6.3.12

Órfãos

Longe da liderança de seus torneios nacionais, em situação delicada no jogo de volta, em casa, nas oitavas de final da Champions League, em jejum de vitórias incomum à performance dos últimos anos. Mais do que crises em comum, Internzaionale e Chelsea sofrem de orfandade no banco de reservas. Depois que o técnico português José Mourinho deixou ambos, muitos profissionais passaram pelos dois bancos de reservas e deixaram poucas saudades.

A Inter, do ameaçado Claudio Ranieri – que, por coincidência, antecedeu a era vitoriosa do duo Mourinho/Abramovitch, em 2004 -, não vence há nove jogos. Já o Chelsea, do demitido promissor André Villas-Boas, venceu apenas um de seus últimos sete jogos, está a 20 pontos do líder City e pode ficar fora da próxima Champions depois de nove anos. Contudo, mesmo em fases pouco mais regulares, o trabalho do jovem português – contratado como o “novo Mourinho” – já era contestado ante o choque com experientes nomes do clube londrino, como Lampard, Essien e Ashley Cole, que amargaram o banco de reservas nesta reta final de sua estadia em Stamford Bridge em pouco mais de oito meses.

Sexto técnico demitido desde 2004 (grande número aos padrões dos grandes ingleses), Villas-Boas torneou-se um verdadeiro workaholic nos momentos derradeiros de Chelsea. De acordo com o jornalista Neil Ashton, do Daily Mail, o jovem treinador de 34 anos
que há pouco mais de um ano e meio assumia o comando da modesta Acadêmica de Coimbra até dormiu no CT do clube no sábado, véspera de sua queda. Que reflete a impaciência do mecenas Abramovitch, que não exitou em "queimar" 15 milhões de euros (valor da multa paga ao Porto, ex-clube do então comandante) para trazê-lo. Mesmo ciente que a base que quase levou os Blues ao topo da Europa, na parte final da última década, precisa ser seriamente repensada, já que boa parte dos conflitos eram dos medalhões com André e seus métodos, em algo semelhante que ocorreu com Felipão, em fevereiro de 2009.

Mesmo os campeões, como o próprio Mourinho e o italiano Carlo Ancelotti - fritado em seu segundo ano de clube após a dobradinha
Premier League/Copa da Liga - sentiram o peso da foice do magnata russo, que parece comprar jogadores a esmo e demitir treinadores no melhor estilo brasileiro.

Já o problema da Inter, que perdeu Mourinho após a conquista da Champions 2009/10 ao Real Madrid, parece ser as apostas erradas ou fora de hora. Rafa Benítez, de currículo invejável no Liverpool (e coincidentemente cotado no Chelsea) foi um renomado que não deu certo. Era o primeiro dos quatro profissionais que sentariam no banco de reservas interista: Leonardo, que não deu continuidade ao pentacampeonato nacional e foi vice, perdendo para o rival e ex-clube Milan, além das vindas de Gian Piero Gasperini com apenas a experiência de quatro anos no mediano Genoa como algo sólido – e de Ranieri, oposto de seu antecessor, mas conhecido pelo seu excessivo pragmatismo. Segundo treinador de 2011/12 dos nerazzurri, não vence há nove jogos, após excelente sequência de oito vitórias.

A torcida de ambos não quer saber dos motivos diferentes das (possíveis) saídas: gritam o nome de Mourinho, que só deixaria o Real em uma reviravolta que, a primeira vista, parece longe de acontecer. Falta a ambos, pés no chão, planejamento e nomes confiáveis ou que passem segurança para amainar os agitados vestiários, para que seja feito um trabalho de renovação profunda nos elencos, rechados de medalhões que não são tão efetivos em campo como em outrora.