsene Wenger na casa do adversário e contra os outros adversários de Big Four (além do Arsenal, Manchester United, Chelsea e Liverpool), nenhuma vitória em 68 jogos no principal torneio nacional. Porém, o Tottenham vem mostrando que pode igualar o seu último grande feito, quando foi campeão inglês (1960-61) e quase bateu o Benfica de Eusébio e compania, na antiga Copa dos Campeões europeus.

A virada sobre os Gunners, no clássico deste sábado, além da quebra dos tabus, mostrou um Tottenham com um time tão bom quanto o rival, analisando posição a posição. Arsenal este que estacionou no tempo desde o vice-campeonato da Champions League, em 2005-06, último momento de relevância da equipe de Arsène Wenger. Se Gomes não é um poço de segurança do gol, quando inspirado, pega muito. A defesa ainda é frágil (uma das piores da Premier League), mas do meio para a frente, é uma equipe perigosíssima. Muitos meias de habilidade povoam o setor, como Modric, Jenas, Palacios. Mas principalmente dois vêm comendo a bola: Van der Vaart, comandante da virada contra o Arsenal com um gol e dois passes, e Gareth Bale, promissor meia galês que deixou o ótimo Maicon comendo poeira na vitória sobre a Inter na Inglaterra. Esforçados no ataque, Pavlyuchenko, Crouch e Keane não são geniais, mas fazem o trivial: gols.

Todos comandados pelo técnico Harry Redknapp, desde 2008 na equipe e que vem crescendo no conceito dos ingleses e ganha força numa eventual substituição a Fábio Capello, que perdeu a rota do bom trabalho à frente do English Team desde o fiasco na Copa do Mundo de 2010. Empolgado com a vitória e apenas a seis pontos dos líderes Chelsea e Manchester United, o técnico se pergunta: "Porque não podemos vencê-la [a Premier League]?". Muita pretensão, mas a boa campanha na Champions (muito perto da classificação ao mata-mata) e subindo de produção no Inglês, os torcedores já se permitem sonhar com os dias de glória, onde jogar em White Heart Lane era sinonimo de pedreira.

18.11.10

Vitória do 10 que decide

O velho e o novo: Messi encanta hoje tanto quanto Ronaldinho nos encantou, num passado recente

Se o clássico entre Brasil e Argentina não foi tão empolgante quanto se esperava – e tenho grande convicção que o fato da partida ser no distante Catar tem influência –, ao menos, os torcedores puderam ver boa parte do futuro de ambas as seleções em campo: Thiago Silva, David Luiz, Ángel Di Maria, Javier Pastore e Neymar. Porém, o que chamou a atenção foi o duelo dos camisas 10.

De um lado, um Ronaldinho melhor do mundo em 2004 e 2005 e que atualmente é uma sombra de si mesmo dentro de campo e longe de encantar no Milan, como fez na Catalunha. Nos nossos eternos rivais, tinha o atual melhor do mundo e candidatíssimo ao bicampeonato Lionel Messi. Criticado por não conseguir exibir sua mágica no Mundial da África do Sul (como já disse o jornalista PVC, azar da Copa do Mundo), ele segue comendo a bola no Barcelona. Em 14 jogos oficiais pelos blaugranas nesta temporada, são impressionates 16 gols.

Ronaldinho não foi apático na partida. Procurou ser participativo e buscou a armação de jogadas. Mas faltou ser aquele jogador incisivo de outrora, como é, atualmente, seu ex-companheiro (e admirador) de Barça. Mesmo bem marcado pela boa e jovem dupla de zagueiros da Seleção, Messi quase havia deixado a sua marca na primeira etapa. E o cochilo de Douglas no fim da partida deu início a obra-prima de Messi, que venceu praticamente todo o sistema defensivo brasileiro e bateu sem chances para Victor. Gol de craque, tirado da cartola. Como só os grandes sabem fazer.

Não há demérito nenhum em perder para a Argentina. Mas a derrota poderia fazer Mano Menezes a repensar algumas escolhas. A exemplo de Ronaldinho, Robinho não pode atuar na equipe só pelo passado. Há tempos, o jogador do Milan está longe de fazer a diferença. Além dele, está na hora de Júlio César, da Inter de Milão, reassumir seu posto no gol. Nada contra Victor, que é bom arqueiro, mas nada justifica a ausência exagerada do camisa 1 da meta verde-amarela dos últimos anos.

Quanto aos albicelestes, o problema continua na frágil defesa. Do meio para a frente, muito potencial, que deve crescer nas mãos de Sérgio Batista, comandante da medalha de ouro olímpica argentina em Pequim/2008, tendo muitos jovens desse atual elenco sob a sua batuta.

17.11.10

Pobre Superclássico

Nunca uma rivalidade – que já dura mais de 102 anos e 333 jogos – teve os dois times em momentos tão pobres tecnicamente. A vitória do desesperado River Plate sobre o insosso Boca Juniors por 1 a 0 reflete um pouco da realidade desta que é e sempre será uma das maiores e mais tradicionais rivalidades do planeta bola, o Superclásico. Quem acabou com o jejum de sete jogos sem vitórias neste Apertura 2010 e quase três anos de vitória sobre os Xeneizes foi, ironicamente, um ex-rival: o zagueiro Jonathan Maidana, que defendeu o Boca por três anos.

Por enquanto, a vitória só serve para lavar a alma dos Millionários, às portas da possibilidade de ter que disputar a Promoción, o playoff contra o descenso à segunda divisão. Já o Boca não venceu nenhum clássico desta temporada, além do pífio aproveitamento no campeonato de 17 pontos em 14 rodadas, deve perder o técnico Claudio Borghi, que conduziu o Argentinos Juniors até o caneco do Clausura 2010, na primeira parte deste ano.

E a exemplo de 2010, os maiores vencedores da Argentina não disputarão a Libertadores em 2011. Uma perda e tanto para o futebol sul-americano, que tem em La Bombonera e no Monumental de Nuñez dois dos grandes palcos do continente.

No banco, adversários empatados: só em 2010, três técnicos diferentes dirigiram cada uma das equipes, que além de realizarem poucas contratações ou repatriações de impacto, não conseguem se renovar no elenco com a consolidação de promessas de sua base. Jogadores como os experientes Riquelme e Ortega, os “enganches” atuais – e ambos, ídolos históricos de River e Boca – não apresentam um futebol consistente há tempos. Trocando em miúdos, jogam vivendo do passado.

É esperar para que essa eterna renovação se concretize com êxito e as duas equipes possam, novamente, se confrontar e comportar como dois gigantes também no presente.

12.11.10

O alerta do caso Enke

Suicídio do goleiro Robert Enke comoveu a Alemanha há um ano atrás

Num mundo de glamour, dinheiro e fama, o caso do suicídio do goleiro alemão Robert Enke – quem completou um ano na última quarta-feira – serve para lembrar um outro lado do futebol: o do que acima de superatletas (alguns chegam a correr mais de 10 km durante as partidas, realizadas até duas vezes por semana), os jogadores são seres humanos.

A depressão de Enke, aos olhos de imprensa e torcedores, é mais silenciosa do que um problema físico, como os que vitimaram alguns jogadores nos últimos anos: Marc Vivien-Foe, Miklos Féher, Serginho, Antonio Puerta e Dani Jarque, por exemplo. Por mais negligência que exista da parte dos clubes, os problemas que ocasionaram as suas mortes eram clinicamente possíveis de serem descobertos. A depressão que acometia Enke, porém, era mais sorrateira. Muitas vezes, o próprio atleta não se dá conta desse quadro. Na contramão, seus empregadores, empresários e toda a roda gigante movimentada por eles no futebol dão pouca importância ou atenção à parte psicológica, de suma importância.

Um futebolista vive emoções distintas dentro do campo. A pressão é enorme e um lance fatal pode marcar um jogador para o resto da vida. Barbosa, goleiro "responsabilizado" pelo Maracanazzo da Copa de 1950, dizia que a sua pena foi maior que a de qualquer criminoso no Brasil (onde a lei penal só permite a prisão por até 30 anos), já que a pena dele já passava de 50 anos.

Apesar de Enke passar por tratamento psiquiátrico desde 2003, ele temia que o caso pudesse se tornar público, o que arruinaria sua carreira profissional, além de problemas particulares, já que ele possuía uma filha adotiva com menos de um ano de idade – pouco antes da adoção, Enke perdeu sua filha Lara em 2006, por um problema no coração.

Campanha pelos direitos dos animais: pauta constante na vida de Enke

Caminhando para a parte final de sua carreira, Enke teve uma carreira, até certo ponto, bem sucedida: estaria no elenco da Alemanha para a Copa de 2010, caso estivesse vivo; teve passagens por grandes clubes da Europa, como Barcelona, Benfica e Fenerbahçe; era defensor de causas como a Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais, na tradução para o português), além de muito querido pelos torcedores de seu último clube, o Hannover 96.


Sucesso, dinheiro e uma vida bem sucedida no futebol podem criar um coquetel, caso se misturem com os problemas, cotidianos a todos nós. Principalmente no Brasil, onde o uso dos serviços de psicologia parecem mais restritos aos profissionais, esse nicho deveria ser visto com mais atenção pelos dirigentes, prncipalmente nas categorias de base, na formação do atleta, e antes de tudo, do ser humano.

OUTRAS LEITURAS:

Uma vida tão curta - Texto do blog da jornalista inglesa Eleanor Oldroyd, da BBC (em inglês), que explica toda a situação e o ponto de vista da autora sobre a tragédia.

9.11.10

Vamos repatriar!

O site Globoesporte.com publicou recentemente uma matéria sobre a atual e a última dupla de ataque do Flamengo, constatando uma incrível diferença: Diogo e Deivid, contratados no meio do ano na janela de transferências do futebol europeu, custam cerca de R$ 300 mil a mais que os campeões brasileiros Adriano e Vagner Love, com um desempenho muito inferior. Simplesmente lamentável a ação dos dirigentes. Com a chegada da Patrícia Amorim ao comando do clube, bem como com o poder do futebol nas mãos de Zico, responsável pela chegada dos dois, pensava-se que algumas coisas seriam diferentes. Mas, ao que parece, o pagamento de salários europeus aos jogadores continua sendo praxe.

De acordo com a matéria, o time carioca desembolsa mensalmente cerca de R$ 928 mil para manter Deivid e Diogo na Gávea, enquanto tinha que pagar R$ 625 mil pelo Império do Amor. Como é que um dirigente consegue pagar uma fortuna dessas para trazer dois jogadores que, apesar de bons, custam todo esse dinheiro?

Não é de se estranhar que os clubes brasileiros vivem endividados. Enquanto houver esses gastos exorbitantes, insustentáveis, os balanços financeiros continuarão negativos. É louvável o esforço feito para manter ou repatriar algumas de nossas estrelas, mas sem o devido suporte, a política não se aguenta. Não dá para pagar salário de padrão europeu aos atletas que voltam do Velho Continente.

Essa ainda é outra forma de estimular a saída de atletas precocemente. Se Diogo, por exemplo, ficasse no Brasil, provavelmente nunca iria ter um salário desses. O que fazer? Ir para a Europa - não importa onde -, ou para o Oriente Médio, ficar esquecido por um ou dois anos e, além de ganhar muito dinheiro por lá, garantir a continuidade de nível salarial ao voltar para o Brasil. Para se ter uma ideia, o plano de carreira oferecido ao Neymar não chega ao valor que recebe a dupla de ataque flamenguista.

Ainda que o desempenho em campo fosse o mesmo, ou parecido, já seria, sob o meu ponto de vista, errado. Mas nem isso acontece. Muito pelo contrário, passa muito longe. Em 2010, Adriano fez 18 jogos pelo Flamengo e marcou 15 gols, enquanto Vagner Love disputou 29 partidas e balançou a rede 23 vezes. Já Deivid atuou em 15 oportunidades e fez 4 gols, ao passo que Diogo fez apenas um em 14 jogos. Será que a dupla DD vai ao menos salvar o Flamengo da Série B de 2011?

7.11.10

Os últimos serão os primeiros

Júlio César: goleiro mais consistente que subiu da base do Timão desde o ídolo Ronaldo

Neste Brasileirão de briga intensa pelo título, os rivais Fluminense e Corinthians tem mais do que o desejo pela taça em comum: ambos vem consolidando seus ex-goleiros reservas na defesa da meta.

O caso de Júlio César é mais consistente. Cria do Terrão corinthiano, o arqueiro de 26 anos teve uma árdua missão: substituir o goleiro Felipe, um dos pilares para o ressurgimento do Timão da Série B – e que seria campeão paulista e da Copa do Brasil de 2009 –, mas que saiu às turras com diretoria e boa parte da torcida. Bicampeão da Copa São Paulo de Juniores (2004 e 2005), subiu aos profissionais em 2005. E desde então, viu muitos goleiros de fora passarem à sua frente.

Com a saída de Felipe ao Braga, o goleiro vem sendo o titular durante todo o Brasileiro. Após um começo instável, o prata da casa vem embalado em maré de confiança. E os clássicos diante de Palmeiras e São Paulo, pelo segundo turno, mostram um goleiro seguro, pouco espalhafatoso e de personalidade totalmente contrária ao do seu antecessor. E ele pode repetir o último goleiro prata da casa campeão nacional: o eterno camisa 1 da Fiel, Ronaldo Giovanelli, ícone do gol alvinegro durante quase toda a década de 1990 e jogador que mais vestiu a camisa do time de Parque São Jorge na história.

Bem menos frequente que Júlio César, mas responsável direto pelos últimos quatro pontos ganhos pelo Fluminense, Ricardo Berna era uma espécie de “goleiro reserva eterno” do Fluminense. Em cinco anos de clube, foram apenas 43 jogos pelo clube. Porém, com as contusões de Fernando Henrique e Rafael, o terceiro goleiro já havia brilhado no clássico contra o Botafogo, na 30ª rodada. Mas no jogo contra o Inter, no Beira-Rio, Berna evitou a vitória colorada com defesas sensacionais. Contra o Vasco, em menor escala, também fez intervenções importantes.

Na parte de baixo da tabela, o Galo luta com todas as forças para fugir do segundo rebaixamento de sua história. Com a sensível melhora desde a chegada de Dorival Júnior, o goleiro Renan Ribeiro, cria do clube, ganhou de vez a posição de titular na meta atleticana, deixando o experiente Fábio Costa para trás (além dele, foram outros três goleiros este ano: Aranha, Marcelo e Carini). A moral do goleiro de 20 anos é tão grande que nem a falha no gol de Neymar, no mau empate por 2 a 2 em casa, fez os torcedores do Galo criticá-lo. Ao contrário. O jovem teve seu nome gritado nas arquibancadas, como forma de incentivo.

Se o Palmeiras está fora de qualquer aspiração no Brasileirão, o goleiro Deola vai se mostrando talhado na missão de substituir “São Marcos”. Mas, nas últimas partidas, o ex-reserva vem se mostrando um ótimo substituto ao ídolo, mostrando a força histórica da escola de goleiros do Palmeiras.

É inegável que a escola de goleiros brasileira evoluiu demais, principalmente nos últimos 25 anos. Tanto que os arqueiros nacionais, assim como os jogadores de linha, também viraram artigo tipo exportação. Vide Júlio César (Inter), Gomes (Tottenham), Júlio Sérgio (que sucedeu Doni na Roma), para citar os mais conhecidos na atualidade. E essa alternância nos times de massa em 2010 (há também os casos de Rafael, no Santos, e Marcelo Lomba, no Flamengo) corrobora essa tendência.

4.11.10

Tio Sam na Libertadores?

Beckham e Donovan: possíveis estrelas da Libertadores?

Na última sexta-feira, uma declaração de Nicolas Leóz, presidente da Conmebol, sacudiu o futebol sul-americano: “Faz tempo que queremos [trazer os times estadunidenses], mas não depende só da Conmebol”, disse ao jornalista Léo Brulá, do Lance!. A inclusão de times dos Estados Unidos e Canadá na Copa Libertadores traria inúmeros benefícios. E a própria MLS (Major League Soccer, a liga estadunidense de futebol), através de seu vice-presidente executivo Nélson Rodríguez, disse que jogaar a Libertadores "seria um sonho". Mas há implicações que não tornam essa opção 100% unânime, como parece à primeira vista.

Os benefícios, mais do que técnicos, seriam econômicos. Jogadores que brilham na MLS como Beckham, Henry e Donovan, por exemplo, poderiam desfilar seu futebol nos campos abaixo da linha do Equador, fato que atrairia mais patrocinadores ao campeonato, ajudaria a encher estádios, etc. O ganho técnico seria considerável, já que as equipes da MLS (assim como as mexicanas) não são piores do que venezuelanos, peruanos e bolivianos, por exemplo. Mesmo com todos os empecilhos que trazem conflitos técnicos à Libertadores (interesses da Conmebol e Concacaf), os times mexicanos – que disputam o torneio desde 1998 – já acumulam dois vice-campeonatos (mais do que times da Venezuela, Bolívia e Peru, sempre presentes).

Porém, o maior empecilho também é de ordem técnica. A exemplo dos times do México, se o calendário (que é conflitante) apertar aos times dos Estados Unidos, eles vão priorizar as ligas nacionais, por motivos econômicos. Nas quartas de finais da competição sul-americana de 2007, o Santos encarou o América mexicano. Após um empate sem gols no Estádio Azteca, as Águilas vieram para o jogo decisivo, na Vila Belmiro, com um time formado por reservas (na época, comentamos essa polêmica no blog, aqui). E a situação se tornou ainda mais patética quando o time só tinha três opções no banco. Tudo porque a equipe tinha a decisão para o Torneio Clausura, no final de semana seguinte.

A motivação em vencer o torneio para garantir uma vaga no Mundial de Clubes da Fifa também não existe, já que a vaga da América do Norte no torneio é decidida por meio da Concacaf Champions League. Na final de 2010, o Inter jogava diante do Chivas já garantido no torneio, que será disputado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Os times mexicanos venceram as últimas cinco edição do torneio continental da América do Norte e Central.

O próprio Leóz, na entrevista concedida ao Lance!, vislumbra uma fusão entre as entidades americanas, que fortaleceria não só a Libertadores ( e um torneio continental secundário de clubes, a exemplo da Europe League), mas também a própria Copa América e o sistema de disputa de vagas para a Copa do Mundo. Porém, esse ainda é uma realidade distante e utópica. E a própria Conmebol já mostrou que não sabe explorar a Libertadores, em seu formato atual, comercialmente. Um bom planejamento, na fórmula e no marketing, deixaria a competição ainda mais visível e interessante.

OUTRAS LEITURAS:

MLS na Libertadores? Os prós e contras da hipótese, por Leonardo Bertozzi, da ESPN.
Uma notícia alvissareira: times da MLS na Libertadores, Por Emerson Gonçalves, do Olhar Crônico Esportivo, blog do Globoesporte.com

2.11.10

Superando Muricy


O técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, deu recentemente algumas entrevistas coletivas visivelmente nervoso e descontrolado, utilizando palavrões e xingando jornalistas, quando questionado sobre a situação física do meia Valdivia. Nem na fase mais aguda da grosseria do Muricy Ramalho houve xingamentos. O que é lamentável.

A situação do chileno é ridícula. A tal da fibrose, que não é uma lesão, de acordo com o treinador alviverde, fez com que o atleta fosse substituído com menos de 45 minutos em mais de uma oportunidade. E Felipão ainda fica bravo por conta das perguntas dos jornalistas, que em nenhum momento foram inconvenientes ou grosseiros. Pelo contrário, apenas questionaram sobre a situação de Valdivia. Mas o comandante palmeirense não entendeu assim, e ainda chamou alguns profissionais de palhaço.

O técnico pentacampeão já complica o trabalho da imprensa e, consequentemente, dificulta a chegada de informações sobre o time ao torcedor e até mesmo a exposição dos patrocinadores ao proibir a entrevista de jogadores após os jogos. Não sei se o trabalho dos jornalistas europeus é muito dos brasileiros, e Felipão tenha se desacostumado disso desde que deixou a Seleção Brasileira em 2002. Alguns dizem que ele faz isso para blindar a equipe e desviar a atenção dos problemas do Palmeiras para si mesmo. Pode ser uma estratégia válida. Mas não da forma como vem sendo feita.

Antes de tudo, é preciso respeito e educação por parte de Scolari - ainda que ele tivesse razão, o que não é o caso. O técnico, aliás, coleciona tantos títulos quanto polêmicas em sua carreira, mas não precisa acrescentar mais uma dessas em sua biografia. A imprensa, os torcedores e o futebol agradecem.