30.11.08

Ferguson descobre o Brasil

Que jogador brasileiro é sinônimo de diferencialidade – algo a mais que a pura dedicação tática da maioria dos europeus – é fato. Mesmo assim, o futebol inglês nunca foi um grande utilizador da mão-de-obra dos atletas tupiniquins como Itália, Espanha e Portugal, por exemplo. Mas a história está mudando gradualmente. Nunca a Premier League foi tão brasileira, contando em 2008/09 com 20 atletas (22 se consideramos os naturalizados Deco e Eduardo da Silva) mais o técnico Felipão. Antes dessa verdadeira legião, poucos foram os brasileiros que fizeram sucesso na terra da rainha, como Mirandinha (ex-Palmeiras) na década de 80 pelo Newcastle e Juninho (ex-São Paulo), que teve fagulhas de futebol no Middlesbrough.

Clubes como o Manchester United só contaram com brasileiros recentemente. O primeiro foi Kléberson, ainda embalado pela excelente Copa do Mundo conquistada na Ásia. Em 2003, o volante paranaense teve bom começo no time de Sir Alex Ferguson, mas depois caiu no ostracismo e só reapareceu no Flamengo, neste Brasileirão. Depois do fracasso de Kléberson, Ferguson demorou a utilizar novamente um brasileiro nos Red Devils. O meia Anderson, adquirido junto ao Porto em 2007/08, foi prontamente adaptado ao elenco por Ferguson, chegando a atuar como uma espécie de segundo volante, dando qualidade à saída de bola da equipe nas vezes em que era utilizado. Com isso, o brasileiro ganhou espaço na Seleção de Dunga – fez parte do elenco campeão da Copa América 2007 e do bronze olímpico em Pequim 2008 – e teve sua contribuição na dobradinha na conquista da Premier League e da Champions League na temporada passada.

Inspirados no exemplo de Anderson, outros três brasileiros novatos desembarcaram em Old Trafford: o meia Rodrigo Possebon, 19, e os gêmeos e laterais Fábio e Rafael da Silva, 18. “Apalavrados” desde 2007 em negociação com o Fluminense, os gêmeos só puderam ter sua contratação oficializada em julho deste ano, por conta dos irmãos terem menos de dezoito anos à época. Fábio havia se destacado mais que Rafael na campanha irregular do Brasil no Mundial Sub-17, disputado na Coréia do Sul em 2007, onde a Seleção foi precocemente eliminada nas oitavas por Gana.

Mas a instabilidade na lateral-direita do United, que ora utiliza os improvisados Brown e O’Shea, ora utiliza um Gary Neville de futebol muito limitado devido as recentes contusões, fez com que Rafael fosse sendo inserido gradualmente no time. Com isso, Ferguson vai lançando-o aos poucos na equipe principal. E o lateral vai agradando o chefe. “O garoto é atrevido e tem um grande talento. É um menino corajoso para jogar, sem medo de arriscar as jogadas. Ele tem a famosa mentalidade brasileira do "me dê a bola, quero jogar", e toda vez que pegamos a bola, ele pede, se apresenta para jogar. É um grande atributo para um jogador jovem” afirmou Ferguson ao GloboEsporte.com, após a boa atuação na derrota do Manchester United para o Arsenal por 2-1, onde o lateral entrou com personalidade e marcou o gol de honra.

Mesmo com apenas 18 anos, Rafael mostra personalidade e bom futebol. Com dificuldades na parte de marcação – como é de praxe na maioria dos alas de qualidade formados no futebol brasileiro – ele vem se aperfeiçoando e ganhando mais espaço na equipe. A prova foi a titularidade no clássico disputado neste domingo frente ao Manchester City, outra legião brasileira em Manchester. Mesmo com o arisco Robinho caindo pelo seu setor, o lateral mostrou bom futebol, apoiou e ainda marcou Robinho em seu campo de defesa, ajudando o United a bater o City por 1-0. Um prodígio para o futuro surge na direita, que atualmente já tem bons nomes como Maicon, Daniel Alves e Rafinha.

Atento, o Manchster United já possui dois olheiros no Brasil em busca de novos Andersons e Rafaéis. Prova disso foi a última investida dos ingleses a respeito da possbilidade de contratação do meia Douglas Costa, revelação precoce do Grêmio. Enquanto isso, o escocês já começa a lapidar um futuro talento, tanto para o Manchester, quanto para a Seleção.

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27.11.08

Tudo como começou

Cristiano Ronaldo tenta marcar novamente contra o Villarreal: o português esteve em campo nas quatro partidas sem gol contra os espanhóis.

Muitas vezes, um jogo que termina em zero a zero normalmente não remete a uma partida interessante, principalmente quando as duas equipes não primam pelo poder ofensivo ou pecam pela pela ineficácia dele. Não é o caso de Manchester United e Villarreal, onde o empate em zero a zero em partida válida pelo Grupo E selou a quarta partida entre ambos pela Champions League que terminaram com o mesmo placar. Pouco mais de 360 minutos de futebol e nada de bola na rede, mesmo com muitas oportunidades de gol, dentre elas uma bola na trave de Ronaldo e uma bola tirada em cima da linha por Capdevilla, nesta última partida.

Quando caíram no mesmo grupo em 2005/06, o Submarino Amarillo era apenas debutante na Champions. O empate diante do “poderoso” Manchester United em sua estréia na fase de grupos foi considerado um bom resultado, mesmo jogando no El Madrigal com um jogador a mais, já que Rooney havia sido expulso. Na partida de volta, a penúltima daquele Grupo D, o empate em Old Trafford foi preponderante para a eliminação precoce do elenco dos Red Devils da fase mata-mata naquela competição, já que na partida derradeira foram derrotados por 2-1 pelo Benfica. Jogadores do porte de Van der Sar, Ferdinand, Cristiano Ronaldo, Van Nistelrooy e Rooney acabaram por não conseguir ao menos uma vaga de consolação na Copa UEFA. Em contrapartida, a “zebra” Villarreal conseguiu a classificação no primeiro posto do grupo, em um elenco que contava com nomes do peso de Riquelme, Sorín, Forlán, Gonzalo Rodriguez e Marcos Senna. Aquele time surpreendente quase chegou à final, só parando no pênalti perdido por Riquelme diante do Arsenal nas semi-finais, após ter eliminado Rangers e Inter na fase mata-mata.

Em 2008/09, o Villarreal entrou na Champions como uma equipe mais consolidada, apesar de não ser nenhum grande favorito a levar a taça. Atual vice-campeão espanhol, o time do técnico Manuel Pellegrini - que comandou a equipe nos quatro confrontos, assim como Ferguson pelo Manchester - conseguiu montar uma equipe bem mesclada, com nomes de experiência como Pires, Senna, Edmílson e Rodriguez a juventude de Rossi, Fernández e Eguren. Mesmo com um Villarreal melhor e um Manchester já consolidado pelo conjunto atual campeão europeu, conhecido pelo futebol ofensivo, o jogo novamente não saiu do zero. No mesmo Madrigal onde os dois se enfrentaram pela primeira vez em 2005, mas desta vez com o Villarreal perdendo Capdevilla por expulsão, com Cristiano Ronaldo agudo e Diego López pegando tudo. E mesmo com os esmpates, as duas equipes avançam a próxima fase, com muita tranquilidade.

O futebol não é uma ciência exata, evidenciado no confronto de ambos nas outras três partidas deste Grupo E, onde o Villarreal marcou nove gols e o Manchester United, sete. Além do fato do Villarreal ter tomado os cinco gols que sofreu na competição diante do surpreendente Aalborg, que está bem próximo de desbancar o Celtic na briga pela vaga na Copa UEFA. No décimo jogo do Villarreal como mandante na Champions, a equipe amarela não conheceu a derrota: cinco vitórias e cinco empates. Os Red Devils somam 18 partidas consecutivas sem derrota na competição européia, desde a derrota para o Milan nas semi-finais de 2006/07 no San Siro. Duas boas equipes e marcadoras de gols terminam mais um jogo em 0-0. Dá pra entender?

26.11.08

Cuidado com a megalomania...


Do final de 2007, quando foi rebaixado para a Série B do Brasileirão, até agora, o Corinthians tem feito muito bem a lição de casa. Conseguiu montar um bom elenco, que fez um bom Paulistão, uma ótima Copa do Brasil – deu sorte por não pegar bons times durante o caminho e azar na final, contra o Sport -, e uma excelente Série B, sagrando-se campeão com algumas rodadas de antecedência. Além, é claro, da saída de Dualib. Tudo perfeito. Agora, é começar o planejamento para 2009.

O maior problema a ser enfrentado, e que não vejo nenhuma perspectiva de melhora, é a questão financeira: com uma dívida de aproximadamente R$ 90 milhões, em plena crise financeira mundial, a diretoria quer reforçar o elenco para a próxima temporada. Mas a megalomania já começa a avançar para os muros do Parque São Jorge.

Mano Menezes renovou por mais um ano, com um aumento de 40% de salário, e deve ganhar R$ 350 mil por mês, segundo o presidente Andres Sanchez. Uma das exigências para continuar foi a promessa da diretoria de um elenco competitivo. Mas se já está difícil angariar recursos para a permanência de Herrera (bom para ter no plantel, mas não para ser titular), como trazer outros jogadores? E o presidente ainda diz que não perde o Herrera por R$ 150 mil...

Para piorar, Sanchez divulgou uma lista nada modesta de reforços que o clube pretende trazer: Jorge Wagner, Kléber Pereira, Túlio, Tcheco, Kléber e Martinez. O Corinthians, vez ou outra, precisa recorrer a empréstimos bancários (cada vez mais difíceis) para honrar com os salários de seus atletas, além das antecipações de cotas da TV (as de 2009 praticamente já se foram). Como pensar em aumentar ainda mais a folha mensal, e com salários altos, como dos jogadores citados?

Ainda não está descartada a venda de um atleta para equilibrar as finanças neste final de ano. Aliás, é essa a intenção da diretoria, o que já tiraria alguma peça importante da equipe, pois dentre as opções estão Felipe, Chicão, André Santos, Douglas e Dentinho. Ou seja: entre os reforços, alguns deles podem chegar para repor a saída de um atleta do atual elenco. Mas a diretoria tem muita opção? Não, pois o time está afundado em dívidas e precisa de dinheiro.

Até agora o Timão está no caminho certo. Mas a diretoria não pode jogar tudo pro ar, para não repetir os mesmos erros da gestão Dualib, já que foram eleitos justamente para por fim a essas políticas mirabolantes: um ano de craques e títulos, outros de elenco fraco e brigas para não cair, como ficou marcada a gestão anterior.

25.11.08

É pra não entender mesmo

Nem é preciso começar o texto citando aquele velho dilema de que técnico de futebol é um dos cargos mais complicados que existem. Todos que acompanham um pouco de futebol sabem que o comandante de um clube pode ter seu nome gritado um dia por milhares de torcedores e, no outro, ser agredido no meio de um aeroporto. Demissão então, nem se fala. A cada rodada deste Brasileirão, vimos técnicos e mais técnicos sendo demitidos, numa rotina muito comum, principalmente no futebol brasileiro, em que o técnico infelizmente é o vilão de toda desgraça de um clube.

O técnico do Grêmio, Celso Roth, é mais um dos técnicos que, apesar de ter feito um excepcional campeonato à frente do clube tricolor, sempre viveu na corda bamba, seja pela constante insatisfação da sua torcida ou mesmo pelo “pé atrás” dos dirigentes do clube gaúcho, que nunca viram em seu trabalho uma garantia de bons resultados.

O jogo contra o Vitória foi mais uma partida em que o técnico foi questionado e novamente a palavra demissão rondou o elenco. Justamente uma derrota para o Vitória, coincidentemente o time de Vágner Mancini, ex-técnico do Grêmio, demitido após não ter perdido nenhum jogo no comando da equipe do Rio Grande do Sul. Isso mesmo, demitido de forma invicta, após quatro vitórias e dois empates pelo time gaúcho. Na época o técnico recebeu como justificativa que o time era muito ofensivo e nao tinha a "cara" do Tricolor. Recentemente, o treinador declarou que se desentendeu com um dirigente.

Uma mesma incógnita cerca a possível demissão do atual comandante. Na verdade, nunca achei Celso Roth grande técnico - aliás de qualidade bem discutível nos clubes por onde passou. No entanto, há de se dar o braço a torcer e admitir que o treinador fez uma boa campanha, levando o clube até a Libertadores da América e ainda com chances matemáticas de conquistar o Brasileirão. Após o jogo deste domingo, o vice-presidente de futebol do Grêmio, André Krieger, afirmou que o trabalho do treinador será avaliado após o campeonato, fazendo uma análise de seu trabalho em toda a temporada, para aí sim decidir o futuro do treinador.

Análises a parte, aposto em sua demissão. Injusta, se ocorrer. Apesar da derrocada na reta final do campeonato, se Roth for demitido será muito mais pela cobrança de torcida e dirigentes, que nunca digeriram muito bem seu nome. Seu trabalho sempre foi questionado pela torcida que o chamava de “burro”, mesmo quando o time caminhava a passos largos na liderança do campeonato. Em um determinado momento, os torcedores insinuaram que eles estavam trazendo sorte ao time xingando Celso Roth. Mesma coisa aconteceu com Mancini no início do ano.

É meus amigos leitores, chamar técnico de burro pra dar sorte, demitir técnico invicto. Vai se entender o que anda acontecendo nas bandas do Olímpico...

24.11.08

Coadjuvante e protagonista

Madson lamenta chance desperdiçada: Vasco está a um passo da Série B após derrota para o virtual campeão São Paulo.

Na luta desesperada do Corinthians para fugir do rebaixamento em 2007, além do confronto direto contra o Goiás - onde o time apenas empatou – um jogo marcou uma das estocadas finais na árdua tarefa na fuga corinthiana do rebaixamento: a partida da penúltima rodada em 28 de novembro de 2007, contra o Vasco no Pacaembu lotado. Na oportunidade, o Vasco não aspirava a mais nada no torneio. Porém, mesmo após muitas chances desperdiçadas por parte do Timão, o gol de Allan Kardec deixou o Corinthians com tarefa ingrata na última rodada: vencer o Grêmio em pleno Olímpico, além de uma derrota do Goiás para o Inter. O resto da história todo mundo já sabe.

E a grande roda gigante do futebol novamente colocou o Vasco em situação de definir os postulantes ao rebaixamento. Mas desta vez, o time da Colina está sendo o protagonista e vive uma situação tão crítica quanto a que o Corinthians viveu no ano anterior. São Januário era um caldeirão de esperança torcendo para um resultado positivo do Vasco, o qual certamente facilitaria sua tarefa de fuga contra o rebaixamento.

O jogo contra o São Paulo era capital para o Vasco. Uma vitória deixaria os cruzmaltinos empatados em número de pontos contra o Náutico, rival direto, e a dois pontos do Atlético/PR, a duas rodadas para o fim do certame. O São Paulo, como de costume, não jogou bonito. Foi cirúrgico, eficiente e teve personalidade - marcas registradas na arrancada recente do time rumo à taça - para jogar no desespero do Vasco. Um Vasco que entrou excessivamente cauteloso em sua escalação, com três zagueiros e a experiência de Edmundo no banco de reservas. E mesmo sem merecer a derrota – poderia ter conseguido ao menos um empate – o torcedor vascaíno passará as duas últimas rodadas com um terço na mão e uma calculadora na outra. Restando dois jogos contra times que não aspiram a mais nada no Brasileirão – Coritiba (f) e Vitória (c) -, o time não terá tarefa fácil. Ambos são bons times e fizeram bons jogos nesta 36ª rodada. A três pontos da zona de salvação, o Vasco terá de torcer por tropeços de Figueirense e Náutico, além de vencer os dois jogos que lhe restam. Uma combinação possível, mas que me parece pouco provável, dado o futebol que a equipe vem apresentando no torneio.

Segunda pior defesa do campeonato, treze rodadas entre os quatro últimos e o quarto time com maior média de passes errados mostram que o destino dos cariocas parece selado, mesmo com o esforço de peças importantes do time, como Mádson, Edmundo e Leandro Amaral. O falastrão Renato Gaúcho pouco pôde fazer para dar gás ao Vasco nesta reta final, pois tinha um elenco de jogadores medianos, tecnicamente falando.

Assim como o Corinthians em 2007, o Vasco tenta viver nova vida em 2008. A derrota do “eterno” Eurico nas urnas, as disputas políticas conturbadas e o fraco time montado por Eurico no início do campeonato ajudaram a piorar o ambiente, além da aposta em dois técnicos não apropriados para a situação na qual se encontrava o time – Antônio Lopes e Tita – aproximaram o Vasco de tão difícil situação. E no imediatista futebol brasileiro, talvez uma queda possa sacudir a realidade do Vasco, assim como já ocorreu com o próprio Corinthians, que está dando a volta por cima, e com Palmeiras e Grêmio, os quais figuram hoje como principais equipes do Brasil após amargarem a Série B nesta década. Talvez seja difícil o torcedor mentalizar uma temporada de “recuperação” numa divisão intermediária, pois o processo é gradual e doloroso. E vislumbrando a possibilidade, alguns torcedores pedem de volta as falcatruas e picaretagens de Eurico em prol do Vasco. Mas pode ser importante que Roberto Dinamite, ídolo e presidente vascaíno, possa pôr em prática sua competência em reerguer o Vasco como instituição, algo que Eurico fiz questão de rabiscar, e levá-lo novamente ao caminho dos holofotes e das conquistas.

22.11.08

Desleixo do Trio?

As surpresas não param de dar as caras no futebol europeu. Após o Hull City na Inglaterra e o Hoffenheim – que ainda disputa a liderança da Bundesliga após 13 rodadas -, em Portugal quem coloca as manguinhas de fora é o Leixões Sport Club, time da cidade de Matosinhos, na região da Grande Porto. O fato de um líder do Campeonato Português não ser Porto/Sporting/Benfica é muito relevante, se considerarmos que no período de sua profissionalização, o título só não rodou nas mãos do trio em duas oportunidades: em 1945/46 (Belenenses) e em 2000/01 (Boavista). E a hegemonia do trio também é evidente quando consultamos a imprensa local, onde constam pouquíssimas informações sobre a equipe de Matosinhos, que vem mantendo a liderança do campeonato.

Com participações modestas na primeira divisão, jogando a segunda divisão até 2006/07 e com um título da Taça de Portugal (1960/61), a equipe quase foi rebaixada na temporada passada, ficando apenas um ponto à frente do Paços de Ferreira, que só não foi relegado à segundona por conta do escândalo do “Apito Final”, onde o Boavista foi punido com o rebaixamento e o Porto perdeu seis pontos e quase teve tirada sua vaga para a Champions desta temporada. Mas o que mudou em relação a 2007/08? Nada profundo, na verdade. A equipe fez aquisições bastante modestas, sendo o brasileiro Wesley (ex-Paços de Ferreira) a mais importante delas. Tanto que o brasileiro de 28 anos é um dos artilheiros da Liga, com seis tentos anotados. Outros seis brazucas – Sandro, Elvis, Chumbinho, Roberto, Serginho Baiano e Marques – fazem parte do plantel dos Bebês, que atuam no acanhado Estádio do Mar, de 12 mil lugares, um verdadeiro "alçapão".

Mesmo ao final desta rodada, a equipe de Matosinhos não poderá ser alcançada pelo Benfica, seu perseguidor mais próximo. E se engana quem acha que o Leixões não se degladiou com o trio de ferro luso. Duas vitórias (1-0 no Sporting e 3-2 no Porto, ambas fora de casa) e um empate em 1-1 com o Benfica mostram que a equipe do técnico José Mota desfruta de alguma consistência no certame luso, onde possui 22 pontos e apenas uma derrota em nove partidas. Mas o grande vilão desta despretensiosa equipe está por vir: a janela de transferências européia, em janeiro. O artilheiro Wesley já teria recebido uma proposta de meio milhão de euros do Al Jazira/EAU. Outros destaques como o meia português Bruno China também despertaram a cobiça de clubes maiores no cenário português e até mesmo europeu.

Leixões à parte, é notável a decadência no nível técnico do futebol português, em âmbito europeu. Porto e Sporting ainda tem chances na Champions, mas a equipe de Alvalade parece conhecer destino melhor que o Porto. O Benfica, classificado apenas para a Copa UEFA, tem bom plantel e trouxe bons nomes no começo da temporada, como Reyes, Aimar e Suazo. Mas é um time em processo de entrosamento e maturação. Enquanto isso, os Bebês sacodem a Liga Sagres, onde o Benfica é o vice-líder, o Porto é apenas o quarto e o Sporting, o sexto.

21.11.08

Uma piada sem graça

A seleção de Dunga é um conglomerado de surpresas. Os torcedores passaram todo o ano de 2008 esperando que o time canarinho fizesse um gol em território nacional. Enfrentou, entre tantas outras seleções, a paupérrima Bolívia e nada. Escolhi esse adversário simplesmente porque duvido que alguém apostasse naquele horrível 0 a 0. Entretanto, quando entrou em campo contra Portugal, que não anda lá muito bem das pernas, mas é infinitamente melhor que a Bolívia, o time resolveu fazer logo seis.

Confesso que assisti a partida com um desinteresse sem igual. Muitas vezes um blog, um e-mail que chegava em minha caixa ou o inconfundível barulhinho do MSN me chamou muito mais atenção. Porém, devo confessar que a seleção jogou bem. Com 6 a 2, não há como falar o contrário. O problema é que para um país e um esporte tão imediatista como Brasil e futebol, a cada vez que o Luís Fabiano colocava a bola nas redes portuguesa, era como se condenasse o Brasil, aos poucos, a mais uma ano do comando do estagiário Dunga. (Chamo-o de estagiário porque ele ainda está longe de ser treinador).

É impressionante como apenas uma boa atuação faz esquecer todo o restante dos jogos desesperadores realizados sob o comando do “estudante”. Se a saída era quase certa, estava quase assinada com o primeiro gol português, hoje ficou para um dia qualquer. O nome de Muricy já aparece na lista para os melhores do Brasileirão e Dunga vai comer peru e tomar espumante mais tranqüilo no final do ano. Já os torcedores, aqueles que possuem uma memória um pouco mais longa, sabem o que vêm pela frente. Um 2009 sofrível, como passamos pelo 2008, sem nenhum gol em terras brasileiras até a última quarta-feira.

Não se pode esperar uma atitude inteligente do comando da CBF, aliás, de lá nada de bom se conta antes de acontecer. Sendo assim, como já disse neste blog depois que Dunga ganhou a Copa América, preparem os anti-ácidos, pois vamos ter que engolir mais um ano de estagiário ocupando o lugar onde um profissional que possui a confiança da torcida deveria estar.No final, o que parecia ser uma piada de português, acabou virando um pesadelo, que pelo jeito será bem longo e assustador.

19.11.08

Sinônimo de Churrasco

Que a Seleção perdeu muito da identificação com o torcedor comum, pra mim isso parece claro. E a tietagem de torcida e imprensa sobre Cristiano Ronaldo é apenas mais uma das pontas desse iceberg. Muitos foram ver o treino da Seleção para o amistoso contra Portugal, mas fizeram questão de ficar para ver o gajo treinar, recebê-lo no aeroporto, gritar por ele e etc.

Muitos podem dizer que é o bombardeio excessivo da mídia esportiva sobre o futebol europeu. Mas e a falta de identificação dos torcedores nacionais para com seus principais jogadores? Os jogadores deixam os clubes tupiniquins cada vez mais precoces, não dando margem a “identificação” com os torcedores. Times brasileiros são remendados a cada janela de transferências e o Campeonato Brasileiro – mesmo competitivo – fica ao Deus dará.

No evento em que estivemos ontem, na comemoração ao 10º aniversário do Trivela em São Paulo, uma colocação muito interessante foi feita pelo Lédio Carmona, um dos nomes presentes na mesa-redonda reunida para o evento: além do torcedor se importar mais com o seu clube de coração do que com o Brasil, não existe mais aquele orgulho de ver o craque do seu time vestindo a amarelinha. Antigamente, o torcedor batia no peito, dizendo que o clube X forneceu tantos jogadores pra Seleção campeã do mundo. O Juca Kfouri deu um exemplo feliz: na Seleção de 70, o Rivelino do Corinthians era importantíssimo, o Tostão do Cruzeiro era o motor e o Pelé do Santos era o craque em campo. Hoje em dia, é o Kaká ou Ronaldinho do Milan, o Robinho do Manchester City e o Lúcio do Bayern – devidamente noticiados e televisados. Quando convocam um jogador do futebol brasileiro, o torcedor chia porque ele vai ficar fora do jogo decisivo, vide o caso do Alex do Inter, que fica de fora do duelo decisivo contra o Chivas pela Sul-Americana. "Méritos totais" dessa situação para a CBF, personificado em Ricardo Teixeira. Algo que talvez nem uma Copa do Mundo no Brasil parece reverter a curto prazo, pelo menos.

Os últimos jogos amistosos com mando brasileiro – por contra de um contrato nebuloso da Nike com a não menos nebulosa CBF – foram disputados no Emirates Stadium, do Arsenal; ingressos dos jogos do Brasil custam quase um terço do salário mínimo; jogadores que, em sua maioria, vêem a Seleção como um trampolim para um bom contrato no Eldorado europeu. A descrença com um time de tantos pontos negativos - e, some-se a isso, a aposta em um técnico totalmente despreparado - agrava ainda mais um situação que é já é crônica. Mesmo com a paixão inabalável do brasileiro, de todas as classes sociais, pelo futebol como evento e acontecimento.

Por isso, o brasileiro não é tão nacionalista como o uruguaio, o argentino ou o inglês, por exemplo, quando se trata do escrete nacional. E a nova geração prefere idolatrar um Cristiano Ronaldo do Manchester do que o Alex – que sabe-se lá até quando fica no Brasil. Como disse Maurício Noriega, no mesmo evento do Trivela, mencionando uma conversa com um adolescente: “Seleção é legal na Copa do Mundo, quando dá pra reunir os amigos pra beber e fazer churrasco”.

17.11.08

Sr. Polêmica

Vai entender a trajetória de Wanderley Luxemburgo. No primeiro semestre, cansei de ouvir os palmeirenses afirmarem: "Eu não gosto dele, mas como treinador o Luxa é o cara", bradavam os alviverdes, retirando do armário as empoeiradas camisas que há quase uma década não saboreava um título. Passados pouco mais de seis meses, os mesmos torcedores já reclamam: "Preferia o Caio Júnior"; "Quero que ele saia do time".

Desentendimento com Marcos, lavagem de roupa suja em público e pancadaria no aeroporto. Pronto! Já voltam a noticiar os fatos que nos acostumamos a presenciar na extensa trajetória do treinador.

O Palmeiras tinha sim um dos melhores elencos do campeonato. Ok. Porém, não nos esqueçamos que o clube perdeu peças importantes como Valdivia e Henrique. No meio de campo, as suspensões de Diego Souza e a instabilidade de Léo Lima atralharam o esquema de Luxemburgo. Martinez teve que ser recuado para acertar o posicionamento da zaga. O que era óbvio, pois seria ingenuidade acreditar que jogar contra o Guaratinguetá seria o mesmo do que com Internacional, por exemplo.

O time foi modificado e, por mais que tenha freqüentado as melhores posições do campeonato durante boa parte do certame, não há como negar que a equipe titubeou nos momentos em que Luxemburgo normalmente se sobressai sobre os adversários: as partidas decisivas. Tanto que das três "finais de campeonato", como o palmeirenses mesmo frisaram, contra São Paulo, Grêmio e Flamengo, a equipe só conquistou um ponto. Ainda assim, às duras penas contra um São Paulo que, até então, não despontava como favorito.

Agora, essa derrocada do Alviverde chama atenção pelas notícias extra-campo. Porque toda vez que um clube dirigido pelo Wanderley cai de produção, o foco das notícias passa ser os fatores extra-campo? Por que ninguém aparece para discutir sobre a ineficiência do esquema com meio-campistas como Evandro e Jumar? A queda de produção de Élder Granja e até mesmo de Alex Mineiro também é pouco falada... Enfim, fica claro que o Luxemburgo conseguiu criar um estigma de que se as coisas não vão bem, é por que o ambiente no clube não é favorável.... Enquanto isso, sua imagem como "estrategista" segue irretocável.

Como comentarista esportivo, concordo que Luxemburgo é um grande treinador na hora de montar um time. No entanto, não posso deixar de me posicionar contra uma imprensa que esquece de analisar o trabalho tático do treinador. Por exemplo, quando ele coloca o Denilson em campo e o Palmeiras vence, canso de ver alguns cronistas exaltarem sua leitura de jogo e sua postura arrojada durante os jogos. Esses comentaristas apenas se esquecem que essa seria uma modificação que até minha Vó Fernanda faria para vencer uma partida.

Enfim, fica aqui meu apelo para que alguns colegas de profissão procurem analisar mais as questões dentro das quatro linhas antes de avaliarem quem merece ou não ser campeão. Deixo também registrado meu voto de desprezo aos torcedores palmeirenses que protestaram contra o clube no aeroporto de Congonhas.

E a maioria dos clubes ainda ajudam esses bandos, custeando viagens e barateando ingressos. A troco do que??

15.11.08

Vendendo jornal

A próxima janela de transferências européias se aproxima. Os clubes já vão arquitetando os primeiros movimentos para reforçar seus elencos para a outra metade da temporada 2008/09. Esse fato por si só já gera muita especulação, nomes ventilados e empresários a todo vapor buscando bons contratos aos seus pupilos. Agora, imagine a situação do Real Madrid, que perdeu Robinho ao fechar da última janela de transferências de julho para os petrodólares do Manchester City e esta semana ficou desfalcado de seu mais letal atacante: o holandês Ruud Van Nistelrooy sofreu uma grave contusão no menisco do joelho direito. A previsão é que Van Gol fique fora de combate por seis a nove meses, o que significa a perda da principal referência de ataque no time de Schüster. A perda dos dois avançados - de características totalmente distintas - certamente fará com que o Real Madrid tenha que sair com urgências às compras. E Real Madrid comprando significa uma enxurrada de especulações e nomes de atacantes das mais variadas nacionalidades pipocando na mídia. Uma festa para a imprensa especializada tanto de cá, quanto de lá.

No Brasil, já foram ventilados os nomes de Dentinho, Alex Mineiro e Guilherme, causando um rebuliço nos clubes brasileiros e em seus respectivos torcedores, por se tratarem de três referências em seus clubes atuais. Nas diretorias, nada confirmado e nem indícios de negociações em andamento. Na Espanha então, os nomes brotam às dúzias. Com o quê de sensacionalismo característico dos diários esportivos espanhóis, o site do Marca até elaborou uma lista de possíveis nomes a serem contratados para o comando de ataque merengue. Nela, prós e contras dos candidatos para o “vestibular” para a vaga no ataque madrilenho. Os argentinos e brasileiros estão em alta, como Diego Milito (atual artilheiro do Calcio pelo Genoa), Crespo (encostado na Inter), Zárate (Lazio), Ricardo Oliveira, Vágner Love, Nilmar. Nomes que fazem companhia a Mario Gomez (Stuttgart) e Andrey Arshavin (Zenit), além de um sonho antigo do Real, o atacante holandês Klaas-Jan Huntelaar – que diga-se de passagem, possui estilo semelhante ao de Nistelrooy.

Alheio a venda de jornais e aumento no número de acesso dos sites esportivos – como vimos na enxurrada de notícias sobre o caso Cristiano Ronaldo, por exemplo – é fato que o Real Madrid precisa urgentemente de reforços caso queira brigar pelo tricampeonato espanhol e voltar as glórias européias na Champions. Fora Raul, que mesmo sendo mais experiente sempre dá conta do recado e o argentino Gonzalo Higuaín em ótima fase – vide os quatro gols marcados na última partida de La Liga, contra o Málaga – Robben (bom jogador mas que vive no departamento médico) e um Saviola irregular com a camisa merengue, o Real vive momento em que a escassez de atacantes começa a comprometer o desempenho do time como um todo.

Outra especulação é que de Bernd Schüster está com a corda no pescoço no comando técnico do time. Mesmo estando a dois pontos do líder Barcelona e de não ter maiores problemas para alcançar a fase seguinte da Champions, o fraco desempenho defensivo da equipe – 16 gols em dez jogos, a sétima pior defesa do Espanhol – somada a eliminação precoce da Copa do Rey para os bascos do Real Unión, da terceirona espanhola, já trazem fortes questionamentos sobre a continuidade do alemão a frente da equipe. Ou seja: mais especulações em quem poderia ser o futuro técnico do Real Madrid podem bombar nas imprensa em breve. Porque lá é assim, espirrou, virou manchete.

14.11.08

Bicho

A 34ª rodada do Campeonato Brasileiro foi marcada, entre tantas outras coisas, pela suposta mala branca que a Portuguesa recebeu (ou poderia receber) para entrar em campo com mais vontade para derrotar o São Paulo. O Tricolor acabou vencendo, mas com muita dificuldade: se a Lusa jogasse sempre como atuou na derrota, certamente estaria em uma situação melhor. Do lado são-paulino, para compensar, o presidente Juvenal Juvêncio voltou a se utilizar de uma prática no futebol tão antiga que ninguém mais dava atenção: o “bicho” por vitórias. Nessa reta final, o dirigente passou a aparecer no vestiário antes da partida com uma bolada de grana, a ser dividida entre os relacionados para o confronto. Contra a Lusa, dizem que cada um levou por volta de R$ 8 mil.

Nesta semana, o vice-presidente de futebol do Flamengo, Kleber Leite, anunciou que cada atleta irá receber R$ 10 mil por vitória nessa reta final, e que o quinto lugar não será premiado. Segundo o GloboEsporte.com, o valor teria subido quase 10 vezes, já que se pagava “apenas” R$ 1,5 mil. No líder do campeonato, o valor chega a R$ 15 mil.

Depois os dirigentes reclamam dos salários e da falta de recursos para manter um time competitivo. Claro que varia bastante, mas será que os atletas dos grandes times já não recebem o suficiente? Vemos qualquer jogador meia-boca recebendo míseros R$ 30/40/50 mil por mês. As estrelas então, nem é preciso falar. Será que é preciso dar esse incentivo a mais? Por isso que jogador é mimado, e está sempre querendo mais.

Ora, é a profissão do cara, e ele já recebe um polpudo salário para ganhar os seus jogos. Claro que essa prática é, como já disse, bastante antiga no futebol, não apenas no Brasil, mas pelo mundo afora. Mas é errado, na minha visão. São coisas como essa que geram o corpo mole, as panelinhas, a falta de interesse dos jogadores. Amor à camisa? Papo de torcedor mesmo. Pura ilusão, cascata, lorota.

Infelizmente isso é um problema social; a maioria dos jogadores vêm de famílias de baixa renda, com pouca estrutura, algumas vezes até inexistente. Os atletas, por causa do ritmo puxado e das condições financeiras, não têm tempo para estudar. Não são bem orientados. Claro que há exceções, mas é a regra. Com tanto dinheiro em mãos, acabam se perdendo, e esse “bicho” acaba se tornando muitas vezes a verdadeira razão de se matar em campo, dar tudo pela vitória. É uma pena.

André Dias, zagueiro do Tricolor, quando perguntando de mala branca, disse que R$ 10 mil não o fariam correr mais em campo, o que causou risada entre os jornalistas, por causa do valor. Então beleza, a gente vai levando a nossa vidinha, tentando ganhar uns trocados aqui e acolá, pra poder pagar as contas no final de mês.

PS: Uma vitória pode render R$ 10 mil em um único dia. Quantos dias do mês, por quantos meses, você consegue juntar essa grana? E o imposto? Ah, deixa quieto...

12.11.08

Roda gigante

Nada parece ser tão instantâneo quanto o futebol. Na busca incessante por resultados e títulos, dirigentes, treinadores e torcedores parecem descartar um histórico de bons serviços a um time em nome de uma crise momentânea. Os exemplos estão aí, aos montes.

A irregular campanha do Barcelona na temporada passada selou a saída de dois jogadores importantes em 2005/06, temporadas do último título europeu e do bicampeonato espanhol. Ronaldinho Gaúcho - que parece iniciar uma recuperação no Milan - e Deco, que Felipão rapidamente encaixou no esquema do Chelsea. Nesse mesmo momento, voltando de grave contusão e não jogando tudo o que podia, foi desvalorizado pelo próprio clube. Na “lista de dispensas” de Guardiola, Eto’o era nome certo para ser negociado. Inclusive, foi até noticiada uma possibilidade de negiociação para o Bunyodkor, do Uzbequistão. A equipe de Tashkent - dirigida pelo brasileiro Zico - chegou a fazer uma proposta milionária ao camaronês, mas acabou mesmo contratando o veterano Rivaldo, oriundo do AEK grego. Certamente, se aceitasse a tal proposta, Eto'o daria um tiro no pé, já que o camaronês tem somente 27 anos e muita bola pra jogar pela frente, no alto nível do futebol europeu.

Nenhuma proposta que interessasse ao Barcelona ou ao jogador chegou e Guardiola optou por deixá-lo no elenco, a contragosto inicialmente. E Eto’o começou a dar a volta por cima. Em um elenco recheado de boas opções de ataque, como Messi, Henry e Bojan, o camisa nove começou a jogar bem novamente. A artilharia da Liga Espanhola já é realidade, após impressionantes 13 gols em 10 jogos. Com mais de um terço dos gols marcados pelo Barcelona na Liga (foram 34 do Barça em 10 partidas), é um dos responsáveis pela boa fase blaugrana, conduzindo a equipe à liderança do Espanhol. Claro que o ótimo momento de Eto’o – o qual culminou nos quatro gols marcados diante do Valladolid, na última rodada – tem um grande colaborador: o argentino Lionel Messi, que vem marcando gols (quatro na Champions League e seis em La Liga) e também se consolidando como ótimo garçom. A maioria das jogadas de ataque saem dos pés do argentino, indubitavelmente, o principal jogador da equipe catalã até aqui.

Mas Eto’o parece estar voltando aos bons tempos. Antes da grave contusão, em 2006, chegou a ser eleito como o terceiro melhor jogador do mundo pela FIFA, perdendo a disputa para Ronaldinho e Lampard. Trata-se de um centroavante moderno, que além da forte presença de área, é rápido, finaliza bem e ainda volta para buscar o jogo na meia, tabelando com os homens vindos de trás ou com seu parceiro de ataque. Na roda gigante do futebol, Eto’o começou a ver as coisas de cima, como um dos protagonistas que sempre foi jogando pelo Barcelona.

11.11.08

O que fazer?

A fase não é boa mesmo no Palmeiras. Depois de apresentar queda de rendimento e cair para o quarto lugar no Brasileiro, Wanderley Luxemburgo, Marcos e o elenco não parecem estar em sintonia. A situação teria começado a mudar quando Marcos fez crítica pública ao rendimento da equipe, e Diego Souza respondeu com a velha expressão de que roupa suja se lava em casa. Luxemburgo não gostou da declaração dos dois jogadores e falou que ia ter uma conversa com o goleiro, proibindo o ídolo do Verdão de dar declarações como essa.

Agora a coisa ficou mais que complicada. Além de motivar o grupo depois da derrota para o Grêmio (apesar de dizer que está fora da briga pelo caneco), Luxemburgo tem um grande dilema. Repreender ou não o goleiro Marcos, que foi para o ataque quando a partida ainda não tinha nem chegado aos 30 minutos do segundo tempo, mesmo sem ter autorização do chefe, que gritava na beira do campo. Se afastar o goleiro, fica mal com a torcida, que chama o goleiro de "São Marcos". Se fizer vista grossa, perde o respeito do elenco.

Alguns cartolas palmeirenses, segundo publicado pela Folha de S.Paulo de terça-feira (11/11), disseram que Marcos foi ao ataque, mesmo contrariando o treinador, em protesto pelo futebol de seus companheiros. Como foi proibido de fazer críticas depois do jogo, fez o seu protesto dentro de campo. Os cartolas não acreditam em problema dele com o Luxemburgo. Ainda na Folha, alguns atletas teriam atuado contra o Grêmio contrariados com a atitude da diretoria, que teria oferecido ajuda (a tal de mala branca) à Portuguesa na partida contra o São Paulo, mesmo atrasando o pagamento em alguns momentos.

Sem entrar na questão da existência ou não de um problema interno, a atitude do Marcos prejudicou bastante o Palmeiras. Ao se lançar no ataque, mostrou o descontrole do time. Com quase 20 minutos de jogo, contando os acréscimos, o Palmeiras tinha totais condições de chegar ao empate, tocando a bola. Mas com o goleiro no ataque, o time precisava ficar levantando dando chutão para a área, abrindo mão de trabalhar a bola.

Luxemburgo terá que juntar os cacos nessa reta final, até porque corre sério risco de ficar de fora do G-4, fato impensável desde o início da competição. De grande favorito, o Verdão passa a brigar por uma vaga na Libertadores, segundo o próprio treinador. O próximo jogo contra o Flamengo, provavelmente embalado pelo Maracanã lotado, dirá qual o futuro da equipe.

- Veja o início da crise entre o goleiro e Luxemburgo, e as subidas ao ataque do goleiro contra o Grêmio:

8.11.08

Liderança Explicável


A vitória heróica do São Paulo contra a Lusa isolou o time na primeira colocação do campeonato brasileiro. Ok! Isso todos já sabem. Agora, poucos comentaristas têm esclarecido porque o time do Morumbi passou a ser a equipe mais regular da competição. Ao meu ver, a explicação é simples.

No primeiro turno, Muricy insistiu muitas partidas com um esquema tático que jogava pelas laterais e deixava Hugo como principal criador do time. Nas alas, ele contava com o instável Joílson e com o decadente Richarlyson. Jorge Wágner e Hernanes dividiam um meio-campo com o Zé Luis, quando este não atuava como zagueiro. Em algumas partidas, também aparecia o horrível Éder para atrapalhar. Na época escrevi um post-carta para Muricy alertando sobre tais problemas. Alguns companheiros de blog me criticaram e preferiram culpar a diretoria. Coincidência ou não, o tempo mostrou que a falha era mesmo tática.

No segundo turno, Muricy percebeu que a ausência de um armador decente e, com ascensão de um jovem promissor chamado Jean, ele adiantou o melhor jogador de linha do atual elenco, Hernanes. A partir dessa mudança, o ex-volante se transformou no cérebro do time, com mais chegada ao ataque e jogadas pelo meio, esquecidas até então e pouco utilizadas na presença de Adriano.

Com mais consistência no meio-de-campo, Hugo passou a jogar como uma espécie de meia esquerda, dando combate na marcação e sendo mais ponta-de-lança do que armador. Rycharlyson, Joilson e Éder foram sacados, Zé Luis e Jorge Wágner foram deslocados para as alas. Dessa maneira, o jogo mais centralizado favoreceu a ascensão dos atacantes e o time consegue variar mais as jogadas. Pronto! Essa foi a mudança que colocou o tricolor em primeiro.

O campeonato ainda continua aberto, mas nas últimas rodadas Palmeiras e São Paulo conseguiram os melhores resultados e devem polarizar a briga pelo caneco. Se o Palmeiras vencer o Flamengo no Maracanã, ficará com três jogos mais tranqüilos do que o São Paulo. Se tropeçar, poderá perder o São Paulo de vista na tabela.

O Verdão precisa encontrar mais estabilidade nas partidas fora de casa. Se conseguir isso, dará trabalho. Já o São Paulo, ainda recua muito o meio-campo quando está na frente do placar e isso ainda pode trazer problemas nos jogos decisivos. Flamengo e Cruzeiro disputam a última vaga da Libertadores. E o Grêmio, ao que tudo indica, deve mesmo se tornar o único na era dos pontos corridos que venceu o primeiro turno e não levou o título... Para a alegria dos colorados...

5.11.08

Tudo embolado

Festa na torcida são-paulina
Será assim até o fim do Brasileirão?

Muito se fala em torno do disputadíssimo Campeonato Brasileiro de 2008. Afinal, não é todo torneio que, após 33 rodadas transcorridas, consegue reunir 5 equipes com chances reais de título: São Paulo, Palmeiras, Grêmio, Cruzeiro e Flamengo.

Certamente, entre todos os principais concorrentes, a maior surpresa é o São Paulo. O Tricolor Paulista, que durante toda a competição ficou no G-4 ao final de apenas 7 rodadas, abriu uma seqüência de 13 partidas invictas e, enfim, alcançou a ponta da tabela.

Mesmo sem jogar um futebol que salte aos olhos, a equipe do Morumbi foi, aos trancos e barrancos, superando seus adversários um a um e, agora, depende somente de suas próprias forças para levantar o hexa. Algo que semanas atrás soava como devaneio, até mesmo para muitos torcedores são-paulinos, pode tornar-se real.

Mais uma vez, Muricy mostra que tem estrela em torneios de pontos corridos. Apesar de ser teimoso e de não ter uma ótima leitura tática durante os jogos, sabe montar bons esquemas defensivos que exploram rápidas saídas pelas laterais. Simples, fácil de ser visualizado, mas totalmente usual.

Logo atrás do Tricolor aparecem Palmeiras e Grêmio, equipes que irão, inclusive, enfrentar-se neste próximo final de semana. Dos dois, o Palmeiras aparece com maior potencial para alcançar o título. Por inúmeros fatores. Tem um elenco mais equilibrado, um técnico competente...

O grande problema dos alviverdes é a defesa. Bolas lançadas na área para cabecear ou jogadas na diagonal, nas costas dos laterais ou alas, são quase gol. Se debaixo dos três paus o goleiro não fosse Marcos, a situação palmeirense seria bem pior. Mesmo assim, do meio pra frente o time se garante, causando perigo para qualquer defesa.

Já os gremistas têm tudo para terminar o torneio com o troféu de pipoqueiros do ano. Parece que o time de Celso Roth perdeu o gás. Com uma pífia campanha no returno (apenas 5 vitórias), o Grêmio dá sinais de que só motivar-se-á novamente após um triunfo no Palestra Itália. Senão...

Mais atrás, Cruzeiro e Flamengo obviamente têm menos chances. Mas, na verdade, eu penso que ambos os times só “correm por fora” porque vacilaram em partidas cruciais.

Do lado dos mineiros, parece que a pouca experiência da equipe pesa, e dificilmente a Raposa consegue reabilitar-se quando toma um gol primeiro. Já os cariocas só estão nesta situação pela própria incompetência de perder alguns pontos em casa. Time que quer ser campeão não pode ter esse “luxo”.

Nesta rodada acredito que a coisa se afunile um pouco mais. Um empate entre Grêmio e Palmeiras pode deixar o São Paulo com as mãos no caneco. Já um vacilo do Tricolor Paulista pode desmotivá-lo completamente. Enfim, os maiores craques podem estar indo embora e o futebol apresentado pode não ser dos melhores. Mas ninguém pode reclamar que o Brasileirão não tem emoção.

3.11.08

Crise financeira?



O noticiário das últimas semanas foi inundado pela crise financeira internacional. A crise nas bolsas de valores, a subida do dólar, a quebradeira de bancos pelo mundo afora, bancos centrais socorrendo instituições financeiras em dificuldades. Enfim, todo o mercado está reticente quanto aos novos investimentos, grandes eventos esportivos estão correndo riscos, como a Olimpíada de Londres, em 2012.

Mas eis que um clube inglês anuncia um substancial aumento de salário para seu jogador. Estou falando do Manchester United, e o craque em questão é o português Cristiano Ronaldo. O jornal espanhol “As” divulgou que o clube pretende oferecer um novo contrato ao jogador, cujo salário chegaria a 200 mil euros semanais, o que daria aproximadamente R$ 540 mil, ou R$ 28 milhões anuais. Isso porque a AIG, uma das principais seguradoras do mundo e patrocinadora de camisa do clube, está diretamente envolvida na quebradeira mundial por causa da crise.

Até quando os clubes vão pagar esses salários aos seus jogadores? Esse tema já é batido, mas fiquei impressionado com os valores. É absurdo! Se o futebol movimenta todo esse dinheiro, é certo que os atletas recebam a sua parte. É totalmente justo. Mas é preciso haver algum controle, teto, alguma normatização.

Com a economia globalizada e com os clubes tendo suas ações negociadas nas bolsas de valores, não ficaria surpreendido com a notícia de quebra de algum desses gigantes. E aí, o que irá acontecer? Será que os governos iriam socorrer as equipes, da mesma forma que estão fazendo com os bancos? Qual seria o destino dos jogadores? E os torcedores? Pensa na situação, por mais bizarra que seja: os torcedores teriam de mudar de time, simplesmente porque o seu clube faliu e os jogadores foram vendidos para poder pagar os credores. Alguém imaginou que os bancos poderiam quebrar?

2.11.08

A maior decisão dos últimos anos

Um dos momentos decisivos da prova. Perseguição e posterior ultrapassagem de Vettel


Eletrizante! O GP do Brasil de Fórmula 1 tinha tudo para ser previsível, com Massa liderando de ponta a ponta e Hamilton administrando a posição até levantar o caneco. A vantagem do piloto inglês era confortável, o que permitia que ele controlasse a ânsia e ousadia que marcou os momentos decisivos da sua carreira. Mas felizmente, no esporte existe o inusitado, que traz a emoção e aumenta a paixão do torcedor. Antes da prova, quem diria que dois alemães decidiriam o futuro do campeonato? Um deles – Vettel – já havia mostrado que é um dos grandes e o outro – Glock –, atual campeão da GP 2, ainda é uma promessa. No final deu o previsível, mas da maneira mais imponderável que qualquer torcedor ou fã de automobilismo pudesse imaginar.

O título é extremamente justo se levarmos em consideração a categoria e a capacidade de pilotagem de Lewis, porém também seria justíssimo se fosse parar na prateleira ferrarista, pela também excelente habilidade de Felipe. O equilíbrio e os erros foram marcantes durante todo o ano.
Muitos vão achar culpados: o mecânico e sua engenhoca luminosa do pit stop deve ser o campeão de votos como vilão oficial dos brasileiros. Não crucifico em nenhum momento o funcionário da Ferrari. Erros acontecem. Como houve por parte de Felipe na Malásia e em Silverstone ou de Hamilton em Montreal. Isso sem contar as lambanças e troca-troca de pontos por conta das conturbadas decisões dos fiscais de prova, que “tentaram” punir de forma indireta quem saísse da “fila indiana” dos últimos anos. No balanço de 2008, Hamilton e Massa mostraram ao mundo que serão os grandes nomes da categoria nos próximos anos, ao lado de Alonso, Raikkonen e outras promessas em formação.

O final de prova em Interlagos coroou um campeonato que trouxe de volta aos brasileiros um verdadeiro ponto de referência na Fórmula 1. 2009 começará de modo diferente para quem acompanha a categoria, como já aconteceu neste ano. A decisão deste campeonato foi a mais emocionante que vi. Mais até que os títulos de outro brasileiro, Ayrton Senna, devido a carga de dramaticidade e pelas circunstâncias que se deu a última volta em São Paulo. Hamilton mostrou fragilidade no final da prova diante de Vettel – o que em nenhum momento tira o mérito da sua conquista -, que, ao contrário, provou que terá um belo futuro no automobilismo. Se os brasileiros ganharam um novo ídolo, os alemães já podem acreditar que Schumacher tem um substituto à altura.

Ahhh... Antes que também resolvam o crucificar, saio em defesa de Timo Glock, que foi heróico no final da prova. Arriscou, e assim como Trulli, segurou o quanto deu sua Toyota na pista. Foram cinco voltas com pneus de seco; o piloto tem seus méritos e trouxe dois pontos para a equipe de Colônia.

Ufanismo a parte, foi um grande ano. Massa amadureceu e se mostrou preparado para ser campeão. Hamilton começou a superar a fama de trapalhão afobado e se tornou com mérito o mais jovem campeão da categoria. Alonso, de volta para casa, evoluiu e segue mais vivo que nunca, começando 2009 como um dos favoritos, caso seu carro evolua um pouco mais. A categoria ganhou jovens e competentes promessas como Vettel e Kubica.

O próximo ano começará com novas regras, novos pneus e uma promessa de maior equilíbrio. Se as previsões se concretizarem, o fã de automobilismo terá grandes emoções pela frente.