30.5.11

Bé fins al final/Hermoso hasta el final

Abidal levanta a taça da Champions: o último golaço do Barcelona

Quando ninguém mais achou que o Barcelona poderia surpreender a todos que gostam do futebol bonito, Puyol e Xavi dão a honra para o lateral-esquerdo Eric Abidal ser eternizado nas fotos em que o capitão de ocasião levantou o quarto título europeu, nas tribunas do Estádio de Wembley. Ao lado do crescimento monstruoso da técnica do lateral Daniel Alves, a eficiência defensiva e ofensiva do meio-campo autenticamente culé de Busquets, Iniesta e Xavi, o faro de gol e o comprometimento de Pedro e Villa e a genialidade de Messi em 2010/11, a imagem também mostrará a superação do camisa 22, diagnosticado com câncer no fígado no meio desta temporada, mas que se curou a tempo de sentir o gostinho da glória de estar no topo da Europa, após atuar em toda a final.

E como na final de 2008/09, o Manchester United perdeu a final da Champions, para este mesmo Barcelona, no meio-campo. Os comandados de Alex Ferguson engrossaram no início. Mas a sólida defesa do Manchester (ainda acho a consistente dupla Ferdinand-Vidic como a melhor do planeta) sucumbiu ante ao toque de bola e aos dribles de Messi, decisivo no gol que desmontou os Red Devils, além da série de dribles com a bola que parecia colada ao seu pé, no início da jogada que culminaria no gol cirúrgico de David Villa, que abriu mão de sucessivas artilharias no Valencia, onde era a estrela, para ser uma ótima engrenagem nesta máquina de jogar futebol chamada Barcelona. O título na Champions, definitivamente, coloca o Barcelona de Guardiola na história (veja levantamento feito pelo Terra, sobre os maiores esquadrões do futebol). Dez títulos em 13 disputados, sempre mantendo a mesma essência: a de não se retrair após obter a vantagem e depender apenas de contra-ataques, marca da eficiente Inter de Mourinho na taça da última temporada (onde os italianos bateram o próprio Barça nas semifinais).

Quanto a Messi, de apenas 23 anos, estamos vendo a história sendo feita, com o argentino construindo sua imagem ao lado dos grandes craques da história. Alguns voltarão a argumentar que ele ainda não levou a Argentina nas costas para vencer uma Copa. Mas craques como Puskás, Di Stéfano, Platini e Zico também não o fizeram, mas sempre são citados em qualquer lista de gigantes da bola. A seleção brasileira de 1982, do belo futebol e a revolucionaria Holanda, da "Laranja Mecânica" de 1974, são lembradas até hoje, mesmo nunca tendo erguido a taça mais cobiçada do esporte bretão. Se o camisa 10 do Barcelona – que deve ter, pelo menos, mais duas Copas do Mundo em alto nível, caso não se contunda gravemente – não erguer uma Copa para nossos hermanos, ainda assim terá feito história. Se ganhar, com certeza, já será equiparado por todos a El Pibe Maradona. Talvez, até ultrapassá-lo.

Artilheiro pela terceira vez seguida de uma Champions, Messi igualou feito de Gerd Müller e Jean-Pierre Papin. O alemão (1972 a 1975, com o Bayern de Munique) e o francês (1989 a 1992, com o Olympique de Marseille) eram os únicos atletas com três artilharias consecutivas do principal torneio de clubes da Europa. Comparando à nossa realidade, a Libertadores da América, o torneio sul-americano jamais teve um jogador com três artilharias consecutivas, em mais de 50 edições realizadas.

As discussões são sempre válidas, mas devemos nos acomodar bem no sofá ou arquibancada. No futuro, seremos nós a dizer: "Eu vi o Barcelona de Guardiola e Messi em ação", como os mais velhos se referem aos grandes esquadrões do passado, de Pelé, Garrincha, Maradona e etc.

26.5.11

Vida longa a classe de 1992

Na foto abaixo, com Ferguson: Giggs, Butt, Beckham, Gary e Phil Neville e Scholes; geração de títulos e quase 400 jogos cada pelo United

Hoje, não há dúvidas que a melhor e mais aproveitada categoria de base do planeta é a formada em La Masia, em Barcelona. Entre titulares e reservas, o elenco culé tem a maioria de suas raízes fincadas na própria Catalunha. Porém, o rival deste sábado na grande final da Champions League (e tira-teima de 2008/09, quando o Barça venceu em Roma) tem o melhor aproveitamento de uma safra de garotos, quando fazemos a equação tempo + aproveitamento + títulos: a "classe de 1992" dos Red Devils.

A foto divulgada nesta semana pelo site oficial do Manchester United (acima), onde membros daquela época posaram para uma foto atualizada 20 anos depois correu o mundo no dia em que Gary Neville se despedia do futebol, após 20 anos defendendo apenas a camisa vermelha de Manchester. Porém, a classe começou a ser "formada" em 1991, consolidando-se, para alguns, até 1995. Quatro anos depois, a maioria destes jogadores estavam no Camp Nou fazendo história, na épica virada sobre o Bayern de Munique na final daquela Champions, que coroaria o triplete (Premier League, FA Cup e Champions, com o título do Mundial Interclubes conquistado sobre o Palmeiras adicionado à lista no final de 1999).

Os então aspirantes Gary Neville, Paul Scholes, Nicky Butt, David Beckham e Ryan Giggs (mais tarde, Phil Neville) eram frutos de uma das grandes implementações de Ferguson no Manchester: o fortalecimento das categorias de base, através do técnico dos juniores, Eric Harrison. A semente foi plantada com o título da FA Youth Cup de 1992 (a Copa da Inglaterra de Juniores, tradicional competição do país, disputada desde 1953), título não visto na galeria de troféus de Old Trafford desde 1964. Gary, Butt, Beckham e o reserva Giggs faziam parte dos vencedores. Mas, curiosamente, o galês foi o primeiro a ter uma chance entre os profissionais. Depois, a equipe chegaria em mais duas finais da competição (1993, derrotado pelo Leeds United, e 1995, campeões sobre o Tottenham). Dali surgiriam o incansável Scholes, com a camisa 10, e Phil – que seguiria os passos do irmão como lateral e posteriormente, como capitão da equipe aspirante.

Inseridos em momentos distintos na equipe de cima, contribuiriam na busca do posto de maior time da Inglaterra na atualidade e, porque não, de toda a história. O título da Premier League, em 2010/11, com Giggs e Scholes em plena atividade, tornou o United como o maior campeão nacional, com 19 taças (uma a mais que o Liverpool).


Porém, o auge da classe foi mesmo a temporada 1998/99. Naquela temporada, os garotos de Harrison que se sobressaíram eram parte fundamental de uma equipe que tinha nomes como o goleiro dinamarquês Peter Schmeichel, o zagueiro irlandês Denis Irwin e seu companheiro, o holandês Jaap Stam, o volante irlandês Roy Keane e a letal dupla de ataque, formada pelo trinitário Dwight Yorke e o inglês Andy Cole – comprado junto ao Newcastle, em negociação que envolveu um membro menos famoso da "classe de 1992", o winger Keith Gillespie.

Longevos, todos os "alunos" estiveram presentes naquela temporada com regularidade. O que menos esteve em campo foi Phil Neville, com 29 partidas. Além disso, todos eles têm, pelo menos, mais de 380 jogos com a camisa vermelha – Giggs detém o recorde de atleta que mais defendeu o clube, com 875 jogos, enquanto Paul Scholes (675) e Gary Neville (602) estão garantidos no Top 5. Nem todos daquela geração prosseguiriam em Old Trafford, obviamente. Mesmo não conseguindo repetir a fórmula vitoriosa no English Team, os britânicos daquela equipe foram peças importantes de sua seleção. Assim como hoje o são Piqué, Puyol, Busquets, Iniesta e Xavi na já campeã do mundo Espanha. Com contribuição enorme dos atletas blaugranas.

Por isso, a final entre Barcelona confronta o time que está próximo a ver uma era importante prestes a se encerrar contra um time que está fazendo história atualmente, uma espécie de Dream Team 2 – a equipe comandada por Guardiola é considerada a sucessora do também fabuloso Barcelona campeão europeu na década de 90, sob a batuta de Johan Cruyff – justamente quando Scholes e Giggs, adversários do Barça, começaram a se "graduar" em Manchester.

24.5.11

Chega e veste a camisa

A Fifa é uma entidade omissa, quando o assunto em questão não lhe afeta diretamente. Nada de tentativas para tentar equiparar ou adequar os principais calendários de futebol do planeta, a convocação de árbitros de países sem tradição no futebol, mesmo que eles sejam ruins tecnicamente, em nome da "família futebol". Mas o assunto mais desprezado é o que vem tomando proporções mais sérias, devido a própria globalização da modalidade, como um todo: a naturalização de um atleta por outro país, diferente de sua terra natal.

Nesta semana, o goleiro Nilson (com passagens destacadas pelo Santa Cruz e Náutico) se tornou o mais novo cidadão burquinense. O brasileiro, que defende os portugueses do Vitória de Guiramães, já foi convocado pelo português Paulo Duarte para defender Burkina Faso, pequeno país africano que se libertou do domínio da França há pouco mais de 30 anos, tem o maior índice de analfabetismo do planeta e tem Ouagadougou como capital. Mesmo sem conhecer absolutamente nada sobre sua nova casa, o ponto não é o conhecimento geográfico – os jogadores que defendem a Seleção Brasileira mal sabem entoar o hino nacional. É a onda desenfreada de nacionalizações bizarras.

O arqueiro brasileiro jamais jogou a Burkinabé Premier League (a liga nacional do país africano), tampouco pisou no país. Mas já é titular garantido no gol para as Eliminatórias para a Copa Africana de Nações, no próximo dia 4, já que teve seu processo de naturalização acelerado por Duarte. "Já tentei contratá-lo para o Le Mans e não consegui, mas desta vez ele aceitou o convite. Sei que não é jovem, mas como homem e profissional é extraordinário. Um belíssimo guarda-redes, do melhor a jogar em Portugal", disse o comandante. A declaração não se assemelha a de um novo reforço de um clube qualquer?

Depois que o Qatar tentou "comprar" nacionalizações, como a de Aílton em 2004, quando o atacante esmerilhava no Werder Bremen e Schalke 04, a Fifa estabeleceu prazo de, pelo menos, dois anos como nativo no futebol local para se naturalizar – tempo que seria ampliado para cinco anos, mais tarde. Mas no próximo dia 1º de junho, o Congresso da Fifa votará, entre outras propostas, a redução deste prazo de cinco para três anos. Proposta feita pela federação dos Emirados Árabes Unidos, interessada direta.

A questão não é podar qualquer tipo de naturalização. Para citar exemplos brasileiros, jogadores como Deco, Pepe, Liedson (Portugal), Marcos Senna (Espanha), Kevin Kuranyi (Alemanha), Igor de Camargo (Bélgica), Eduardo da Silva (Croácia), Benny Feilhaber (EUA) e Alex (Japão) saíram desconhecidos do país, mas constituíram algum tipo de vínculo com suas respectivas seleções. Passaram a conhecer parte do sistema de como funciona o futebol local e acabaram se ambientando com a vida em sua segunda pátria. Em contrapartida, naturalizações como a do volante Hamilton (ex-Sport e Náutico), que está apto a defender a seleção togolesa desde 2003, soam bizarras.

Defender uma pátria não é como defender um clube. Todo jogador de futebol sonha em defender sua seleção natal (ou, em muitos casos, sua pátria de adoção) em uma competição oficial. Mas o ato de "aceitei a proposta de fulano, já que nunca tive oportunidade na seleção x" soa ridicula e excessivamente egoísta e comercial.

20.5.11

Boas novas

Velho Porto ganhou sangue novo pelas mãos de André Villas-Boas: campeão nacional invicto e da Europa League

A idade pode enganar aos que não acompanharam sua trajetória na última temporada e meia. Em 13 de outubro de 2010, o técnico André Villas-Boas, 33 anos, tinha a missão de salvar a modesta Acadêmica de Coimbra da última posição da Liga Sagres – a equipe terminara o torneio nacional em 11º. Sete meses depois, ele assombra a Europa ao conquistar três títulos (Supertaça de Portugal, Campeonato Português, de forma invicta, e a Europa League) depois de reconstruir o Porto, terceiro colocado do nacional em 2009/10 e relegado à competição secundária europeia, enquanto Benfica e Braga foram à Champions.

Uma realidade entre os técnicos da nova safra, Villas-Boas é chamado de "novo Mourinho". É ainda mais que isso. O próprio já declarou ter as características de Bobby Robson, com os ensinamentos e táticas do mentor Mourinho e com a mentalidade de jogo mais semelhante à Guardiola, do Barcelona. Mesmo com a debilidade do Campeonato Português ou com uma secundária Europa League, o novo comandante tem números impressionantes nesta temporada: perdeu apenas quatro jogos dos 57 em que comandou os Dragões (com cinco empates), com 144 gols marcados e apenas 38 sofridos. Na liga lusitana, foram 21 pontos à frente do Benfica, campeão da temporada passada. E o Porto tinha praticamente o mesmo time que fracassou nas mãos do treinador anterior, Jesualdo Ferreira. Capitaneada pelo goleiro brasileiro Hélton, a defesa é consistente. O ataque, municiado pelo jovem Guarín e o regular João Moutinho, tinha o tridente Cristian Rodríguez-Falcao-Hulk, que desandou a fazer gols. A mudança, acima de tudo, foi de mentalidade.

Oriundo de uma família nobre em Portugal – Luís André Pina Cabral Villas-Boas é bisneto de José Gerardo Coelho Vieira Pinto do Vale Peixoto de Villas-Boas, o primeiro visconde de Guilhomil, título dado pelo rei D. Carlos I, em 1890 – engana-se que tal condição foi primordial para que ele galgasse seus primeiros degraus no futebol. Mas certamente, o destino estendeu sua mão, tal como sempre faz aos que se esforçam e são competentes.

Com avó de ascendência inglesa, já dominava o idioma aos 16 anos, época em que morava no mesmo prédio que Bobby Robson, então técnico do Porto, em 1994. Inconformado por ver seu ídolo, o atacante Domingos Paciência (263 jogos e 106 gols pelo clube, entre 1987-1997 e 1999-2001) fora da equipe, o jovem André não se limitou a "cornetar" o inglês, como a maioria da torcida e imprensa faria, após encontrá-lo no elevador e interpelar: "Mister, porque não joga Domingos?". Ele escreveu uma carta e a postou na caixa de correio do treinador e provou, por meio de estatísticas e argumentos, como usar o avante com maior eficiência em campo. Robson se impressionou e logo incumbiu o garoto de levantar estatísticas dos futuros adversários portistas para ele. Era o pontapé inicial.

Com Robson e o então auxiliar Mourinho, Villas-Boas ganhou o incentivo para aprimorar suas aptidões em um curso para técnicos na Inglaterra e outro com a chancela da Uefa. Tudo isso com apenas 17 anos. Sua primeira chance como técnico veio aos 21, quando treinou a seleção nacional das Ilhas Virgens Britânicas por 18 meses, até ser demitido após derrota acachapante para Tonga, por 9 a 0. Ele só revelou sua idade aos cartolas da equipe da Oceania quando foi embora.

De volta a Portugal, passou a treinar as categorias de base do Porto até a chegada de Mourinho, já como tecnico principal da equipe, em 2002. Reconhecendo o talentoso pupilo no retorno ao país, logo o alçou a auxiliar técnico e o incumbiu de ser seus "olhos e ouvidos". André analisava minúcias dos rivais portistas e sugeria contratações. Com Mourinho, foi campeão da Champions League 2003/04 pelo clube lusitano. "Fiel escudeiro", rumou com o segundo mentor para o Chelsea e a Inter, de onde saiu antes do título europeu de 2009/10 para assumir o desafio da então lanterna Acadêmica.

"Tenho mais de Robson do que de Mourinho. Tenho descendência inglesa e gosto de beber vinho. Se fala com frequência da minha juventude e a única forma de calar as críticas é conseguindo muitas vitórias", declarou o consciente Villas-Boas ao site espanhol La Vanguardia. E, por ora, o técnico conseguiu o título europeu ao Porto, além da conquista da Liga Sagres de forma invicta, fato que não acontecia há 39 anos, desde o Benfica de 1972/73. Parece que o Porto já ficou pequeno demais para este "aristocrata" do banco de reservas.

18.5.11

Os bons, os maus e os vencedores

Juliano Haus Belletti é um cara de sorte. Sorte porque é um jogador que realizou o sonho de muitos de nós que adoramos o futebol quando pequenos – bons, medianos e ruins –, que é vencer na vida com a bola nos pés. Volante de origem, foi convocado muito cedo por Zagallo para a seleção brasileira, em 1995. Envolvido em um troca com o São Paulo, ficou conhecido pela versatilidade no clube do Morumbi. Ainda assim, esteve longe de ser um ídolo ou um protagonista por lá, como o seu parceiro Serginho (jogador que também foi envolvido com o Cruzeiro na troca com o Tricolor). Acabaria marcado, como muitos da sua geração, naquele time que chegava em quase todas as decisões, mas não engrenava.

Longe de ser um primor técnico, Belletti viveria seu momento como protagonista fora de sua posição. E jogando bem. Com a camisa 10 e atuando como um autêntico armador, foi um dos destaques do Atlético-MG vice-campeão brasileiro de 1999, que acabaria derrotado pelo Corinthians na final. Inclusive, esteve na seleção da Revista Placar daquela temporada e levou a tradicional Bola de Prata, tal foi seu bom futebol.

Após o retorno para o São Paulo, acabou no Villarreal, em 2002. Já como um lateral aplicado acabou, esteve por dois anos no crescente Submarino Amarillo e foi contratado para o Barcelona de Ronaldinho, Deco, Xavi, Puyol e companhia. Seguia alternando entre a titularidade e o banco, mas converteu-se em uma peça útil no esquema de Frank Rijkaard, revezando posição com Oleguer.

Depois da titularidade e da 10 do Galo, a simplicidade e a discrição da 2 do Barça. Jogador avesso a polêmicas e preferido dos técnicos pelo empenho nos treinos, estava sempre pronto a ajudar. E no Stade de France, em Paris – mesmo local que negou o protagonismo para Ronaldo Fenômeno, na final da Copa do Mundo da França, em 1998 – concedeu ao polivalente lateral um lugar cativo na história do Barcelona, um dos maiores clubes do planeta. A final da Champions League de 2005/06, contra o ótimo Arsenal dirigido por Arsène Wenger, era dura. Mesmo com os ingleses com um atleta a menos (Lehmann foi expulso por falta em Eto'o), a peleja estava igual por um gol. Aos 26 minutos da etapa final, ele estava em campo. Dez minutos depois, a batida forte e que tocou no arqueiro reserva Almunia e entrou no gol o elevou a condição de herói catalão para a eternidade. Em meio aos talentosos blaugranas e com direito a um mágico Ronaldinho no auge de sua forma física e técnica, coube a um "operário da bola" devolver o Barça ao topo da Europa, após 14 anos fora dos holofotes continentais.

Cinco anos após o feito histórico do dia 17 de maio de 2006, Belletti ainda é ovacionado pelo seu ex-clube, como deveria ser com os ídolos nacionais. "A lateral direita é uma posição em que o jogador se sacrifica, não aparece muito, não faz muitos gols mas, por causa desse gol, serei sempre lembrado e estou na história do Barça", disse o jogador ao Globoesporte.com. Além do gol histórico, a imagem marcante daquela decisão é a do lateral caminhando pelo campo vazio, poucas horas após o título. Momento de saber o que ele era e o que ele havia se tornado pelo feito que acabara de proporcionar.

Aos 34 anos e recentemente dispensado do Fluminense – após período consistente, mas longe do protagonismo no Chelsea(2007-2010) –, o jogador ainda esta à procura de um clube. Independente de seu destino, ele sabe que os deuses do futebol não reservam os louros somente aos craques. O esforço dos mortais também tem sua compensação. E Belletti é a prova cabal disso.

9.5.11

A vingança de Zé Sérgio*

*Publicado originalmente na rede de jornais BOM DIA de domingo (8 de maio)

Sem títulos de expressão desde o Paulistão de 1978, a diretoria do Santos queria montar uma equipe forte para a conquista do estadual e fugir do jejum, que já durava seis anos até a partida decisiva contra o Timão, em 1984.

Mesmo com a motivação extra que inflava o Peixe pouco antes daquele dia 2 de dezembro, um recém-chegado daquele elenco, em especial, tinha um forte motivo para vencer o Corinthians, adversário daquela última rodada do Paulistão. Para ser tricampeão, bastava ao Timão derrotar o Peixe no Morumbi e ultrapassar o rival na tabela dos pontos corridos. E isso significaria ao ponta-esquerda Zé Sérgio ser “tri-vice” do estadual, justamente para o rival daquela tarde. “Joguei em 82 e 83 [as finais contra o Timão, pelo São Paulo], mas eu não estava 100% fisicamente”, justifica o ex-atleta.

Zé Sérgio começou a carreira no São Paulo, em 1976, apresentado pelo seu primo, ninguém menos que o meia Roberto Rivellino. E pelo Tricolor, o habilidoso ponta foi campeão brasileiro em 1977 e bi do Paulistão em 1980/81. Mesmo com pouca experiência na seleção, foi convocado por Coutinho para o Mundial da Argentina, em 1978. Dono de uma habilidade peculiar na faixa esquerda do campo, que enlouquecia seus marcadores, foi atestado pela imprensa esportiva da época como “um dos jogadores mais caçados do futebol brasileiro". Por isso, no início dos anos 80, ele acabaria sofrendo uma série de lesões, que culminariam com a perda de um lugar na seleção brasileira de Telê Santana na Copa de 1982, na Espanha.

Sem espaço no Morumbi por conta de seguidas lesões, o ponta reforçou a equipe do técnico Castilho. Com 27 anos à época, ele chegou ao lado do meia Humberto na Vila. Ambos foram trocados pelo São Paulo, que recebeu o meia Pita. E, ao lado do consagrado goleiro uruguaio Rodolfo Rodríguez – também contratado naquela temporada –, os reforços se aliaram a nomes como os meias Paulo Isidoro e Lino, além do matador Serginho Chulapa.


Zé Sérgio (penúltimo agachado, à dir.): revonação na carreira


O gol de Chulapa, aos 27 do segundo tempo, colocou fim à angústia do torcedor santista. E a de Zé Sérgio também, ao recomeçar a carreira e chutar de lado o estigma recente de freguês do Timão. O ponta iniciou a jogada no lado esquerdo e fintou dois marcadores antes de passar para Humberto, que cruzou a bola para Serginho apenas escorar ao gol vazio de Carlos. “Foi bom para dar um erguida no moral. Um prêmio pelos problemas que eu tive. O título ajudou e prolongar a minha carreira”, disse Zé Sérgio, que ficou na Vila por mais dois anos, antes de rumar ao Vasco, em 1986. Depois, encerraria a carreira no futebol japonês, em 1991. Atualmente, ele tem uma escolinha de futebol na cidade de Vinhedo e é um dos técnicos das categorias de base do Tricolor.

crédito das imagens: Santistas Loucos

7.5.11

Bonde do Mengão tem freio

Um Fluminense com a cabeça na Libertadores, um Vasco que fez boas contratações, mas ainda está se reestruturando e um Botafogo enfraquecido pela saída de Joel Santana – que tirava leite de pedra com o elenco que tinha, como mostrou o sexto lugar no último Brasileirão. Os trilhos estavam livres para a passagem do Flamengo, campeão invicto do Campeonato Carioca e apelidado de "bonde sem freio", pelo feito, difícil sob qualquer circunstância. Mas a equipe está longe de estar entre as melhores do futebol atual, mesmo do meio-campo em diante. E o ataque sofre com a má fase de Deivid. Além disso, a grande contratação/repatriação do futebol brasileiro nesta temporada ainda não deu nem pistas do seu futebol de outrora: Ronaldinho Gaúcho emperra o bonde.

Os 20 mil fanáticos que foram à Gavea recepcionar a estrela não imaginavam uma readaptação tão discreta. Mesmo Adriano, quando voltou ao Brasil e com todos os problemas de comportamento, conseguiu se sobressair no Brasileirão de 2010. E Gaúcho foi mais nome do que bola no 32º carioca do Fla. Atuando primordialmente como primeiro atacante, o camisa 10 fez apenas quatro gols (mesmo número do reserva-talismã Wanderley e um a menos do que Deivid, que flertou várias vezes com a reserva por conta da má fase, que se arrasta desde que chegou ao clube, em 2010). Na armação de jogadas e no passe, outra forte característica em sua carreira na Europa, foi o terceiro pior passador do Carioca, com 77 passes errados ao todo, uma das piores médias por jogo do torneio. Foi um dos maiores dribladores, é verdade. mas nada que resultasse em jogadas fabulosas ou gols decisivos, como antes.

No jogo diante do Ceará, pela ida das quartas de final da Copa do Brasil, os rubro-negros foram surpreendidos em pleno Engenhão, por 2 a 1. E Ronaldinho já ouviu as primeiras vaias da torcida, insatisfeira com o rendimento fraco em mais uma partida. Muito festejado até então, o atacante já vê a paciência das arquibancadas se esgotar. No estadual, foi mero coadjuvante na caminhada de brilhos nos clássicos, a cargo do goleiro Felipe (estrela nas cobranças de pênaltis contra Botafogo, Fluminense e Vasco), do incansável Willians e do verdadeiro fator de desequilíbrio da equipe, o bom, incisivo e goleador meia Thiago Neves.

Se Gaúcho não consegue nem brilhar nem em um Campeonato como o Carioca, muito díspar na relação entre grandes/pequenos, o que esperar dele no Brasileirão? Com 31 anos, aparentemente em boa ordem física e "motivado" pelo cenário exuberante da Cidade Maravilhosa, muitos já veem esta fase como o declínio em sua carreira. O camisa 10 terá o torneio nacional para provar que eu (e muitos outros por aí) esteja errado e que ainda possa sair algum momento genial dali. Ele pode e o nível de defensores do Brasileirão permite esse gás a mais. Depende tão e exclusivamente dele.

2.5.11

Sucesso bósnio ou alemão?

*Redigida originalmente para a seção "Fique de Olho", do Olheiros (@olheiros)

Imagine um jovem talento do futebol de apenas 16 anos que já precisa tomar diversas decisões de qual rumo sua carreira vai seguir, além de ter o futebol comparado ao do maior ídolo de seu país natal. São alguns dos dilemas que se passam na mente do atacante Almir Kasumovic, uma das mais novas sensações do futebol bósnio.

Nascido em meio à Guerra da Bósnia – que aconteceu na esteira de dissolução da Iugoslávia entre abril de 1992 e dezembro de 1995 – o atacante teve toda a sua formação futebolística na Alemanha, onde defende o Hannover 96, que atualmente briga por uma inédita vaga na história do clube para a próxima UCL. Por lá, ele é taxado como o “novo Dzeko”, campeão alemão com o Wolfsburg em 2008/09 e que foi comprado recentemente pelo Manchester City por 42 milhões de euros. Inglaterra que também pode ser um dos destinos de seu futuro.

Entre comparações e a cobiça de times maiores da Alemanha e gigantes ingleses como o Arsenal e o Chelsea (que costuma investir na contratação de diversos talentos oriundos do Leste Europeu), Kasumovic tem opções de se espelhar em compatriotas do próprio futebol alemão como o meia Marko Marin (sérvio, que defende a Alemanha), o atacante Zvjezdan Misimovic (alemão, que defende a seleção bósnia) ou Sehad Salihovic e Vedad Ibisevic, como exemplos recentes de sucesso na Alemanha. Resta saber se sua lealdade penderá para a Bósnia-Herzegovina natal ou pela casa de adoção, a Alemanha.

Talento “em promoção”

Boa parte da Alemanha já conhece os feitos do atacante bósnio de 1,82m, atacante de muita técnica que sabe atuar tanto como o clássico centroavante de referência, quanto um avante de movimentação e que abre espaços aos companheiros. Além da técnica, os olheiros mais atentos ao atleta dizem que seu jogo aéreo e o senso de posicionamento é muito apurado, o que reforça as comparações com o “diamante bósnio”, alcunha dada ao camisa 10 do Manchester City.

Se a coincidência de estar no lugar certo e na hora certa faz parte da carreira de boa parte dos jogadores, a precocidade com que os fatos ocorreram na breve carreira de Kasumovic impressionam e mostram que a aposta em seu desenvolvimento vem cercado de grande expectativa.

Perto de completar 17 anos em junho próximo, o atacante estreou pelo time sub-17 do Hannover com apenas 14 anos, em março de 2009. Oito jogos e cinco gols depois, ele já alinhava pelo sub-19, do qual virou figura constante. Até o momento de redação deste texto, eram 18 jogos nesta categoria, com seis gols. Se a marca não aparenta ser tão expressiva, é preciso lembrar que ele vem ganhando espaço na equipe principal, sendo testado entre titular e opção do banco numa equipe de jogadores primordialmente mais experientes que ele.

Tanto destaque chamou a atenção de clubes locais, como o Hamburgo e o Hoffenheim. Porém, Kasumovic surgiu com destaque na imprensa europeia ao ser noticiado um possível interesse da dupla londrina Arsenal e Chelsea. Se o primeiro é conhecido pelo tato no recrutamento e desenvolvimento aos jovens talentos, graças ao rtabalho do técnico Arsène Wenger, o segundo já possui alguns jogadores oriundos da ex-Iugoslávia em seu elenco principal e nas categorias de base, como o zagueiro Branislav Ivanovic e os jovens Slobodan Rajkovic e Milan Lalkovic (todos sérvios), além do goleiro croata Matej Delac. Além disso, os tablóides noticiaram a atenção dada pelo técnico Carlo Ancelotti, que vem observando a progressão do aspirante a craque.

Aumentando as especulações, há o fato de seu vínculo com o Hannover ser válido até o próximo dia 30 de junho, quando o jogador já terá 17 anos completos e poderá rubricar seu primeiro contrato como profissional. Ou seja, os valores envolvidos para uma eventual troca de clube seriam relativamente baixas – mesmo com a decisão de um possível ressarcimento aos alemães determinados via Justiça, caso as partes não entrem em acordo. Porém, o agente do jogador, Jan Dreyer, disse ao diário Bild que a prioridade e o desejo do jogador é ficar em seu atual time. E o próprio Kasumovic ratificou esse desejo, em entrevista concedida ao site Transfermarkt.

“Hannover é definitivamente o meu primeiro contato. Jogo lá desde o sub-14 e sempre tive muito incentivo dos treinadores do clube. Hannover é a minha casa e tenho minha família e meus amigos lá. Mas é como diz o ditado: ‘nunca diga nunca’”, cravou, ciente que a possibilidade de vestir outra camisa existe.

Entre os grandes

Não é só no Hannover que os passos dados pelo atacante parecem largos. A boa fase do Hannover na Bundesliga somada às performances do garoto na base fizeram com o técnico Mirko Slomka, da equipe principal, o convidasse para treinar recentemente com o time de cima.

Pela seleção bósnia, o garoto de 16 anos já esteve com a equipe sub-21, fato que mostra que os dirigentes da federação bósnia têm muito interesse de que ele defenda os Zmajevi. O próprio atleta já declarou que já havia sido contatado para ratificar tal escolha, em detrimento da Alemanha. Porém, a dupla nacionalidade pode fazer com que ele ainda possa optar pela seleção tricampeã mundial em um futuro próximo.

“Cada garoto que quer se tornar um jogador profissional e é claro que quer ter a sensação de defender seu país. Seria uma honra para mim se eu pudesse defender a Bósnia e eu adoraria fazê-lo. Mas se, por exemplo, bater a Federação Alemã de Futebol me contatar, eu não diria que não (aceitaria). A geração jovem sempre foi muito bem aproveitada e o time é um dos melhores do mundo”, declarou.

Espelhando-se em Dzeko, com o qual é imediatamente comparado, Kasumovic pode tentar seguir os passos de seu ídolo e modelo. Ou se aproveitar do sucesso da nova geração germânica do técnico Joachim Löw, evidenciada na juventude de Özil, Khedira e Müller, que brilharam com o terceiro lugar na Copa do Mundo de 2010 e que já se fortalecer com novas caras como Marko Marin, que representam os novos destaques do futebol alemão, que alia a velha tradição e a eficiência com a miscelânea e as origens cosmopolitas de vários jogadores da atualidade.

Ficha técnica

Nome completo: Almir Kasumovic
Data de nascimento:
03/06/1994
Local de nascimento:
Bósnia e Herzegovina
Clube que defendeu:
Hannover 96
Seleção que defendeu: Bósnia sub-21