30.12.09

Caminhão de atacantes na Luz

Na Liga Portuguesa, Benfica e Braga (33 pontos cada) brigam arduamente para se isolar na liderança, observados de perto pelo tetracampeão Porto (29 pontos). Visando a quebra da hegemonia portista, além de voltar à Champions League, os Encarnados já confirmaram três reforços na janela de transferências: o volante Airton, uma das revelações do Flamengo campeão nacional, de 19 anos e os atacantes Alan Kardec, 20, do Vasco e Éder Luis, que fez razoável temporada pelo Atlético/MG, de 24 anos. Airton será de valia ao meio-campo de contenção do Benfica, que conta com poucas opções para a função, como o espanhol Javi Garcia ou luso Carlos Martins, por exemplo.

Porém, a chegada de Éder Luis e de Kardec – um velocista e um centroavante de ofício – chegam a ser emblemáticas. Isso porque a chegada deles deixa o elenco Encarnado com nada menos do que oito atacantes: Óscar Cardozo e Saviola, dupla de ataque titular, além do veterano Nuno Gomes, o angolano Mantorras, além dos brasileiros Weldon e Keirrson – que chegaram à Luz no início da temporada – além dos novos reforços. Nem se quisesse, o técnico Jorge Jesus conseguiria utilizar a todos em um coletivo, com ambas equipes dispostas no 4-3-3.

O inchaço de atacantes no elenco não tem justificativa plausível. O Benfica é, disparado, o melhor ataque da Liga Sagres, com 38 gols em 14 jogos, além do posto de ataque mais eficiente dentre as principais ligas européias. Com média de 2,71 gols por jogo, o ataque benfiquista se mostra mais agudo que o do Real Madrid (2,66), Arsenal (2,35), Inter (2,11), Bayer Leverkussen (2,05) e Lille (1,94), principais ataques de suas respectivas ligas até aqui. A equipe treinada por Jorge Jesus tem uma dupla afiada com Cardozo e Saviola – 21 dos 38 gols do Benfica – titular absoluta em 13 das 14 partidas do time na liga.

Saviola e Cardozo: a dupla de ataque mais letal dentre as principais ligas nacionais da Europa.

Então, onde jogarão os novos reforços? Quem sairá do elenco Encarnado, dos já excedentes Nuno Gomes, Kerrison e Weldon? Com os grandes times a assediar estrelas da equipe como o prodígio meia argentino Di Maria ou mesmo a boa dupla de zaga brasileira Luisão-David Luiz, o Benfica deveria voltar suas forças a outras posições do elenco, que é bom. Esbanjando dinheiro - 6,5 milhões de euros na dupla de ataque brasuca - os reforços que chegam à Luz não são melhores do que as opções que Jorge Jesus já tem à disposição em seu elenco. Alan Kardec foi titular na campanha do vice-campeonato da Seleção brasileira Sub-20, onde fez campanha apenas regular. Depois, ficou na reserva do Inter durante o restante do Brasileirão. Já Éder Luis fez bom primeiro turno como parceiro de Diego Tardelli no ataque do Galo, mas caiu bastante de produção no segundo turno.

Fica difícil saber se ambos serão aproveitados no Benfica. Emprestado pelo Barcelona e tido como o mais talentoso dentre os avantes brasileiros no elenco encarnado, Kerrison só teve mais chances do que Mantorras. Éder Luis ainda pode ser alternativa a Saviola, quando o argentino não tiver condições de jogo. Já Alan Kardec parece ser apenas mais uma opção ao goleador paraguaio Cardozo, que com 14 gols, lidera a tabela de artilheiros da liga lusa. Não me surpreenderia ver um dos dois - ou até mesmo Weldon e Keirrison - de volta ao país para o início a tempo de jogar o Brasileirão 2010.

26.12.09

O time da década - Parte 2

Barcelona 2005/06 – O time de Frank Rijkaard foi aclamado não só pelas conquistas da Champions League e La Liga – com 12 pontos de vantagem sobre o Real Madrid. Altamente ofensivo e plástico, o trio Ronaldinho-Eto’o-Giuly infernizava as defesas pela velocidade que imprimia às partidas. O meio campo operário de Edmilson e Van Bommel dava à Deco a liberdade de municiar o poderoso ataque. Revelação daquele time, Messi já dava mostras de diferenciamento e o veterano Larsson era eficiente como o 12º jogador. Ironicamente (ou não), o gol do título europeu foi marcado pelo esforçado Belletti, que se não era brilhante, cumpria com aplicação sem igual o seu papel pela ala direita. O símbolo dessa era blaugrana é a partida memorável da equipe no clássico diante do Real Madrid no Santiago Bernabéu em novembro de 2005, onde Ronaldinho saiu ovacionado pela própria torcida merengue, após o meia brasileiro ter marcado dois gols e ter dado um show nos 3-0 para o Barça.
Time-base: Valdés; Oleguer (Belletti), Marquez, Puyol e Van Bronckhorst; Edmilson (Xavi), Van Bommel e Deco; Giuly (Larsson), Eto'o e Ronaldinho.

São Paulo 2005 – Vindo da frustração de uma eliminação para os colombianos do Once Caldas no ano anterior, o São Paulo tinha a Libertadores como grande obsessão daquele ano, que começou com a conquista do título paulista, em um time que ainda tinha Luizão e Emerson Leão no comando. O polêmico técnico deixou o Tricolor em meio a Libertadores, alegando uma “dívida de coração” com um amigo do Japão, rumando para o Vissel Kobe. Aproveitando a base deixada pelo seu antecessor, Paulo Autuori levou os louros das conquistas mais importantes dos sãopaulinos nesta década. Capitaneados por Rogério Ceni, a sólida defesa composta por Lugano e Fabão, os aplicados Josué e Mineiro bem orquestrados por Danilo, os gols ficavam a cargo da inspirada dupla Grafite-Amoroso, em ótima fase. O jogo que ilustra a grande fase do São Paulo foi a partida final do Mundial da Fifa contra o Liverpool, que vinha de série invicta na Europa. Naquela final, Ceni fechou o gol diante de um persistente Gerrard e premiando a aplicação de Mineiro, um verdadeiro operário naquela equipe e que marcou o gol triunfal em Yokohama. Boa parte da base daquela equipe ajudou a dominar o futebol brasileiro nos três anos seguintes.
Time-base: Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos; Cicinho, Mineiro, Josué, Danilo e Júnior; Amoroso e Grafite (Aloísio). Técnico: Paulo Autuori

Internacional 2006 – Frustrado pela derrota cercada de polêmica no Brasileirão 2005, o Inter chegou forte para a Libertadores do ano seguinte. Enquanto sentia uma ponta de deleite ao ver o Corinthians cair ainda nas oitavas, diante do River Plate, o Inter atropelava seus adversários. Na grande final contra um São Paulo que buscava o bicampeonato, Sóbis acabou com o jogo na primeira partida da decisão, ao marcar os tentos do Colorado no 2-1 em pleno Morumbi. Depois, o empate de 2-2 em casa acabou com o estigma da equipe diante dos rivais gremistas, que zombavam o fato da equipe só conquistar títulos regionais. Boa parte do time campeão da América deixou o Inter após a conquista, como Jorge Wagner e Rafael Sóbis. Contudo, os gaúchos viram o surgimento do prodígio Alexandre Pato, além da providencial chegada de Iarley. E a exemplo do São Paulo de 2005, o Inter de 2006 derrubou o todo-poderoso de Barcelona, que chegou cheio de pompa ao Mundial da Fifa. Porém, o gol de Adriano Gabiru coroou um ano inesquecível aos Colorados, que ainda fechou 2006 com um vice-campeonato gaúcho e brasileiro
Time-base: Clemer; Ceará, Índio, Fabiano Eller e Rubens Cardoso; Edinho, Tinga (Vargas), Alex e Jorge Wagner (Iarley); Rafael Sóbis(Alexandre Pato) e Fernandão. Técnico: Abel Braga

Manchester 2007/08 – Uma equipe aplicada, com uma dupla de zaga inspirada (Ferdinand e Vidic), dos jogadores no auge de sua técnica (Ronaldo e Rooney) e dois ícones: um em campo (Giggs) e outro no banco (Ferguson). Adicione jogadores aplicados e com alguma técnica, como Van der Sar, Evra, Carrick e Tevez. Com isso, os Red Devils coroaram essa temporada com o bicampeonato inglês, a conquista da Champions e do Mundial da Fifa. Dentre as citadas aqui nesse post, não foi a equipe mais brilhante ou plástica em campo. Mas sua eficiência e aplicação tática foram ímpares, além de contar com um Ronaldo infernal durante toda a temporada, com 42 gols marcados.
Time-base: Van der Sar; Brown (O’Shea), Vidic, Ferdinand e Evra; Carrick, Scholes (Park), Ronaldo e Giggs; Rooney e Tevez. Técnico: Alex Ferguson

Barcelona 2008/09 – Um time composto basicamente por pratas da casa, começando pelo banco de reservas do técnico Josep Guardiola. Valdés, Pique, Puyol, Xavi, Iniesta, Messi, Busquets, Bojan e Pedro, todos criados à sombra do Camp Nou, ajudaram o Barcelona, campeão de seis títulos nesse período e apontado por parte da imprensa espanhola como a maior equipe do clube em seus 110 anos de história. “Veteranos” de clube como Eto’o e Marquez tiveram boa contribuição, complementados primeiro pelas contratações de Yayá Touré, Keita, Dani Alves e Henry, depois por Ibrahimovic. E mesmo em meio a tantas estrelas, a canhotinha afiada de Messi sempre dava um jeito de se sobressair à trupe. E assim, o Barcelona, que já tinha consagrado Ronaldinho naquela equipe de 2005/06 formou outro camisa 10 aclamado como melhor do mundo, em 2009.
Time-base: Valdés; Dani Alves, Pique (Marquez), Puyol e Abidal; Yayá Touré (Keita) Iniesta e Xavi; Messi, Henry e Eto’o (Ibrahimovic).

Dentro os citados nestes posts, ficaria Barcelona 2008/09, levemente superior ao de 2005/06 e que tinha um Ronaldinho acima da média, mas a equipe em si era inferior a de Messi como conjunto.

Algum time injustiçado ou escolha discordante? Dê sua sugestão nos comentários e vote na enquete sobre o tema, à direita da página.

25.12.09

O time da década - Parte 1

O ano de 2009 está chegando à sua reta final e com ele, termina também a primeira década do século XXI. Tal marco dá margem para que possamos refletir sobre a equipe mais marcante desse período. O critério utilizado aqui não refletirá somente grandes conquistas dentro de campo, mas times que de alguma forma, encantaram os amantes do futebol com grandes performances. Você também pode votar em sua equipe favorita (enquete à direita da página), de acordo com os textos ou lembrar de alguma que não foi incluída nestes textos através dos comentários

Boca Juniors 2000/01 – A base xeneize era formada por nomes carimbados do futebol sul-americano, como os colombianos Oscar Córdoba e Jorge Bermudez , além de Riquelme, por exemplo. Comandados brilhantemente por Carlos Bianchi, estiveram presentes no bicampeonato da Libertadores conquistado pelo boca - que levaria também as edições de 2003 e 2007. Certamente os argentinos conquistaram as Libertadores mais difíceis desta década. Em 2000, deixou só pedreira pelo caminho, ao passar por Cerro Porteño, os eternos rivais do River Plate, o América do México e por fim, o Palmeiras de Felipão na grande final, decidida nos pênaltis em pleno Morumbi. Em 2001, voltou a comemorar o campeonato após finais eletrizantes contra o Cruz Azul do México. Ainda conseguiu conquistar o Mundial Interclubes, ao bater o Real Madrid em 2000. Além da base citada, começaram a aparecer jogadores do quilate de Palermo, Battaglia, os hermanos Guillermo e Gustavo Schelotto e Walter Samuel, entre outros.
Time-base: Córdoba; Ibarra, Bermudez, Samuel (Burdisso) e Arruabarrena (Matellán); Bataglia (Serna), Traverso, Basualdo e Riquelme; Guillermo Schelotto (Barijho) e Palermo (Marcelo Delgado). Técnico: Carlos Bianchi

Real Madrid 2001/02 – Embrião da geração galáctica, esse Real Madrid foi campeão da Champions League e do Mundial Interclubes e contava com jogadores da estirpe de Zidane, Figo, Hierro, Raúl, Roberto Carlos e na segunda metade de 2002, Ronaldo. Mesmo não conquistando La Liga naquela temporada, a equipe comandada pelo atual técnico da Espanha, Vicente Del Bosque, fez campanha fantástica no mata-mata da Champions. Reverteu a vantagem do Bayern nas quartas (1-2 e 2-0), despachou o rival Barcelona nas semis e fez uma das finais mais memoráveis da principal competição de clubes européia no estádio Hampden Park, Escócia, só perdendo em emoção para a memorável final entre Liverpool e Milan, em 2004/05. Encarando o Leverkusen de Lúcio, Ballack, Neuville e Bastürk, o Real venceu graças ao gol memorável de Zidane, ao acertar um lindo voleio em bola espirrada da esquerda em jogada de Roberto Carlos.
Time-base: César Sánchez; Michel Salgado, Hierro, Helguera e Roberto Carlos; Makelélé, Solari (Guti), Figo e Zidane; Raúl e Morientes. Técnico: Vicente Del Bosque

Santos 2002 – O embrião para o time que seria vice-campeão da América em 2003 e bicampeão brasileiro em 2004, o Santos de 2002 talvez não tivesse surgido no atual sistema de pontos corridos. Isso porque a equipe se classificou para o mata-mata na última posição, graças ao saldo de gols superior ao do Cruzeiro. A partir daí, os meninos da Vila comandados por Émerson Leão despertaram. O Peixe bateu o São Paulo, melhor da primeira fase, em grande jornada de Diego, então com 17 anos. Depois, Robinho, 18, roubou a cena na semifinal contra o Grêmio e na final contra o Corinthians de Carlos Alberto Parreira, nas célebres pedaladas contra um incrédulo Rogério. Além dos garotos prodígio, aquela equipe apresentou ao futebol brasileiro jogadores como Renato, Elano, Alex e Alberto.
Time-base: Fábio Costa; Maurinho, André Luis, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego (Robert); Robinho e Alberto (William). Técnico: Émerson Leão.

Cruzeiro 2003 – Sucessor do Santos na hegemonia tupiniquim, ainda detém a marca de ser o único clube brasileiro a deter a tríplice coroa nacional: Mineiro, Copa do Brasil e o Brasileirão, o primeiro da era dos pontos corridos. O ataque dos 102 gols e o time dos 100 pontos era articulado por um inspirado Alex, que municiava o atacante colombiano Aristizábal.
Time-base: Gomes; Maurinho, Cris, Edu Dracena e Leandro; Maldonado, Augusto Recife, Wendell e Alex; Márcio Nobre (Mota) e Aristizábal. Técnico: Vanderlei Luxemburgo

Arsenal 2003/04 – Primeiro campeão inglês invicto após 115 anos, a equipe montada por Arsène Wenger tinha uma base fantástica com Lehmann, Touré, Vieira, Ljungberg, Pires e Henry, além do veterano Bergkamp. Os brasileiros Edu e Gilberto Silva faziam parte daquele elenco que ficou eternizado como The Invincibles, vencendo 26 dos 38 jogos que disputou naquela liga, cravando o melhor ataque (73 gols) e melhor defesa (26 gols) da competição. A base desse time foi a mesma que chegou ao vice-campeonato europeu na temporada seguinte, quando perdeu para outra equipe ainda mais fantástica: o Barcelona de Frank Rijkaard.
Time-base: Lehmann; Lauren, Campbell, Touré (Keown) e Cole; Vieira (Parlour), Gilberto Silva (Edu), Pires, Ljungberg, Bergkamp e Henry. Técnico: Arsène Wenger.

21.12.09

A vez de “La Pulga”

Como esperado (e merecido), Lionel Messi foi agraciado pela Fifa como o melhor futebolista deste ano de 2009. O resultado final, que conta com votos de técnicos e capitães de quase 150 seleções nacionais, mostra o quanto o argentino foi superior aos seus concorrentes: 1.073 pontos, contra 352 de Cristiano Ronaldo, o antecessor de Messi ao prêmio. Maior estrela desse Barcelona campeão de tudo, Messi consegue se sobressair mesmo em meio a muitos jogadores bons que fazem parte desse elenco blaugrana. Por conta disso, seu prêmio acaba diferindo um pouco de seus dois últimos antecessores, Kaká e Cristiano Ronaldo, os quais acabaram conquistando a honraria em um contexto onde a equipe em que eles estavam à época – respectivamente Milan e Manchester United – tinham grande dependência em seu futebol – no caso, muito mais por parte do limitado Milan campeão europeu do que no United, mais equilibrado em relação aos italianos.

Além dos títulos com o Barcelona, Messi se destacou principalmente na primeira metade de 2009 – ou na reta final da temporada 2008/09 – quando jogou o fino da bola, sagrando-se artilheiro da Champions com nove gols em doze jogos, além de contabilizar 23 gols em 31 partidas na campanha do título espanhol, mais sete gols em seis jogos da Copa do Rei. Neste começo de temporada 2009/10, La Pulga não está voando como no semestre anterior, mas deu mostras de seu grande talento e estrela na recente conquista do Mundial da Fifa (post abaixo). Poupado na partida contra o Atlante, o camisa 10 entrou no segundo tempo e decidiu a partida praticamente em seu primeiro toque na bola. Já contra o Estudiantes, o argentino também não reeditou suas melhores jornadas, mas mostrou estrela ao marcar o gol do título e arriscar algumas jogadas com a sua afiada canhotinha, marca registrada do craque argentino.

Com apenas 22 anos, Messi ainda tem muito chão pela frente. Seu maior desafio, neste momento, é provar – como fez nas Olimpíadas de Pequim, por exemplo – que ele é capaz de liderar tecnicamente a Argentina a um título mundial que não vem há quase 25 anos, o que o colocaria no patamar – de idolatria, não técnica – de seu treinador na albiceleste, o polêmico Diego Maradona. A missão parece mais difícil já que El Pibe não mostra o mesmo traquejo da época de jogador no comandoda Argentina, que se classificou a duras penas para a Copa da África.

O prêmio está em mãos merecidas, é verdade. Mas a eleição, na minha visão, comete duas grandes injustiças: a de não dar o segundo posto do prêmio a Xavi Hernández, um monstro no meio campo e que teve um ano de 2009 bem mais constante que Cristiano Ronaldo. Xavi é maior exemplo da junção entre técnica e aplicação tática, além de ser responsável por muitas das assistências que municiaram Messi e cia. O outro é dar o Prêmio Puskas ao gol de Cristiano Ronaldo contra o Porto, pelas quartas de final da Champions 2008/09. Soou como uma consolação ao português, que no entanto, vem crescendo de produção no Real Madrid e tem capacidade para reconquistar o prêmio da Fifa em 2010.

Soberania

Se no futebol masculino tivemos Messi conquistando pela primeira vez o posto de melhor do mundo, no futebol feminino a coroa segue intacta na cabeça de Marta, 23 anos - um a mais que o também conhoto Messi. Muito à frente de sua concorrente, a veterana alemã Birgit Prinz (833 a 290), Marta conseguiu o prêmio da Fifa pela quarta vez consecutiva, tornando-se a maior vencedora de prêmios individuais concedidos pela entidade máxima do futebol.

Como o Arthur destacou em “Como jogam essas duas...”, Marta destoa das outras atletas de futebol na atualidade. No Torneio Internacional Cidade de São Paulo, vencido recentemente pelo Brasil, Marta foi novamente a grande estrela da compania. A jogada que a atacante fez contra as chinesas no lance que originou o pênalti, convertido pela própria atacante e que abriu o placar (video abaixo), deixaria muitos caneludos que atuam no futebol brasileiro no chinelo. Creio que vivenciamos um daqueles casos de uma atleta que transcenderá a modalidade, tornando-se a maior referência, como Pelé no futebol masculino, Michael Jordan no basquete, Michael Schumacher e Ayrton Senna no automobilismo.



Junto com Cristiane – quarta colocada na premiação – devem ser usadas como os grandes ícones para que o futebol feminino tenha a visibilidade, o incentivo e o espaço que lhe são devidos , mas que ainda caminham a passos de tartaruga desde o Pan de 2007, quando a Seleção, comandada pela dupla, começou a aparecer nas diversas mídias esportivas com a conquista da medalha de ouro. Em Pequim, apesar da prata, mais promessas e pouca ação. Timidamente, começaram a ser organizados torneios como a Copa do Brasil e a Libertadores para a modalidade. Ainda assim, tais certames ainda parecem bem embrionários para que a maioria das atletas que pratica o esporte e não tem a visibilidade de uma Marta ou Cristiane possa tentar viver de jogar o futebol, o que ainda soa como devaneio, infelizmente.

LEIA TAMBÉM:
"Ronaldinha" de Estocolmo, sobre a conquista do primeiro prêmio de Marta, em 2006.
Meninas de Ouro

20.12.09

Ratificando o óbvio

Puyol levanta mais uma taça em 2009: seria este o melhor Barcelona da história?

Na final do Campeonato Mundial de clubes da Fifa, o Barcelona não jogou o usual futebol vistoso de costume. Mas ainda assim, a equipe blaugrana fez valer sua maior técnica e seu volume de jogo para derrotar uma valente, porém defensiva, equipe do Estudiantes, que vendeu caro a derrota aos catalães. O gol de Boselli deu ares de dramaticidade à final, com um Barcelona que dependia demais das jogadas de seu meio-campo, já que Ibrahimovic errava bastante e Messi arriscava poucas jogadas. E é aí onde apareceu Xavi, um monstro em sua posição e seguramente um dos melhores atletas do mundo em atividade, sempre carregando a equipe à frente. O camisa 6 teve tarefa extra diante do Estudiantes, já que seu companheiro Iniesta, que muito o auxilia na composição de defesa e armação, não pôde jogar por conta de uma contusão.

O tardio gol de Pedro – outra grata revelação da cantera blaugrana – trouxe justiça ao jogo. E o gol de peito - ou de coração, como disseram os catalães - de Lionel Messi deu o título de campeão mundial, inédito na vasta galeria de troféus do Barça. Mesmo não tendo atuação destacada no confronto, Messi fez com seus compatriotas o que o então aclamado Ronaldinho não havia feito contra os brasileiros do Inter três anos antes, em Yokohama: se apresentou e decidiu a partida. É a cereja no bolo de 2009 para o argentino, que deve ser aclamado como o melhor do mundo pela Fifa nesta semana.

O título mundial – muito comemorado, por sinal – corroborou o fato de que esse Barcelona é mesmo a equipe a ser batida no planeta. Eficiente e plástica, é baseada na maioria por atletas formados em sua base, o que só abrilhanta o ótimo trabalho desenvolvido por outro filho do clube, o técnico Pep Guardiola. Na sua primeira experiência como treinador de futebol, Guardiola comandou a equipe na conquista de seis títulos no espaço de um ano: La Liga, Copa do Rei, Supercopa Espanhola, Champions League, Supercopa da Uefa e por fim, o Mundial da Fifa. Esse Barcelona campeão de tudo é apontado fortemente pela imprensa espanhola como o maior esquadrão do clube em toda a sua história de 110 anos, o que não é nenhum absurdo.

Em Dubai, Valdes, Dani Alves, Puyol, Pique, Abidal, Keita, Xavi, Busquets, Henry, Ibrahimovic e Messi, não se esquecendo de outras peças importantes como o incansável Iniesta, Yayá Touré, o agora interista Eto’o – um dos maiores artilheiros da história do Barça – Pedro, Bojan, Rafa Marquez e cia. fizeram história, comprovando que o futebol não precisa ser pautado estritamente no pragmatismo do resultado. É possível aliá-lo a beleza e a aplicação tática em campo. Esse é o maior legado desse fantástico Barcelona no acirrado futebol moderno, muitas vezes, pautados apenas por montes de brucutus, superatletas e de montes de chuveirinhos erguidos em direção à área.

18.12.09

Como jogam essas duas...

Cristiane e Marta recebendo os troféus de melhores do mundo em 2008: o fato pode se repetir novamente esse ano

Quarta-feira estive no Pacaembu para assistir ao duelo entre Brasil e China pelo Torneio Internacional Cidade de São Paulo. Antes de qualquer coisa, trata-se de uma boa iniciativa da prefeitura paulistana, promovendo um torneio de futebol feminino, tão carente de incentivo, contando ainda com transmissão ao vivo pela televisão.

Trata-se de um quadrangular envolvendo ainda Chile e México, com os dois melhores indo para a decisão - no caso, brasileiras e mexicanas, em partida a ser disputada no domingo. Precisando apenas de um empate, a seleção chinesa entrou retrancada, e o gol só saiu no final do primeiro tempo, após um gol de pênalti sofrido e convertido por Marta depois de linda jogada individual. O segundo tempo foi um pouco melhor, pois a China teve que se abrir um pouco, e mais dois gols saíram, um de Grazielle e outro da melhor do mundo.

O que fica claro, ao menos pra mim, é que realmente o que faz a diferença para o Brasil é a dupla Cristiane e Marta. Elas são muito, mas desproporcionalmente (não achei um adjetivo melhor) melhores do que as outras, tanto as próprias brasileiras quando chinesas. Não apenas na parte técnica, mas na parte física também. Para efeito de comparação - quem joga ou já jogou futebol vai entender, quando uma das duas parte para a cima da adversária, parece a mesma coisa que um menino de 15 driblando um de 10. É muito fácil.

As outras atletas, algumas um pouco mais e outras menos, jogam o básico, normal. Talvez seja esse o motivo de o Brasil estar sempre esbarrando na trave ao jogar contra Estados Unidos e Alemanha. Apesar de nenhum país contar com uma dupla tão boa quanto a nossa, o conjunto delas é ligeiramente superior ao brasileiro. Assim, colocando duas meninas grudadas em Cristiane e Marta, não deixando elas jogarem, a partida fica nivelada. Aí prevalece todo o preparo, estrutura e suporte que as estrangeiras tem, incomparavelmente maior que as brasileiras.

Fica aqui a sugestão para acompanhar a decisão do torneio neste domingo. Com ingressos a partir de R$ 5, é um programa legal para família e amigos. E como é legal de ver torcedores com camisas de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos, só para ficar entre os paulistas, assistindo ao jogo juntos, sem nenhum muro nem policiais para separá-los de uma guerra. Só não consigo entender porque não pode ser sempre assim...

17.12.09

Redenção de Roberto Carlos no Timão?

Oficializado como novo – e principal – reforço do Corinthians para o centenário, o lateral esquerdo Roberto Carlos será apresentado para imprensa e torcida no próximo dia 4 de janeiro. Com pompas dignas de Ronaldo, quando se apresentou no Parque São Jorge no ano passado, o departamento de marketing do Corinthians promete dar mais uma bola dentro: criará uma espécie de parque no gramado, para aumentar a interação dos torcedores como o novo reforço, algo inédito em se tratando de badaladas contratações no futebol brasileiro. Com certeza, tal iniciativa venderá inúmeras camisas dele, além de outros produtos relativos ao clube. Mas e dentro de campo com a camisa 6, o que esperar do veterano jogador, que vai completar 37 anos em abril?

Apesar de algumas semelhanças – no tocante à trajetória no futebol nacional e internacional – Roberto Carlos chega em situação diferente da de Ronaldo. Primeiro, porque a vinda de Ronaldo acabou gerando frutos, mesmo em meio as inúmeras desconfianças. Com isso, o Fenômeno “abriu” as portas para jogadores brasileiros de renome na Europa voltarem ao futebol tupiniquim não apenas como uma muleta em fim de carreira. Ao contrário de Ronaldo, Roberto Carlos – mesmo mais velho – chega condicionado fisicamente em relação ao seu ex-companheiro de Real Madrid e Seleção Brasileira, já que teve uma carreira de poucas contusões graves. Em contrapartida, o lateral chega como maior contratação para as comemorações do centenário do Timão, que terá a Libertadores como obsessão. E Roberto Carlos será cobrado como tal. Resta saber como ele reagirá diante desse carrosel entre paixão/cobrança dos torcedores corintianos.

Esquema do parque que será montado para a apresentação de Roberto Carlos no Pq. São Jorge

Roberto Carlos assume uma lateral esquerda que é, comprovadamente, a posição mais carente do futebol brasileiro. No Brasil de Dunga, nenhuma das duas vagas no elenco destinadas à posição têm um dono. No Campeonato Brasileiro de 2009, foi de longe a posição mais complicada de se eleger o melhor. Se conseguir jogar o que sabe, Roberto Carlos pode se destacar. Assim como fez - guardadas as devidas proporções de posição e técnica - o veterano Petkovic, 37 anos, conduzindo o Flamengo à conquista do Brasileirão.

Com contrato fechado por dois anos, com opção de renovação para mais um, Roberto Carlos parece mostrar que não veio disposto a breves jogos e aposentadoria no Brasil. Resta saber como será seu comportamento em campo e da sua relação de jogador experiente e tarimbado diante do elenco em formação do Timão. Pesando todos os prós e contras, vem como ótimo reforço para uma posição “abandonada” desde a saída de André Santos na última janela de transferências européias, coincidentemente para o Fenerbahçe, último clube do futuro camisa 6 do Corinthians.

O retorno ao futebol brasileiro - que deixou em 1996, quando se transferiu do Palmeiras para a Inter - também é a chance de redenção de Roberto Carlos junto aos torcedores brasileiros em geral, já que ficou marcado, injustamente, como um dos principais responsáveis pela eliminação brasileira na Copa de 2006.

14.12.09

Pato de ouro

Em eleição promovida pelos italianos do Tuttosport, o atacante brasileiro Alexandre Pato foi escolhido como o melhor jogador sub-21 da Europa. Assim como a Bola de Ouro promovida pela France Football, o prêmio Golden Boy é tradicional no Velho Continente, já que conta com votos de 30 jornalistas das principais mídias especializadas no esporte. Pato faz a dobradinha brasileira, já que o meia Anderson, do Manchester United, foi o vencedor do prêmio em 2008, fazendo do Brasil o maior vencedor do prêmio, até aqui. Na edição 2009, o camisa sete deixou para trás nomes talentosos como o atacante ganês Adiyah, campeão e maior destaque do último Mundial sub-20; o “rival” Mário Balotelli, polêmico atacante talentoso da Inter; o espanhol Bojan Krkic, que perdeu espaço para Pedro Rodríguez nesta temporada do Barcelona e o montenegrino Stefan Jovetic, que vem fazendo sua primeira temporada de afirmação na Fiorentina.

A boa fase do avante rossoneri é resultado de muita paciência. Mesmo com 20 anos, Pato já está em sua terceira temporada no Milan. Veio como aposta de Carlo Ancelotti - que fez de tudo para leá-lo consigo ao Chelsea - e aos poucos, foi cavando sua posição de importância ao time. Seguramente, é o jogador mais imprescindível ao Milan de Leonardo na atualidade. Titular em 20 das 24 partidas oficiais do Milan na temporada, Pato já anotou nove gols. - sete na Série A e dois na Champions. E vem alcançando a maturidade dentro dos campos gradualmente, como deve ser. Como ponto alto desta temporada, o brasileiro foi primordial para a vitória do Milan em pleno Santiago Bernabéu, diante dos galácticos do Real Madrid, ao anotar dois gols da vitória por 3-2. Atualmente, está a apenas quatro gols da artilharia do Calcio, encabeçada pelos 11 gols do atacante Antonio Di Natale, da Udinese.

Contudo, para azar de Pato, ele não deverá ser um dos atacantes brasileiros para a Copa do Mundo, que deverá ter Luís Fabiano, Robinho, Nilmar e provavelmente Adriano, se a convocação para o Mundial fosse hoje. Nas oportunidades que teve com a amarelinha, Pato surgiu com muitas expectativas, ao estrear com um gol frente aos suecos, em fevereiro de 2008, em Londres. Acabou não se firmando, mesmo sendo chamado com alguma regularidade por Dunga. Nilmar chegou e praticamente garantiu sua vaga entre os 23. Porém, se as coisas seguirem seu curso natural, Pato deve ser o titular da posição para a Copa 2014.

12.12.09

Surpresa no topo

Ao fim da fase de grupos da Champions League, quase tivemos algumas zebras passeando. Mas no final, Rubin Kazan, Dínamo de Kiev e Unirea Urziceni não conseguiram vencer os favoritos Inter, Barcelona e Stuttgart, respectivamente. Já o Marseille não foi competente para eliminar o ascendente, porém ainda fragilizado Milan, ao desperdiçar uma cobrança de penalidade com o argentino Lucho González. A decepção é o Liverpool de Rafa Benítez, cada vez mais ameaçado no cargo. Porém a melhor equipe dessa fase é tão inesperada quanto a eliminação dos Reds: o Bordeaux, do treinador Laurent Blanc.

Os girondinos cravaram a melhor campanha com 16 pontos de 18 possíveis, com cinco vitórias e um empate em um grupo que possuía Bayern de Munique – que ficou com a segunda vaga do Grupo A, seis pontos atrás dos franceses -, a Juventus, que teve que se contentar com a Europe League e o Maccabi Haifa que foi mero turista e deixou a competição sem marcar um gol sequer nos seus seis jogos. A equipe francesa garantiu o primeiro lugar do grupo com uma rodada de antecipação, batendo a Juventus.

O maior mérito do atual campeão francês – quebrando uma sequência de sete títulos do Lyon -, que até aqui, vem sendo muito bem dirigido pelo ex-capitão dos Bleus, Laurent Blanc, é a coletividade. Mesmo tendo o jovem Gourcuff como referência técnica, a equipe como um todo foi capaz de levar a equipe à boa fase no torneio continental. O meia brasileiro Wendel é o grande faz-tudo do Bordeaux: defende, faz a transição ao ataque, é responsável pelas bolas paradas e anota seus gols. O camisa 17 é um dos campeões de assistência da fase de grupos, com quatro passes para gols. Fernando Menegazzo e Alou Diarra combatem no meio, com Gourcuff armando, auxiliado por Wendel. Na frente, quatro boas opções para composição no ataque: Chamakh, Cavenaghi, Jussiê e Bellion. Eventualmente, o tcheco Jarolsav Plasil pode compor o meio, com a equipe migrando para o 4-5-1 em lugar do usual 4-2-2-2.

Resta saber se no confronto das oitavas, o sorteio vai favorecer os girondinos para não pegar um favorito logo de cara, já que apesar da boa campanha, o Bordeaux ainda continua sendo zebra frente aos poderosos e estelares Barcelona, Real Madrid, Manchester United e Internzionale, por exemplo. Ainda assim, a boa campanha do Bordeaux é um alento para o futebol francês, que mesmo com um Lyon forte, não consegue figurar com destaque na Champions desde que o Monaco foi derrotado na final de 2003/04 para o Porto, do então treinador José Mourinho.

9.12.09

Os onze do Brasileirão

Os Bolas de Prata 2009, na 40ª edição do tradicional prêmio concedido pela revista Placar

Fim de temporada brasileira é assim: avaliação dos resultados obtidos durante o ano, (tentativa) de planejamento para a temporada seguinte e tempo de analisar quem se destacou no campeonato nacional. Nesta semana, Placar e CBF/Globo divulgaram seus respectivos premiados do Brasileirão. Com bases muito parecidas, a seleção que eu vou listar aqui seria uma espécie de mix entre as escolhidas nas duas premiações. Vamos aos onze, no tradicional 4-4-2:

Victor (Grêmio) – Mesmo sem boas atuações do sistema defensivo do Grêmio – principalmente fora de casa – o arqueiro gremista sempre aparecia com grandes intervenções. Sua regularidade embaixo da baliza impressiona e pode levá-lo à Copa de 2010, como o terceiro goleiro de Dunga. Sofreu 33 gols em 28 jogos (1,17 por partida).

Jonathan (Cruzeiro) – Muito se falava em Vítor do Goiás e Léo Moura do Flamengo. Contudo, acompanhando a tendência cruzeirense, o ala de 23 anos foi um dos jogadores da equipe de Adílson Batsta que mais evoluiu dentro do Brasileirão, principalmente após a virada do turno. Vitor e Léo foram importantes, mas apresentaram um futebol consistente apenas na reta final do torneio. Em 27 jogos, o lateral celeste fez três gols e deu seis assistências.

Miranda (São Paulo) – Zagueiro técnico, classudo e há tempos, o melhor em atividade no país. Bom na jogada aérea, de boa velocidade contra os atacantes e quando necessário, arrisca boas transições ao ataque. Atuou em 28 partidas.

Rever (Grêmio) – Como Miranda, o zagueiro gremista é especialista no 3-5-2. Mas formaria boa dupla ao lado do sãopaulino em um eventual sistema com dois zagueiros. Ótimo pelo alto – tanto na defesa, quanto no ataque - e sabe usar da força física sem ser truculento como André Dias, parceiro de Miranda e escolhido como melhor zagueiros nos principais prêmios, que na minha visão, estaria melhor nas mãos do gremista na edição 2009. Atuou por 31 vezes e marcou cinco gols.

Kleber (Inter) – Na posição mais carente do futebol brasileiro na atualidade não houve unanimidade. Pelo contrário. Júlio César, do Goiás, que vinha de boas jornadas, acabou caindo bruscamente de produção e até esquentou banco na equipe esmeraldina. Já Kleber não é mais o jogador agudo dos tempos de Santos e Corinthians, mas ainda assim, e um dos melhores da posição no país. O lateral Colorado de oito assistências em 28 partidas acabou brilhando mais no fim.

Guiñazu (Inter) – Fôlego e entrega invejáveis marcaram o argentino, que poderia ter seu esforço coroado com a conquista do título. O palmeirense Pierre seria um rival à altura, mas passou bom tempo machucado. Willians, motorzinho alvinegro e maior ladrão de bolas do campeonato também seria boa pedida. Menos faltoso nas jogadas que o rubro-negro, Guiñazu terminou o campeonato sem um vermelho sequer nas 32 vezes em que esteve em campo, marcando um gol.

Hernanes (São Paulo) – Quando atua como segundo volante, quase sempre vai bem. Talvez o fato de ter que armar o São Paulo a todo momento fez com que o volante de origem não fosse tão unânime nas votações de 2009. Ainda assim, mostrou boa regularidade, externada nas 33 partidas em que defendeu o Tricolor, com seis gols marcados.

Petkovic (Flamengo) – O termômetro da ascensão flamenguista até o título. Maestro nas bolas paradas e passes, os oito gols e cinco assistências foram de suma importância para a equipe de Andrade nos 23 jogos que esteve em campo. Se estivesse em condições físicas para jogar desde o início do certame, com certeza seria candidato a melhor do Brasileirão.

Diego Souza (Palmeiras) – Principal peça do Palmeiras no torneio, Diego Souza também seria candidato natural ao prêmio de melhor do campeonato. Porém, a derrocada dele e do Palmeiras na reta final foi decisiva para que eu não o escolhesse como tal. Ainda assim, é impensável deixar o meia-atacante de fora dessa seleção, já que o camisa 7 atuou bem na maioria dos 34 jogos que fez, com oito gols - entre eles, o mais belo desse Brasileirão, contra o Atlético/MG no Palestra Itália - e seis assistências.

Diego Tardelli (Atlético/MG) – Maior destaque do primeiro turno, o atacante não conseguiu levar o Galo sozinho na metade derradeira do torneio. Ainda assim, manteve a regularidade e o faro de gols que lhe valeram a artilharia – ao lado de Adriano – com 19 gols em 33 partidas (média de 0,58) e a briga por uma das vagas na Seleção de Dunga – também com o Imperador.

Adriano (Flamengo) – De quase “aposentado” a destaque no Brasileirão, Adriano foi manchete em toda a mídia nacional e internacional ao conduzir o Flamengo rumo ao hexa. O futebol força, de oportunismo e técnica limitada, porém eficiente, voltaram e hoje o Imperador herdaria tranquilamente a vaga como atacante do elenco do Brasil para a Copa, à frente de rivais como Ronaldo - de técnica inegável e físico ainda duvidoso – e o "recuperado" Tardelli – de pouca bagagem internacional.

Vale a pena também conferir algumas seleções montadas por outros blogueiros e tirar suas próprias conclusões na escolha dos titulares dos melhores do Brasileirão: Blog do Carlão | Papo de Craque

7.12.09

Campeão da superação

De segundo turno impecável, o Flamengo reencontra o mais importante título do páis do fuetbol após 17 anos de jejum.

O título brasileiro conquistado pelo Flamengo premiou a equipe que se superou em campo. O Flamengo não apresentou um futebol plástico, encantador. Mas saiu da adversidade, após a queda de Cuca na 13ª rodada e o posterior período de instabilidade de Andrade, quando este ainda parecia apenas um interino dirigindo a equipe. Já com Andrade no comando, o Flamengo fechou o primeiro turno do Brasileirão na metade da tabela com 29 pontos, tendo anotado 27 gols e sofrido 29. Terminou o campeonato como a segunda melhor campanha do segundo turno, com 38 pontos e apenas três derrotas, com 31 gols pró e 15 contra, mostrando que uma das chaves para a arrancada rubro-negra foi o acerto da defesa, composta na maioria dos jogos do returno por Álvaro e Ronaldo Angelim.

O Flamengo ainda está longe de ser um clube organizado administrativamente, como já é de praxe nos últimos anos. Mas acertou – direta ou indiretamente – na manutenção de Andrade, na recuperação de Adriano e Petkovic ao futebol brasileiro. O Imperador, que havia perdido a alegria de jogar, era um caso menos emblemático e mesmo com as supostas regalias, seu retorno em alto nível era questão de tempo. Já Pet veio prioritariamente para amortizar dívidas do passado entre ele e o clube da Gávea. De passagem apagada pelos últimos clubes que havia defendido, o veterano meia ditou o ritmo da recuperação da equipe, fazendo com que a esmagadora maioria da mídia esportiva queimasse a língua, assim como ocorreu no caso do Fluminense, dado como morto e que emplacou uma recuperação fantástica no Brasileirão. Nos dois casos, este escriba também fez coro com a maioria da opinião pública.

Com isso, o Flamengo e os outros três postulantes ao título proporcionaram o Brasileiro mais disputado da era dos pontos corridos. Com o coração e apostando principalmente em suas raízes, - já que resgatou em Andrade, Pet e Adriano a força para vencer as adversidades -, o Flamengo ganhou o hexa com o coração e na superação, passando a dividir com o São Paulo a hegemonia de maior campeão brasileiro da história. A coesão do grupo e a vontade que faltaram ao Palmeiras – maior decepção deste segundo turno – sobraram ao Flamengo. E na reta final, isso fez toda a diferença para o título, que no fim, foi benéfico ao futebol nacional, já que quebrou a hegemonia paulista, estado vencedor dos últimos cinco campeonatos nacionais até então. De quebra, a Libertadores 2010 promete ser a mais democrática para os brasileiros, já que aos principais centros do futebol nacional estarão representados na mais importante competição continental – Corinthians e São Paulo (São Paulo), Flamengo (Rio de Janeiro), Cruzeiro (Minas Gerais) e Inter (Rio Grande do Sul).

Peças-chave para o hexa:

Adriano – Dividindo a artilharia deste Brasileirão com Diego Tardelli, a volta do Imperador foi o grande alento motivador do Flamengo para este Brasileirão. O camisa 10 ajudou a encher o Maracanã nos jogos da equipe e viu na volta às origens um incentivo para voltar a jogar um bom futebol. No fim, os “mimos” de Andrade, diretoria e da torcida foram incentivadores para que o atacante fosse o principal responsável pelo título, visto que ele estava ajudando a equipe desde o início, ao contrário de Petkovic, que cresceu na metade decisiva do campeonato. Foram 19 gols em 30 jogos que coroaram a volta por cima do polêmico atacante.

Petkovic – De quase aposentado a principal figura na arrancada do hexa. Esse é o retrato do meia sérvio, que atuou em 23 partidas, marcou oito gols e deu cinco assitências. Com o sérvio em campo, o Flamengo perdeu apenas uma partida – por 3-2 contra o Goiás na 17ª rodada, quando ainda não era titular absoluto. As venenosas bolas paradas, melhora na armação das jogadas e o retorno da antiga identificação com o clube deram o tom para o veterano de 37 anos.

Andrade – Ídolo como jogador, Andrade sempre quebrava um galho nos momentos de turbulência no comando técnico da equipe – que não foram poucos nos últimos anos. Porém, o técnico nunca havia conseguido emplacar uma boa sequência para se firmar. Íntimo da Gávea, abrigou as voltas de Adriano e Pet e apaziguou os ânimos acirrados de jogadores como os laterais Léo Moura e Juan e o atacante Zé Roberto, indispostos com a torcida. Com isso, a equipe cresceu na hora certa e o treinador fez história como o primeiro técnico negro campeão brasileiro.

Reforços pontuais e “voltas” – As vindas do volante Maldonado – que acabou machucado na reta final – e do zagueiro Álvaro melhoraram sensivelmente a defesa. No segundo turno, o Fla sofreu menos de um gol por partida (0,79 gols sofridos por jogo), contra a campanha irregular do primeiro turno (1,47 gols sofridos por partida). Além deles, Juan e Léo Moura tiveram sensível melhora no momento de crescimento da equipe, assim como o também desacreditado Zé Roberto, que de quase dispensado, teve sua importância como parceiro de Adriano no ataque rubro-negro.

5.12.09

Sem morte antecipada

Muito se alardeou sobre o Brasil ter caído em um “grupo da morte” no sorteio dos grupos da Copa do Mundo. Não vejo dessa forma. Tecnicamente, é um grupo difícil, já que Costa do Marfim é a seleção africana que pratica o melhor futebol da atualidade – com Drogba jogando demais - e Portugal, apesar da classificação na bacia das almas, tem bons valores – inclusive, três brasileiros em posições chave: Pepe na defesa, Deco na armação e Liédson na conclusão.

Contudo, a ordem dos confrontos favorece a seleção canarinho. Ao enfrentar a misteriosa Coréia do Norte na estréia, o Brasil deve superar o nervosismo da estréia diante de uma seleção mais frágil, com marfinenses e portugueses se enfrentando logo de cara. Apesar de acreditar mais nos Elefantes do que nos Tugas hoje, há reais possibilidades de Brasil e Portugal chegarem garantidos às oitavas na rodada derradeira do Grupo G.

Grupo G: difícil, mas nada mortal

Vejo o Grupo D (Alemanha, Austrália, Sérvia e Gana) como o mais equilibrado do Mundial. Falar sobre a força e tradição da Alemanha é chover no molhado. A equipe de Joachim Löw está longe do brilhantismo, mas possui uma equipe organizada. A Austrália – que surpreendeu na Copa passada ao se classificar para as oitavas – tem um time experiente e mais maturado do que em 2006. Está longe de ser um saco de pancadas, como acho que África do Sul, Coréia do Norte e Honduras deverão ser. A Sérvia foi responsável por jogar a França na repescagem ao vencer o Grupo 7 das Eliminatórias Européias. Tem zaga e meio-campo de respeito, com nomes como Vidic, Ivanovic, Krasic e Stankovic. Já Gana, do excelente Essien, só não é melhor que a Costa do Marfim no continente africano. E já surpreendeu na Copa passada, ao deixar os tchecos para trás na Copa da Alemanha.

O Grupo G (Holanda, Dinamarca, Camarões e Japão) também chega a ser duro, mas não vejo estabilidade e confiança em Japão e Camarões. Espanha, Itália, e Inglaterra caíram em grupos mais fracos e devem passar voando às oitavas. A França conseguiu cair na chave que lhe era mas favorável, já que não era cabeça de chave. A África do Sul é uma seleção muito limitada. Tanto é que nem será possível observá-la na próxima Copa Africana de Nações, que vai ser disputada em janeiro de 2010, pois os Bafana-Bafana nem conseguiram a classificação nas eliminatórias para o torneio. O Uruguai, apesar de possuir nomes importantes como Lugano, Rodríguez, Suárez e Forlán, é uma equipe instável e que não vêm fazendo jogos bons contra equipes mais técnicas, como vimos nas Eliminatórias Sul-Americanas. O México é a equipe mais perigosa para os Bleus.

Já a Argentina deu sorte em relação às últimas Copas, mas ainda assim, enfrenta um grupo emblmático. A aplicada e veloz Coréia do Sul tem o ponto fraco no sistema defensivo, que é o ponto forte dos gregos. Já a Nigéria é uma incógnita. Tem bons valores individuais, mas que não conseguem jogar em prol do coletivo. As Super Águias só garantiram lugar no Mundial graças ao tropeço da Tunísia, rival dos nigerianos nas Eliminatórias Africanas, frente a modesta seleção de Moçambique na última rodada. Mesmo não praticando um futebol convincente, a Argentina tem amplas condições de passar bem no Grupo B.

Alguns grupos complicados, mas nenhum mortal e totalmente imprevisível. Mesmo assim, não deixaremos de ter emoções e algumas surpresas chegando ao mata-mata na África do Sul.

2.12.09

Os cabeças da Copa

No painel, as 32 seleções que disputarão a Copa.

Finalmente, a Copa do Mundo de 2010 começou a tomar forma com a divulgação dos cabeças de chave dos oito grupos do Mundial da África do Sul. A tabela do torneio estará definida após o sorteio das chaves, que acontecerá nesta sexta-feira na Cidade do Cabo, à partir das 15h (horário de Brasília). E como não podia deixar de ser, a Fifa foi alvo de algumas críticas, ao deixar a atual vice-campeã mundial França de fora das seleções que encabeçam os grupos. Os adeptos da teoria da conspiração até cogitaram a decisão como um tipo de punição aos franceses, por conta da polêmica mãozada de Henry no gol que eliminou a Irlanda na repescagem, o que soa absurdo.

De acordo com o secretário geral da entidade que rege o futebol, Jérôme Valcke, foi levado em consideração na hora da escolha o ranking da Fifa (entenda os critérios do ranking, pelo Futepoca) de outubro, que não contabilizou as partidas da repescagem para a Copa – o que dentro do novo critério estabelecido, é justo. Para a Copa da Alemanha, porém, a Fifa se utilizou do cálculo de seu ranking nos três anos anteriores ao Mundial e do desempenho das seleções postulantes à cabeça de chave nas duas Copas anteriores.

Ranking da Fifa em outubro de 2009, que pode dificultar a vida da França no sorteio das chaves.

Longe de mim montar uma estrutura de cálculo racional e revolucionária para a escolha dos cabeças de chave - até porque não teria capacidade para tal. Mas acho que o critério da Fifa foi acertado em escolher seleções como Espanha, Holanda e Argentina no lugar da França. Em 2006, com a Alemanha sediando o torneio – e posteriormente vai ser assim em 2014 com o Brasil - não haveria nenhum problema evidente na escolha, se tudo fosse apresentado nesse quadro atual, com todas as seleções tradicionais presentes ao Mundial. Contudo, como a modesta África do Sul entra como cabeça de chave por ser a anfitriã, era evidente que um graúdo iria dançar.

Desempenho dos cabeças de chave e da França nas Copas de 2002 e 2006*:

África do Sul: 2002 (17º) e 2006 (não participou)
Brasil: 2002 (campeão) e 2006 (5º)
Espanha: 2002 (5º) e 2006 (9º)
Holanda: 2002 (não participou) e 2006 (11º)
Itália: 2002 (15º) e 2006 (campeã)
Alemanha: 2002 (vice) e 2006 (3º)
Argentina: 2002 (18º) e 2006 (6º)
Inglaterra: 2002 (6º) e 2006 (7º)
França: 2002 (28º) e 2006 (vice)
Ao se utilizar de seu controverso ranking, a Fifa deixou bem claro o motivo da escolha. Na minha visão, França, Holanda e Argentina poderiam, virtualmente, brigar por essa cabeça de chave. Tanto a Albiceleste como os Bleus atravessam atualmente péssimo momento técnico em campo, enquanto Espanha e Holanda passearam, classificando-se com antecipação. Já a França só se classificou à Copa na repescagem – não vou entrar no mérito do gol irregular de Henry – em duras partidas contra uma aguerrida Irlanda. Para pesar tradição numa eventual balança, ambas são fortes no cenário atual – a Argentina bem mais historicamente, já que além de bicampeã, esteve em todas as Copas desde 1974, enquanto a França está em sequência de participação em Copas desde 1998, enquanto a Holanda acumula dois vice-campeonatos (1974 e 1978) e um quarto lugar (1998), o que poderia desfavorecê-la no critério tradicionalidade.

Com as cartas postas na mesa é ver se os hermanos vão ter o azar de cair novamente no grupo da morte - como aconteceu em 2002 e 2006 - ou se o Brasil pode ter uma revanche contra a França, algoz canarinho na história dos Mundiais. Ou outros tantos cenários, que serão desenhados nesta sexta, quando o sentimento de Copa do Mundo começa pra valer, antes do pontapé inicial da estréia.

* Do quinto colocado em diante, baseado de acordo com a classificação geral do torneio, já que não há disputa direta entre as equipes. Lembrando: 5º ao 8º - quartas de final e do 9º ao 16º - oitavas de final