22.6.11

Fênix Celeste*

*Publicada originalmente pela rede de jornais BOM DIA em 22 de junho de 2011

Primeiro campeão sul-americano (1916) e mundial (1930), o Uruguai adormeceu. Após a derrota para o Brasil na semifinal da Copa de 1970, no México, poucos resultados de expressão sucederam um período de ostracismo nas décadas seguintes. Até que veio o ano de 2010 e coroou a ressurreição da Celeste. O técnico Oscar Tabárez – que assumiu o comando da equipe em 2006, após não obter a vaga para o Mundial da Alemanha – levou a Celeste ao quarto lugar na Copa da África do Sul, acima dos eternos rivais Brasil e Argentina. E o melhor jogador do torneio foi um uruguaio: o atacante Diego Forlán.

Neste ano, a equipe sub-20, também sob a batuta de Tabárez, garantiu a volta do futebol à Olimpíada depois de 84 anos de sua última participação, no bicampeonato olímpico em 1928, em Amsterdã (Holanda). Para o ex-jogador Darío Pereyra, El Maestro (O Professor, em espanhol) tem grande parte dos créditos da volta uruguaia aos holofotes. “Ele tem grande experiência e conhece muito o futebol uruguaio”, afirmou o ídolo do São Paulo, pelo qual atuou 11 anos (1977 a 1988).

Darío, que disputou a Copa de 1986 pela Celeste, relembra que o país sempre produziu bons jogadores, mesmo com recursos escassos, pouco populoso (cerca de 3,5 mi de habitantes) e de território quase igual ao do estado do Paraná. “O Uruguai sempre trabalhou bem na base, mesmo com limitações de dinheiro. Você vê que os centros de treinamentos de lá não são como os daqui [Brasil]”, compara.

Na opinião do jornalista Luís Augusto Símon, autor do livro “Tricolor Celeste” – que conta a história de jogadores uruguaios que brilharam com a camisa do São Paulo – os bicampeões mundiais voltaram às origens. “O Uruguai voltou a jogar um futebol bonito. Tem um mito de que o futebol de lá só tem raça. Quando foi campeão em 1950 [sobre o Brasil], era um time muito bom com Ghiggia e Schiaffino. Os brasileiros usaram só a raça uruguaia para justificar a derrota”, explicou. Símon também aponta o surgimento de novos valores da base, como os atacantes Edinson Cavani (Napoli) e Luís Suárez (Liverpool) para a guinada Celeste, que pode ser confirmada nesta Copa América, na Argentina. “As distâncias [para Brasil e Argentina] dimunuíram e o Uruguai pode sim ganhar a Copa América.”

Despertar do Peñarol, de Aguirre

Autor do gol que deu o quinto título do Peñarol na Libertadores em 1987, sobre o América de Cali-COL, Diego Aguirre se inspirou no banco de reservas para levar o terceiro maior campeão sul-americano de volta a uma decisão após 24 anos. O técnico era atacante daquela equipe, treinada por Oscar Tabárez . Em sua segunda passagem pelo Peñarol, La Fiera (A Fera, em espanhol) assumiu o clube em 2010 com 10 pontos de desvantagem para o arquirrival Nacional. E o ídolo reverteu o quadro, levando a equipe Carbonera ao título uruguaio.

“O futebol é incrível e isso fez muito bem ao futebol do Uruguai, além do Peñarol. Porque esta é uma notável contribuição para o futebol uruguaio. É impressionante para as equipes jovens e uma maneira para eles acreditarem novamente”, disse o técnico ao periódico local “El Observador”.

Aguirre vê relação o momento do Peñarol com o resgate da seleção uruguaia. “A Copa do Mundo foi um gatilho que gerou coisas parecidas. Mas isso despertou um sentimento muito especial de propriedade. Até o torcedor do Nacional aplaudiu nossos êxitos, e para isso, devem ter coragem para admiti-lo, pela rivalidade que nos divide. Isso nos faz acreditar que estando em uma equipe uruguaia, tudo é possível.”

21.6.11

Futebol sem moral

POR VERÔNICA LIMA

Gosto de acompanhar futebol, confesso que um certo sentimento de vingar todas as mulheres quando fico a par de campeonatos, atuações de jogadores, escalações, crítica a cartolas. Futebol também é coisa de "menininha". Ou mulheres como eu dispensam esse adjetivo. No entanto, ando meio sem tempo para os campeonatos. Mas desconfio que não é só isso o que afasta minha atenção dos gramados.

Percebo que, como em outras esferas da vida, o futebol tem se tornado cada vez mais moralista. E, nesse caso, o moralismo não se aproxima nem um pouco do que poderíamos chamar de ética desportiva, esta sim total e necessariamente defensável.

Nesta semana, fiquei sabendo da decisão da Uefa de suspender por duas partidas os jogadores que forçarem um terceiro cartão amarelo para espantar o fantasma do risco de estar fora de jogos decisivos. Aparentemente ética, a decisão é de um moralismo que beira o bom-mocismo. Que fique claro: condeno toda e qualquer atitude violenta dentro dos campos, gosto do dito "jogo jogado", da malemolência que escapa das faltas frequentemente dignas de futebol americano. Mas a Uefa forçou a barra: qual é a fronteira que separa a famosa malandragem da raça de jogo, da vontade de ganhar ou mesmo da cabeça quente típica dos pré-momentos-decisivos do campeonato. E mais: onde fica a autonomia do juiz, autoridade soberana no retângulo mágico do gramado?

A impressão é que cada vez mais se esquece da essência lúdica do futebol, não apenas em nome do chamado "mercado da bola", mas também em nome de um moralismo que resulta em jogadores (e jogadas) cada vez mais previsíveis, em campeonatos cada vez menos emocionantes, em juízes cada vez mais pasteurizados e sem características pessoais. Até as comemorações de gols feitas pelos craques estão cada vez mais entediantes – vide, por exemplo, a tal dancinha ridícula inventada pela Globo a partir de um imbecil personagem, o João Sorrisão.

Foi-se a fascinante característica que o futebol trazia de ser decidido ali, dentro de campo, nos 90 minutos suados, tempo de unhas roídas, de corações apertados, de gritos, risos, palavrões, xingamentos. Enfim, paixão. Simplesmente pelo prazer de torcer, de ver a arte de controle da bola, a magia de balançar a rede.

E não se trata de nostalgia. Só cansei de ver os jogos serem decididos fora de campo.

19.6.11

River de lágrimas

Talento da nova geração, Lamela não conseguiu ajudar o River a escapar da vergonha da Promoción

O que parecia soar absurdo há três Campeonatos Argentinos atrás, quando o River foi campeão, aconteceu. O maior campeão nacional da história do país está à beira do momento mais negro de sua história: o rebaixamento para a segunda divisão, mesmo com o regulamento do promédio (implantado a partir de 1982, para salvar a queda do próprio River). O aproveitamento pífio de 41% de pontos nos 114 jogos das últimas três temporadas culminaria na derrota em casa, neste sábado, diante do Lanús, que sacramentou os Millionarios à Promoción, contra o modesto Belgrano. Apesar de jogar por dois placares iguais, a equipe está abalada psicologicamente.

A imprensa argentina, de modo geral, não culpa apenas o atual elenco do River. As várias más contratações e a passagem de cinco treinadores diferentes neste período foram postas na conta dos presidentes José Maria Aguilar e Daniel Passarella (um dos ídolos do clube, na época de atleta), principalmente o primeiro, que deixou ao sucessor um clube endividado em quase 10 milhões de reais. Sem dinheiro para fazer grandes investimentos, o time dentro de campo também refletia um pouco deste conturbado momento administrativo. E dos chamados cinco grandes da Argentina (Boca Juniors, Independiente, Racing, River Plate e San Lorenzo de Almagro), apenas Xeneizes e Rojos e os Millionarios (até aqui)não passaram pela humilhação de disputar a Nacional B.

Nos últimos anos, os torcedores brasileiros viram vários de seus grandes clubes caírem para a segunda divisão, após uma má temporada. Mas o sistema dos nossos vizinhos é desfavorável aos recém-promovidos e aos times. A formula, basicamente, consiste no cálculo da média dos três últimos campeonatos pelo número de partidas realizadas, contra os 38 jogos dos novatos no Apertura e Clausura, obrigando-os a fazer boa figura nos torneios seguintes para que não retornem ao ostracismo da divisão de acesso.

A eminente queda de um grande mostra uma sucessão de erros, imperdoável a um gigante como o River, um elenco que amontoa jovens talentos (Lamela, Buonanotte e os irmãos Funes Mori, por exemplo) a diversos jogadores experientes, longe de seu melhor momento na carreira (Ferrari, Almeyda, Ferrero), além do irregular goleiro Carrizzo, entre outras contratações, repatriamentos e escolhas equivocadas.

O destino de 110 anos de história e 33 títulos argentinos passa por Córdoba. Mas o maior inimigo do River não é o Belgrano. É o próprio River.

14.6.11

O gol como presente

Empilhadeiras dão a Palermo a meta vazada por ele inúmeras vezes na Bombonera

No último domingo, a Bombonera deu adeus a um dos seus maiores ídolos na história. Apesar de não ser nenhum primor técnico como atleta, Martín Palermo sabia, como ninguém, a arte de marcar gols com a mítica camisa Xeneize: dos 297 de sua carreira, 235 foram pelo Boca (é o maior artilheiro da história do clube), com 124 deles marcados na casa boquense. Nada mais justo, após a partida contra o Banfield, que lhe dessem a baliza do estádio de presente, que ele conhece tão bem. Fora toda a festa feita, digna de Fenômeno. Que teve um adeus merecido, é verdade. Mas centrado demais às toneladas de elogios feitos por Galvão Bueno nos 15 minutos em que o eterno camisa 9 brasileiro jogou contra a Romênia. E uma festa pouco planejada no intervalo. Se tivesse visto a festa feita para El Loco, poderiam ter repensado tudo e o homenageado com mais estilo.

Por muito tempo, Palermo ficou marcado para os brasileiros como o homem que desperdiçou três pênaltis na Copa América de 1999, contra a Colômbia. Ainda assim, mais de dez anos depois, os deuses do futebol lhe deram a oportunidade de pagar tal dívida, com o gol nas Eliminatórias da Copa, diante do Peru, que manteve vivas as chances da Albiceleste ir ao Mundial da África do Sul, para o qual acabou classificada. E o Titán teve oportunidade de disputar a única Copa de sua carreira. E ser muito festejado, ao marcar o gol contra a Grécia.

O DNA de Palermo foi feito para que ele só brilhasse pelo Boca. Revelado pelo Estudiantes de La Plata, o matador teve passagem discretíssima pelo futebol espanhol (Villarreal, Betis e Alavés). Mas é veneradíssimo. Tanto que torcedores do Boca se mobilizam em um site para que a prefeitura de Buenos Aires crie o dia de San Palermo: 24 de maio (que remete ao "gol de muletas" contra o River Plate, em 2000, quando o camisa nove fez o gol com a perna contundida), 22 de junho (data do único gol de Palermo em Copas do Mundo, em 2010, contra a Grécia) ou 10 de outubro (data do gol que manteve o sonho de classificação da Argentina vivo, nas Eliminatórias Sul-Americanas, em 2009).

Tive a oportunidade de ver esse fanatismo de perto, na única vez em que estive na Bombonera. Riquelme era o maestro que joga com a cabeça erguida, enquanto Palermo tinha dificuldades em jogar com a bola dominada. Mas que se transformava quando surgia a possibilidade de marcar gols. Ambos são venerados igualmente. Ao todo, o Titán venceu com o Boca seis Campeonatos Argentinos, duas Copas Libertadores e um Mundial de Clubes, decidindo a final contra o temido Real Madrid. Mas ele não é ídolo pelos títulos.

O fenômeno de Palermo é cada vez mais raro: a identificação genuína com um clube e sua torcida. Um otimista do gol, como é conhecido. O futebol precisa de mais jogadores goleadores, caneleiros e que trazem paixão ao futebol, como Palermo.


11.6.11

Quero ser um Barcelona

Que o Barcelona é o time com o qual todos sonham atualmente, não há dúvidas. Todo mundo que admira o belo futebol dos comandados de Pep Guardiola gostaria, no fundo, que a equipe reverenciada mundialmente fosse a sua de coração. Se existisse um Barça na prateleira, seria o objeto de consumo mais cobiçado. O papo mercadológico, que soa absurdo, é, de certa forma, uma das metas do mais novo rico que resolveu despejar caminhões de dinheiro em um clube de futebol: o sheikh Abdullah ben Nasser Al-Thani, pertencente à família real do Qatar, vice-presidente do Doha Bank, membro das diretorias do Al-Rayyan (clube do técnico brasileiro Paulo Autuori) e da Federação Equestre do Qatar. Em junho de 2010, ele comprou o modesto Málaga, da Espanha, por 36 milhões de euros (R$ 81 milhões).

O dono de hotéis, shopping centers, empresas de telefonia móvel e concessionárias de veículos, com mais de 3000 empregados e com seus interesses chegando a 30 países distintos chegou na Espanha com discursos não muito diferentes de Roman Abramovich (russo proprietário do Chelsea ou Khaldoon Al-Mubarak (árabe que assumiu o comando do Manchester City): levar Los Boquerones às cabeças do futebol espanhol, que possui um abismo entre os poderosos Barcelona e Real Madrid para os outros times da elite do país. O Málaga quer seguir o exemplo de Sevilla e Villarreal, que ganharam mais status nos últimos anos. Movidos a muito dinheiro.

Contudo, o plano de Al-Thani quase foi postergado em uma temporada. A equipe da Andaluzia flertou boa parte de La Liga com a zona de rebaixamento. Inclusive, demitindo o primeiro técnico da nova era do clube, o português Jesualdo Ferreira, multicampeão com o Porto. Com a contratação do chileno Manuel Pellegrini – um dos responsáveis pela ascensão do Villarreal, mas que havia fracassado com o galáctico Real – e a vinda de reforços (o principal deles foi o brasileiro Júlio Baptista, com 11 jogos e nove gols), a equipe se salvou e conseguiu ficar na 11ª posição da liga nacional.

Com a salvação, o qatari anunciou o seu segundo (e ousado) grande passo na reformulação do clube: copiar o Barcelona. Além da bolada de R$ 225 milhões para a vinda de novos reforços, o sheikh fechou um acordo com a Nike, pagando para a empresa estadunidense fabricar seus uniformes, e não o contrário. Essa é a mesma Nike que patrocina os catalães desde 1998 e pagam cerca de 30 milhões de euros/temporada para fabricar material esportivo do clube. No patrocínio principal do clube, está a logomarca da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), órgão ao qual Al-Thani doará 1,5 milhões de euros/ano para divulgá-la em seu uniforme. Semelhante ao acordo entre Barcelona e Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Só que com o endividamento do clube, a entidade da ONU perdeu o principal espaço em seu fardamento para a Qatar Foundation, primeiro patrocínio comercializado na história do clube.

O novo dono do Málaga também promete um estádio novo, para 65 mil pessoas, além de investimentos maciços nas categorias de base (canteras) da agremiação – oito dos atuais 11 titulares do Barça são formados em La Masia, local de formação de atletas blaugranas. E os torcedores andaluzes andam eufóricos, com a comercialização de quase a metade dos 25 mil carnês para a temporada 2011/12 e lotando o acanhado estádio de La Rosaleda para receber o veterano Ruud Van Nistelrooy, primeiro grande reforço da equipe após o final do campeonato.

Claro que muitos dos preceitos do Barcelona passam longe de simplesmente a injeção de verbas, já que muitas das características históricas do clube são intimamente ligadas à luta para o reconhecimento e o orgulho da cultura da Catalunha. Mas é curioso o fato de Al Thani não querer que o Málaga seja “o novo Chelsea”. O patamar de “novo Barça” é ainda mais inalcançável. É tempo de saber por quanto tempo o sheikh vai aguentar brincar com a sua nova aquisição. E se a onde de "quero ser um Barcelona" contagiará aos futuros novos ricos que vão se aventurar com o futebol.

4.6.11

Título de segunda, base de primeira

Redigido originamente para a seção "Meninos ganham campeonatos", do Olheiros (@olheiros)

O Coritiba que assombrou o Brasil ao conquistar o Campeonato Paranaense deste ano de forma invicta (coroando o bi estadual) e emplacar recorde de 24 vitórias seguidas – quebrando a marca do fabuloso Palmeiras de 1996 – consagrou dois jogadores, em especial: o goleiro Édson Bastos e o zagueiro Jéci. Ambos presentes no início do ressurgimento recente do Coxa, obtido a partir do título da Série B do Brasileirão, em 2007.

Mas ao contrário do bom time montado pelo técnico Marcelo Oliveira desde o ano passado e que também conquistou o título da Segundona, o Coritiba de quatro temporadas atrás tinha uma espinha dorsal totalmente formada em casa. O zagueiro Henrique, os meias Pedro Ken e Marlos, e o então promissor Keirrison, entre outros, foram primordiais para levar o clube à elite do futebol nacional, sob a batuta de René Simões.

Guinada graças à base

Maior campeão paranaense, o Coritiba amargava seca por novas conquistas. Após o ótimo quinto lugar no Brasileirão de 2003 e o título estadual de 2004, os Alviverdes estavam há três anos sem uma taça nova em sua estante. O irregular

terceiro lugar do Paranaense – eliminado pelo surpreendente campeão Paranavaí – não foi suficiente para derrubar o técnico Guilherme Macuglia, que iniciou a jornada daquela Série B. Mas o comandante só resistiria por quatro rodadas no cargo, quando foi demitido após uma derrota para o São Caetano em casa, no início de junho. Sem saber, era ali que começaria a grande reviravolta no clube.

Poucos dias após a queda de Macuglia, a diretoria confirmaria a vinda de René Simões para o cargo. O ex-ídolo do clube e coordenador das categorias de base Dirceu Krüger assumiria como seu auxiliar técnico. Com seu conhecimento sobre a característica dos jovens – alguns já aproveitados por Macuglia desde o início do ano – e a batuta do novo treinador, o Coritiba ganhou impulso rumo ao acesso à elite e ao título.

Coube a Simões mesclar, com eficiência, a experiência de jogadores como o goleiro Édson Bastos, o lateral-direito (muitas vezes, improvisado na zaga) Anderson Lima e o zagueiro Jeci com o sangue novo de Henrique, Pedro Ken e o goleador Keirrison – destaques do Coxa semifinalista da Copa São Paulo de 2006 –, adicionados ao meia Marlos e os atacantes Henrique Dias e Gustavo, opções constantes para o Alviverde. Então com 18 anos, Keirrison terminaria a Série B com 12 gols e a artilharia da equipe. E muitas das chances do K9 vinham dos pés de Pedro Ken, o “japonês”.

Com o acesso garantido a quatro rodadas do fim do torneio, o Coritiba ainda seria campeão daquela Série B. E toda a trajetória, envolvendo elenco, técnico, torcida e bastidores, foram contadas pelo próprio René no livro “Do Caos ao Topo - Uma Odisseia Coxa-Branca” , lançado em 2008.

Sucesso, desmanche e sumiço

As jovens revelações logo virariam objeto de cobiça por parte de clubes de maior porte no Brasil. O primeiro a deixar a capital paranaense foi Henrique, que integrou o Palmeiras campeão paulista de 2008. Vendido por R$ 6 milhões, o defensor ficou apenas quatro meses a mais no Brasil, quando foi levado ao Barcelona por mais de quatro vezes o valor da negociação inicial. Porém, o bom zagueiro ainda não teve chances na equipe catalã e acabou emprestado ao Bayer Leverkusen e ao Racing Santander, onde não alcançou o destaque dos tempos de Coxa.

Cérebro daquela equipe, Pedro Ken ainda seria peça importante na conquista do Paranaense de 2008, mas lesionaria o joelho no Brasileirão do mesmo ano. Voltou aos campos em 2009, mas sem o mesmo brilho do início. Ainda assim, o Cruzeiro pagou R$ 4 milhões por parte de seus direitos. Com poucas chances e com constantes lesões na Toca da Raposa, ele foi liberado pelo time mineiro para jogar, por empréstimo, em outro clube da Série A – provavelmente o recém-promovido Figueirense.

O que mais permaneceu no clube foi Marlos, mas o meia acabou saindo sem render um centavo aos cofres do Coritiba. Outro dos destaques do título estadual de 2008 e habitual na equipe desde então, sua velocidade e habilidade despertaram a cobiça do São Paulo, que esperou o fim de seu contrato para anunciá-lo em transferência livre. Contudo, em dois anos no Tricolor, não é nem sombra do jogador que parecia ser e é constantemente criticado pelo excesso de preciosismo e a má conclusão ao gol.

Sem dúvida, o caso mais emblemático é o de Keirrison. Acostumado a ser matador desde a base do Coritiba, K9 foi o artilheiro do Paranaense 2008, com 18 gols (foi escolhido como o craque do torneio), e um dos marcadores máximos do Brasileirão do mesmo ano, com 21 tentos (ao lado de Kleber Pereira e Washington). O centroavante foi outra aposta da Traffic repassada ao Palmeiras no início de 2009, mas, ficou pouco tempo e foi vendido por 15 milhões de euros, cinco meses depois. A exemplo de Henrique, não jogou uma partida sequer pelos blaugranas, dando início a uma série de empréstimos que o fizeram peregrinar por diversos clubes: Benfica, Fiorentina e Santos, onde segue apenas como uma pálida lembrança do técnico camisa nove que ajudou a subir o Coritiba de patamar.

O Coritiba também acabaria declinando após o acesso à elite em 2007, o título do Campeonato Paranaense de 2008 e a vaga obtida na Copa Sul-Americana, com o nono lugar da Série A. Sem títulos, o clube terminou 2009, ano de seu centenário, de forma triste: rebaixado em casa, com quebra-quebra dos torcedores do Coxa que os afastou por longo tempo do Couto Pereira. Só com Marcelo Oliveira é que o resgate do time à elite começaria novamente. Mas sem o toque caseiro tão marcante, como na última boa safra, em 2007.

Ficha técnica

Clube/seleção: Coritiba
Treinador: René Simões
Competição: Campeonato Brasileiro da Série B
Ano: 2007
Escalação: Edson Bastos; Henrique, Anderson Lima e Jéci; Túlio, Veiga, Pedro Ken, Ricardinho (Marlos) e Fabinho; Keirrison e Gustavo (Henrique Dias)