31.3.11

Enésima chance

Sem pompas, Adriano foi apresentado nesta quinta-feira ao Corinthians. Que aliás, fez bem ao não rivalizar com o São Paulo, apresentando o atacante no mesmo dia que Luís Fabiano (na última terça), altamente identificado com o São Paulo e uma aposta cara feita pelo clube do Morumbi, que pagou a bagatela de 7,6 milhões de euros no jogador de 30 anos, que apesar do histórico de bad boy do passado, é uma certeza para o futuro do clube. Enquanto a festa do Fabuloso deu o tom da apoteótica apresentação testemunhada por 45 mil são-paulinos, apenas um batalhão de uma centena de repórteres "recepcionou" o novo reforço do Timão.

Longe da unanimidade entre os próprios corinthianos, as perguntas de cunho pessoal tomaram boa parte da apresentação, fechada à torcida. E o Imperador deu algumas respostas duras, falou do apego à família e do velho clichê do recomeço, reclamando da “perseguição” da imprensa. Que tem muitos momentos de exagero, é verdade. Contudo, muitas vezes, é provocada pelas suas próprias atitudes, principalmente na transição Inter-Flamengo-Roma.

“O que mudou desde que eu sai daqui? Agora estou muito mais maduro, sou um outro Adriano, e vim à Itália para provar isso”, disse o brasileiro á época de sua apresentação na Roma, em 9 de junho. As contusões o atrapalharam, é verdade, mas Adriano deixou a cidade eterna tendo feito apenas oito jogos, nenhum gol e com intermináveis novelas de retorno à capital italiana desde o Rio de Janeiro, como no ano novo e em fevereiro deste ano (estava no país, recém-operado do ombro direito). Isso depois de dizer que tinha um “débito com o futebol italiano” – pela maneira como forçou sua saída da Inter ao Flamengo, em 2009.

Depois das passagens por Flamengo e Roma, o possível rendimento do atacante no Corinthians é uma incógnita. Primordial no hexacampeonato brasileiro do Fla – ao lado do veterano meia sérvio Petkovic –, Adriano tinha escancaradas regalias no clube carioca, do qual é torcedor declarado e para onde só não voltou por “conflito de filosofia”, outro nome para uma possível chance de desagregar o elenco comandado pelo egocêntrico Vanderlei Luxemburgo, que tem Ronaldinho como estrela maior. Com cláusulas de rescisão fixadas no contrato (segundo o presidente do Timão, Andrés Sanchez, a pedido do próprio atacante), acionadas em caso de indisciplina, não parece que o Imperador desfrutará das mesmas facilidades da cidade maravilhosa no Parque São Jorge.

O clube, que ainda está sob a sombra de eliminação precoce da Libertadores 2011, já deu mostras de sua (por vezes, exacerbada e irracional) cobrança, no episódio de apedrejamento do ônibus, no início deste ano. Por isso, Adriano terá de estar tinindo, quando se recuperar da lesão do ombro. Além disso, terá que perder muito peso e entrar em forma rapidamente, para que não se torne outro dos alvos de torcedores e imprensa, como aconteceu na segunda metade da passagem de Ronaldo pelo Corinthians.

Em se tratando de futebol brasileiro e com 29 anos, o Imperador tem bola pata gastar, é inegável. Estará perto da sua amada Vila Cruzeiro – uma ponte aérea de distância. Resta saber se, nesse novíssimo recomeço no futebol brasileiro, ele fará por merecer a vaga no inchado ataque do time comandado por Tite (que já possui Liedson, Dentinho, Jorge Henrique, Willian e Edno). Um novo Adriano ou um “novo Ronaldo”?

30.3.11

Elite do futebol ou futebol da elite?

Enquanto metade dos clubes do antigo Clube dos 13 (Santos, Corinthians, Vasco, Grêmio, Cruzeiro, Goiás, Coritiba, Sport e Vitória e Bahia) já anunciou acerto individual com a Rede Globo para a transmissão do Brasileirão nos próximos anos – contrariando o acerto coletivo da entidade com a Rede TV –, a Espanha parece caminhar para outro nível do acerto individual de cotas (e, porque não, de uma possibilidade futura por aqui): a maioria dos clubes da liga espanhola (Liga BBVA) exige nova negociação dos direitos, que envolve maior cota oriunda de casas de apostas e o fim de uma lei federal que estabelece a transmissão de uma partida na TV aberta por rodada. O grupo alega que está perdendo dinheiro, já que poderia negociar essas partidas com as redes de TV fechada.

Para isso, a LFP (Liga de Fútbol Profesional) queria fazer uma paralisação do torneio neste final de semana (nos dias 2 e 3 de abril, em período convenientemente chamado de “folga” pelo presidente da entidade, o advogado José Luis Astiazarán). Contrários a resolução e aos termos estabelecidos, Villarreal, Sevilla, Athletic Bilbao, Zaragoza, Espanyol e Real Sociedad entraram na Justiça espanhola e conseguiram impedir a paralisação, garantindo a realização dos jogos. O irônico é que a própria LFP foi ferrenha adversária quando a associação dos jogadores espanhóis (AFE) pediu o adiamento dos jogos do último dia 2 de janeiro, um domingo, na esteira de comemoração do Ano Novo. Aquela jornada foi mantida, com Astiazarán dizendo em “manter o calendário acertado desde junho de 2010”.

Como levantou Erich Beting em seu blog Negócios do Esporte, a Espanha é a única das consideradas ligas de ponta da Europa (ao lado de Inglaterra, Itália, Alemanha e França) em que os clubes negociam os direitos de televisão individualmente. Dos 550 milhões de euros negociados com os 20 clubes até 2015, Real Madrid e Barcelona abocanham 300 milhões, 54,54% do valor total. A discrepância econômica acaba prejudicando a parte técnica. Com menos dinheiro para investir em infraestrutura e reforços, o duo de rivais está muito distante das outras agremiações. Em 2010/11, até a 29ª rodada, O Barcelona liderava o torneio com 78 pontos, cinco de vantagem sobre o Real e 24 diante do terceiro e quarto lugares, Valência e Villarreal (54). O Espanyol, rival catalão do Barcelona, é o quinto, com apenas 43 pontos. Em 2009/10, o Barça foi bicampeão espanhol com 28 pontos sobre o terceiro lugar. Em 2008/09, a vantagem culé era de 17 pontos (em ambos, o Real foi vice).

Com o país à beira de um recesso econômico (segundo a Folha de S.Paulo, 20% da população economicamente ativa ficará sem emprego) e com eleições regionais marcadas para o próximo dia 22 de maio, parece difícil o governo e a LFP costurarem tal acordo, que só deixaria como opção de transmissão para a TV aberta os jogos da Copa do Rei (torneio secundário no país) e as partidas de Champions League e Europa League, subsidiados pela Uefa, acentuando a elitização nas transmissões do futebol. Na contramão das ligas mais poderosas, que lucram com campeonatos mais técnicos e montantes maiores aos clubes pagos pelos direitos de arena (somente a Ligue 1 francesa recebe menos que a Espanha) e até mesmo das seleções europeias, que outorgaram à Uefa a negociação coletiva das partidas da Euro-2016 e das Eliminatórias do continente para a Copa de 2018, com o objetivo de captar mais dinheiro para as federações nacionais.

Como postado aqui, a Argentina radicalizou “ao contrário”, estatizando todas as transmissões esportivas (já era assim com o futebol), o que favorece aos cidadãos, mas pode ser um precedente perigoso nas mãos do governo Cristina Kirchner, no sentido de controle dos meios. E a situação do futebol espanhol, que precisa se reformular quanto aos direitos de TV, pode servir de alerta ao Brasil, num futuro próximo, já que os clubes caminham para fechar acordos individuais. Em um Brasileirão, com todos os seus defeitos de gestão, que prima pelo grande equilíbrio entre os grandes clubes, a soma de má gestão e maus resultados em campo pode causar um fenômeno semelhante ao do país ibérico (mesmo com as realidades distinta entre os clubes), que é tão apaixonado ao futebol quanto nós somos por aqui.

28.3.11

Rogério Ceni centenário!


Ele é goleiro, mas neste domingo colocou mais uma vez seu nome na história do futebol mundial ao marcar seu centésimo gol na carreira. Amado e idolatrado pelos são-paulinos, odiado por muitos, admirado e respeitado por tantos outros, Rogério Ceni marcou contra o rival Corinthians, de falta, seu gol número 100, todos com a camisa do São Paulo.

E para chegar a essa marca, foram necessários 14 anos de treinamentos e cobranças, uma vez que tudo começou num duelo pelo mesmo Campeonato Paulista, contra o União São João de Araras, no dia 15 de fevereiro de 1997. De lá para cá, foram mais gols no Estadual, Copa do Brasil, Brasileiro, Libertadores e Mundial, entre outros.

Conquista mais do que merecida para um profissional dedicado, sempre em busca da perfeição, obcecado pela vitória do seu time. Nesse caminho, conquistou quase todos os títulos possíveis, certamente os mais importantes: Paulista, Brasileiro, Libertadores e Mundial. Apesar de reserva, tem também a medalha do pentacampeonato com a Seleção de 2002. A grande lacuna, muito por causa da genialidade dos cartolas que mandam no futebol nacional, fica por conta da Copa do Brasil. Competição que o São Paulo voltou a disputar nesta temporada.

Com a marca, Rogério escreve com mais força seu nome como o maior ídolo e jogador da história do São Paulo, apesar do próprio goleiro negar estar em tal patamar, citando nomes como Raí e Pedro Rocha como exemplos. Difícil aceitar, quando um deles coloca o "ídolo" Camisa 01 como maior de todos os tempos do clube.

E, como já ficou registrado em sua personalidade forte e vencedora, ao ser questionado sobre o que vem agora, depois de tantos títulos e uma marca que dificilmente será um dia batida por outro goleiro, o arqueiro simplesmente repondeu: o próximo jogo. Quer jogar e vencer, parece que cada vez mais.

Veja todos os 100 gols marcados por Rogério Ceni
Confira as estatísticas

25.3.11

Mártir por acaso

O homem que desencadeou uma revolução na relação entre clube-jogador vive atualmente com uma pensão de 630 euros, paga pelo serviço social do governo belga. Ex-alcólatra e vivendo a base de antidepressivos, Jean-Marc Bosman ressurgiu na mídia esportiva, em aparições feitas no tablóide britânico The Sun.

Bosman esteve longe de ser um craque dentro das quatro linhas. Revelado pelo Standard Liège, da Bélgica, o meio-campista acabou se transferindo ao rival Racing Club, da mesma cidade, em 1988. Pouco aproveitado e em final de contrato, a agremiação (que detinha o seu passe), propôs a renovação por apenas mais um ano, com redução de mais de 50% de seu salário. Bosman não topou, mas tinha que esperar outro clube comprar seus direitos, mesmo com seu contrato expirado. Após negociar com o Dunkerque, da França, seu antigo clube não topou o valor acertado com os franceses, "prendendo" o atleta e impedindo-o de receber e de trabalhar com seu sustento: o futebol.

A partir de 1990, o jogador entrou na Justiça da União Europeia contra seu ex-clube, em batalha que envolveria as esferas de poder mais influentes do futebol atual, como a Uefa e a Fifa. Após cinco anos e com a carreira praticamente terminada durante o processo, a decisão da UE lhe foi favorável em dezembro de 1995, após cinco anos em que Bosman jogou por ligas menores da França. O "sacrifício" desencadeou uma decisão sem precedentes. A partir dali, qualquer jogador que atuasse em países da União Europeia estaria livre do vínculo com seu contratante após o final do contrato, sem precisar pagar qualquer tipo de compensação. Uma espécie de "Lei Áurea" do futebol, já que ela foi estendida e aperfeiçoada não só no velho continente, mas em todo o planeta bola – por aqui, com a Lei Pelé, de 1998.

O destino de Bosman não é diferente de muitos craques do passado aqui do Brasil. É a mistura dos problemas pessoais com a imprudência financeira, que leva as pessoas à ruína, tal qual aconteceu com o eterno gênio Garrincha, por exemplo. Segundo artigo publicado no "The Sports Blog", do britânico The Guardian, o ex-jogador belga ganhou 750 mil euros das batalhas judiciais, tinha algumas posses e foi agraciado com uma partida beneficiente da FIFPro. Mas, de certa forma, minimiza um pouco o feito desencadeado pela sua ida à Justiça. Mesmo movida por direitos estritamente pessoais, trata-se de um marco.

A Lei Bosman, no entanto, não é a ideal. Com mais poder, mas sem orientação adequada, muitos jogadores são guiados pelos empresários. Os principais prejudicados são, principalmente, os pequenos clubes formadores, pouco amparados pela lei. Ainda assim, uma eventual ajuda a Bosman – seja ela financeira ou em forma de um tratamento – deveria partir tão e somente da própria classe de jogadores, que possui unidade forte na Europa (ao contrário do Brasil). Mesmo com eventuais erros do passado do ex-meia, que acabou com a carreira comprometida por uma causa pessoal. Mas de consequências globais ao futebol moderno.

21.3.11

Bombonera não pulsa

Boca sofre nova derrota em seus domínios: um gol e nenhuma vitória em casa em três jogos deste Clausura

Dono de seis Libertadores (quatro delas, conquistadas entre 2000 e 2007), três mundiais e 23 títulos argentinos, o Boca Juniors está em parafuso – situação recorrente desde a conquista do Clausura de 2008. Há cinco jogos sem marcar e com apenas uma vitória nos seis jogos do torneio, os Xeneizes amargam a antepenúltima colocação deste Clausura, com apenas quatro pontos de 18 possíveis.

Após a boa pré-temporada, a contratação de bons reforços como os meias Walter Erviti (ex-Banfield) e Diego Rivero (ex-San Lorenzo), o Boca começou o campeonato sendo goleado pelo Godoy Cruz, jogo em que perdeu o craque Riquelme, contundido. No último domingo, esperava-se que o retorno do Pibe, contra o modesto e surpreendente Olimpo, marcasse o reencontro do time com as redes e a vitória. Ainda mais atuando em casa, a temível Bombonera. Não para o Aurinegro de Bahía Blanca, que segurou a pressão Xeneize, venceu por 2 a 0 e assumiu a liderança da competição. Contratado na véspera de Natal de 2010, o técnico Júlio César Falcioni já sofre pressão dos torcedores e imprensa.

Além da nova crise, um dado, em especial, mostra o quanto o Boca se tornou frágil. Levantamento feito pelo site do Clarín aponta que, desde que o Boca se despediu precocemente da Libertadores de 2009, eliminado pelo Defensor uruguaio nas oitavas (a partir dali, não voltou ao torneio continental), a mística entre o clube, sua casa e a intimidação dos adversários no caldeirão amarelo e azul não foi mais a mesma. De maio de 2009 até a partida contra o Olimpo, o Boca ganhou menos da metade das 35 partidas que disputou em seus domínios: 15 vitórias, oito empates e 12 derrotas. Neste Clausura foram duas derrotas e um empate sem gols no mítico estádio. É o reflexo de uma equipe, mera sombra de um outrora passado vitorioso, que impressionava os outros clubes sul-americanos.

Como analisou o amigo Vinícius Grissi em seu blog Marcação Cerrada, nem Riquelme resolveu. E com o maior artilheiro de sua história, Martín Palermo, em seca de gols desde dezembro de 2010, o Boca flerta com algo que lhe é pouco familiar em sua história pra lá de centenária: o ostracismo e a condição de mero coadjuvante no futebol argentino.

20.3.11

Mão amiga

Com o goleiro Lukasz Fabianski fora desta temporada (lesão no ombro) e a nova aposta Szczesny com uma contusão no dedo, o técnico do Arsenal, Arsène Wenger, se viu apenas com Almunia apto para jogar. Por isso, o francês – que só pode contratar um jogador vinculado a outro clube na janela de transferências de agosto – não hesitou em chamar um velho conhecido do descanso para usar novamente as luvas de arqueiro: Jens Lehmann, 41 anos, volta para compor o elenco, após curtir apenas seis meses de aposentaria dos gramados, quando encerrou a carreira pelo Stuttgart.

A fase do Arsenal parece mais negra do que nunca. O gigante clube londrino, que atravessa seca de títulos desde 2005, vinha bem na Champions League, está na briga com o Manchester United pela Premier League e alcançou a final da Copa da Liga Inglesa (coincidentemente, sua última conquista), diante do Birmingham. Porém, um elenco jovem e devastado por lesões – além da dupla de goleiros poloneses, Fàbregas, Walcott, Djourou, Vermaelen, Alexandre Song e Diaby povoam o departamento médico – passou como um furação na temporada dos Gunners, no espaço de 20 dias desde o final de janeiro: a eliminação diante do Barcelona, na ainda inédita busca continental; a surpreendente derrota para os Blues na decisão, com uma falha patética da dupla Koscielny-Szczesny; outra eliminação, desta vez diante do Manchester United, pela Copa da Inglaterra, ainda na fase de oitavas; por fim, o empate contra o modesto West Brom, pela Premier League, que deixou a equipe a cinco pontos do líder Man United (com um jogo a mais), dificultando a reconquista do título nacional, que não acontece desde 2003/04 com o invicto time de Lehmann, Campbell, Ashley Cole, Vieira, Pirès, Bergkamp e Henry, imbatível por impressionantes 49 jogos e que tinha na equipe alguns talentos descobertos por Wenger, casos dos franceses Vieira e Henry, pliares do time.

A política de jovens de Wenger é, como conceito, muito boa. Mas a acentuação e a massividade em contratações de jovens talentos vem prejudicando o Arsenal, competitivamente falando, nos últimos anos. Desde a saída do próprio Lehmann do Arsenal, em 2008, a equipe não efetiva um goleiro à altura. O irregular Manuel Almunia era o sucessor natural do arqueiro alemão, mas nunca se estabilizou e perdeu o posto de titular após duas temporadas. Jovens como o italiano Vito Mannone, Fabianski e o próprio Szczesny (20 anos e alçado a titular nesta temporada) foram, de certa forma, jogados na fogueira. E ainda não corresponderam.

A volta de Lehmann, em si, não é passível de crítica, dada a situação de inúmeras lesões no elenco. Mas a repatriação do goleiro é, de certa forma, irônica. Trata-se do último atleta representante de uma geração vitoriosa dos Gunners, que arrebataram duas Premier Leagues e outros três vices nacionais na primeira metade da década passada, além das taças inglesas e do honroso vice-campeonato europeu de 2005/06, perdido para o ótimo Barcelona de Frank Rijkaard.

Desde então, o clube se sacrificou para a construção de sua nova casa, o Emirates Stadium, de US$ 770 milhões, que o podou no investimento em grandes montantes para contratações. Porém, passados quase cinco anos de sua inauguração, os próprios diretores do Arsenal já disseram ter disponibilizado meios para a vinda de bons reforços. Que a presença do velho goleiro alemão relembre Wenger que é sim preciso se investir em talentos com experiência e rodagem. Entre eles, os preciosos tesouros que o treinador francês tanto sonha em desvendar possam surgir com mais naturalidade e com menor pressão. E numa equipe vitoriosa, o que facilita todo esse processo.

17.3.11

Geração J.League

*Texto redigido originalmente para a seção "Meninos ganham campeonatos", do Olheiros

A geração japonesa que surpreendeu a todos chegando à final do Mundial Sub-20 de 1999 foi um dos marcos do crescimento e da popularização do futebol no país. Nos campos da Nigéria, ícones futuros dos Samurais Azuis como Shinji Ono, Junichi Inamoto, Naohiro Takahara e Yasuhito Endo ajudaram a equipe nipônica a cair de pé, mesmo com a goleada por 4 a 0 na final contra a Espanha – dos futuros campeões do mundo Casillas e Xavi, entre outros.

O vice-campeonato veio na esteira da criação da J.League, que profissionalizou o futebol do país em 1993. O crescimento do torneio nacional fortaleceu a seleção japonesa, que conseguiu disputar sua primeira Copa do Mundo em 1998. Além disso, seu futuro foi lapidado com os atletas que surpreenderam com o vice-campeonato do torneio de juniores – um ano depois, três jogadores daquele elenco foram campeões asiáticos com o time principal. “Tive sorte de encontrar uma geração muito boa, que chamo especialmente de ‘Geração J. League’”, disse o francês Philippe Troussier, que comandou a equipe Sub-20 e a principal entre 1998 a 2002 e ajudou a moldar as bases de crescimento da seleção nipônica.

Pontapé inicial

Mesmo com o interesse inicial dos japoneses pelo futebol, jogado nas universidades desde as décadas de 1920 e 1930, o esporte bretão acabou não se desenvolvendo por completo (em parte, por causa do país destruído na Segunda Guerra Mundial). Por isso, a primeira aparição da seleção japonesa aconteceu apenas nos Jogos Olímpicos de 1968, na Cidade do México, quando conquistaram a medalha de bronze – seleções mais tradicionais como Brasil, França e Espanha mandaram elenco de desconhecidos ao torneio.

Ainda assim, o futebol local ficou estagnado no semi-amadorismo. Os times, basicamente, ostentavam o nome de grandes multinacionais nipônicas e acabavam despertando pouco interesse, já que a intenção primordial dessas empresas era meramente publicitária, com seus atletas, na grande maioria das vezes, sendo seus funcionários. Estrangeiros, como o brasileiro Ruy Ramos, só chegaram no fim dos anos 70 ao Japão.

No final da década de 1980, os cartolas do país começavam a discutir as bases para a criação de uma liga nacional. Com o suporte das grandes corporações, os times adotaram nomes referentes às cidades nas quais eram estruturados e formaram a J. League, que deu seu pontapé inicial em março de 1993.

Além da familiarização do futebol para um novo e emergente mercado, que trouxe diversos craques (entre eles, Zico, Leonardo, Dunga e Gary Lineker), o investimento na formação de novos atletas passou a acontecer de forma mais acentuada. E com a chegada de mais times à divisão de elite (pulou de 10, em 1993, para 18, em 1998), uma nova fornada de talentos da base surgiria naturalmente. “Esses jovens estiveram em contato com vários jogadores estrangeiros. Era o começo da J. League, em 1993. Quando eles conceberam a liga, a primeira estratégia era trazer alguns técnicos e atletas de fora, lideranças como Lineker e Dunga. E essa ideia influenciou os garotos”, analisa Troussier.

Campeã asiática de 1992 – atuando em seus domínios, ainda na era pré-J.League – a seleção japonesa não era presença constante nas competições continentais (disputou a Copa da Ásia pela primeira vez somente em 1988). Porém, os japoneses quase foram à Copa de 1994, perdendo a classificação no último jogo, contra o Iraque. Contudo, a vaga inédita ao Mundial viria na edição seguinte. Mas, eliminada ainda na primeira fase, sem vitórias e apenas com um gol marcado em três jogos, a Federação Japonesa (JFA) resolveu apostar em Troussier, de passagem marcante pelo futebol africano e conhecido como “bruxo branco”.

Mudança de hábito

Formada inteiramente por atletas da J.League, o elenco do Japão Sub-20 chegava com poucas pretensões à Nigéria (foram quadrifinalistas em 1995 e 1997). Ainda assim, surpreendeu, em um grupo formado com times mais experientes no cenário internacional como Inglaterra, Estados Unidos e Camarões.

A derrota de virada na estreia diante dos africanos por 2 a 1 parecia confirmar a vocação de coadjuvante dos japoneses. Contudo, os comandados de Troussier deram início a uma arrancada espetacular, batendo os americanos (3 a 1) e ingleses (2 a 0) e garantindo a ponta daquela chave no saldo de gols. Com um futebol de velocidade e de muita disciplina tática, o matador Takahara, o meia Masashi Motoyama e o cerebral capitão Ono – que esteve no grupo que foi ao Mundial da França – mostravam a vocação ofensiva do time.

O mata-mata trouxe a primeira vitória suada diante de Portugal, de Simão Sabrosa, nas penalidades. Nas quartas, diante do embalado México (havia goleado a favorita Argentina nas oitavas por 4 a 1), Ono e Motoyama comandaram o triunfo por 2 a 0. Depois, o tarimbado Uruguai caiu diante dos Samurais Azuis por 2 a 1. Como um sonho, os nipônicos se viram na final diante da Espanha. Mas a ausência de Ono, suspenso, e a qualidade incontestável espanhola, somadas à apatia do time na decisão, resultou em um elástico placar de 4 a 0. Nada que tirasse o mérito da grande campanha, que traria um excelente legado.

Adubando os Samurais

Um país que fortaleceu sua liga local e as suas categorias de base tendo uma geração de novos jogadores, que alcançou bons resultados e estava prestes a sediar uma Copa. O entusiasmo com o futebol e o crescimento dos Samurais Azuis foi natural. Depois da semente plantada no mundial da Nigéria, a equipe principal começaria a ser ensaiada no torneio de futebol das Olimpíadas de Sydney, em 2000. Koji Nakata, Inamoto, Tomoyuki Sakai, Motoyama e Takahara juntariam forças com os futuros craques Shunsuke Nakamura e Hidetoshi Nakata para levar o Japão até as quartas de final, quando caiu nos pênaltis diante dos EUA.

Remanescente da equipe que esteve na Nigéria e também campeão da Ásia no início de 2011, Endo caminha para bater o recorde de jogos pelos Samurais Azuis. Takahara é o quinto maior artilheiro da história dos nipônicos. Inamoto brilhou na Copa de 2002. E muitos jogadores desta geração, alguns de presença constante na seleção nos anos seguintes, abriram portas para os jogadores do país no cobiçado mercado europeu. A primeira safra “profissionalizada” de atletas foi a grande responsável por elevar o status do futebol japonês pelo mundo.

Ficha Técnica

Clube/Seleção: Japão
Treinador: Philippe Troussier
Competição: Mundial Sub-20
Ano: 1999
Escalação: Minami; Teshida, Tsujimoto, Koji Nakata e Ogasawara (Kaji); Endo, Sakai, Motoyama e Ono; Nagai e Takahara

15.3.11

Inter, cada vez mais "nazionale"

Se em seu elenco profissional a Internazionale de Milão faz jus ao seu nome – além do agora naturalizado Thiago Motta, apenas os goleiros reservas Castellazzi e Orlandoni, os zagueiros Ranocchia e Materazzi e o atacante Pazzini são italianos –, no futebol da velha bota, a equipe nerazzurri volta a ser o último bastião de resistência do país nas competições europeias. A virada épica desta última terça-feira sobre o Bayern, em Munique, evitou que uma situação de dez anos atrás voltasse a se repetir: a de não ter nenhum time italiano na fase de quartas de final das principais competições continentais (Champions League e Europa League).

Tida como uma das principais ligas do planeta, a Serie A do Calcio vem perdendo força gradualmente. Somente contando com a hegemonia da própria Inter, atual pentacampeã nacional, o país perdeu uma vaga de acesso à Champions para a Alemanha. Agora, serão apenas dois lugares na fase de grupos e um na fase eliminatória, segundo o coeficiente estabelecido pela Uefa para distribuir vagas ao torneio. Na última semana, Milan e Roma caíram na Champions, enquanto o atual terceiro lugar do italiano Napoli foi surpreendido pelo Villarreal na Europa League.

Depois do escândalo que envolveu o futebol da bota em 2006, conhecido como Calciocaos, que trouxe à tona resultados arranjados e aliciamento indevido de atletas nas temporadas 2004/05 e 2005/06 – que envolveu times como a Juventus, Milan, Fiorentina e Lazio, entre os principais –, a Itália viveu momentos isolados no campo, que ainda não haviam sofrido diretamente as consequências do episódio que se arrastou nas páginas policiais e pelos tribunais: a conquista da Copa do Mundo de 2006 (que ocorreu concomitantemente à revelação dos escândalos) e o título da Champions League do Milan, em 2006/07, conquistado, em grande parte, graças às jornadas inspiradas do meio-campo Kaká. Só em 2009/10 que a já hegemônica Inter, orquestrada pelo treinador José Mourinho, voltou ao topo da Europa, que não via há 45 anos.

Ouvido pelo jornal italiano La Reppublica, o atual técnico do Chelsea, Carlo Ancelotti, (que comandou o Milan em sua última conquista europeia) não se surpreendeu com a perda da vaga italiana na principal competição de clubes no mundo. “A crise do futebol italiano é transitória: pouco investimento, talento e muitas dificuldades na seleção. Em outras épocas, as táticas italianas faziam diferença, mas os outros nos alcançaram. As últimas 16 Ligas dos Campeões foram vencidas nos contra-ataques. Não há muito o que inventar no futebol. Nós não aprendemos, mas os outros, sim”, cravou.

Mesmo com o campeonato nacional mais disputado dos últimos cinco anos (Milan é o líder, mas a rival Inter e a surpreendente Udinese fazem campanhas de recuperação nas primeiras posições, enquanto Napoli e Lazio patinam após bom início), o futebol italiano atravessa mau momento, que se evidenciou com mais força após a eliminação vexatória ainda na primeira fase da Azzurra na última Copa do Mundo, na África do Sul. Os poucos investimentos na contratação de grandes jogadores e o pouco espaço dado para os pratas da casa nas equipes principais do país são algumas das razões listadas em um artigo de Fabrizio Bocca, jornalista do La Reppublica (antes do título europeu da Inter), ainda em 2010. Ainda assim, boa parte dessa realidade ainda é muito latente no Calcio. Enquanto isso, após a classificação heroica na Bavária, a Inter continua a carregar sozinha a bandeira italiana nos campos da Europa.

12.3.11

O melhor dos repatriados

O São Paulo sacudiu o futebol brasileiro ao desembolsar 7,6 milhões de euros pelo atacante Luís Fabiano, cobiçado por clubes europeus e brasileiros. E na onda de repatriações de grandes estrelas recentes tupiniquins, desencadeada por Ronaldo, em 2008, a vinda do Fabuloso tem tudo para gerar ótimos frutos dentro e fora de campo para o Tricolor.

Além de sua identificação com o clube do Morumbi (que deve ter pesado decisivamente para a sua volta), o centroavante é o que reúne menos incógnitas técnicas aos seus investidores, além de ter saído em alta de seu último clube no exterior. Ronaldo chegou ao Timão após longo tempo de molho, por uma contusão; Adriano (que não deu tão certo assim em sua primeira volta ao São Paulo), era visto como indisciplinado e mimado no futebol italiano – e ainda assim, contribuiu para o título brasileiro de 2009 do Flamengo; Fred saiu “brigado” com o Lyon, além de contusões constantes no Flu; Ronaldinho ainda é dúvida, por motivos semelhantes aos do Imperador; Rivaldo, o mais veterano entre os repatriados, estava há algum tempo sem atuar, depois de aventura no inexpressivo futebol do Uzbequistão.

Definido pelo Sevilla como “um dos grandes” de sua história, Luís Fabiano deixa o clube Andaluz após seis anos de serviços prestados e como um dos cinco maiores goleadores de sua história, com 106 gols. Ao deixar um clube com o qual se identificou para outro com o qual também nutre muito carinho, o atacante deve manter seu nível por aqui, vide o sucesso recente de Liedson – outro que, assim como o Fabuloso, deixou seu time anterior com muita moral para voltar ao Corinthians, com o qual se identifica – que já contabiliza a marca de oito gols em seis partidas. Além disso, voltará mais maduro e menos “bad boy” ao clube, mostrando o quando evoluiu técnica e pessoalmente desde que deixou o São Paulo, em 2004, para uma passagem discreta pelo Porto, para depois estourar pelo Rennes, o que chamou a atenção do clube rojiblanco.

Destaque da seleção brasileira na Copa das Confederações de 2009 e uma das principais peças do Brasil na Copa do Mundo de 2010, Luís Fabiano chega nas nuvens ao São Paulo e com tudo para reeditar as apresentações e raça que conquistaram o torcedor. De quebra, o presidente Juvenal Juvêncio dá uma cartada de mestre rumo ao terceiro mandato seguido ao São Paulo, ao gastar uma fortuna com um jogador de alto nível, quebrando a tendência de contratações do clube nos últimos anos, como bem atentou o amigo Dassler Marques, no blog Papo de Craque.

10.3.11

Pequena grande vitória

O jogo era válido pelas Eliminatórias Asiáticas para o torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Com um golaço à la Zidane (vídeo abaixo), o atacante Abdelhamid Abu Habeeb deu a vantagem à Palestina contra a Tailândia – que havia vencido a primeira eliminatória, em Bangcoc, por 1 a 0 –, mas a seleção palestina acabou eliminada nos pênaltis. A alegria de se comemorar um belo gol e a frustração de uma eliminação, elementos mais do que presentes no futebol, enfim, foram compartilhados pelos torcedores palestinos sob o solo de sua terra, já que este jogo (disputado nesta última quarta-feira) foi o primeiro disputado pela seleção local em seus domínios de forma oficial. É o primeiro passo para que a seleção principal também tenha o gosto de contar com o fator casa em seus próximos desafios – como o torneio era pré-olímpico, a equipe era sub-21.


As 16.450 pessoas presentes ao estádio Faisal Al-Husseini, em Al-Ram – cidade localizada ao norte de Jerusalém, na Cisjordânia – têm a exata noção de que esta partida transcende as quatro linhas. É mais um dos instrumentos para que todos reconheçam seu território, governo e a Palestina como um país, em conflito travado de forma mais acentuada com os israelenses há mais de meio século. E se dizem que a linguagem do futebol é universal, nada mais prático do que usar um esporte que, segundo diversos relatos de reportagens feitas por lá, é uma verdadeira paixão nacional. Por isso, várias autoridades, desde Joseph Blatter, presidente da Fifa, até o primeiro-ministro da Palestina, Salam Fayyad, estavam no estádio para presenciar um dia histórico ao país árabe.

Fundada em 1928 (e recriada em 1953, após a fundação de Israel, em 1948), a Federação Palestina de Futebol só conseguiu se filiar à Fifa e à Federação Asiática (AFC) em 1998, quando foi fundada a Autoridade Nacional Palestina. A instabilidade na região paralisou por algum tempo a liga local (atualmente, batizada como West Bank Premier League) e deixou a seleção local quase que inativa. Após o “retorno”, porém, os Al-Fida'i (Guerreiros, na linguagem árabe) só conseguia disputar partidas oficiais longe de seus torcedores, por conta da falta de segurança da região. Com a ajuda da Fifa, a federação local ergueu um estádio em 2008, no qual recebeu a vizinha Jordânia para a primeira partida em casa, em outubro do mesmo ano (post dos parceiros do Futepoca, aqui). A partida diante dos tailandeses, portanto, é um feito. Mas mostra que o processo de introdução do esporte no país é lenta. Principalmente por dificuldades impostas por Israel, que ocupa parte das áreas que pertenceriam aos palestinos. Ainda assim, além da volta da liga local aos campos do país, em 2008, a Palestina estreou a liga feminina de futebol no último mês de fevereiro. No mesmo palco do jogo histórico contra os tailandeses.

Como boa parte dos territórios ainda tem seu trânsito entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia limitado pelos israelenses, os melhores jogadores disponíveis para treinar não conseguem passar um período em conjunto para entrosamento e aperfeiçoamento técnico. Equipamentos esportivos doados por diversas entidades como a própria Fifa, Uefa e AFC são barrados nas fronteiras. Nos ataques aéreos lançados em janeiro de 2009 por Israel ao território palestino, três jogadores considerados de alto nível do futebol local acabaram mortos em decorrência destas incursões, desencadeadas pelo cessar fogo entre o governo israelense e o Hamas – uma das forças políticas palestinas e considerado por vários países como uma organização terrorista.

Mesmo com o contexto delicado desta região do Oriente Médio – dos 11 jogadores convocados que moravam na Faixa de Gaza, apenas seis tiveram permissão para entrar na Cisjordânia e atuar contra a Tailândia–, a derrota, que poderia ter um gosto amargo por conta da eliminação as chances de ir à Londres, em 2012, tem um sabor especial. O de liberdade e reconhecimento.

8.3.11

Piada pronta e anunciada

Parece piada, mas não é. Depois de quase nove meses de contrato, a Roma anunciou o fim do vínculo com o atacante Adriano, liberando o atleta após míseros oito jogos e nenhum gol marcado. De quebra, segundo a imprensa italiana, o brasileiro pode receber até cerca de R$ 14 milhões pela quebra do contrato, uma vez que este ia até junho de 2013. É isso mesmo: oito jogos, nenhum gol e R$ 14 milhões para liberar o Imperador! Isso sem contar o salário que já foi pago até agora e que, convenhamos, foi jogado fora.

Acho que essa situação só prova que os dirigentes na Europa não são tão diferentes dos brasileiros. Adriano é um grande jogador, artilheiro do Campeonato Brasileiro, isso ninguém discute. Mas, infelizmente, sofre com problemas emocionais. Ele precisa de tratamento sério, e isso não é uma novidade para ninguém. Desta forma, fazer um investimento tão alto para contratá-lo, e desfazer do atleta dessa maneira, pagando uma multa milionária com o clube tão individado, é algo que os dirigentes da Roma podem ter copiado dos cartolas tupiniquins. Ou talvez ensinado.

Resta agora saber qual será o destino do jogador. O Flamengo, time do coração e último clube do Imperador no país, é sempre um dos cotados a receber novamente o prata da casa. Mas será que há espaço para Adriano e Ronaldinho no mesmo grupo? Creio que não. Até porque não vai ter balada na Cidade Maravilhosa que consiga satisfazer uma dupla de peso como essa. O duelo de vaidades ficaria insustentável. Corinthians? O presidente Andrés Sanchez, há algum tempo, disse que não poderia pagar para ter o atleta, mas uma vez que ele não tem contrato com a Roma, volta a ser um alvo. Mas a boa forma e rápida readaptação de Liedson talvez esfrie os ânimos no Parque São Jorge - não podemos esquecer, no entanto, que haverá eleições no clube no final do ano, e a chegada de Adriano seria um grande trunfo depois da saída de Ronaldo.

Resta o Palmeiras. Felipão já esperniou e esbravejou que o time precisa de um camisa 9. Coisa que Adriano é. É bem provável que o técnico pentacampeão consiga colocar o Imperador na linha. Mas no time alviverde, a questão financeira é um problema sério. Para viabilizar a contratação do jogador seria preciso dinheiro de parceiros e investidores, o que, supostamente, tinham conseguido para trazer Ronaldinho. Se a mesma operação for montada, podem trazer Adriano.

O que é certo é que Adriano já foi perdoado uma, duas, incontáveis vezes. No Brasil e no exterior. Difícil acreditar numa recuperação rápida do atleta. Até acho que ele pode abrir mão de muto dinheiro para ir passar mais uns tempos na sua querida Vila Cruzeiro, favela onde foi criado no Rio de Janeiro, para espairecer e deixar a poeira baixar. Talvez ele volte a jogar algum dia. Se não, que se lembre dos seus melhores momentos...

4.3.11

"Diferenciados"

No combalido mundo dos cartolas do futebol, qualquer atitude ou nova mentalidade fora do comum – seja um novo dirigente que chega para substituir os “perpétuos”, seja uma personalidade de outra área que tenta dar jeito na velha e ultrapassada fórmula de se gerir o produto futebol – virou esperança. Luiz Gonzaga Belluzzo (renomado economista, intelectual e ex-presidente do Palmeiras), Patrícia Amorim (presidente do Flamengo) e Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro (presidente do Santos) foram taxados de “diferenciados”, quando assumiram seus respectivos cargos, recentemente. Mas todos caíram no lugar-comum de seus antecessores.

A gestão Belluzzo foi tão desastrosa que reaproximou o nefasto Mustafá Contursi do centro de poder do clube. O eleito Arnaldo Tirone é ligado ao dirigente, que ficou 12 anos no poder, enquanto José Angelo Vergamini, também ligado ao ex-cartola do Verdão, foi reeleito para o Conselho Deliberativo. Patrícia Amorim, apesar de boas atitudes em sua chegada, demitiu Zico da diretoria executiva (injustamente, como um dos culpados pela má campanha do time no Brasileirão de 2010) e entrou na megalomania, como a contratação da frustrada dupla Deivid e Diogo, que juntos somavam quase R$ 1 milhão mensais de vencimentos. A mandatária do Flamengo chegou ao absurdo de declarar que “dirigente não ganha jogo, mas ganha título”, referente ao episódio do reconhecimento do justo hexacampeonato do Flamengo com a ratificação do título brasileiro de 1987. Pleiteado há mais de duas décadas, por diversos presidentes, o tal título vem sendo usado pela CBF para tentar minar o frágil Clube dos 13 e retomar o controle perdido sobre o que resta do futebol tupiniquim.

Sucessor de Marcelo Teixeira, Luiz Álvaro também pintou como um diferenciado. Ao contratar o técnico Dorival Júnior e apostando fortemente em suas categorias de base, o cartola contabiliza atitudes positivas. Mas as duas últimas trocas de técnico do time foram dignas dos velhos e folclóricos dirigentes. O ótimo Dorival tombou na queda de braço em que deveria ter sido fortalecido pela própria direção, que resolveu tomar o lado de Neymar, temendo que sua joia se desvalorizasse no mercado, curvando-se a diversos interesses e deixando escapar o técnico que elevou o status do futebol do aspirante a craque.

Para esta Libertadores, a aposta era Adílson Batista, de bom trabalho no Cruzeiro (vice-campeão da Libertadores de 2009), mas arranhado pelos atritos na breve passagem pelo Corinthians. O presidente do Peixe sabia (ou deveria saber) das características de seu novo contratado, contestado até mesmo pela imprensa mineira, por conta das diversas “experimentações” que o técnico costuma fazer em seu elenco – para mim, seu maior defeito como treinador. Com várias contratações e tendo de encaixar Neymar e os outros garotos que chegavam da Seleção Brasileira sub-20 que estava no Sul-Americano da categoria, parecia óbvio que seu elenco estava em formação. Porém, uma derrota inesperada diante de um ainda combalido Corinthians e dois empates (Deportivo Táchira na Libertadores e São Bernardo, no Paulistão) foram suficientes para derrubar o treinador. O diagnóstico do presidente: o “DNA” ofensivo do Santos havia mudado.

Ou seja, os 21 gols marcados pelo Santos nos outro oito jogos oficiais de 2011 (média de 2,62 por jogo) foram pelo ralo por uma eventual seca de dois gols em três partidas. Agora, a diretoria santista se vê “mendigando” (não vejo termo mais apropriado que esse) pela vinda de Ney Franco, responsável pelo Brasil sub-20, o que soa mais patético do que a própria demissão de Adílson, pressionado (nem tanto assim) por parte da torcida. E não existem boas opções ou nomes de primeira linha disponíveis no mercado.

Um atestado de que, na hora em que a situação apertou, Luiz Álvaro foi pelo caminho mais previsível. Como já fizeram todos os outros, desde que o futebol é futebol.