31.10.10

Natal argentino

O título deste texto é inspirado no relato do jornalista Hernan Amez ao Diário de São Paulo – um dos fundadores da Igreja Maradoniana. Apenas um dos instrumentos que mostram até onde chega a idolatria pela figura mítica de Diego Armando Maradona, o D10s aos olhos dos argentinos.

Não questiono quem foi maior dentro de campo. Mas Maradona é uma figura mais humana, com a qual as pessoas se identificam mais ao ver, do que em relação a Pelé, por exemplo. Pelé é mais respeitado e mitificado, sem dúvidas. Contudo, Maradona, de longe, é muito mais amado pelo seu povo e seus inúmeros admiradores. Pelé é o “politicamente correto”. Maradona faz questão de não ser. El Pibe, além de ser um canhoto genial, é todo coração. Um eterno hincha. Seja em seu camarote na Bombonera, no comando da seleção Albiceleste ou se fosse o presidente da nação. É inconfundível, como mostra a música de Manu Chao, fã confesso do ídolo, "La Vida Tómbola" (letra na íntegra aqui), onde o cantor francês o exalta. Mas sempre colocando o craque em situações cotidianas, no maior estilo "deixa a vida me levar".



Mas para todo amante de futebol, é obrigatório se emocionar com o gol contra a Inglaterra, na Copa de 1986. Copa em que o Diez venceu praticamente sozinho. O gol mais belo de todos os Mundiais, marcado numa partida típicamente maradoniana. O belo tento, enfileirando ingleses, e o gol de mão sobre o goleiro Peter Shilton.

Meio século de sangue, suor, lágrimas e jogadas geniais. E de Natal em dois lugares: em toda a Argentina e em Nápoles. No dia 30 de outubro de 1960, nascia um Messias: Maradona, o Pelé deles.

28.10.10

#serrarojas: quando o futebol entrou no campo político

Na última quinta-feira (21), uma das maiores discussões da sucessão presidencial (creio que só perderndo para a polêmica do aborto) tomou conta do país. O presidenciável José Serra (PSDB) foi atingido na cabeça por um objeto, durante uma campanha feita no Rio de Janeiro. Sem entrar no mérito do que atingiu o pessedebista, o fato virou piada na internet. Com a hashtag #serrarojas, chegou ao Trending Topics mundial do Twitter. Acusado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva de fingir uma agressão contundente, Serra foi comparado ao goleiro chileno Roberto Rojas. Que a essa altura do campeonato, todos sabem de quem se trata. Mas a carreira do chileno se resumiu apenas ao "Maracanazzo chileno"?

Rojas é natural da capital Santiago, começando sua carreira no extinto Deportes Aviación. Mas logo o destaque no modesto clube o levou ao Colo Colo, também da capital, maior e mais vitorioso clube chileno. À época do ocorrido no Rio de Janeiro, já era jogador do São Paulo, no qual chegou em 1987 para a suplência do goleiro Gilmar, do qual roubaria a posição. As boas atuações acabariam por depertar a cobiça de algumas equipes espanholas, à época.

Experiente, Rojas já figurava como uma das principais figuras da La Roja, com a disputa das Eliminatórias para a Copa de 1986 e 1990, além do grande destaque obtido na Copa América de 1987, na Argentina. Melhor goleiro daquele torneio continental, Rojas ajudou a eliminar o Brasil, após uma goleada por 4 a 0, ainda na fase de grupos. Devido a sua agilidade, capacidade de organizar a defesa e a visão de jogo, o arqueiro acabou apelidado de Condor – maior ave de rapina do planeta, conhecida pela visão aguçada e natural da região andina.

O Chile vinha razoavelmente bem nas Eliminatórias para a Copa de 1990, onde figurava no Grupo 3, ao lado de Brasil e Venezuela. Somente o campeão da chave teria vaga para o torneio, sediado na Itália. Com a seleção Vinotinto sendo o grande saco de pancadas daquela disputa, a disputa foi acirrada entre os dois rivais. Contudo, a Seleção foi até Santiago e arrancou um empate em um gol com o time da casa, em jogo que rendeu uma punição ao time anfitrião, por hostilidade da torcida local. A equipe teve que sediar a partida seguinte, diante dos venezuelano, na cidade argentina de Mendoza.

Como tinha saldo de gols melhor, um empate garantia o Brasil, enquanto o Chile precisaria vencer o time – comandado pelo fatídico Sebastião Lazaroni – em pleno Maracanã, com ares de decisão. Porém, Careca tornou a missão chilena mais difícil, ao marcar o gol brasileiro, logo no início do segundo tempo.

Em uma ação premeditada antes do confronto, entre Rojas, o zagueiro Fernando Astengo e o técnico Orlando Aravena, ele tinha uma gilete guardada dentro da luva, onde iria simular uma pedrada dos torcedores e se cortar, para que o Brasil fosse prejudicado e o jogo fosse levado para campo neutro ou que o Chile levasse os pontos da partida. Eis que, aos 24 minutos do 2º tempo, um foguete vindo da arquibancada caiu do lado do arqueiro. Era a deixa que precisava para executar seu plano. E alegando falta de segurança, a equipe visitante abandonou o Maracanã, com Condor saindo carregado e sendo fotografado posteriormente com a cabeça enfaixada. Porém, a farsa foi descoberta poucas horas depois e custou ao Chile a eliminação, além de banir a equipe da disputa seguinta, para a Copa de 1994, nos EUA. Jogadores, médico e o presidente da federação local receberam pesadas suspensões.

Outrora herói, Rojas virou vilão e acabou banido do futebol pela Fifa – punição revogada em 2001, já com Rojas aposentado. Além da mancha para o futebol chileno (a Fifa elegeu o episódio como a pior fraude de sua história), o "caso Rojas" rendeu dois neologismos inusitados em seu país natal: "condorazzo" (relativo a Condor, seu apelido) se incorporou ao vocabulário local como significado de "erro grave" e "desastre". E a atitude de mostrar a genitália aos brasileiros, na saída do campo, executada pelo atacante daquela equipe, Patrício Yañez, ficou conhecida entre os chilenos como "fazer um Pato Yañez".

Renegado, Rojas passou inúmeras dificuldades em seu país, jogando partidas beneficentes por alguns poucos dólares. Mas em 1993, voltou ao futebol pela porta da frente, graças ao técnico Telê Santana, que o convidou para ser treinador de goleiros no São Paulo. Mais tarde, retribuiria ao clube, ao levá-lo de volta à Libertadores após 10 anos de ausência, após assumir o time deixado por Oswaldo de Oliveira e conduzí-lo ao terceiro lugar do Brasileirão, em 2003. A Federação Internacional de História e Estatística (IFFHS) elegeu Rojas entre os 12 melhores goleiros sul-americanos do século 20, além de melhor arqueiro chileno da história.

E no melhor estilo Geisy Arruda (somente para se citar um exemplo atual) a torcedora que atirou o foguete no gramado virou celebridade instantânea: Rosenery Mello, conhecida como "Fogueteira do Maracanã", fez o caminho inverso ao do goleiro. Taxada como vilã, depois dos desdobramentos da farsa, a moça ficou famosa e até posou para a edição número 172 da Playboy, pouco tempo depois. Hoje, vive no anonimato, longe da fama e sem desfrutar, a longo prazo, os efeitos dos 40 mil dólares pagos pela revista.

Se o brasileiro tem péssima memória para lembrar das falcatruas passadas dos políticos, provou ter ótima memória do episódio de 21 anos, ocorrido em 3 de setembro de 1989 - coincidentemente, tambem em uma época eleitoral.

25.10.10

Grandes em perigo

Em crise e flertando com a zona de degola, Feyenoord sofre maior goleada de sua história para o PSV

Aqui mesmo no blog, falamos na última semana sobre a delicada situação do Liverpool, que ainda habita a zona de rebaixamento da Premier League, mesmo com a vitória sobre o Blackburn, na última rodada. Porém, os Reds não são os únicos grandes ou tradicionais a sofrerem neste primeiro quarto de temporada 2010/11 no Velho Continente.

A situação mais alarmante é a do Feyenoord. Terceiro maior campeão da Eredivisie, com 14 títulos (só perde para a dupla Ajax/PSV), a equipe de Roterdã não é campeã holandesa há 12 temporadas e parece difícil que isso vá acontecer agora. Ocupando a 15ª posição entre 18 clubes (caem dois, com o antepenúltimo disputando um playoff para a permanência) a crise se tornou sem precedentes no Stadionclub, principalmente após a humilhante derrota diante do PSV por 10-0. É a maior derrota da história do clube, que está fora dos holofotes europeus há algum tempo – já foi campeão europeu em 1969/70 – , além de afundado em dívidas. Mesmo com a derrota acachapante, o técnico Mario Beer segue no comando da equipe – o time atravessa jejum de seis partidas sem vitória. Ele chegou a entregar o cargo após o massacre, mas viu a diretoria do Feyenoord lhe dar suporte para seguir.

Apesar de não ver um título da Bundesliga há mais de 50 anos, o Schalke 04 é um clube de massa na Alemanha. Contudo, mesmo com os altos investimentos feitos nesta temporada, como nos atacantes Huntelaar e Raúl, a equipe está na zona de rebaixamento da Bundesliga, com seis pontos em nove partidas, figurando no modesto 16º lugar. O time do goleiro titular da Alemanha, Manuel Neuer, vê o técnico Felix Magath balançar no cargo. O mesmo Magath que levou o modesto Wolfsburg ao título alemão em 2008/09 e que foi vice com o próprio Schalke na temporada passada. E o comandante já desabafou quanto às críticas ao seu trabalho."Eu não sou mágico, não posso fazer mais do que o meu trabalho. É preciso ter calma. A nossa jovem equipe vai encontrar o seu rumo e voltaremos ao topo da classificação, como ambicionamos". Na terra onde o modesto Mainz está na ponta, um dos principais jogadores do torneio pertence aos Azuis Reais: o meia Lewis Holtby, que brilha exatamente com a camisa dos líderes.

Na França, enquanto o modesto e recém promovido Brest aparece na briga por vagas europeias no topo da Ligue 1, os tradicionais Monaco e Lyon vão dando vexame. Dono de sete títulos nacionais na última década, o OL está a apenas três pontos da zona de rebaixamento, na 14ª posição, onde está a equipe monegasca, sete vezes campeã francesa.

A situação se repete na Itália com Roma (14ª) e Fiorentina (15ª). Com os respectivos técnicos – Claudio Ranieri e Sinisa Mihajlovic – ameaçados. Para piorar a situação giallorossi, a rival Lazio lidera o Calcio, além do time figurar na última posição do Grupo E da Champions League. Com uma vitória e duas derrotas, a atual vice-campeã italiana figura em último num grupo que além do poderoso Bayern de Munique, tem os inexpressivos Basel e Cluj.

Em Portugal, o sétimo lugar do Sporting é decepcionante. Quem acompanha o futebol na terrinha sabe o abismo que separa o trio de ferro Benfica/Porto/Sporting do restante dos clubes lusos. Vale lembrar que o título português só não ficou na mão dos grandes em apenas duas oportunidades: com Belenenses, em 1945/46, e o Boavista, em 2000/01. Muito pouco, em 76 temporadas disputadas. Longe do título há nove temporadas, a equipe é apenas a sétima nesta Primeira Liga. Liédson, artilheiro da equipe nas últimas temporadas, está às turras com contusões e marcou apenas uma vez em sete partidas. Aliás, o departamento médico dos leões está cheio: além do “Levezinho”, André Coelho, Matías Fernández e Salomão são alguns dos principais jogadores no estaleiro. E em relação ao disparado líder Porto, já são 12 pontos.

São algumas das imprevisibilidades no, por vezes, tão previsível futebol europeus, onde é tão difícil ver uma grande ou tradicional equipe tombar com tal facilidade dentro das quatro linhas.

23.10.10

Pelé, 70

Articulador, artilheiro, atacante, atleta do século, brasileiro, camisa 10, craque, driblador, estrela, gênio, goleador, habilidoso, ídolo, espantoso, imprevisível, majestoso, mito, prodígio, precoce, recordista, Rei, Santos, seleção brasileira, soco no ar, vencedor, Vila Belmiro, velocidade, técnica, 1283 gols...

Até para se pensar em 70 adjetivos, ainda fica difícil definir com precisão a importância de Pelé ao futebol mundial. E o aniversário de 70 anos do "Rei do futebol" só veio a mostrar o quão mito é sua figura através do planeta bola, com homenagens e a sua história revisitada e recontada várias vezes e de várias formas.

Se o Brasil é uma nação apaixonada por futebol nos dias atuais, muito deve-se ao mineiro de Três Corações, que nos brindou com gols, jogadas inesquecíveis e uma enxurrada de conquistas.

Vida longa ao Rei! É a singela homenagem deste blog ao maior de todos.

21.10.10

22, 23, 24: sequência da renovação no Real

Um time que atravessa ótimo momento, como há muito não se via pelos lados do Santiago Bernabéu. Líder do Campeonato Espanhol – onde tenta quebrar a hegemonia do bicampeão Barcelona – e 100% no grupo da morte da Champions (já abriu cinco pontos em relação ao Milan, adversário direto pela liderança do Grupo G), a equipe merengue não mudou sua mentalidade "galáctica", que o pautou nestas últimas temporadas. Porém, parece que finalmente, os investimentos astronômicos vieram com propósito, a começar pelo banco de reservas, onde os madrilenos fizeram o possível e impossível para trazer o técnico José Mourinho, que até aqui, acertou a defesa da equipe – o grande calcanhar de Aquiles dos últimos tempos.

Ainda sem perder e somando as duas principais competições para o clube, foram 10 jogos: além de vencer oito deles, foram 21 gols anotados e apenas três sofridos. A chegada de Ricardo Carvalho, ex-Chelsea e preferido do compatriota, tem grande peso neste desempenho. Porém, há de se ressaltar a forma como Mourinho encaixou três das grandes e jovens estrelas nesta equipe que vem aliando eficiência ofensiva e defensiva: o argentino Ángel Di Maria (camisa 22, com 21 anos) e os alemães Mesut Özil (camisa 23, com 22 anos) e Sami Khedira (camisa 24, 23 anos).

Khedira se destacou no Stuttgart, nas seleções alemãs de base a na equipe principal de seu país por aliar o auxílio à defesa com eficiência com a saída com qualidade ao ataque. Mas o camisa 24 sempre atuou por equipes "menos ofensivistas", em relação a este Real que ataca com Özil, Di Maria, Ronaldo e Higuaín. Porém, suas características mesclaram-se perfeitamente, até aqui, às de Xabi Alonso. Ambos alternam idas ao ataque e auxílio a marcação. São os chamados "volantes modernos", na plenitude da expressão.

Revelações da última temporada, Özil e Di Maria, teoricamente, disputam vaga na meia ofensiva com Kaká. Mas com o astro brasileiro machucado, os jovens chegaram com árdua tarefa: alimentar com qualidade a dupla infernal de ataque merengue. No passado recente, jogadores como Robben, Sneijder (que brilharia nas mãos de Mourinho) e Van der Vaart mostraram inconstância em tal incumbência. Porém, os garotos vem dando conta do recado.

A trupe, como não poderia deixar de ser, é liderada pelo astro midiático Cristiano Ronaldo, que começa a encontrar seu melhor jogo. No primeiro grande teste desta temporada, o Real só não massacrou o Milan pelo preciosismo na hora da conclusão e uma pitada de má sorte.

Em relação ao Barça, o time perde no quesito entrosamento, já que um time que conta com o trio Iniesta-Xavi-Messi afiados há tempos - além da chegada providencial de Villa em lugar de Ibrahimovic. Mas ao contrário dos últimos clássicos entre os dois, o Real tem bola para jogar tão bem e com eficiência quanto o grande rival. Depois de uma classificação mais do que encaminhada na fase de grupos da Champions, o grande desafio desta primeira parte da temporada é o embate no Camp Nou diante dos blaugranas, em 28 de novembro. Duelo imperdível.

19.10.10

Assim vai ficar difícil para ganhar

O atacante Emerson, do Fluminense, voltou a jogar depois de dez rodadas afastado neste último domingo, no clássico sem gols com o Botafogo, no Engenhão. Além de desperdiçar a chance de alcançar a liderança do Brasileiro, o time carioca ficará mais uma vez sem o Sheik, que se contundiu novamente. O jogador se junta a Deco e Fred no estaleiro.

Ora, alguma coisa acontece no departamento médico tricolor. Fred chegou a estourar uma crise, quando disse que sua lesão havia sigo agravada por ter tido a sua volta aos campos precipitada, o que levou o então chefe do setor, Michael Simoni, a deixar o clube. Pouco depois, Diguinho também reclamou do tratamento recebido. O mais irônico da situação é que o patrocinador do Fluminense é uma cooperativa médica e um plano de saúde. Parece que a cobertura não se aplica aos atletas do time. O que pode colocar um fim ao sonho do bicampeonato.

Acho que se juntar o salário somente de Emerson, Fred e Deco, todos encostados, dá para pagar quase que todos os times titulares que disputam o Brasileirão. Além da perda econômica, o pior é a perda de qualidade técnica que complica a luta pelo título da competição. Um Conca inspirado não basta.

Faltando oito rodadas para o fim do campeonato, Muricy irá precisar do futebol do trio para chegar ao seu quarto troféu do Brasileiro, o segundo do Fluminense, que só teve a oportunidade de saborerar a conquista no longínquo ano de 1984.

17.10.10

Semana infernal para os Reds

Cahill abre o placar, ajuda o Everton a voltar a vencer um dérbi e acentua ainda mais a crise do rival Liverpool

Vivendo uma crise sem precedentes, dentro e fora de campo, o Liverpool se afundou um pouco mais no buraco. Em seu pior início de Premier League desde a temporada 1953/54 – na qual, acabou rebaixado e ausente da primeira divisão por oito temporadas, posteriormente –, a equipe divide a lanterna do atual torneio com Wolverhamptom e West Ham (é o penúltimo pelo saldo de gols), com apenas uma vitória e três empates em oito rodadas. Muito pouco para o elenco milionário dos Reds, que contam com jogadores do quilate de Gerrard, Torres, Kuyt e Joe Cole, por exemplo.

De quebra, o lado azul da cidade pode comemorar o fato de ter afundado um pouco mais o rival, no clássico dos desesperados, disputado neste domingo. Jogando em Goodison Park, o Everton voltou a vencer o dérbi do Merseyside por 2 a 0, acabando com um tabu de quatro anos sem vitórias sobre os Reds, afastando-se um pouco mais da zona de degola. Com o cargo ameaçado, o técnico Roy Hodgson viu o seu time chegar ao 21º jogo sem vitória fora de casa.

Mas engana-se quem acha que a crise do Liverpool é algo exclusivo desta temporada. Atravessando grave crise financeira, que chegou até os tribunais, o Liverpool trocou de mãos nesta última semana. Saem os americanos Tom Hicks e George Gillett, entra o grupo New England Sports Ventures (NESV). Afundados em dividas que chegaram a 285 milhões de libras (aproximadamente 762 milhões de reais), o Liverpool começou a afundar, dentro das quatro linhas, desde que foi eliminado da Champions League 2009/10, em um grupo com Fiorentina, Lyon e os húngaros do Debreceni, onde os ingleses eram amplos favoritos a levar a primeira vaga do grupo.

Já com os problemas extra-campo interferindo na equipe, sem a vinda de potenciais reforços, a equipe (que então, estava sob o comando de Rafa Benítez) ficou em sétima na Premier League da última temporada, ficou fora do principal torneio do continente neste ano e pegou a última vaga para a secundária Europe League na bacia das almas. O espanhol deixou o comando do time e segue fazendo bom trabalho na Inter de Milão. Já o Liverpool...

Resta saber se depois de sanados os débitos, o Liverpool voltará forte no mercado de transferências de inverno, ao trazer reforços primordiais, principalmente para a defesa e o ataque, setores mais carentes da equipe até aqui. Segundo o principal acionista da NESV, John Henry, o Liverpool deve sair do buraco. "Nosso primeiro objetivo é recuperar a grandeza do clube dentro e fora do campo por um longo período. Estamos compromissados com a vitória. E gostaríamos de dizer aos torcedores do Liverpool que essa é a nossa filosofia de trabalho". O Liverpool não deve cair, como há 57 anos atrás. Resta saber se a reação rumo às ligas europeias não será tardia.

14.10.10

Tudo contra

Considerado até então um dos favoritos, o Corinthians figurou entre os cabeças da tabela por 29 rodadas deste Brasileirão. Porém, agora está a cinco pontos do líder, sem técnico, com o departamento médico lotado e a seis jogos sem saber o que é vencer. Até por uma vaga na Libertadores, o cenário é tenebroso. E uma sucessão de vários erros foi agravando situações que, pelo cotidiano do futebol, podem acontecer. A derrota de ontem, diante do Vasco, acabou com o maior escudo contra a má fase: o jogo a menos, em relação aos principais rivais pela taça. A "gordura" secou.

Apesar do time considerado titular ter demonstrado força ao longo do campeonato, o elenco do Timão tem falhas gritantes. Construído no início do ano do centenário do clube e visando a Libertadores, vieram inúmeros jogadores experientes: Roberto Carlos, Iarley, Tcheco (já deixou o clube), Danilo e Edu foram alguns dos que chegaram. Após a perda do torneio continental, a diretoria do clube não reforçou o time de acordo, principalmente nas laterais e no ataque, setores mais carentes do time atualmente. Alessandro e Roberto Carlos, considerados titulares, não têm reservas à altura e Ronaldo, constantemente machucado, nunca teve em Souza – certamente, um dos piores investimentos do clube dos últimos anos – uma sombra.

A vinda de Adílson Batista era oportuna, após a saída de Mano Menezes para a Seleção Brasileira. O discurso do técnico pregava a humildade e modificações não muito radicais em relação ao sistema adotado. O novo comandante não recebeu reforços e começou a perder jogadores importantes aos poucos, principalmente na defesa e no meio-campo. Mas teve sua parcela de culpa, ao perder o pulso sobre o elenco e mudar Bruno César de posição (do centro para o flanco) para testar outro esquema com o eficiente Jorge Henrique. O futebol do camisa 10, um dos melhores do primeiro turno, caiu vertiginosamente. Adílson recheava o time de volantes e isolava Iarley no ataque. E o bom futebol apresentado nas vitórias sobre Fluminense, Santos e até mesmo na derrota contra o Inter, sumiu. O clima ruim surgiu e o técnico viu o beco sem saída. Insistiu com jogadores que tiveram má sequência, como o zagueiro Thiago Heleno (preterindo Leandro Castán e Paulo André) e não fez questão de incentivar a eterna promessa Defederico, que poderia ter ganho sequência e moral com os muitos desfalques. Pediu o boné (ou foi demitido). Muitos da imprensa falam em racha no elenco. Díficil avaliar.

A esperança do time está longe de ser concreta, apesar do passado de superações: Ronaldo ensaia mais uma volta neste domingo. Além de não contribuir com a marcação, será muito mais exigido fisicamente, já que será servido pelos habilidosos volantes do time. Jucilei (que vinha bem por méritos de Adílson) e Elias têm capacidade técnica, mas não são armadores natos. Funcionam melhor vindo de trás, com uma bola roubada ou um contra-ataque em velocidade. Não conseguem pensar o jogo com a bola no pé. Os escudeiros para um bom desempenho do centroavante, Jorge Henrique, Dentinho e Bruno César, estão fora. Ronaldo terá que se superar. E não sei se o experiente camisa nove tem fôlego e resistência para tal.

E se Ralf volta para ajudar a proteger a frágil zaga, Alessandro deve ficar fora. Outra dor de cabeça para um time que já está em frangalhos e lembra cada vez mais o Palmeiras de 2009, que acabou fora até da Libertadores após perder jogadores importantes (manteve o técnico, apesar da má fase). E ao contrário do Santos – que também sofre com desfalques, mas vem subindo de produção com seu interino, após crise que culminou na saída de Dorival Júnior –, o Corinthians não tem garotos da base à altura para poder apostar. Uma das poucas falhas da diretoria nos últimos tempos, é verdade. Mas que aliados ao fato de reforços escassos e sem qualidade, podem custar o desempenho que era esperado no decorrer do torneio: longe do penta e até da Libertadores. Ou uma mudança radical em nove rodadas. O que parece mais palpável hoje?

5.10.10

Mas quem é o Mainz?

Ainda é início de temporada no futebol europeu. Porém, dentre os campeonatos considerados "de ponta", somente duas equipes ainda sem mantém 100% nos torneios que disputam: o Porto (nada surpreendente) e o pequenino Mainz 05, prestes a quebrar o recorde de melhor início da história da Bundesliga. Com sete vitórias em sete jogos, os Die Nullfünfer (the O-Fives, ou os zero-cinco, em alemão, alusão ao nome e data de fundação da equipe, em 1905) igualaram a marca do Bayern de Munique, na temporada 1995/96 e do Kaiserslautern, na temporada 2001/02. Três pontos à frente do vice-líder Borussia Dortmund, a equipe terá a liderança garantida até o próximo dia 16 de outubro, já que o campeonato vai parar por conta dos jogos das Eliminatórias para a Eurocopa.

Porém, o Mainz - que tenta se consolidar na elite alemã - pode ser analisado por outra ótica do que uma simples surpresa que pode sucumbir ao longo do torneio. Nas últimas edições, a Bundesliga foi palco de grandes zebras, como o título alemão do Wolfsburg, em 2008/09, ou o pequeno Hoffenheim, campeão alemão do primeiro turno da mesma temporada em que a equipe de Grafite e Josué se sagrou campeã e que ficou distante das competições europeias das últimas duas temporadas por conta de contusões de seus atletas-chave no elenco.

E o grande responsável por levar a pequena equipe da cidade alemã de mesmo nome - conhecida por ter sido a cidade natal do "pai" da imprensa, Gutenberg - é o jovem técnico Thomas Tuchel, 37 anos. Apesar da exposição maciça pela campanha atual, o treinador já está no time desde o meio de 2009/10, onde foi alçado da equipe sub-19. E sob sua batuta, a equipe marcou sua melhor campanha na era profissional, ao chegar ao nono lugar. Para esta temporada, contratações modestas e empréstimos de jovens talentos sem chances em equipes maiores. É o caso do grande maestro da equipe até aqui: Lewis Holtby, meia-atacante de 20 anos, emprestado pelo Schalke pela segunda temporada consecutiva para obter experiência. E o segundo ataque mais positivo do Alemão, até aqui (17 gols) tem no jovem germânico o melhor passador da liga: sete assistências.

A mescla que vem funcionando (média de idade de 25,8 anos) ainda tem o prata da casa Andre Schürrle, 19 anos e cinco gols na Bundesliga, alternando dupla de ataque com o tunisiano Sami Allagui, 24, e o húngaro Adam Szalai, 22, ex-Real Madrid Castilla (time B do Real). A experiência fica por conta do veterano eslovaco Miroslav Karhan, 34, que equilibra o meio-campo que contém e sai rapidamente para alimentar o veloz setor de frente, auxiliado pelos "mordedores" Polanski e Caligiuri. Na ótima análise tática feita pelo blog Boleiragem Tática, pode-se entender melhor o trabalho operário da equipe.

A campanha vem talhada sob resultados imponentes: vitórias fora de casa sobre Werder Bremen (2-0), Wolfsburg (4-3) e sobre o poderoso Bayern de Munique, vice-campeão europeu e atual campeão do país em plena Allianz Arena por 2-1, jogando um futebol consistente e que sufocou os bávaros. Um feito e tanto para uma equipe que oscilou entre primeira e segunda divisões na última década e que atravessou grave crise financeira nos anos 80, tornando-se um time amador. Mas ao contrário do Hoffenheim, que tem um grande investidor, ou do Wolfsburg, que é apoiado pela Volkswagen e aproveitou seu crescimento para se desenvolver financeiramente - a compra do meia Diego por 15 milhões de euros da Juventus prova isso - o Mainz gastou pouco (apenas 3,1 milhões de euros nesta temporada) e é mais modesto, mandando suas partidas no Stadion am Bruchweg, com capacidade para apenas 20 mil pessoas - será substituído pela Coface Arena, prevista para 2011, com capacidade de 33 mil espectadores.

Em ótima reportagem feita pela ESPN Brasil
, um dos narradores que acompanham o Mainz diz que mesmo vencendo um jogo por goleada, o técnico "troca quatro ou cinco jogadores", de acordo com as características do adversário. Uma prática relativamente comum na Europa, mas vista com maus olhos no Brasil, onde titulares e reservas parecem estados bem definidos.

A campanha surpreendente transformou alguns atletas do elenco em celebridades, com particicipação em programas de TV. E o técnico da Alemanha, Joachim Löw, disse estar de olho no talento dos jovens "O-Fives". "Jogadores como Schürrle e Holtby estão cada vez mais próximos da seleção com as suas performacnes. É muito bom ver o trabalho que está sendo desenvolvido em Mainz", disse o técnico. É difícil que a equipe mantenha um ritmo tão forte até o fim da Bundesliga - até pela janela de transferências no início de 2011, que pode marcar a saída de alguns atletas. Mas o campeonato local e a seleção alemã só tem a ganhar com o número crescente de surpresas e revelações a cada nova temporada.

3.10.10

A saída de Zico do Flamengo

Nesta semana consumou-se a saída de Zico do cargo de diretor executivo do Flamengo, depois de algumas disputas e picuinhas internas no clube. O que representa, mais uma vez, a vitória daqueles que não fazem o bem para o futebol, que dirigem os times movidos pela paixão cega e/ou pelos próprios interesses, sejam eles financeiros, políticos ou outros.

Zico é sabidamente uma pessoa honesta, profissional e que ama o Flamengo, clube pelo qual é o maior ídolo. Nos seus quatro meses, fez o que pôde para tentar arrumar a casa. O time ainda está mal, o Silas foi sua contratação, mas nada que justifique a sua queda. Às vezes, as coisas simplesmente não funcionam - ou podem levar tempo para tal.

Acontece que, como o próprio ex-jogador disse, o título do Campeonato Brasileiro de 2009 acabou encobrindo muita coisa ruim e errada no rubro-negro, assim como já havia sido feito com o tricampeão São Paulo de 2006 a 2008. No São Paulo, apesar da situação não estar tão crítica, o panorama é o mesmo. No time carioca, fica ainda pior o fato de ter a maior torcida do Brasil, acrescentando uma pressão que já era enorme.

Mais do que para quem gosta das coisas sérias, o quadro é ainda mais grave para esses mesmos torcedores que, mesmo sem saber, contam na administração de seu amado time uma pessoa como o tal do Leonardo Ribeiro, ou "capitão Léo", presidente do Conselho fiscal rubro-negro e ex-presidente de uma torcida organizada. Com ele, certamente muitos brindaram a saída do ídolo.

Talvez o Flamengo, atual campeão Brasileiro, escape do rebaixamento. Ou protagonize um vexame que ainda não aconteceu: cair para a Segundona no ano seguinte ao título - o Corinthians quase o fez, ao ganhar em 2005 e ser rebaixado em 2007. Mas iria, mais uma vez, jogar a sujeira para baixo do tapete, já que no começo do ano tem o bom e velho Campeonato Carioca para garantir a alegria (e iludir) novamente. Uma pena que não fará o Zico feliz.