30.8.09

Primeiras impressões na bota

Contrastes entre maestros: Diego resolveu o jogo e saiu ovacionado de campo, enquanto o escondido Ronaldinho foi sumariamente vaiado.

Os clássicos que agitaram a Velha Bota neste final de semana serviram para nortear algumas definições dos principais candidatos ao scudetto desta temporada, espelhada nos protagonistas, quase que em sua totalidade, com algum jogador brasileiro envolvido – nos clássicos desta segunda rodada, onze brasileiros começaram como titulares.

No Derby Della Madonnina, a Inter mostrou a superioridade que marca a hegemonia nerazurri no Calcio. A goleada sobre um arquirrival à beira de um ataque de nervos poderia ter sido ainda mais elástica. A Inter mostra que qualificou ainda mais o seu numeroso elenco, já que os recém-contratados Sneijder, Thiago Motta, Milito e Eto’o foram diferenciais ante a um Milan que jogou melhor apenas nos primeiros 28 minutos, quando viu Gattuso ser expulso – por falta de interferência de Leonardo, pois o volante estava sentindo contusão, além de já ter cartão amarelo e mesmo assim, não foi substituído – e o time se perder nas suas próprias limitações de elenco. Com Pato e Pirlo apagados e um Ronaldinho escondido do jogo, o Milan mostra que nessa temporada será novamente mero coadjuvante, principalmente se não reforçar seu elenco na janela de transferências européias de inverno. Inclusive, o camisa 80 – que tem chance de ouro para mostrar se ainda pode atuar em alto nível – saiu muito vaiado do Estádio San Siro.

Contrastando com a pífia situação de Ronaldinho, cada vez mais longe da Copa do Mundo de 2010, outro brasileiro contratado para ser maestro saiu ovacionado, ao decidir o outro clássico da rodada, no Estádio Olímpico. Diego exibiu o velho e bom futebol dos tempos de Santos e Werder Bremen e mostra que pode perfeitamente brigar por uma vaga entre os 23 de Dunga, além de ajudar a Vecchia Signora a perseguir a Inter, polarizando a disputa do título desta temporada. Principal contratação da Juventus em 2009/10, o camisa 28 decidiu o clássico com dois gols de quem mostra boa capacidade física aliada a técnica. Felipe Melo – outro reforço vindo a peso de ouro da Fiorentina – também vai cavando seu lugar no time, mostrando bom poder de marcação atrás e boas arrancadas em direção ao ataque. A Roma, ainda marcada pela "Tottidependência", parece que vai brigar com o Milan, Fiorentina e Lazio por eventuais vagas na próxima Champions.

Pode parecer precipitação cravar tais prognósticos com apenas duas rodadas. Mas principalmente no caso do Milan, essa parece ser uma longa e dura temporada para os rossoneri, que apostam em Leonardo, sentem a falta da referência de Kaká e contrataram pouco diante das carências do elenco.

29.8.09

Ingrediente mais do que especial

Bem amigos, Palmeiras e São Paulo irão travar um duelo chave para o andamento do campeonato. O resultado interfere diretamente no destino de ambas equipes e também de times como Internacional, Goiás, Atlético Mineiro e outros que correm por fora, mas isso não é nenhuma novidade.

O bacana deste clássico sem dúvida será o confronto entre Muricy Ramalho e tricolores. Tricolores por que estamos falando de jogadores, dirigentes e torcida do São Paulo, algo no mínimo interessante para dar uma apimentada no jogo.

Quem comemorou três títulos brasileiros com o treinador agora terá o desprazer (no sentido de ausência) de vê-lo no banco de reservas vizinho. Ele foi hostilizado, criticado, mas o sãopaulino tem que reconhecer o ótimo trabalho desempenhado pelo ex-treinador. Ele deu cara, personalidade para o elenco do São Paulo, coisa que demorou mais de uma década para a equipe reconquistar. Tá certo que Paulo Autuori entregou para ele uma equipe bem arrumada depois do Mundial Interclubes, mas Muricy tem o mérito de em três anos, com idas e vindas de vários jogadores, ter feito o tricolor figurar como a melhor equipe do futebol brasileiro incontestavelmente.

Hoje, defendendo o alviverde, ele têm nas mãos uma nova chance de alcançar o título nacional. Possui um time bem montado, entrosado e até mais forte que o rival. Tanto que, sob comando do interino Jorginho, se manteve na ponta da tabela com várias vitórias. Conhecendo o São Paulo melhor que o próprio Ricardo Gomes ele têm condição de anular peças chaves do adversário. Sabe as principais jogadas do tricolor, além de como cada jogador do outro lado pode render. Vai ser difícil para o time do Morumbi surpreender Muricy, mas nada é impossível.

Mais surpreendentes serão as reações antes, durante e após o jogo.Não me arrisco a adivinhar se a torcida do São Paulo vai xingar ou aplaudir o ex-treinador antes da bola rolar. Muito menos o que os dirigentes tricolores vão comentar caso o Palmeiras vença. O que Rogério Ceni deve falar após o clássico? Imprevisível!

Convenhamos, que mesmo o sãopaulino mais cabeça dura e rabugento tem que dar o braço a torcer que Muricy escreveu uma história vencedora dentro do São Paulo, e pode estar ligado (mesmo que indiretamente) a mais um título brasileiro da equipe, independente de estar, hoje, do outro lado do “muro”.

27.8.09

Outro ex-lateral do futebol brasileiro

Nos últimos meses, enfatizamos em dois posts publicados neste espaço ("Quem joga com a 2?" e "Direita forte, esquerda relutante") a falta de laterais autênticos – principalmente esquerdos – no futebol brasileiro. E seguindo a tendência – que só não atingiu os titularíssimos Maicon e Dani Alves por terem se aprimorado na defesa, na carreira européia – André Santos é mais um lateral que rumou ao futebol europeu e que fatalmente se tornará meia. Assim como já aconteceu com Gilberto (atualmente no Cruzeiro), Mancini (que já atuou até de atacante na Roma) e o próprio Marcelo (Real Madrid), este último disputa com o jogador do Fenerbahçe um lugar entre os 23 que vão à África do Sul em 2010.

Ainda no Figueirense - onde estourou para o futebol nacional - e depois no Corinthians, André Santos era conhecido mais pela sua volúpia e técnica ofensivas do que pela eficiência em fechar o lado esquerdo da defesa alvinegra, auxiliado pelos ágeis volantes Cristian e Elias. O camisa 27 fechou sua passagem pelo Parque São Jorge com 98 jogos e impressionantes 25 gols.

No Fenerbahçe, o técnico alemão Christoph Daum não hesitou em promovê-lo a meia esquerda, onde teoricamente ele reveza as subidas pelo setor com o veterano Roberto Carlos. “Estou revezando com o Roberto na esquerda. Uma hora eu subo, outra vez ele sobe. E quando a bola sobra para mim, tenho que empurrar para o gol”, disse o jogador ao site oficial do Fener. Mais solto e com menos obrigações defensivas, André Santos já contabiliza seis gols em dez jogos pelo clube turco nesta temporada. Só pela Europa League, foram quatro gols nos quatro jogos eliminatórios da equipe no torneio antes da fase de grupos - um contra o Honved e três contra o Sion.

A já pragmática tendência ofensivista dos laterais brasileiros agora se soma a grande profusão do esquema 3-5-2 já nas categorias de base, o que forma mais alas/meias do que laterais de ofício. E o futebol tupiniquim já vai adotando uma tendência muito utilizada em diversas equipes européias: a de utilização de um zagueiro de ofício deslocado na lateral, liberando mais um dos volantes ao ataque ou colocando outro jogador mais de frente nos times.

25.8.09

A vez dos nanicos

Jogadores de Debreceni, Zurich e Maccabi Haifa* comemoram a classificação à fase de grupos da Champions League

Nesta semana, vão ser definidos os dez times que faltam para completar a fase de grupo da Champions League. Mesmo com os jogos desta quarta sem ter os vencedores definidos, resolvi fazer este post, já que além da consumação da classificação dos tradicionais Atlético de Madrid e do Lyon, três “desconhecidos” terão a chance de aparecer ao enfrentar alguns dos times mais ricos e poderosos do planeta: os suíços do FC Zurich, os israelenses do Maccabi Haifa e os húngaros do Debreceni.

Ao vencer os letões do Ventspils, o Zurich chegou à fase principal da Champions após 28 anos. O atual campeão suíço já foi semifinalista do maior torneio europeu em 1976/77, quando foi derrotado pelo Liverpool. Já o Maccabi Haifa - apenas uma participação em 2002/03 - faz com que Israel tenha um representante após cinco temporadas, quando o Maccabi Tel-Aviv esteve na fase de grupos. Outra longa espera era a do futebol húngaro – que não tinha um representante no principal torneio europeu desde o Ferencváros, em 1995/96 – ao ver o Debreceni, vencedor de quatro das últimas cinco ligas nacionais (Soproni Liga) também alcançar a fase de grupos da Champions pela primeira vez.

Como nas partidas eliminatórias desta quarta nenhum outro grande desconhecido europeu deverá fazer compania aos times já citados neste post, já que Stuttgart, Olimpiacos e Copenhagen conseguiram bons resultados contra seus adversários, enquanto equipes mais tradicionais como o Arsenal e a Fiorentina - com boas vantagens conquistadas sobre Celtic e Sporting, respectivamente – devem engrossar a fase principal da Champions, as surpresas devem ficar por aí.

Mas essa quantidade de equipes menos tradicionais – que vão se juntar a campeões nacionais como o Wolfsburg, Rubin Kazan, Unirea Urziceni e AZ, todos longe da supremacia nacional em suas ligas e estreantes nessa fase do torneio – , além de um galático Real Madrid que não será cabeça de chave, farão desta edição da Champions uma das mais curiosas e com mais equipes desconhecidos do grande público, uma grande coincidência. A inclusão de equipes do porte de Zurich, Debreceni e Maccabi Haifa é resultado do início da política do presidente da UEFA, Michel Platini, em valorizar as federações menores do continente europeu. Com a impossibilidade de colocar todos os campeões nacionais de seus 53 filiados na Champions League, a UEFA resolveu facilitar a vida dos campeões nacionais de ligas com menor expressão no cenário do Velho Continente, ao dirigir o sorteio dos confrontos desta última fase eliminatória entre o “Caminho dos Campeões” e o “Caminho dos não Campeões” – que agregava segundos, terceiros e até quartos colocados de centros como Inglaterra, França, Portugal, Alemanha, Romênia, Itália, Espanha, Bélgica, Grécia e Escócia (para entender os critérios, leia o post do blog Esporte Fino sobre o assunto).

A atitude da UEFA teve opiniões muito divididas. Uns alegando que a poderosa competição poderia perder em nível técnico e consequentemente, em audiência e faturamento. Por outro lado, há a defesa da possibilidade dos pequenos jogarem diante dos grandes, sob desculpa de evitar a elitização das competições, já que a maioria dos clubes ricos acabavam desenvolvendo uma espécie de cadeira cativa, mesmo não indo bem em seus certames nacionais. Em centros como Itália, Espanha e Inglaterra, bastava chegar ao quarto posto e posteriormente, eliminar os nanicos em uma única disputa eliminatória.

Apesar de ser favorável a chance dada aos pequenos, nem Platini contava com uma Champions com tantos debutantes assim. Resta ver se esse fato não fará o cartola francês rever sua posição nesse caso, já que a inclusão das federações menores foi um dos grandes pilares de sua campanha para a presidência da UEFA.

*26/08 - Queimando minha língua, os cipriotas do APOEL reverteram a vantagem do Copenhagen (3-2 no resultado agregado) e também voltam à fase principal da principal competição européia depois de 27 anos. A melhor participação da equipe na competição foi nas oitavas da temporada 1986/87. Eles devem se inspirar nos compatriotas do Anorthosis Famagusta, que quase passaram para as oitavas na última temporada.

23.8.09

Escrevendo certo por linhas tortas?

Imagine-se como um jogador de futebol profissional brasileiro. Além de fazer sua vida financeira, seu objetivo é jogar pela Seleção. Para isso, é preciso manter um bom trabalho, se destacar no Brasil – e na maioria das vezes, na Europa – manter uma regularidade para assim, ganhar uma chance de ser convocado. Mesmo com uma base montada, o técnico sempre tem posições em que ele tem dúvida e experimenta atletas. No caso de Dunga, a lateral-esquerda e a reserva do ataque titular ainda dão nós em sua cabeça.

Com Luis Fabiano em ótima fase e Robinho mantido em nome da “base" – mesmo jogando futebol medíocre há tempos – muitos já foram testados, como Pato, Vágner Love e até mesmo Diego Tardelli, em ótima temporada pelo Atlético/MG. Mas ao convocar Adriano, eu penso que Dunga cometeu uma grande injustiça ao deixar Grafite de fora da lista para os jogos diante de Chile e Argentina. Há pouco mais de três meses, Adriano rescindia contrato com a Inter para “repensar a carreira” e ficar mais perto da família, um direito inalienável do atacante. Mesmo com potencial inegável para integrar o Brasil quando em nível bom e regular, a atitude que tomou deveria deixá-lo um tempo fora das convocatórias, até que sua situação – e principalmente seu emocional – se estabilizassem. Além do mais, deveria jogar bem.

Com todo o carinho, regalias e deslizadas em seu comportamento como profissional, Adriano fez boas partidas pelo Flamengo e atingiu o topo da artilharia do Brasileirão, com 10 gols. Só que o seu “concorrente direto” Grafite foi um dos pilares do então modesto Wolfsburg para a conquista de sua primeira Bundesliga. Artilheiro e melhor jogador do campeonato, manteve-se regular durante toda a última temporada. Feitos que mereceriam, ao menos, uma lembrança em uma das listas de Dunga, a exemplo do que já havia acontecido com Tardelli. “Não é preciso falar da qualidade do Adriano. Tivemos de esperar pela recuperação dele, pela sua resposta. Foi um período sem treinos e jogos, por isso não poderíamos convocá-lo. Quando ele superou o momento difícil fora de campo e voltou a corresponder, decidimos chamá-lo. O Adriano está mostrando no Brasileirão que tem potencial para contribuir com a seleção. Ele recuperou a alegria, por isso foi chamado”, afirmou Dunga.

A novela de Grafite na Seleção lembra um pouco a de Amauri, sempre lembrado pelos comentaristas e até cogitado por Dunga, mas nunca convocado. O fato da indecisão em defender a Itália pesava contra ele. Com um Grafite mais focado e em melhor nível que o jogador da Juventus atualmente, a frustração do atacante foi inevitável. “Para ser sincero já não fico mais contando com isso como ficava antes. Fiz uma excelente temporada aqui na Alemanha. Ganhei todos os prêmios, bati recordes, fui campeão e artilheiro e não fui chamado. A Seleção Brasileira está muito bem servida de atacantes. Vou continuar trabalhando da mesma maneira”, afirmou ao Globoesporte.com.

Adriano é um jogador tarimbado no Brasil em relação a Grafite – que atuou com a amarelinha apenas uma vez, durante a despedida de Romário da Seleção contra a Guatemala, em 2005 – mas nesse caso, o trabalho do atacante foi desvalorizado em nome de um jogador que recuperou a “alegria de jogar” recentemente. Ou cadeira cativa, da qual sou radicalmente contra em se tratando de Seleção Brasileira.

21.8.09

Máfia do Apito: vitória da impunidade, de goleada!


Outubro de 2005. A Revista Veja estampa na sua capa um esquema de manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro de Futebol que ficou conhecido como “Máfia do Apito”. Escândalo geral: árbitro preso de pijamas na sua residência, jogos anulados, campeonato manchado, novas partidas e a idoneidade do futebol nacional, antes já não tão limpa, atirada no lixo.

Agosto de 2009. Quatro anos depois, a 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo decide pelo trancamento da ação penal considerando que o quadro demonstrado não configura crime. Punição aos criminosos? Ops, desculpem-me pela qualificação indevida... punição aos envolvidos somente se o Ministério Público entrar com outra ação.

As investigações realizadas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), pelo Ministério Público e pela Polícia Federal detectaram que o esquema era formado por árbitros (Edílson Pereira de Carvalho, que chegou a ser preso, e Paulo José Danelon, que confessou ter negociado três jogos do Campeonato Paulista daquele ano) que aceitavam manipular resultados em favor de empresários ligados a sites de apostas. Os envolvidos estão livres das acusações de estelionato, falsidade ideológica e formação de quadrilha. Segundo o Tribunal de Justiça, o caso não se enquadra nas acusações citadas e também não há uma lei específica sobre manipulação de resultados no Brasil.

O jogo de interesses que permeia os bastidores do futebol nacional provavelmente influenciou na decisão dos excelentíssimos desembargadores, que resolveram fechar os olhos diante dos fatos e inocentar quem manipulou resultados, enganando torcedores que pagaram ingressos, por exemplo. Segundo os magistrais magistrados essa situação não se configura estelionato e, por consequência, formação de quadrilha. Você que é pai de família que se vire para explicar isso para seu filho: que manipular resultados em favor de alguém que está lucrando com isso, lesando outros tantos, não é estelionato. Eu por sorte, ainda não tenho nenhum e por isso não preciso passar noções de educação, respeito, justiça, moral, etc, etc e etc.

A decisão não apenas mancha de vez o campeonato daquele ano e o futebol nacional como um todo. Abre brechas para que ações desse gênero sejam realizadas com a certeza da impunidade.

Como a ação foi traçada, as milhares de páginas com provas concretas sobre o esquema sequer foram analisadas, não havendo um julgamento do mérito da questão. As fitas com as 20 mil horas de conversas telefônicas gravadas durante as investigações jamais foram ouvidas e já podem ser reutilizadas para gravar canções da Xuxa, da Ivete Sangalo e até mesmo do Latino ou do Dado Dolabella, se assim preferirem.

A decisão cabe recurso, porém, demoraria mais quatro, oito ou dezesseis anos para que a ação criminal fosse retomada. Vitória de Edílson, Danelon e todos os envolvidos na manipulação dos resultados para beneficiar apostadores. Estão todos a partir de hoje com a ficha limpa. Ninguém aqui que ouse chamar Edílson Pereira de Carvalho de juiz ladrão, mesmo porque, quem o fizer poderá ser processado.

Entre as manchetes do dia, poucas linhas para o fato. Quem se importa, não é verdade? O Brasileirão de 2005 já acabou mesmo e os envolvidos a essa altura já até gastaram as cifras que ganharam com o esquema. O que importa é a arrancada do Jason Tricolor, o desmanche no Timão, o Imperador que voltou à Seleção e a vida que segue. O melhor eu estava esquecendo: 2014 tem Copa no Brasil e até lá acontecerá o milagre da multiplicação de estádios, infraestrutura e desenvolvimento do nosso futebol, que chegará aos rincões mais longínquos do país. Besta eu e quem mais que está se preocupando com um passado tão remoto. Vamos olhar para a frente minha gente...

“Tem gente que vende a mãe, não é? Mas acho que não existe tipificação criminal para isso também. Isso eu sei e os desembargadores Cristiano Kuntz, Francisco Menin e Francisco Miranda também devem saber. Edílson e Danelon idem. Eu aposto que eles sabem”, Luís Carlos Quartarollo, jornalista da Rádio Jovem Pan.

19.8.09

Dinheiro ou juventude?

Com os clubes ingleses pisando no freio por conta da crise econômica, o até então definido Big Four inglês pode ganhar um intruso: o Manchester City do sheikh árabe Mansour bin Zayed Al-Nahyan, responsável por cinco das dez maiores transferências de 2009/10 na Inglaterra, vem forte para, ao menos, beliscar uma vaga na fase preliminar da Champions League 2010/11. E se considerarmos que Liverpool, Chelsea e Manchester United – apesar das perdas signficativas de Xabi Alonso e Cristiano Ronaldo – mantiveram a base, o rival direto dos Citizens pela vaga é com o bom, jovem e imprevisível time do Arsenal.

Apesar do futebol envolvente, dinâmico e de toques rápidos, o Arsenal ainda é um time formado por muitos jovens e que perdeu duas peças importantes de seu elenco: o zagueiro Kolo Touré e o atacante Adebayor, para o próprio City. Ainda assim, o Arsenal se impôs nos dois primeiros jogos desta temporada, ao vencer expressivamente o Everton por 6-1 e administrar 2-0 contra o Celtic, na Escócia. Mais do que nunca, o trio Fabregas-Van Persie-Arshavin é a referência técnica do time, que vê o brasileiro Denílson aflorar cada vez mais seu bom futebol. O zagueiro belga Vermaelen encaixou bem na zaga com Gallas. Só que a temporada é longa e os Gunners não contam com peças de reposição à altura para a maioria das posições. E as opções não deixam com que o técnico Arsène Wenger possa fazer grandes mudanças táticas na equipe.

As opções de Rosicky, Nasri - ambos machucados – e Eduardo da Silva são incertas. Promessas como Gibbs, Wilshere, Ramsey, Vela e Walcott ainda carecem de mais regularidade. E esse Arsenal, que ao mesmo tempo em que chegou às semifinais da última Champions e sofreu para chegar ao quarto posto da Premier League - ameaçado por muito tempo pelo Aston Villa - pode ficar pelo meio do caminho. Principalmente frente a um Manchester City que está focado tão e somente no campeonato nacional.

Em sua estréia oficial nesta temporada, o City não jogou um futebol brilhante, mas fez o trivial para bater o Blackburn fora de casa por 2-0, e mostra que tem bom elenco, mas que naturalmente carece de mais entrosamento para decolar. A versatilidade do elenco de Mark Hughes é a marca registrada. Micah Richards e Touré podem fazer a lateral-direita mas fechada, que ainda conta com o argentino Zabaleta como opção mais ofensiva no setor; Ireland, Barry, Kompany e De Jong são opções para jogar na contenção, sempre ajudando o ataque. Wright-Phillips é o motorzinho do time, sempre incisivo pela direita. No ataque, Tevez, Santa Cruz, Adebayor e Bellamy podem ser utilizados. E mesmo com o pífio futebol apresentado até aqui, Robinho tem inegável potencial. O foco exclusivo na Premier League e o vasto e qualificado elenco podem pender a balança dessa virtual disputa para o lado do City, que busca o seu sonho de ser um “novo Chelsea”.

Resta saber se nos jogos diretos contra o Big Four, o bom – ao menos no papel – time do Manchester City não voltará a ter mentalidade de time pequeno, já que esses pontos diretos serão primordiais para a colocação dos Citizens na fase final do campeonato.

18.8.09

Opinião FC, ano III

Este 18 de agosto marca o terceiro ano de existência do Opinião FC. São três anos de muito aprendizado, troca de idéias e principalmente, do conhecimento de muita vida boa pela blogosfera, esportiva ou não.

Muita coisa mudou em três anos. Agora não somos apenas estudantes de jornalismo, nos tornamos profissionais da comunicação. Uns buscando seu lugar ao sol, outros em processo de consolidação e alçando vôos cada vez mais altos.

Ao mesmo tempo que me orgulho por fazer parte do Opinião FC, tenho uma ponta de frustração, por não poder deixar o blog com a cara que ele realmente merece. Mas acredito que isso é apenas questão de tempo. Aos amigos, incentivadores e parceiros, deixo um obrigado e desejo muitos anos de parcerias, discussões e sucesso. E se depender de mim, este espaço ainda vai comemorar muitos anos de vida.

LEIA MAIS:
Opinião FC, ano I
Opinião FC, ano II
Primeiro Post - Entrevista com Carlos, Goleiro da Copa de 1986

17.8.09

Depressão pós-Libertadores

Grandes decepções brasileiras na Libertadores podem trazer conseqüências catastróficas. Ao menos, a partir da década de 90, onde a competição passou a ser muito mais valorizada pelas equipes brasileiras, principalmente após a repercussão das conquistas do São Paulo em 1992/93. Ganhar a competição continental tem sido cada vez mais uma obsessão brasileira, o que muitas vezes faz com que um time não se dedique tanto ao Campeonato Brasileiro, se por ventura ela tiver conquistado uma Copa do Brasil, por exemplo. Com a exceção do Cruzeiro em 2003, essa é a tendência.

O próprio Cruzeiro, que fechou o primeiro turno desse Brasileirão em 14º lugar – apenas três pontos da zona do rebaixamento – pode ser citado como exemplo dessa síndrome pós decepção na Libertadores. Priorizando a competição sul-americana, na qual o time ia de vento em popa, a equipe celeste chegava à grande final em casa com uma boa vantagem, após um ótimo resultado conquistado diante do Estudiantes na Argentina. Mas o revés sofrido em Belo Horizonte ainda não foi totalmente superado pelos comandados de Adílson Batista, visto que o ataque da equipe, de Kleber, fechou o primeiro turno como o pior do torneio, com apenas 18 gols marcados. É fato que o Cruzeiro tem bom plantel, mas a sua posição no certame nacional ainda sugere tal “trauma”. "Essa ressaca de título é uma coisa natural, é só pegar os times que perderam a Libertadores. O time é bom, mas não vem fazendo bons jogos. O time também está sofrendo com essas expulsões", afirmou o diretor Eduardo Maluf. Mas nesse caso, acho que a equipe não deve sofrer ameaças de rebaixamento.

Em Recife, mesmo em um time sem o status de favorito, os reflexos da eliminação para o Palmeiras abalaram o Sport, que fez excelente primeiro semestre. Da euforia recifense e da boa equipe montada por Nelsinho Baptista desde o triunfo na Copa do Brasil à lanterna do Brasileirão, com grave crise interna no clube.

Outro time que sofreu grande derrota na Libertadores foi o Fluminense, em 2008. E as conseqüências estão mostrando seus efeitos até os dias de hoje. Já no ano passado, o Fluminense passou raspando pelo descenso no Brasileirão, escapando somente na penúltima rodada. Em 2009, a crise – principalmente interna, entre patrocinador e diretoria – se acentuou. Resultado: quarto técnico (ou cinco trocas, já que Renato Gaúcho era o treinador na final e reassumiu o cargo há pouco tempo) no espaço da final contra a LDU, há mais de um ano atrás. O Tricolor das Laranjeiras flerta perigosamente com o rebaixamento, já que é atualmente o vice-lanterna do Brasileirão e já utilizou 31 atletas diferentes nessa primeira metade do campeonato.

O Corinthians, que busca obsessivamente a Libertadores, também já foi vítima de tais conseqüências em 2000, após perder nas semifinais para o arquirrival Palmeiras, foi o penúltimo colocado na famigerada Copa João Havelange e em 2006, após a derrota para o River Plate em pleno Pacaembu. A eliminação para os argentinos desencadeou o começo do fim da nebulosa parceria com a MSI, que culminou com o rebaixamento da equipe, em 2007.

Cada vez mais, essa tendência vem se tornando a regra, e não a excessão. Ainda que após sucessivas eliminações nas últimas Libertadores, equipes como São Paulo e Inter, mesmo com a decepção sofrida, ainda conseguem se reerguer. É aí que entra o merito das diretorias dos clubes. Pressão excessiva da torcida e falta de preparação, em quase todos os casos citados. Um verdadeiro coquetel Molotov que quase sempre não termina nada bem.

15.8.09

Arranque da Liga Portuguesa: a tradição ainda mantém-se!

POR GONÇALO CARDOSO - O Sabor da Palavra http://osabordapalavra.blogspot.com

A poucas horas do início da época de futebol 2009/2010 em Portugal para os três grandes, acolhi com agrado a proposta de André Augusto e farei de seguida a minha antevisão para o campeonato dos três maiores clubes portugueses.

Por ordem de classificação do último campeonato, o Porto, actual tetracampeão nacional, manteve o registo das últimas épocas e aproveitou as boas campanhas europeias e nacionais para vender os seus maiores produtos como foram os casos de Lisandro López e Cissokho para o Lyon, e Lucho González para o Marselha, e apostarem em jovens promessas do mercado sul-americano e português para colmatarem as saídas, dar um novo figurino ao sistema táctico e receber dividendos de grandes negócios futuros, como nos tem habituado. Para o lugar do defesa-esquerdo Cissokho, adquiriu o uruguaio Álvaro Pereira (ex-Cluj), recrutou os serviços de Belluschi (ex-Olympiacos) e Diego Valeri (ex-Lanús) para substituir Lucho e aumentar as opções no centro do terreno, e reforçou-se com o colombiano Falcão (ex-River Plate) para fazer esquecer o instinto matador de Lisandro López. Entre saídas e entradas, a questão passa pela adaptação dos novos jogadores ao sistema táctico e cultura portista, sendo factor determinante para a regularidade pretendida no campeonato. Acreditando na qualidade e capacidade de adaptação dos novos reforços, o Porto parte como principal candidato ao título, tendo para mim que este será o ano da explosão de Hulk, um jogador com uma capacidade física e técnica impressionantes, faltando apenas o crescimento táctico e psicológico para enfrentar novos voos com maior certeza.

O Sporting, vice-campeão nacional nas últimas quatro épocas, mantém o seu rigor orçamental e aposta na formação digna de uma das maiores academias de futebol mundial. Com poucos recursos para investir na equipa, fez regressar os jovens André Marques e Carlos Saleiro, emprestados a clubes menores da liga portuguesa, e adquiriu os serviços do chileno Matías Fernandez (ex-Villareal) e o empréstimo do equatoriano Caicedo (ex-Manchester City). As limitações negociais para o investimento no futebol podem ser uma desvantagem em comparação com os seus adversários, pois não foram colmatadas todas as lacunas no plantel, nomeadamente a aquisição de um defesa central forte e de marcação, dois defesas laterais ofensivos e um médio defensivo que aumentasse a velocidade na transição ofensiva. A vantagem poderá ser a continuidade na estrutura dirigente e técnica, mas pode não chegar, partindo na minha opinião em desvantagem relativamente aos eternos rivais. Liedson poderá voltar a ser a grande figura deste ano, tanto pela continuidade materializada na sua renovação de contrato, como pela possibilidade de estrear-se pela selecção portuguesa como jogador naturalizado.

Ainda em Lisboa, temos o Benfica, habitual campeão das contratações da pré-época, voltando a vender pouco e a comprar muito, situação que poderá acarretar maior pressão caso não haja retorno desportivo, como tem acontecido nos últimos anos. Vendeu o grego Katsouranis ao Panathinaikos e não conseguiu manter o espanhol Reyes que regressou ao Atlético de Madrid, e reforçou-se com jogadores para quase todas as posições, nomeadamente: o guarda-redes Júlio César (ex-Belenenses e ex-Botafogo); o defesa direito Patric (ex-São Cateano); os defesas-esquerdo Shaffer (ex-Racing Avellaneda) e César Peixoto (ex-Braga); médio de transição Ramires (ex-Cruzeiro); médio defensivo Javi Garcia (ex-Real Madrid); avançados Saviola (ex-Real Madrid), Weldon (ex-Sport Recife) e Keirrison (ex-Palmeiras e emprestado pelo Barcelona). A equipa apostou também na mudança de um novo treinador, investindo em Jorge Jesus, um treinador português, grande conhecedor do futebol nacional e um mestre da táctica no futebol, conseguindo entusiasmar os adeptos benfiquistas com boas exibições e resultados durante a pré-época ao vencerem quatro taças em torneios particulares. As grandes mudanças podem ter os seus inconvenientes na procura da estabilidade da equipa, partindo por isso em desvantagem face ao campeão nacional, mas este Benfica promete tanto colectivamente como individualmente, tendo jogadores prestes a explodir como o argentino Di Maria e o paraguaio Cardozo, jogadores esperançados em relançar a sua carreira como Pablo Aimar, Javi Garcia e Saviola, e jogadores em trampolim para os grandes da Europa como o caso de Ramires e Keirrison. Como desilusão da pré-época encontra-se Patric, jogador pouco utilizado e com menor confiança por parte do treinador, ao ponto de ter sido excluído da lista enviada para a competição nas provas europeias.

Em suma, época nova, mas registos conhecidos. O Porto mantém o balanço positivo entre as compras e as vendas, Sporting continua fiel ao trabalho árduo com poucos recursos financeiros e o S.L. Benfica volta a ser o campeão das mudanças e investimentos avultados. O meu desejo de um campeonato como grande propaganda para o futebol, e que no final o campeão seja o clube que, para além de exibir uma maior regularidade futebolística, tenha demonstrado um futebol mais espectacular e entusiasmante. Um abraço a todos e até breve!

12.8.09

Caprichoso e Garantido

Uma disputa digna do festival do boi de Parintins agita a pré-temporada do futebol argentino. Quanto vale a tradição? Para uma torcida tão fanática quanto a do Boca Juniors, não tem preço. A polêmica começou quando a equipe xeneize fechou recentemente um patrocínio com a LG por cerca de R$ 4 milhões, por um ano. A mesma LG que paga quase cinco vezes mais ao São Paulo.

O logo da multinacional coreana é vermelho e branco, cores alusivas ao maior rival da equipe, o River Plate, mas diante do acordo inicial com o Boca, passou a ficar em azul, como mostrado na apresentação dos novos patrocinadores, no final de julho. Mas durante a excursão dos argentinos na Europa, o logo voltou às cores originais. E por ficar estampado no fundo amarelo da camiseta, deu ainda mais destaque.

O que mais me intrigou é que a decisão teve o “aval” da direção do clube. “Sabemos que o inconveniente das cores, mas temos de pensar que o Boca aumentou as suas receitas a partir do que é pago pela Megatone [patrocinadora anterior]”, afirmou o presidente do clube, Jorge Ameal em declaração ao site do Clarín.

Os torcedores já se mobilizam para boicotar o novo uniforme, que começa a ser vendido ainda nesta semana. No Facebook, a comunidade Bosteros en contra del logo bordó y blanco de LG en nuestra camiseta, criada para protestar contra a medida, já conta com mais de 4400 membros, que prometem protestar no treino da equipe deste sábado. Um blog também foi criado para o mesmo fim. Polêmica semelhante foi causada por uma ação da Nike. A empresa estadunidense colocou uma pequena litstra branca entre a parte azul e amarela do uniforme em 1996. Nem Maradona gostou, o que só colocou mais lenha na polêmica.

Por dinheiro tão irrisório – em se tratando das cifras astronômicas no futebol – o Boca manchou seu manto com as cores do rival. Empresas grandes já se adaptaram as tradições futebolísticas, em nome da exposição nas camisas, e consequentemente, na mídia. O Corinthians mudou o logo de dois patrocinadores (Pepsi Twist e Medial), que eram verdes. O Grêmio fez as letras da Coca-Cola ficarem brancas em um fundo preto, para não fazer alusão ao Inter. O vermelho e amarelo do McDonald’s passa longe dos restaurantes da empresa no bairro onde fica sediado o Fenerbahçe, que tiveram seu logo modificado para azul e amarelo. Os exemplos são diversos.

Me estranha um clube tão tradicional e conhecido como o Boca, conhecido tanto pelos títulos quanto pela devoção de seus hinchas ser pivô de tal polêmica. Mesmo com o Campeonato Argentino estando ameaçado por muitas equipes estarem à beira da bancarrota – lá é como cá também – um clube grande como o Boca não tem porque ficar “passando o pires” dessa forma, atrás de receitas. Como diz parte da descrição da comunidade dos inconformados torcedores no Facebook. “Estão pondo as cores do inimigo [no sentido de rival] em nosso peito”.

10.8.09

Chega de saudade

“Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz não há beleza
É só tristeza e a melancolia”
(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

Em pouco mais de um mês, a realidade do Corinthians virou de pernas para o ar. De “melhor time do Brasil”, alcunha conquistada através dos bons jogos nas finais do Paulistão e na reta final da Copa do Brasil, o time virou uma “colcha de retalhos”. Mano amarga sua pior sequência à frente do time, em 19 meses de comando. São cinco jogos sem vencer, com apenas um gol marcado.

A torcida já vinha protestando desde a saída de parte da espinha dorsal da equipe que vinha fazendo sucesso. O corinthiano tem que se ater à realidade. Cristian, André Santos e Douglas não voltam mais. Além da importante saída deles e o fato de não existirem reservas à altura no elenco, o Corinthians vem sofrendo com diversas contusões: primeiro Ronaldo, depois Alessandro, Morais, Jorge Henrique e Souza.

Coma excessão de Cristian – que apesar de estar jogando muito, não existiam especulações sobre a sua saída – muitos desses jogadores desse elenco inevitavelmente iriam sair. Apesar da recuperação do Corinthians no futebol brasileiro, o clube ainda tem montanhas de dívidas e a maioria dos jogadores é “fatiada”, com muitos "donos" dos seus direitos federativos, o que por si só já traz amplo conflito de interesses. O São Paulo está se recuperando porque conseguiu manter seu forte elenco, após um primeiro semestre irregular, enquanto equipes como Palmeiras e Inter têm parceiros fortes que podem bancar alguns atletas, como foi o caso de Pierre, por exemplo.

Apesar de não concordar com o protesto da torcida sobre o “desmanche”, a diretoria do Timão comeu bola na hora de antever tais desfalques, no sentido de suprí-los. Além disso, Mano não foi feliz ao trazer a maioria dos desconhecidos reforços deste ano, além de jogadores que deveriam vingar e não funcionam, como é o caso de Souza. Só que o treinador, quando montou a equipe em 2008, trouxe jogadores que não eram consagrados até então, como Elias, Chicão, André Santos, Cristian. "Talvez a gente esteja um pouco lento na remontagem. Temos que mostrar para o torcedor e para o grupo que estamos trabalhando. Isso certamente vai reanimá-los e irá devolver a confiança para brigarmos por resultados melhores. O que peço é que o torcedor confie na gente porque sabemos como fazer bem feito para estar bem preparado para 2010", disse o técnico ao UOL Esportes.

A situação é delicada, porque o time acostumou a torcida com vitórias e títulos no último ano e meio. É hora de ter calma e pensar o time para esse Brasileiro sim, já que fica muito difícil montar uma base toda em pleno 2010, ano do centenário do clube. A razão tem que se sobrepor a obsessão da torcida. E a torcida tem que ter a consciência que pressionando o time de uma forma exagerada, influencia direta e negativamente, como já vimos em outras oportunidades.

6.8.09

Quem joga com a 2?

Procura-se atleta com estatura mediana que tenha competência tanto para marcar quanto para sair jogando. Deve saber fazer bons cruzamentos, ter bom preparo físico, ser veloz e preferencialmente destro. Se for habilidoso, ajuda. Entrar em contato com algum time que disputa o Brasileirão. Qualquer um.

Apesar do exagero, se fosse possível, acredito que muitos clubes recorreriam a essa artimanha na tentativa de contratar um lateral direito que atendesse às expectativas do clube. Afinal, salvo por algumas exceções, a posição anda meio escassa no país.

Dentre as equipes que ocupam os primeiros lugares na tábua de classificação, a grande maioria não possui um lateral de ofício. Wendel, por exemplo. Bastou um fraco primeiro semestre de Fabinho Capixaba para o volante assumir a vaga no Palmeiras. Já o zagueiro Bolívar é aproveitado no Internacional como lateral há um bom tempo...

E a lista não para por aí. Desde a saída de Ilsinho, o tricampeão São Paulo não encontrou um substituto à altura. O dono da posição no Grêmio é William Thiego, zagueiro de ofício. No Atlético Mineiro, o ala Carlos Alberto é volante. Até o caçula Avaí conta com alguém improvisado no setor: o atacante Luís Ricardo.

Mesmo nomes medianos outrora consagrados, estão longe de possuir algum destaque individual em suas equipes. Alessandro, do Botafogo, nem parece o mesmo lateral que, após o título do Atlético Paranaense em 2001, alcançou a Seleção. Leo Moura, ídolo no Flamengo, vive às turras com a torcida que tanto o aclamou. O episódio do último fim de semana apenas comprova isto.

Talvez os maiores (e únicos) destaques deste Brasileiro sejam Apodi e Jonathan. Apesar de marcar muito pouco, Apodi é um dos maiores referenciais ofensivos no Vitória. Incansável, apresenta-se em todos os setores do campo e sempre marca seus golzinhos.

Ademais, Jonathan destaca-se por sua regularidade. Eficiente no apoio e seguro na marcação, o ala cruzeirense demonstra muita força física. Se amadurecer um pouco mais e parar de cometer lances bobos, ele tem chances reais de chegar à Seleção.

O mais engraçado disso tudo é o fato de não convivermos com o mesmo problema no time de Dunga. Afinal, nossos dois laterais, Daniel Alves e Maicon, certamente estão entre os melhores do mundo. Paradoxal, não é mesmo?

Que existe algo errado, existe. Por que, dentre tantos atletas, não conseguimos ver um lateral direito que tenha qualidade? Azar? Creio que não. Prefiro concordar com a teoria de Paulo Autuori, que após assumir o Grêmio exigiu que todas as categorias de base tricolores assumissem o mesmo esquema tático: o 4-4-2.

Quando questionado, Autuori apenas rebateu: “Quando as categorias de base do Brasil implantaram o sistema de três zagueiros em seus esquemas, deixamos de produzir laterais que saibam marcar e meias que saibam pensar”. Fico com ele.

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4.8.09

Fragilidade exposta no Interior

POR WILLIAM DOUGLAS - Matéria originalmente reproduzida pela Agência Bom Dia, em 3 de agosto de 2008

Copa Federação Paulista, Copa Estado de São Paulo, Copa Coca-Cola, Copa Bandeirantes e hoje, Copa Paulista. Nomes diferentes de um torneio que existe há mais de uma década, mas que ainda não caiu no gosto da torcida. A prova que a competição ainda não é bem assimilada pelos torcedores está na média de público, abaixo de 400 pagantes nas quatro primeiras rodadas. Os número só não são piores graças ao São Bernardo
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O vice-presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, justifica a competição como necessária para manter os times do Estado em atividade no segundo semestre, após o fim das Séries A-1, A-2 e A-3 do Paulista. Porém, o torneio também abre espaço para os times “B”, como Paulista, Ponte Preta, Palmeiras, Ituano e Mirassol. Coincidência ou não, estes clubes estão entre os que tem as piores médias de público no torneio, já que suas torcidas estão mais preocupadas com a disputa do Campeonato Brasileiro. Mesmo equipes que disputam apenas a Copa Paulista, e são tradicionais do Interior, como o Noroeste, América de Rio Preto, Botafogo de Ribeirão e Ferroviária não empolgam os seus torcedores.

De acordo com o professor Marcelo Proni, economista especializado em futebol e professor da Unicamp, um dos problemas do torneio é conceder uma vaga no Campeonato Brasileiro, como acontecia em anos anteriores, com um lugar na Série C. “A equipe campeã se classifica para a Copa do Brasil, mas este não é um prêmio que compense o investimento para ter um time competitivo”, constata.

Segundo o professor Proni, sem a vaga resta aos clubes usar o torneio para investir nas categorias de base e, para as equipes que estão na segunda e terceira divisão, focar o trabalho visando o ano seguinte, com apoio do departamento de marketing, o que pouco acontece. “Acho melhor o clube continuar em atividade do que sem competições, mas o departamento de marketing tem de fazer promoções, ter profissionais que motivem os torcedores”, analisa. Ainda de acordo com o economista, a parceria com empresários que administrem os departamentos de futebol pode ajudar os clubes a melhorar este cenário, montando times mais fortes, tornando assim a competição atrativa para os torcedores. “O clube tem de ter cuidado para a médio e longo prazo não se abdicar das categorias de base. Eu entendo a situação destes clubes, é difícil manter as equipes. Mas, sabemos que um planejamento a longo prazo seria melhor.”

Projeto faz do São Bernardo exceção

Apenas três confrontos da Copa Paulista tiveram público superior a mil pagantes nas quatro primeiras rodadas. Um entre Linense e Rio Preto e os outros dois com mando do São Bernardo, contra Palmeiras e Juventus. Diante do Moleque Travesso, o público chegou a 4.345 pagantes, a maioria, empregados de empresas parceiras do clube, fundado em 2004.

“Desde a metade da Série A-2 deste ano começamos com uma campanha de venda de ingressos nas empresas da região. Elas compram o ingresso e distribuem aos funcionários”, explica o diretor de futebol do clube, Edgard Montemor. A estratégia não para por aí. “Temos uma equipe que faz faixas avisando dos jogos e carros de som nas ruas”, conta.

O planejamento também pode ser visto em campo. O elenco é praticamente o mesmo que disputou a segunda divisão do Estadual. “Mantivemos a base e no fim do ano vamos contratar mais três ou quatro reforços para lutar pelo acesso”, diz o dirigente, mostrando seguir a receita do economista Marcelo Proni, de usar o campeonato como preparação para o Estadual seguinte.
Para o diretor, a meta é ambiciosa: repetir o vizinho Santo André, conquistar a competição e ir para a Copa do Brasil. “Em termos de estrutura garanto que estamos na frente do Santo André e São Caetano”, desafia Edgard.

Meia-entrada ‘burla’ regulamento

A meia-entrada virou uma arma dos clubes que disputam a Copa Paulista para driblar o regulamento. O preço mínimo para entradas é de R$ 8, de acordo com o artigo 23 do regulamento. Porém, a maioria dos torcedores não gastam mais que R$ 5. O preço do ingresso geralmente é R$ 10, mas os clubes vendem apenas meia-entrada. Os boletins financeiros das quatro primeiras rodadas provam: na maioria dos jogos o número de meia-entradas vendido foi maior que o de ingressos inteiros. (Sertãozinho x Noroeste , XV de Piracicaba x Botafogo, Atlético Sorocaba x Ponte Preta , alguns exemplos da quarta rodada, disputada no último fim de semana. Todos os boletins financeiros dos Jogos da Copa Paulista, aqui). No jogo Votoraty x Ituano, todos os 387 torcedores que compareceram ao estádio pagaram meia-entrada. No duelo entre São Bernardo e Juventus, 4.344 torcedores pagaram meia, um o ingresso inteiro.

Mesmo com a evidente infração, Rogério Caboclo, vice-presidente financeiro da Federação Paulista, não se mostra preocupado. “O artigo 21 do Estatuto do Torcedor estabelece que a comercialização de ingressos é de responsabilidade do clube mandante. A legislação não determina a quantidade de meia entrada a ser comercializada”, diz, em entrevista por e-mail.

2.8.09

Gastar é preciso

Em um mercado de transferências sacudido pela megalomania do Real Madrid e pela grande troca entre Barcelona e Inter, dois times da “elite” européia parecem ter parado no tempo e correm sério risco de um desempenho apenas como coadjuvantes em 2009/10: o Milan, do recém-promovido técnico Leonardo e o Arsenal, do descobridor de talentos Arsène Wenger.

“Este elenco não é suficiente para os compromissos que temos, precisamos contratar mais alguns”, diagnostica o próprio Leonardo (notícia da Trivela, aqui), que deixou o cargo de dirigente para ser treinador rossoneri. Uma aposta acertada e que poderia dar certo, assim como Guardiola deu no Barcelona. Mas o Milan não investe de acordo para reforçar o elenco e continuar o processo de renovação, tão necessário ao clube. O Milan perdeu Kaká – principal jogador da equipe nas últimas três temporadas – , algumas opções no elenco (que nem eram tão boas assim) como Shevchenko e Beckham, além da aposentadoria do lendário Maldini. Ao passo que chegaram ao clube apenas o zagueiro estadunidense Oguchi Onyewu e o mediano lateral Massimo Oddo, que retornou de empréstimo do Bayern.

Há pouco mais de 20 dias de sua estréia no Calcio, contra o Siena, o Milan é um time sem perspectiva de títulos. Na pré-temporada, tivemos um esboço disso. No World Football Challenge, derrotas para Chelsea, América do México e para a rival Inter. Na Audi Cup, goleada sofrida diante do Bayern e empate diante de um Boca, também enfraquecido. Mesmo com Leonardo tentando mudar a filosofia tática da equipe, faltam peças. Ronaldinho Gaúcho é uma incógnita, Pato ainda se mostra um pouco inconstante e não se pode confiar o comando de ataque ao irregular Borriello ou ao eficiente, mas veterano Inzaghi. O único alento até aqui parece ser a entrada de Thiago Silva na zaga. Analisando friamente, Inter e Juventus estão muito à frente do Milan, que parece no mesmo patamar de equipes como a Roma e a Fiorentina para esta temporada.

O caso do Arsenal tem motivações diferentes, mas o final pode ser igual ao do Milan. Enfraquecido gradualmente nos últimos anos, desde a conquista da Premier League invicta em 2003/04 e o vice-campeonato europeu em 2005/06. Wenger sempre repôs a saída de um medalhão com a aposta em um garoto talentoso, como nos casos de Fabregas, Van Persie, Walcott e Adebayor. A perda de Adebayor e Kolo Touré para o Manchester City e a única contratação do zagueiro belga Vermaelen são os movimentos de mercado da equipe até aqui. "Acho que nós estamos fortes o bastante, mas, se pudermos contratar, vamos contratar. Só que, na Inglaterra, as pessoas pensam que todos os problemas podem ser resolvidos com a contratação de jogadores", analisa o técnico, de acordo com a Trivela.

Mesmo com o enfraquecimento do tricampeão Manchester United e a estagnação de Chelsea e Liverpool – mas que ao contrário dos Gunners, tem opções de elenco – o Arsenal não aposta em grandes aquisições. E corre sério risco de ficar fora da zona da Champions caso o time do Manchester City, que fez boas aquisições, dê “liga”. Além da dependência em jogadores como Fabregas e Van Persie, o time apostará nos retornos dos lesionados Rosicky e Eduardo da Silva. Mas ao contrário de uma equipe como o Milan, o Arsenal faz parte do chamado Big Four inglês, mas é mero coadjuvante há alguns anos. E a torcida quer títulos.

Apesar das necessidades e das carências no elenco, ambos parecem se mover a passos de tartaruga para renovar/reforçar o elenco. E se perceberem isso em meio a temporada, terão que sair à caça de reforços em janeiro. E talvez seja tarde para salvar um fiasco na temporada.