31.7.09

O mais valioso

Artigo escrito originalmente para o site Olheiros - http://www.olheiros.net/artigo.aspx?id=1337

Se a geração portuguesa de Luís Figo e Rui Costa iniciou o processo de trazer Portugal de volta aos holofotes do futebol mundial, Cristiano Ronaldo representa a mescla daquela “geração de ouro” lusitana e os talentos da safra seguinte, da qual é o maior ícone. Curiosamente, segue alguns dos passos de Figo, maior talento individual do futebol português após o lendário Eusébio. Além de herdar a camisa 7 e a tarja de capitão envergadas por ele durante o período de 15 anos em que defendeu Portugal – entre 1991 e 2006 –, também é oriundo das categorias de base do Sporting, já foi eleito como o melhor do mundo pela FIFA e se transferiu ao Real Madrid como a contratação mais cara da história do futebol – em 2000, Figo se transferiu por € 61 milhões.

“O Real é o clube mais importante no mundo, o melhor clube do mundo. Acho que Ronaldo já ganhou tudo que podia no Manchester, que é outro grande time, mas ele deveria ter outros objetivos agora. O Real lhe daria a chance de ser mais importante, ser mais relevante”, afirmou Figo ao jornal espanhol Marca. Com 24 anos, Cristiano Ronaldo chega aos merengues a peso de ouro e com a missão de levar a equipe novamente ao topo, ao lado do também estelar Kaká. Acostumado a cobranças e grandes responsabilidades desde cedo e sempre em meio às polêmicas de sua agitada vida extra-campo, é um dos ícones dessa segunda geração galática do Real de Florentino Pérez. E talento para tal, o madeirense já demonstrou que possui.

Talento precoce

Cristiano Ronaldo deu seus primeiros chutes pelo pequeno Andorinha, equipe de sua cidade natal, Funchal. De onde não demorou a se transferir para o Nacional da Ilha da Madeira, em 1993. Com apenas dez anos e após boas apresentações com a equipe alvinegra madeirense, Ronaldo chamou a atenção do Sporting, que o levou para as fileiras de Alcochete, a academia de futebol sportinguista, em 1997. E o Sporting marcaria o início de sua meteórica carreira como atleta profissional.

Com apenas 16 anos, o jovem e rebelde Cristiano foi promovido do sub-16 ao time principal – passando por todas as categorias – em apenas uma temporada. Estreou entre os profissionais aos 17, diante da Inter de Milão, no Estádio José Alvalade, em partida válida pela fase eliminatória da Liga dos Campeões, em agosto de 2002. O então camisa 28 substituiu o espanhol Toñito, aos 13 minutos da etapa final. Contudo, os Leões - comandados pelo romeno Läszlo Bölöni - acabaram eliminados após derrota por 2 a 0. Apesar de algumas boas jogadas, o jovem talento fez partida discreta. Não tardou a estrear como titular na partida da Liga Portuguesa frente ao Moreirense, em outubro de 2002, onde anotou dois gols. Terminaria aquela temporada com 31 partidas e cinco gols marcados. De quebra, já conquistaria ainda o seu primeiro título como profissional, o da Liga Portuguesa.

Sua ascensão meteórica no futebol se acentuaria ainda mais em 2003. Após a inauguração do novo José Alvalade – reconstruído para a Euro 2004 – na partida amistosa contra o Manchester United de Alex Ferguson, Cristiano chamou a atenção do escocês, ao liderar o triunfo de sua equipe sobre os Red Devils por 3 a 1. Sondado anteriormente por Arsenal e Liverpool, o Manchester United não hesitou em gastar 12,5 milhões de libras para contar com o futebol do português, em agosto de 2003, mesmo mês em que foi convocado pela primeira vez para a seleção portuguesa de Felipão. Além da mudança de ares e status, mal sabia Cristiano que, treinado por Felipão e Ferguson, sua evolução técnica no futebol seria gigantesca.

A aposta de Ferguson no camisa 7

Desde o início, Alex Ferguson apostou suas fichas em Ronaldo. Em sua chegada ao Old Trafford, pediu a camisa 28 - a mesma com a qual apareceu profissionalmente pelo Sporting. Mas Ferguson insistiu para que o gajo usasse a mítica camisa 7, defendida por grandes jogadores da história mancuniana como Bobby Robson, George Best, Eric Cantona e David Beckham, como forma de incentivá-lo diante de tão grande desafio. Deu certo.

A estreia de Ronaldo no United aconteceu em agosto de 2003, contra o Bolton, pela Premier League. O primeiro gol pelo veio em novembro, na vitória de 3 a 0 sobre o Portsmouth. A espantosa habilidade e agilidade ainda careciam de um estilo de jogo mais objetivo. Contudo, para uma temporada de estreia aos 18 anos, Cristiano obteve números excelentes: atuou em 40 partidas, marcou seis gols e deu quatro assistências. O primeiro título em Manchester veio na FA Cup, naquela mesma temporada, diante do modesto Milwall. Na vitória por 3 a 0, Ronaldo mostrou personalidade e contribuiu com o gol inaugural da final. Ainda venceria com o Man Utd a Copa da Liga Inglesa em 2005/06, mas era muito jovem e intempestivo para liderar tecnicamente aquela equipe.

Porém, na temporada 2006/07, Ronaldo começou a se tornar peça primordial dos Red Devils. Foi o terceiro artilheiro da Premier League, com 17 gols. Também foi fundamental para levar o time às semifinais da Liga dos Campeões. Mas no duelo particular diante do Milan de Kaká, ele e o United pararam diante da fabulosa temporada do seu futuro companheiro de Real. O brasileiro seria eleito o melhor do mundo naquele ano de 2007, com o português alcançando o segundo posto. Sempre vaidoso com relação aos prêmios individuais - cada vez mais frequentes em sua carreira - passou a perseguir o troféu que havia lhe escapado com o revés para Kaká e o Milan.

A temporada seguinte trouxe a confirmação de todo o seu potencial e técnica e afastou o estigma de jogador “firuleiro” e que “amarela” em jogos decisivos. Em uma temporada impecável, sagrou-se artilheiro da Premier League, com 31 gols e da Liga dos Campeões, com oito. Mas numa situação que só acontece no futebol, Ronaldo quase foi do céu ao inferno em seu grande momento da carreira clubística: a final da Champions contra o Chelsea, disputada em Moscou. Autor do tento que abriu o placar, viu os Blues empatarem e a partida se arrastar para uma dramática decisão por pênaltis.

Na terceira cobrança, o camisa 7 bateu mal e Cech defendeu. No entanto, Terry e Anelka “aliviaram a barra” do gajo, ao desperdiçar as penalidades que fizeram o United campeão europeu. Coroou uma temporada fantástica de 42 gols em 49 partidas, com oito assistências. Ainda ajudou a erguer as taças da Copa da Liga Inglesa, da Community Shield e do Mundial de Clubes da Fifa. Com justiça, alcançou a tão almejada alcunha de melhor do mundo pela Fifa.

Iniciou 2008/09 se recuperando de uma contusão no tornozelo direito que o deixaria fora de combate por quase três meses. Mesmo não repetindo a temporada brilhante anterior, foi peça importante no tricampeonato inglês do Manchester United e no vice-campeonato europeu, após a derrota para o Barcelona. No duelo particular com Messi, Cristiano não rendeu o esperado e viu o rival argentino brilhar com a fabulosa equipe culé. Campeão de quase tudo em seis temporadas no futebol inglês e após 196 jogos e 84 gols pelo United, não fazia mais questão de esconder o desejo de brilhar no Real Madrid, sonho que se concretizou graças à maior transferência da história do futebol: € 94 milhões, com o português convertendo-se no jogador mais bem pago da atualidade, em cifras que atingem os € 13 milhões anuais.

Portugal: de esperança a capitão

Cristiano Ronaldo chegou à seleção portuguesa pela primeira vez em 2002, no Europeu Sub-17. Trajado com a camisa 7, não conseguiu levar Portugal às quartas de final do torneio vencido pelos suíços. Também acumulou passagens pelas equipes sub-18 e sub-21 dos Tugas.

No entanto, seu primeiro grande momento com a seleção lusitana foi durante a Euro 2004, disputada em seus domínios. Com apenas seis convocações, foi chamado por Felipão para a competição. Cristiano saiu do banco marcou seu primeiro gol pela seleção principal na derrota por 2 a 1 frente aos gregos na estreia. Ganhou a vaga na equipe titular a partir da partida contra a Espanha e seguiu nessa condição até a final, inclusive anotando outro tento na semifinal diante da Holanda. Na decisão, amargou a maior decepção da carreira, ao parar na quase intransponível defesa da Grécia, que novamente bateu os portugueses, desta vez por 1 a 0.

Mesmo com a frustração da perda de um campeonato que parecia ganho, Ronaldo seria figura constante nas próximas convocatórias de Portugal. Presente também na seleção olímpica em Atenas 2004 – desta vez como grande estrela do time -, o camisa 7 fez péssimo torneio e foi eliminado do torneio com a seleção portuguesa precocemente, ainda na primeira fase.

Na Copa do Mundo de 2006 foi titular absoluto na campanha do quarto lugar – a melhor desde o terceiro lugar de 1966 – e marcou seu único gol no Mundial da Alemanha diante do Irã, na primeira fase. Na Euro 2008, Portugal era cotada como uma das favoritas ao título. Mas em um continental irregular de Ronaldo e do restante do elenco, os portugueses foram eliminados nas quartas-de-final, na derrota por 3-2 diante dos alemães.

Ronaldo deixou sua marca no torneio, diante da República Tcheca. Promovido provisoriamente à capitão no amistoso entre Brasil e Portugal, disputado no Emirates Stadium, em fevereiro de 2007, o meia-atacante foi, gradualmente, ganhando a tarja em definitivo, principalmente após a chegada de Carlos Queiroz ao comando da seleção. Acumula atualmente pela seleção portuguesa a marca de 64 partidas e 22 gols. Tudo isso com apenas 24 anos de idade e pouco mais de seis deles dedicados à seleção principal.

O sonho Real

Sondado pelo Real desde sua primeira renovação de contrato, em 2007, a vontade de Cristiano em atuar no Santiago Bernabéu foi crescendo gradualmente. O status, a mística e o glamour merengue chamavam sua atenção e cada vez mais especulava-se sobre a sua milionária transferência. Uma oferta de 80 milhões de euros foi feita em 2008, mas o Manchester United relutava em vender sua maior estrela. No entanto, o sucesso do Barcelona na Europa e a volta de Florentino Pérez à presidência do Real foram fatores preponderantes na montagem de um elenco estelar - a reedição dos galácticos, elenco milionário formado pelo mesmo Pérez no início desta década, ao trazer jogadores do quilate de Figo, Zidane e Beckham. A segunda geração promete ser tão badalada quanto a primeira, com as contratações milionárias do próprio Ronaldo (€94 milhões), Kaká (€67 milhões), Benzema (€35 milhões) e Albiol (€15 milhões).

Mais maduro e ao lado do excelente Kaká, o destaque português tem a missão de reconduzir os merengues ao topo da Europa, deixando um pouco de lado a sua individualidade, que, por vezes, é exagerada. Sem nenhuma questão de modéstia após a concretização da maior transferência da história do futebol, cravou: “quero ser o melhor de todos os tempos e fazer história no Real Madrid. Esse é o meu objetivo”. Resta saber se tal pretensão – que soa demasiada - poderá se tornar realidade. Esse é o estilo Ronaldo de ser: técnica, polêmica e megalomania, caminhando juntos.

27.7.09

Ótimo negócio

Concretizou-se uma das transferências mais complexas dos últimos tempos envolvendo mais de um atleta. Por 45 milhões de euros, Ibrahimovic foi para o Barcelona e a Inter ainda recebeu Eto’o em definitivo mais o bom meia Hleb, por empréstimo. A operação de 66 milhões de euros no total – a terceira mais cara da história do futebol – foi excelente para todos: times e jogadores envolvidos.

É óbvio que a perda de Ibrahimovic será a mais sentida, já que o sueco vinha sendo o principal jogador da Inter nas últimas duas temporadas. Na minha visão, é um dos três melhores atacantes da atualidade, atravessa ótimo momento e tem 27 anos, normalmente a faixa etária onde a maioria dos jogadores atingem ao auge da combinação física e técnica. Mesmo com a sentida perda, a Inter recebe um Eto’o que se não é tão bom quanto Ibra, chega próximo. E ambos são nascidos no mesmo ano (1981). Eto’o deixa o Barcelona como o terceiro maior artilheiro da história do clube, ao lado de Rivaldo, ambos com 130 gols. Já Hleb, pouco aproveitado em um meio campo que se acertou com Yaya Touré, Iniesta e Xavi, pode se tornar uma opção mais valiosa para o técnico Mourinho. Qualidade para isso, o bielorrusso mostrou durante a sua passagem pelo Arsenal.

Já o Barcelona incrementa ainda mais o seu poderoso ataque, com um jogador tão goleador quanto o camaronês, mas que é muito mais técnico. E que substitui um Eto’o que há tempos não era unanimidade no Barcelona, apesar das boas jornadas. O atacante quase cogitou sumir no futebol uzbeque, no início da última temporada, já que Guardiola considerava não utilizá-lo. Porém, ele foi aproveitado e foi peça importante no triplete do Barça em 2008/09, sendo vice-artilheiro de La Liga, com 30 gols. Ibrahimovic chega ao Barcelona na melhor fase de sua carreira, evidenciada com a artilharia da Série A italiana, com 25 gols. E com sede de títulos europeus, algo que a Inter não conseguiu lhe proporcionar. Um ataque formado por Messi, Henry e Ibrahimovic, que antes parecia um devaneio de um jogador de Winning Eleven, agora se faz real.

Usando aquele bordão famoso de um deputado paulista: “estando bom para ambas as partes...”

Em tempo (29/07): Hleb não acertou com a Inter e foi emprestado ao Stuttgart. A Inter foi compensada financeiramente pelo Barcelona. Ainda assim, acho que foi um bom negócio.

25.7.09

Efetivar ou não, eis a questão

Muricy Ramalho é apresentado:
Tetra à vista?

Nesta última sexta-feira, o Palmeiras apresentou seu novo treinador: Muricy Ramalho. Depois da novela que envolveu a efetivação ou não do interino Jorginho, a diretoria palmeirense preferiu confiar na experiência do atual tricampeão nacional.

Uma coisa é certa. Jorginho cumpriu o seu papel. Com um aproveitamento superior a 70% (quatro vitórias, um empate e apenas uma derrota) o interino conseguiu elevar o time às primeiras posições apresentando um futebol coeso e muito brigador. Até mesmo o setor defensivo, antigo “calcanhar de aquiles” da Era Luxa, melhorou.

Também sob seu comando, o volante Souza merecidamente ganhou mais espaço (até se machucar), Diego Souza reencontrou seu bom futebol e até o inconstante Obina ganhou mais confiança e começou a marcar os seus golzinhos. Então, por que não efetivá-lo?

Se Muricy é muito mais experiente e tarimbado, acostumado a atalhos que poderão fazer o Verdão tornar-se pentacampeão brasileiro nas retas finais do torneio, Jorginho, em contrapartida, conhece muito melhor o ambiente e o perfil de cada atleta.

Longe de mim, duvidar da competência e do trabalho de Muricy Ramalho. Só acredito que, pelo menos em curto prazo, o ex-são paulino terá um desempenho mais irregular que seu antecessor.

Por ser um pouco pragmático e deveras teimoso, penso que o novo treinador perderá preciosos pontos neste início. Afinal, ao assumir o comando de uma equipe, Muricy destacou-se sempre por sua regularidade, nunca por sua rápida adaptabilidade.

Engraçado mesmo, é pensar que a diretoria só repensou sua atitude em efetivar Jorginho ou não, após o mesmo levar a equipe à parte de cima da tabela. Ou alguém acha que Belluzzo abriria o cofre para pagar 600 mil reais mensais a Muricy, se Jorginho tivesse ido pior das pernas e não conseguisse alavancar o Verdão?

23.7.09

Galo paraguaio?

Diego Tardelli comemora seu gol na partida contra o Fluminense
Rumo ao bicampeonato?

Oito vitórias, quatro empates e uma derrota. 27 gols marcados e apenas 13 sofridos. Após 13 rodadas disputadas, poucos acreditariam que o Atlético Mineiro teria um desempenho tão constante neste início de temporada.

A performance do atual líder impressiona. Não somente venceu Cruzeiro e Grêmio, rivais diretos pela conquista do título, como também passou por Santos, Sport e Atlético Paranaense fora de seus domínios.

Grande parte do mérito desta campanha apresenta-se no banco de reservas. Mesmo com um elenco meramente mediano, o treinador Celso Roth monta uma tática defensiva que privilegia o ponto forte de seus atacantes: o contra-ataque. Durante os jogos, os rivais quase não têm oportunidades de fazer gols.

Com um forte poder de marcação, a trinca de volantes formada por Jonilson, Renan e Márcio Araújo passa tranqüilidade ao time, enquanto que o veterano Júnior, agora deslocado para a meia, garante o ponto de equilíbrio da equipe na armação de jogadas. Na frente, Éder Luís e Diego Tardelli, este em grande fase, dão conta do recado.

Além disso, a vinda do goleiro Aranha caiu como uma luva, já que os torcedores sequer guardam alguma lembrança do contestado Juninho. Nem mesmo a ausência de um lateral-direito de ofício tem prejudicado o esquema.

Contudo, não consigo visualizar esse time como um virtual candidato ao título. A semi-dependência atleticana nos gols de Diego Tardelli (que pode ser vendido), a falta de opções no banco e as últimas contratações do clube, como Pedro Oldoni e Rentería, não inspiram confiança.

Acredito que, assim como o Grêmio em 2008, Roth não manterá o alto aproveitamento do time que, por sua vez, acabará derrapando em partidas teoricamente fáceis. Afinal, o Galo ainda não se encontra em pé de igualdade diante adversários mais fortes.

20.7.09

Cultura inútil

Dizem que a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. Na hora em que os resultados não ocorrem como o esperado no futebol – principalmente brasileiro - , em 99% dos casos, quem paga o pato é o técnico. É como nos filmes antigos, onde o culpado era sempre o mordomo. Essa obviedade esconde falta de tato, de racionalidade e de planejamento por parte dos cartolas.

Só entre os 40 clubes das Séries A e B, foram 22 trocas de treinador em apenas doze rodadas – correspondente a pouco menos de um terço das competições. Alguns clubes como o Náutico, por exemplo, trocaram de técnico mais de uma vez. Me arrisco a dizer que em pelo menos 90% dos casos, as demissões ocorrem mais por pressão de imprensa e torcida do que por análise de um trabalho previamente planejado. Um exemplo disso é o Fluminense, que já teve três treinadores (até esta segunda, 20/07): Renê Simões, Carlos Alberto Parreira e Vinícius Eutrópio, que depois de efetivado no cargo, já está ameaçado após duas derrotas. Renê Simões foi responsável direto por salvar o Fluminense do rebaixamento do Brasileirão 2008, mas após maus resultados no “importantíssimo” Campeonato Carioca, foi mandado embora após vencer o Nacional/PB, pela Copa do Brasil. À época, o diretor de futebol do Fluminense, Alexandre Faria, disse ao IG: "Ele realizou um belíssimo trabalho à frente do Fluminense em 2008, classificando a equipe para a Copa Sul-Americana em 2009. Infelizmente o time ainda não engrenou nesta temporada e chegamos ao consenso de que é necessária a mudança do comando técnico da equipe. Buscaremos, com bastante calma e critério, o melhor nome possível para dirigir a equipe".

Chegando com discurso de reformulação e trabalho a longo prazo e sem reforços significantes, Parreira durou pouco mais de três meses à frente do time das Laranjeiras. No meio da briga entre o clube e o patrocinador, o time claramente era vítima, refletido nos maus resultados. Mas ainda assim, Parreira que foi demitido. O discurso agora era o de dar chances ao até então interino Eutrópio, o que já parece descartado pelos dirigentes tricolores, que já declararam correr atrás de um profissional mais “experiente”. Em levantamento pelo GloboEsporte.com, o Fluminense é o líder em trocas de treinador na era dos pontos corridos, superando Flamengo e Atlético/MG, com 17 trocas em pouco mais de seis anos (uma média de quase três técnicos por ano!).

A novela Jorginho no Palmeiras é outro exemplo. Os bons resultados conquistados – quatro vitórias e um empate, levando o time à liderança com o Atlético/MG – não deixam o até então interino mais experiente na função. É óbvio que ele começa sua carreira agora e ainda tem que ser mais tarimbado no cargo. Mas a diretoria do Palmeiras insiste em esconder o jogo. Não seria mais fácil dizer as reais intenções, até para evitar especulações e não expor o elenco?

Em seu início no Manchester United, Ferguson ficou quase cinco anos sem ganhar títulos de expressão com o Manchester United e agora é um dos técnicos mais importantes da história do clube, mais de 20 anos depois. No Brasil, como nos casos de Muricy no São Paulo, Adílson no Cruzeiro e Mano Menezes no Corinthians, os trabalhos a longo prazo surtiram bons frutos. Ainda existem casos onde há o desgaste entre o técnico e o elenco e a situação fica insustentável, como no caso de Luxemburgo no Palmeiras e Mancini no Santos. No entanto, na maioria dos casos, a cultura do futebol brasileiro é cruel. Atirar primeiro e depois perguntar quem é.

16.7.09

O que tem faltado?

Pelo terceiro ano consecutivo, a equipe adversária fez a festa em um estádio completamente lotado para comemorar o título da Copa Libertadores da América: se em 2007 o Boca Juniors derrotou o Grêmio no Olímpico e em 2008 foi a vez da LDU bater o Fluminense no Maracanã, dessa vez foi o Estudiantes que venceu o Cruzeiro em pleno Mineirão e levou o tetracampeonato da Libertadores.

Apesar do bom empate conseguido na primeira partida, a equipe celeste não conseguiu impor o jogo que tinha lhe rendido ate então os 100% de aproveitamento jogando em casa, e viu o Estudiantes, comandado com maestria pelo veterano Juan “La Brujita” Verón, 34 anos, virar a partida, para a tristeza dos mais de 65 mil torcedores que compareceram para incentivar o Cruzeiro.

Apesar da melhor campanha, os mineiros precisam reconhecer os méritos dos argentinos, que mereceram o título pelas duas partidas da grande final. Mesmo não dando nenhum espetáculo, a equipe de La Plata soube se impor e aproveitou as poucas chances que teve. Apesar de sair perdendo, os jogadores do Estudiantes não perderam a calma e calaram o Mineirão.

O que chama a atenção é que essa foi a sexta final consecutiva em que uma equipe brasileira foi derrotada por uma estrangeira. O Boca passou por Palmeiras em 2000, Santos em 2003 e Grêmio em 2007; o São Caetano perdeu a decisão de 2001 para o Olímpia; e, como citado acima, o Fluminense foi batido pela LDU, antes do Cruzeiro. Com a cruel constatação de que todas as decisões foram realizadas no Brasil. E ainda, na minha opinião – com exceção feita ao Grêmio em 2007 - , em todas as outras finais, os times brasileiros tinham totais condições de levantar o caneco.

Nem se pode usar a catimba como desculpa dessa vez. Claro, os argentinos valorizaram em muitos momentos na partida, houve momentos de confusão, mas não foi aquela clássica demonstração da artimanha platina.

O que tem faltado aos times brasileiros? Alem da técnica, da tática e dos talentos individuais, ainda falta algo mais numa competição como a Libertadores, como a catimba, a concentração e a eficiência para aproveitar as poucas oportunidades ou o erro dos adversários. Os brasileiros teriam sentido demais a pressão em vencer o nobre torneio continental? O problema seria psicológico? É difícil explicar. Não tenho uma resposta. Talvez seja um pouco de tudo isso.

Em tempo: pelo terceiro ano consecutivo, a equipe que eliminou o São Paulo perdeu a final, e jogando em casa. Isso que é jogar urucubaca hein...

11.7.09

Nem tudo está perdido

Há pouco mais de dois meses, o Internacional vencia o Campeonato Gaúcho invicto. Muitos torcedores e jornalistas exaltavam não só o feito Colorado – com média de gols superior a três, 67 em 21 jogos – mas o bom futebol mostrado pelos comandados de Tite, principalmente D’Alessandro, Nilmar e Taison. À época, relatei no blog no post “O melhor do Brasil?” que o Inter jogava, sem dúvidas, futebol vistoso. Mas necessitava ser confrontado por times mais técnicos e tarimbados, já que no Gauchão enfrentou um Grêmio com a cabeça na Libertadores, além de adversários fracos no certame local e na Copa do Brasil, que até então, ainda estava em seu início.

Hoje, a situação daqueles que exaltavam o Inter se inverte, como é de praxe na louca roda-gigante que é a cabeça dos torcedores e de alguns jornalistas esportivos. Após as derrotas ante o Corinthians – em dois jogos duríssimos pela final da Copa do Brasil – e LDU – pela final da Recopa – o time já “não presta”, a fase boa já passou e outros absurdos do gênero. Principalmente do meio-campo pra frente, o Inter é um time excelente. Se não perder Nilmar para a Europa, melhor ainda.

O calcanhar de Aquiles colorado parece ser a defesa. Kleber – apesar de ser integrante da Seleção Brasileira – vive mau momento; Bolívar não consegue mais quebrar o galho como lateral-direito e por aquele setor, se iniciaram várias jogadas dos últimos gols sofridos pela equipe; Índio, Álvaro e Danny Morais parecem não se acertar no miolo de zaga, como visto nos gols sofridos pelo Inter em jogadas aéreas e infiltrações pelo meio da defesa. A direção poderia aproveitar a abertura da janela de transferências para trazer ao menos um zagueiro e um ala direito para tentar recolocar o time nos eixos, novamente. Perdeu também muito rendimento individual do seu trio ofensivo D'Ale-Taison-Nilmar, além de jornadas irregulares de Magrão. O único que manteve o bom futebol desde o início de ano foi o incansável Guiñazu, também peça imprescindível para este início de recuperação colorada.

Por mais dolorosos que os vices possam parecer, o Inter tem grandes chances de título e de vaga na Libertadores. É o atual líder do Brasileirão – jogando muitas partidas com o time misto ou reserva, até aqui – e está longe de ser um time que vá sofrer qualquer tipo de um grande desmanche. O problema deve ser a pressão em cima de Tite, principalmente se a equipe não se recuperar nas próximas rodadas do campeonato nacional. Certamente, o divisor de águas para o contestado técnico será o Grenal do próximo dia 19. Uma derrota para o principal rival certamente derrubará o treinador, assim como aconteceu com Celso Roth na partida em que os gremistas foram eliminados pelos colorados no Gauchão. Perder dois títulos e a invencibilidade de sete partidas diante do maior rival em menos de um mês seria uma combinação letal ao técnico, que passa a conviver com a grande sombra de dois treinadores disponíveis no mercado nacional: Luxemburgo e Muricy, com o último tendo grande identificação e familiaridade com o Beira-Rio.

9.7.09

Faca, queijo e canja de galinha na mão

Uma final com o espírito de Libertadores: muita disputa, algumas boas jogadas, a tradicional catimba e um soco do botinudo Schiavi no esforçado Wellington Paulista. Com Fábio pegando tudo, pressão inicial do Estudiantes e um gol incrível perdido por Kléber quando o Cruzeiro jogava melhor no quarto final da partida, a equipe Celeste leva uma enorme vantagem para Belo Horizonte. E está mais perto do tricampeonato do que os Pinchas do tetra. Jogando em casa e com o histórico de seis vitórias em seis partidas dentro do Mineirão nesta edição – uma delas diante do próprio Estudiantes, pela fase de grupos – o Cruzeiro de Adillson Batista é mais técnico, tem um time bem postado e jogadores em boa fase, casos de Fábio e Kléber, que parece talhado a jogar competições do quilate de uma Libertadores da América.

Mesmo não tendo uma defesa brilhante – apesar de não ter sofrido gols em casa nessa Libertadores – o Estudiantes está longe de ser um time ingênuo. Schiavi e Boselli já sentiram o gosto de campeões sulamericanos, na época de Boca Juniors. Andújar – vendido ao Catania – é bom goleiro e Verón, no alto de sua experiência, ainda pode desequilibrar, assim como seu pai o fez na época do tricampeonato continental dos Pinchas, entre 1968 e 1970. La Brujita tem motivação sobrando para trazer um título que a equipe de La Plata não vê há quase 30 anos.

Apesar da ótima vantagem, o oba-oba e o nervosismo podem pesar contra. Como exemplo, podemos citar o Palmeiras de 2000, que conseguiu bom empate por 2-2 na Bombonera e sucumbiu nos pênaltis dentro do Morumbi, e o São Caetano, que obteve ótima vantagem de 1-0 diante do Olímpia no Defensores Del Chaco e depois sucumbiu ante os paraguaios no Pacaembu, também nos pênaltis. Com a bola no chão e sem entrar na tradicional catimba argentina, o Cruzeiro é mais time. Mas como diria aquele ditado: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

O grande perdedor

Na 50ª edição da tradicional Copa Libertadores, a Confederação Sulamericana de futebol sai como grande perdedora. Além da omissão nos episódios causados pela “gripe suína” – que acabou resultando na exclusão dos times mexicanos e nas vistas grossas aos argentinos – o fato da entidade não possuir uma cláusula obrigatória de transmissão integral da mais importante competição de clubes do continente é bola fora. Desvaloriza a competição enquanto produto e mostra nenhuma visão de mercado, ao contrário do que acontece numa Champions League, por exemplo. Se fosse melhor explorada, com certeza a Libertadores seria vista com outros olhos fora da América do Sul. Inclusive pelos próprios mexicanos, maiores prejudicados desta edição. Erich Beting fez um excelente post em seu blog sobre o assunto "Culpa da Globo ou da Conmebol?", que mostra que a culpa da grande final não ser transmitida em rede nacional não é só culpa da vênus platinada e sim que o buraco é bem mais embaixo.

Visões sobre a primeira partida da finalíssima nos blogs Marcação Cerrada e Impedimento.

6.7.09

Êxodo da legião holandesa

Com a chegada de Cristiano Ronaldo e Kaká, os holandeses do elenco merengue certamente vão perder espaço na equipe de Pellegrini.

Quase 200 milhões de euros em quatro reforços. A megalomania de Florentino Pérez à frente da presidência do Real parece não ter limites. As vindas de Albiol, Benzema, Kaká e Cristiano Ronaldo foram dignas de cinema, como pôde ser visto na apresentação dos dois últimos. Tratam-se de jovens jogadores, todos destacados e talentosos nas suas ex-equipes. Com status e futebol de titulares, alguém vai pagar o pato para que os “novos galácticos” entrem. Sobrou para a ala holandesa do elenco merengue. Atualmente, seis jogadores dos Países Baixos estão no elenco do Real: Drenthe, Sneijder, Van der Vaart, Robben, Van Nistelrooy e Huntelaar. Perdendo apenas para os espanhóis da equipe – atualmente, 11 – nenhum deles é titular absoluto da equipe. Pela Oranje, na última convocação nos jogos das Eliminatórias européias para a Copa, Robben, Van der Vaart e Huntelaar foram chamados. Sneijder só ficou de fora por conta de contusão no fim da temporada, mesmo motivo pelo qual Nistelrooy não foi lembrado pelo técnico Bert van Marwijk. A mesma Oranje foi semifinalista da última Eurocopa e se classficou antecipadamente ao Mundial da África do Sul, com uma campanha de 100% de aproveitamento, até aqui.

Tratam-se de bons jogadores e que chegaram com alguma badalação no Santiago Bernabéu. O jovem Drenthe – destaque no Europeu sub-21 de 2006 – não vingou na lateral, nem na meia esquerda. Sneijder, Van der Vaart e Robben não mostraram a regularidade vista em seus ex-clubes e na seleção. Van Nistelrooy foi peça importante do Real no bicampeonato espanhol conquistado entre 2006 e 2008. Mas o atacante – que marcou 45 gols em 67 jogos com a camisa blanca – sofreu grave contusão no joelho em novembro de 2008. A expectativa mais otimista é que ele volte em nove meses. Há de se considerar ainda o fato de Ruud ser um atacante em idade avançada, 33 anos. O técnico chileno Pellegrini conta agora com Higuaín, Benzema, Raúl – que também pode jogar na meia – e com a opção de usar Ronaldo como atacante,. Por conta disso, acho difícil que o experiente matador holandês tenha espaço no novo Real Madrid. Assim como o jovem Huntelaar, que não correspondeu a fama adquirida no Ajax.

Também se especula que para trazer outros reforços, o Real poderia usar Sneijder e Van der Vaart como moeda de troca. Robben parece que permanece, mas como opção no elenco. Além de um eminente final da legião holandesa, outro que surge como grande incógnita para o futuro é Raúl. O lendário meia-atacante, de 32 anos recém-completados e ícone contemporâneo da história merengue, não tem mais o vigor de antigamente. Nesta última temporada, Schüster e Ramos – técnicos que passaram pela equipe em 2008/09 – deixaram o camisa sete por diversas vezes no banco, tanto por limitações físicas como por opção tática. A chegada dos jovens e galácticos Kaká, Ronaldo e Benzema certamente fará com que Raúl perca ainda mais espaço entre os titulares.

A decisão final estará com Pellegrini e teremos um esboço durante a pré-temporada que se iniciará na próxima semana, em Dublin. Alguns amistosos entre julho e agosto na Europa e América do Norte servirão para o que o técnico chileno faça com que os galácticos comecem a render tudo o que se espera deles. E o enginero – como é conhecido Pellegrini – terá de fazer jus ao apelido para administrar o elenco milionário e o ego de seus comandados com precisão. Ou o entrosado rival Barcelona pode reinar novamente na Europa.

4.7.09

Última chamada para Owen

Imagino que a maior lembrança de Michael Owen para os brasileiros seja daquele garoto que marcou o gol da virada contra a Argentina na Copa de 1998, onde ele recebeu na meia, deixou dois argentinos para trás e bateu o goleiro Roa, decretando a virada daquela partida que terminaria empatada e a seleção albiceleste levaria nos pênaltis, avançando às quartas. Os torcedores ingleses, ao mesmo tempo em que culpavam Beckham pela expulsão naquele jogo – crucial para que a Inglaterra não vencesse – reverenciavam o feito do jovem atacante do Liverpool, à época com apenas 18 anos. Além de esperança no English Team, também era esperança no Liverpool, que ainda vivia um tempo de vacas magras, com poucos títulos de expressão.

Jogando sempre em meio a elencos nem tão estelares, Owen era a estrela dos Reds. Foi artilheiro da Premier League em 1997/98 e 1998/99, ambas com 18 gols. Cada vez mais importante na Inglaterra e no Liverpool, atingiu seu auge em 2001, quando liderou sua equipe rumo à conquista da Copa da Inglaterra, Copa da UEFA e Copa da Liga Inglesa, além de marcar três gols sobre a Alemanha jogando no Estádio Olímpico de Munique, em jogo válido pelas Eliminatórias para a Copa de 2002. De quebra, foi eleito o Bola de Ouro na Europa naquele ano.

Nas sete temporadas como titular absoluto do Liverpool, o então camisa dez sempre foi o artilheiro da equipe. Mas com a saída do técnico Gérard Houllier, ao final da temporada 2003/04 e vislumbrando ganhar títulos de expressão, Owen deixou o Liverpool para se transferir ao Real Madrid, em agosto de 2004. Ironicamente, o novo técnico Rafael Benítez montou a equipe que seria campeã da Champions na temporada em que Owen amargou o banco no Santiago Bernabéu. Deixou Merseyside como o sétimo maior artilheiro da história do clube – 158 gols em 297 partidas – além de uma série de recordes. Mesmo sendo um reserva de luxo nos merengues, anotou 16 gols em 2004/05 e resolveu voltar ao futebol inglês na temporada seguinte, para o Newcastle. Nos Magpies, as contusões passaram a ser mais frequentes. Ainda assim, acabou no elenco da Inglaterra para Copa de 2006, onde sofreria a contusão mais grave de sua carreira, na partida contra a Suécia: ruptura nos ligamentos do joelho direito, a qual deixou o jogador por mais de ano fora dos gramados. Sua passagem pelo Newcastle culminou com o rebaixamento da equipe à segunda divisão em 2008/09, onde claramente não era mais o jogador brilhante de outrora tanto por conta de suas limitações físicas, quanto da limitação técnica de sua equipe.

Sondado por alguns pequenos e médios ingleses, Alex Ferguson viu em Owen, 29 anos, uma chance de reforçar o elenco do Manchester United, muito enfraquecido pelas perdas de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid e Carlitos Tevez, ainda sem destino certo. O eterno prodígio chegou a custo zero e aceitou a proposta sem pestanejar: "É uma oportunidade fantástica para mim, e pretendo agarrá-la com as duas mãos. Agora estou ansioso por ser um jogador do Manchester United, e tenho a sorte de já conhecer vários dos jogadores que estão aqui. Perdi a última pré-temporada e estou feliz por começar desde o primeiro dia o trabalho em Carrington", afirmou ao site oficial do Man Utd., de acordo com a Trivela.

Obviamente, Owen não chega para suprir as ausências de Ronaldo e Tevez, até por conta de suas limitações físicas. Mas uma chance nos Red Devils é tudo que ele precisa para descobrir se ainda pode ser útil ao futebol e ao English Team, que ainda carece de atacantes, exceção feita a Wayne Rooney, que será um de seus colegas de elenco. Ferguson é treinador experiente e tarimbado e com certeza, experimentará Owen gradativamente até sua confiança retornar inteiramente. Ainda assim, mesmo com as aquisições de Owen e do equatoriano Valencia, o Manchester United ainda precisará se reforçar muito se quiser manter sua hegemonia na Inglaterra e continuar como uma das melhores equipes da Europa.

2.7.09

Perder para ganhar

Corinthians tricampeão da Copa do Brasil: a calma que faltou em 2008, sobrou em 2009

Embrião do time tricampeão da Copa do Brasil, o Corinthians vice-campeão de 2008 fez muito bem a lição de casa no torneio seguinte: não entrou na pilha de nervos e da euforia de um bom resultado conquistado em casa. O clima criado na Ilha do Retiro para aquela final era tão efervescente quanto a final desta quarta, disputada no Beira-Rio. Assim como Corinthians e Inter em 2009, Corinthians e Sport quase que se equivaliam dentro do campo de jogo, tecnicamente falando. No entanto, o time de Mano Menezes não teve calma para controlar aquele jogo, segurar o ímpeto dos pernambucanos e não ficar limitado à defesa, com chutões e faltas bobas.

Em meio ao clima desfavorável e tenso – em grande parte, causado pelo infeliz episódio do DVD "criado" por Fernando Carvalho – o Corinthians se portou com maestria. Não entrou na pilha do Colorado, não deu pontapé e nem se limitou apenas ao campo defensivo. Mesmo com um Inter aquém da sua capacidade, principalmente no primeiro tempo, era raro ver o alvinegro dando chutões. O excelente meio-campo se fez notar e era muito freqüente vê-lo valorizar a posse de bola e jogar objetivamente. Chutão só quando realmente necessário. Maior prova disso foi o gol de André Santos, nascido sob uma série de passes que envolveram a defesa colorada, o que abriu o lado direito guardado pelo zagueiro-lateral Bolívar.

No bom time do Inter, vi muito dos erros do Corinthians da Copa do Brasil de 2008 e das Libertadores de 2006 e 2003: um time preocupado em tentar catimbar, ganhar a arbitragem no grito e excessivamente nervoso, motivados pelo clima extra-campo. Na expulsão de D’Alessandro, a maior prova de maturidade. A equipe não entrou na catimba do bom meia argentino. Coisa que não aconteceu com Wellington Saci no ano passado, expulso infantilmente em Recife. Méritos para Mano Menezes – o grande arquiteto desse Corinthians do resgate e que soube armar o time -, e da diretoria, que evitou o confronto com os dirigentes colorados, quando todas as evidências sugeririam o contrário.

Venceu a mentalidade coletiva, que colocou a bola no chão e soube neutralizar o ímpeto do bom time do Inter, assim como havia feito na reta final do Paulistão, frente a São Paulo e Santos. Em um time onde Ronaldo – que ficou devendo na segunda partida, após ser decisivo na primeira – atrai naturalmente a maioria dos holofotes, Mano soube implantar um estilo operário a jogadores até então “comuns” no futebol brasileiro, casos de Jorge Henrique, Elias, Cristian e Alessandro, aliado à técnica de Chicão, André Santos, Douglas, Dentinho e do próprio Ronaldo. E um jogador, em especial, deu a volta por cima após o fiasco de 2008: o goleiro Felipe – que falhou em Recife - mostrou excelente forma neste primeiro semestre e vem se consolidando como um dos melhores do país em sua posição, ao lado de Victor, Fábio e Marcos. A cidade que viu o Corinthians, por conta de sua incompetência, cair para a Segundona há exatos um ano e sete meses foi testemunha da confirmação da volta por cima deste time, deixando de vez para trás o rótulo de “time de Série B”.

Encerro este texto com uma frase do post “Apoteoses”, publicado neste blog acerca das impressões da final da Copa do Brasil 2008, resume que na maioria das vezes o continuísmo na comissão técnica é o caminho para se montar times que estarão sempre na luta por títulos: “E se tudo correr racionalmente, Mano Menezes é técnico para marcar época e ficar por alguns anos dirigindo o Corinthians”.

Em tempo: Este é o post de número 500 da história de quase três anos do Opinião FC. Que venha o post MIL!

1.7.09

A capital do futebol brasileiro

Nesta quarta e quinta-feira, todos os olhos se voltarão para Porto Alegre. Mui leal e Valerosa, a capital gaúcha receberá os dois jogos mais decisivos do futebol brasileiro no primeiro semestre que se encerra: Internacional X Corinthians, pela finalíssma da Copa do Brasil, e Grêmio e Cruzeiro, que duelam para decidir quem chega à final da Libertadores, onde qualquer equipe classificada tem grandes chances de ser o soberano das Américas. Em campo, as potências regulares do futebol brasileiro na atualidade: São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Em comum, além da cidade-palco e de todos contarem com reforços vindos da Seleção campeã na África do Sul, muitas polêmicas, que apimentam ainda mais a disputa entre essas quatro equipes, que a meu ver são as melhores do Brasil na atualidade. O episódio das arbitragens, a qual traz à tona velhas feridas entre Inter e Corinthians – os Brasileiros de 1976 e 2005 – promete ferver ainda mais o caldeirão do Gigante da Beira-Rio. O tal DVD sobre possíveis favorecimentos ao Corinthians, além de tumultuar e pressionar a arbitragem, pode dar um quê de violência a peleja. E da mesma forma, pode ser usada como incentivo, tanto para o Colorado quanto ao Timão.

No caso de Grêmio e Cruzeiro – dois dos grandes especialistas em embates mata-mata do futebol brasileiro – a rivalidade para o jogo decisivo é de data mais recente: a suposta ação racista do argentino Máxi Lopez, do Grêmio, para com Elicarlos, do Cruzeiro. Declarações polêmicas de Autuori e Souza contrastam com a indignação de atletas cruzeirenses com o suposto ocorrido, como Wagner e Kléber. Este último, de temperamento instável e talento inegável, pode facilmente ser envolvido ou desencadear uma ação violenta na decisão. É só puxar sua ficha corrida. Ou decidir o jogo favoravelmente à Raposa.

Se as polêmicas – alimentada desnecessaria e exageradamente – não entrarem em campo, os jogos têm tudo para serem os melhores do ano, os mais brigados e emocionantes. Os anfitriões gaúchos têm a difícil missão de reverter uma vantagem de dois gols. Dois a zero pro Grêmio basta. Para o Inter, leva a uma decisão por pênaltis. Não levar gol é primordial para o êxito dos rivais sobre os forasteiros. No entanto, Cruzeiro e Corinthians sabem jogar fora de seus domínios, graças aos seus treinadores copeiros e oriundos da escola gaúcha: Adílson Batista e Mano Menezes. E sabem jogar com a vantagem embaixo do braço. O Corinthians foi batido somente três vezes fora de casa – duas com o time misto ou reserva – e os cruzeirenses só foram derrotados uma vez nesta Libertadores e empataram outra, vencendo as outras nove partidas. Mas a única derrota cruzeirense na competição foi para o Estudiantes, por acachapantes 4-0. Enquanto isso, o Colorado possui o ataque mais positivo desta Copa do Brasil, com 19 gols em 11 partidas. Já o Grêmio chegou ao mata-mata com a melhor campanha da Libertadores, o que lhes deu a vantagem de decidir esse confronto – e uma eventual final – no Estádio Olímpico.

Timão e Raposa desfrutam, sem dúvida, grande vantagem. Que Tricolor e Colorado podem reverter perfeitamente, dado às qualificações de seus elencos. Se Porto Alegre fará jus ao nome, não se sabe. Contudo, a capital do futebol brasileiro vai tremer com dois grandes jogos. E apesar de eventuais burradas daqui ou acolá, que sejam grandes pelejas, como as que o Rio Grande do Sul já se acostumou há tempos. Decididas dentro das quatro linhas.