28.7.11

Malos Aires

Cristina Kirchner e Júlio Grondona: a mistura explícita e explosiva de interesses particulares políticos e do futebol


Se o dia 26 de junho de 2011 foi o mais triste da história do River Plate, um mês depois o futebol argentino escancarava o "jeitinho brasileiro" para fazer de tudo e devolver o maior campeão do país à elite: a AFA, do interminável Júlio Grondona e o governo da presidente Cristina Kirchner deram o pontapé inicial na articulação que, para evitar novas quedas e catapultar o River à primeirona, vai ter 38 clubes em sua primeira divisão a partir da próxima temporada, em 2012/13.

Na proposta de fusão da Primera División com a B Nacional, que deverá ser referendada em outubro, os clubes seriam divididos em dois grupos de 19. Os cinco primeiros de cada grupo, mais os nove melhores na pontuação geral, disputariam, na segunda fase, a Zona Campeonato, enquanto os outros 19 ficariam na Zona Competencia, jogando pela permanência. Trocando em miúdos: os Millionários só não ascenderiam para a primeira divisão caso terminem entres os quatro últimos da atual segundona. Um modesto 16º lugar coroaria o retorno.

Interesses esportivos e políticos confabulam para que esse acordo esdrúxulo tenha tido o aval de 22 dos 26 clubes com direito a voto (Newell's Old Boys, Racing, Vélez Sarsfield e All Boys se abstiveram). No antigo (e já injusto) sistema de promedios – feitos para benefício dos grandes clubes – Boca Juniors, Independiente e San Lorenzo poderiam ter o mesmo destino do River na próxima temporada, pelo baixo índice acumulado nos últimos anos. A "federalização do futebol", como vem sendo tratado o ato, erradica essa possibilidade nos próximos anos. Os pequenos, que pelo antigo sistema, tinham de ter ótimo desempenho pós-acesso para não serem rebaixados, também abraçaram a novidade sem nenhuma vergonha. Além de fazer parte da nata, o dinheiro proveniente das cotas de TV é generoso.

Já o governo, que investiu R$ 1,2 bilhão para estatizar os direitos de TV, usou a sua "mercadoria" como instrumento político para as eleições deste ano para a presidência. Além dos comerciais de cunho político em meio às transmissões do esporte mais popular do país, o qual controla desde 2009 como uma espécie de CBF estatal, a medida também é um golpe contra o grupo Clarín, de oposição a Cristina Kirchner, que tinha contrato vigente com a Nacional B. O vínculo será suspenso. Profundo entendedor do futebol do lado de lá do Rio da Prata, o jornalista Mauro César Pereira explica, em detalhes, a relação de Grondona e o governo desde a época da ditadura e o uso da bola como plataforma política nesta última Copa América – algo que já está sendo feito por aqui para a Copa do Mundo de 2014.

Além do flerte escancarado entre política e esporte (que sempre existiu, na maioria dos governos populistas), o inchaço da elite do futebol portenho deve derrubar a competitividade de um dos melhores torneios nacionais do mundo, rendido a uma indecrifrável fórmula do mata-mata e que dá margem a outras viradas de mesa, caso os grandes times voltem a patinar no futuro fantasma que rondou o futebol brasileiro por muitos e muitos anos.

A lama na liga vai de encontro à ofuscada seleção argentina, que demitiu Sérgio Batista após a eliminação para o campeão Uruguai na Copa América. A AFA paga pela aposta em Maradona nas últimas Eliminatórias. O maior ídolo dos argentinos não soube adequar um esquema de jogo que favorecesse aos ótimos jogadores de frente da Albiceleste, que brilham individualmente no futebol europeu – mais que os brasileiros, inclusive. Mas que precisa reconstruir sua defesa e meio-campo defensivo, além de achar a melhor forma de fazer Messi render algo parecido com que ele faz no Barcelona, Agüero no Atlético de Madrid, Pastore no Palermo...um processo demorado que teria grandes chances de ver seu final de competição parecido com o de Batista.

Mesmo após fechar com Alessandro Sabella, campeão da América pelo Estudiantes, em 2009, a Argentina ainda deve depender, neste início de novo trabalho, da individualidade de seus talentos. Porque se depender do coletivo de seus dirigentes...

26.7.11

Ademílson: o Henry de Cotia

*Redigido originalmente para a seção "Fique de Olho", do site Olheiros (@olheiros)


Após bom papel no Mundial Sub-17, Ademílson foi promovido à equipe principal do São Paulo


Há jogadores que evoluem nos clubes e nas seleções brasileiras de base ao mesmo tempo, subindo em ambas de acordo com sua evolução como atleta. Há outros que precisam de um empurrão do destino ou de uma mão amiga para dar um salto na carreira. Foi o caso do atacante Ademílson, um dos destaques do Brasil no último Mundial Sub-17, que teve a ajuda decisiva de um "jovem veterano": Lucas Piazon.

Foi o companheiro de São Paulo – vendido em março para o Chelsea, por R$ 17,3 milhões – que o indicou ao técnico do Brasil, Émerson Ávila, que tinha algumas carências para sanar antes de fechar o elenco para o torneio. Por isso, o treinador chamou Piazon e outros jogadores de confiança para sugerir a observação de alguns candidatos. Ponto para
a amizade, já que Ademílson foi convocado e se tornou artilheiro da seleção no torneio disputado no México (ao lado do meia Adryan), com cinco gols.

Da Baixada Santista a Cotia

Natural de Cubatão, em São Paulo, Ademílson Braga Bispo Junior começou foi descoberto pelo diretor da escolinha do São Paulo em São Vicente, onde vivia. Logo ganhou bolsa para treinar no local e chamou a atenção de Toninho, comandante da equipe sub-13, em uma das competições promovidas pelo São Paulo Center, quando tinha apenas 11 anos. Aprovado para integrar a categoria de base do time do Morumbi, ele permaneceu monitorado na Baixada Santista até ter idade para poder se mudar para o Centro de Formação em Atletas, em Cotia, quartel-general da base são-paulina.

Ao integrar a equipe sub-15 do tricolor, Ademílson teve que, pacientemente, esperar pela sua chance, ofuscado por nomes mais conhecidos, como o do próprio amigo Piazon e do então titular Bruno Lima. Com a ausência de Piazon, convocação para a seleção brasileira e que voltaria somente na fase final do Campeonato Paulista, ele acabaria ganhando a posição quando a estrela do time voltou, deixando Lima no banco e formando parceria com a estrela do time, que atuava como segundo atacante.

Autor de 23 gols em 26 partidas no vice-campeonato paulista sub-15 do São Paulo, em 2009, o centroavante logo ganhou um apelido de peso: “Ademy Henry” – alusão ao atacante francês campeão do mundo com a França em 1998, Thierry Henry, tanto pela semelhança física quanto pela vocação de marcar gols. Na Copa Nike, disputada no mesmo ano, ajudou o São Paulo a trazer a taça, ficando a apenas dois gols de Lucas Piazon, grande destaque daquele torneio.

As boas atuações logo o alçaram ao time sub-17, mesmo com Ademílson tendo 16 anos. Foram nove gols na nova categoria, em 2010. Mesmo sendo bem mais baixo que o “xará” francês (1,75m, contra 1,88m), a semelhança do futebol da nova joia tricolor é inspirado em outro famoso e brigador centroavante que é ídolo no Morumbi e que voltou ao clube recentemente: Luís Fabiano. A facilidade de remates de média distante é aliada ao constante deslocamento, além da aptidão no posicionamento e cabeceio.

Indicação, DVDs e convocação

Enquanto o “Henry de Cotia” estava surgindo, Lucas Piazon era a grande estrela da categoria no Tricolor e um dos maiores jogadores do país nesta faixa etária. Tanto que no Sul-Americano Sub-17, disputado no Equador, ele era uma das estrelas que ajudou a conquistar o décimo título continental da seleção brasileira, ao lado de talentos como o meia Adryan, do Flamengo.

Ainda assim, Émerson Ávila não havia fechado o elenco que iria ao México para disputar o Mundial. Por isso, o treinador fez algo incomum, ainda mais em se tratando de equipes de base: pediu indicação de convocáveis aos seus comandados. E o parceiro de ataque não titubeou em rasgar elogios ao amigo. Desconfiado, Ávila foi até Cotia para ver Ademílson em ação. Gostou do que viu, mas pediu à direção tricolor alguns DVDs com lances do candidato. A análise minuciosa deu certo: a convocação para a Copa do Mundo foi a primeira da carreira do matador a serviço da verde-amarela e surpreendeu a todos.

“Eu sempre esperava ser convocado, mas não direto para o Mundial. Foi uma surpresa muito grande, até pensei que iria sentir o peso da camisa, mas meus companheiros, familiares e amigos conversaram comigo antes e me tranquilizaram. Agora já me sinto mais confiante”, disse ao Globoesporte.com, após se destacar no torneio.

De homem-surpresa a homem-gol

A boa impressão para o chefe foi além de Cotia e das imagens de seus gols e jogadas. Na preparação do elenco ao Mundial, na Granja Comary, o atacante não só ganhou a titularidade, reeditando o entrosado ataque do São Paulo com Piazon, como ficou encarregado de envergar a camisa nove. Que ele faria jus nos campos mexicanos.

Na estreia contra a Dinamarca, em Guadalajara, Adryan e Piazon, os mais conhecidos da equipe, ganharam mais atenção dos defensores nórdicos. Melhor para o centroavante, que, com maior liberdade em campo, deu seu cartão de visitas com apenas 31 minutos de estreia. Da entrada da área, ele bateu com força no canto do goleiro Korch, que não evitou o primeiro de seus cinco gols na Copa. No segundo tempo, foi dos pés do atacante o passe para o lateral Wallace, do Fluminense, marcar o segundo. Fechando o placar, Ademílson mostrou frieza na entrada na área para limpar os dinamarqueses e fuzilar no canto, coroando uma estreia impecável.

“Gostaríamos de ter alguns DVDs com ele. Foi, claro, um jogador-chave na partida. No primeiro gol, pensei: ‘Ok’. Mas o segundo foi muito bem feito, com uma boa finalização. Ele foi rápido, mostrou muita habilidade”, disse o surpreso comandante da Dinamarca, Thomas Frank, ao site da Fifa, após a derrota por 3 a 0.

Depois de passar em branco na vitória mínima sobre a Austrália, o goleador entraria em ação no disputado jogo contra a Costa do Marfim, que acabaria em 3 a 3, ao marcar o segundo gol do brasil. Nas oitavas, deixaria mais um tento contra os equatorianos e outro no triunfo por 3 a 2 sobre os japoneses. Os brasileiros perderiam a chance de levar o quarto título mundial da categoria na derrota para os uruguaios. Mesmo com o frustrante quarto lugar, por ora, a ordem do protagonismo se inverteu: Ademílson saiu como um dos destaques da competição, ao contrário do amigo Piazon – já vendido ao Chelsea – que ficou abaixo das expectativas na competição.

Coincidência ou não, o São Paulo já havia resolvido apostar pra valer no futebol de sua mais nova estrela em dezembro de 2010, quando rubricou o primeiro contrato profissional com o atacante por três anos, elevando sua multa rescisória para 30 milhões de euros. E com recente política do clube do Morumbi em valorizar mais os talentos formados em casa – Lucas, Casemiro, Wellington e Bruno Uvini, os mais constantes –, o Henry de Cotia pode reaparecer aos olhos dos torcedores do São Paulo, que já tiveram uma ótima primeira impressão de sua mais nova joia.

Ficha técnica

Nome: Ademílson Braga Bispo Junior
Data de nascimento: 09/01/1994
Local de nascimento: Cubatão, São Paulo
Clube que defendeu: São Paulo
Seleção de base que defendeu: Brasil sub-17

25.7.11

E se o Brasil for eliminado da Copa do Mundo?

Antes que me chamem de antipatriota, vamos deixar claro: sempre torço pela seleção brasileira e quero que o time de azul e amarelo levante a taça no final da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Mas todos nós sabemos que nossa seleção, apesar de ser uma boa equipe, não é invencível, e não é absurdo cogitar uma derrota, ou a vitória de outras boas seleções que existam por aí.

No momento em que escrevo este texto, Uruguai e Paraguai se enfrentam pela final da Copa América. Ao mesmo tempo em que acontece a final do que deveria ser o torneio de seleções mais importante da América, outras quatro partidas estão sendo jogadas pelo Campeonato Brasileiro, exatamente no mesmo horário. Nenhum canal de TV aberta transmite a final da Copa América, e portanto, apenas aqueles que pagam pela tv a cabo podem acompanhar Forlán e companhia.

Esse padrão se repetiu a semana inteira, desde a partida em que a seleção canarinho foi eliminada da copa. As informações sobre o torneio sumiram dos telejornais, dando lugar ao calendário de jogos nacionais ou àquelas reportagens insuportáveis tentando entender porque a seleção perdeu. Confesso que, não fossem meus amigos aqui do Opinião FC, que correram a comentar a partida do Uruguai no Facebook, eu provavelmente teria assistido, sem muito interesse, uma partida da tv aberta, esperando notícias sobre possíveis gols do meu time.

E é aqui que volto a pergunta do título deste texto. E se em 2014, em plena na Copa do Mundo do Brasil, a seleção perder? Vamos fingir que a Copa não existe e ignorar as seleções que ainda disputam o torneio? Vamos ter que recorrer aos canais pagos e pay-per-views da vida para assistir à final do campeonato mais importante do futebol?

Estou exagerando, claro. Creio que as emissoras são obrigadas, por contrato, a transmitir a final da Copa do Mundo. Mas eu não me surpreenderia se não transmitissem, caso não fossem. Nós estamos acostumados a pensar que o Brasil é o país do futebol, mas na prática, isso só é verdade quando nossa seleção está em campo. No resto do tempo, somos estranhamente apáticos às outras equipes. Nós lidamos com o futebol com uma certa arrogância de quem se acha o melhor, e quando perdemos, simplesmente queremos levar a bola embora e acabar com a brincadeira.

Dito isso, espero que nossa seleção chegue à final da Copa de 2014. Se não chegar, torço ao menos para que nossa torcida não dê o vexame de uma final de Copa em um Maracanã vazio.

19.7.11

A Copa das surpresas

Provavelmente nem o mais pessimista dos espectadores poderia prever a eliminação dos quatro favoritos das quartas-de-finais da Copa América 2011. Afinal, em 95 anos de história, apenas em duas edições Brasil e Argentina não figuraram entre os semifinalistas: 1939 e 2001.

Entre as quatro seleções restantes o favoritismo recai sobre os colos de uruguaios e paraguaios, como prováveis finalistas. Com tantas zebras, porém, é melhor não descartar nova surpresa de peruanos e venezuelanos. Por quê? É o que vamos conferir...

Peru vs. Uruguai
Para confirmar o favoritismo

Zambrano, Rabanal, Luíz Ramires, Fárfan e Pizarro. Ninguém imaginava que com uma lista de desfalques tão grande La Rojiblanca terminaria entre os quatro melhores selecionados da América. Na busca pelo tricampeonato, os peruanos apostam nos gols de Guerrero e na velocidade do trio formado por Chiroque-Advíncula-Vargas. Do meio para trás, a receita é velha conhecida: muito chutão, além de pesada e, por vezes, violenta marcação.

Embalada pela ótima participação na Copa de 2010, a Celeste é a seleção que até o momento mostrou maior entrosamento e qualidade com a bola nos pés. Ainda sofre com a ausência de um armador cerebral, apesar de contar com um Muslera inspirado, boas alternativas de ataque pelos lados do gramado (com Max e Álvaro Pereira) e uma dupla formada pelo inteligente Forlán e pelo hábil Suárez. Deve tomar cuidado apenas com a cobertura feita à zaga, já que Lugano não fez boa temporada e apresenta-se lento em demasia.

Raio-X do Confronto
Peru (4-2-3-1): Valverde; Revoredo, Acasiete (Christian Ramos), Alberto Rodríguez e Vilchez; Balbín e Cruzado; Chiroque, Advíncula e Vargas; Guerrero. Técnico: Sergio Markarían. Campanha: 4J, 2V (1 na prorrogação), 1E, 1D, 4GP, 2GC – 3º do Grupo C
Uruguai (4-4-2): Muslera; Max Pereira, Lugano, Coates e José Cáceres; Egurén (Gargano), Arévalo, Álvaro Gonzáles e Álvaro Pereira; Forlán e Suárez. Técnico: Oscar Tabarez. Campanha: 4J, 2V, 2E, 0D, 4GP, 3GC – 2º do Grupo C.
Desfalques do confronto: O beque Acasiete volta de lesão, é dúvida. No lado celeste, o volante Perez, expulso, não joga. Cavani ainda não está 100%.
Porque os peruanos avançam: Possuem um forte sistema defensivo e costumam retrancar o meio-de-campo adversário, aproveitando-se de jogadas de contra-ataque. Guerrero é rápido e pode aproveitar-se da lentidão da zaga para decidir a partida.
Porque os uruguaios avançam: Favoritos. Dentre os quatro são os que contam o melhor elenco e maior tradição. Além disso, possuem uma excepcional dupla de ataque, decisiva. Muslera é bom goleiro e atravessa grande fase.
Palpite: Uruguai 75%, Peru 25%


Paraguai vs. Venezuela
Espantando a zebra

Mesmo sem ter conseguido sequer uma vitória na competição, La Albirroja é a favorita do duelo. A atual quarta força do continente, ainda detém como maior qualidade o forte sistema defensivo. Mesmo sem Alcázar, contará com o seguro quarteto Verón-Da Silva-Vera-Riveros. Se a dupla de ataque, outrora badalada, começar a funcionar e o time controlar melhor os nervos nos minutos finais para não ceder vitórias garantidas, os Guaranís serão páreo duro. Ainda mais se Villar continuar fechando o gol, como na partida frente aos brasileiros.

Donos de uma campanha histórica, Los Llaneros chegam totalmente descompromissados. Apesar de possuírem um meia (Arango) com grande visão de jogo e fortes jogadas ensaiadas de bola parada, pecam por não terem uma dupla de ataque convincente e um time mais rodado. A defesa não compromete e Vega passa tranqüilidade à zaga. Não deixam de serem zebras. Mas estão longe de serem os sacos de pancada de sempre.

Raio-X do Confronto
Paraguai (4-4-2): Villar; Piris, Dario Verón, Da Silva e Aureliano Torres; Vera, Riveros,Victor Cáceres (Ortigoza) e Estigarríbia; Haedo Valdez (Santa Cruz) e Barrios. Técnico: Gerardo Martino. Campanha: 4J, 0V, 4E, 0D, 5GP, 5GC – 3º do Grupo B
Venezuela (4-3-1-2): Vega; Rosales, Perozo, Vizcarrondo e Cichero; Orozco (Di Giorgi), Lucena e César Gonzáles; Arango; Maldonado e Fedor (Rondón). Técnico: Cesar Farías. Campanha: 4J, 2V, 2E, 0D, 6GP, 4GC – 2º do Grupo B
Desfalques do confronto: O zagueiro guarani Alcázar e o meia vinotinto Rincón cumprem suspensão por terem recebido cartão vermelho. Além deles, Santa Cruz, lesionado, deve ficar fora.
Porque os paraguaios avançam: Apostam na base que ficou entre as oito melhores da Copa de 2010. Experientes, têm um time entrosado e uma defesa difícil de ser transpassada. Apesar de ainda não terem convencido, Barrios e Valdez merecem atenção.
Porque os venezuelanos avançam: Surpresa. Jogam sem a responsabilidade de vencer. Raçudos, compensam a limitação técnica com muita marcação. Arango é o atleta diferenciado, aquele que cadencia o jogo e faz todas as bolas passarem por seus pés.
Palpite: Paraguai 80%, Venezuela 20%

14.7.11

Vinotinto, safra 2014


Certa feita, o amigo Thiago Barretos – um dos idealizadores deste blog – disse que a Venezuela poderia brigar por uma vaga na Copa de 2014. Absolutamente todos nós, inclusive este que escreve estas linhas, emitimos opinião veementemente contra. Claro que o tema é oportunista, dado o heróico empate diante do Paraguai por 3-3, nos últimos sete minutos de jogo. Mas a seleção Vinotinto, saco de pancadas histórico na América do Sul, já deixa participantes de Copas como Bolívia e Peru para trás. E com uma vaga a mais, decorrente da classificação do Brasil como país-sede do Mundial de 2014, a América do Sul ainda terá as 4,5 vagas (a quinta, em repescagem) habituais. E a Venezuela hoje é forte candidata a sonhar com o jogo extra que a levaria primeira Copa de sua história.

Desde que recebeu a edição anterior à esta Copa América, em 2007 – com fortes investimentos estruturais feitos por Hugo Chávez, assim como acontece atualmente com Pastor Maldonado, na Fórmula 1, bancada pelo líder do país e a poderosa petroleira PDVSA –, a seleção acentuou seu papel no futebol sul-americano. Única seleção filiada à Conmebol que nunca se classificou a um Mundial, até o ano 2000, a Venezuela só havia vencido duas partidas na história das Eliminatórias: em 1981, contra a Bolívia, e em 1993, contra o Equador. No qualificatório para a Copa da Coreia do Sul e Japão, não foi a última colocada do torneio pela primeira vez (terminou em nono). Na edição seguinte, subiria mais uma posição.

Depois da Copa América em casa – onde se qualificou no primeiro posto (o grupo tinha Peru, Uruguai e Bolívia) e acabou eliminada após goleada da Celeste, nas quartas – a equipe passou por um gradual processo de renovação. Nas Eliminatórias da Copa de 2010, César Farías assumiu a equipe na quinta rodada. E a Vinotinto chegou à última rodada com chances de tomar o lugar do Uruguai na repescagem. Mesmo com a missão inglória em vencer o Brasil, em Campo Grande, os visitantes arrancaram o empate – e alguns meses depois, em um amistoso nos Estados Unidos, a vitória histórica sobre os pentacampeões mundiais por 2 a 0. Terminariam na mesma oitava posição de 2006, mas apenas dois pontos abaixo dos uruguaios.

Classificados pela primeira vez a um torneio Fifa, no Mundial Sub-20 de 2009, no Egito, acabou fora nas oitavas de final. E a sucessão de quebra de marcas e resultados surpreendentes também deram as caras nesta Copa América. Com empates diante do Brasil e Paraguai, onde atuou bem, dentro de suas váris limitações, os comandados de Farías só não foram os campeões da chave pelo saldo de gols.

Além disso, mais jogadores do país estão tendo experiências fora do futebol local. Em 2007, nove atletas chegaram à Copa América oriundos de clubes colombianos, cipriotas, noruegueses e portugueses, ficando a cargo de Juan Arango, uma das estrelas do mediano Mallorca, à época. Na edição argentina do torneio continental, já havia três venezuelanos em times da Bundesliga, três em La Liga, além de mais representantes no futebol mexicano, argentino, estadunidense, português e holandês, totalizando 14 atletas, o que aponta a difusão e valorização gradual do país no cenário global.

Com o trabalho de Farías mantido, uma renovação gradual e jogadores mais experientes no planeta bola, porque não sonhar com uma vaga no suprassumo do futebol mundial, bem no "quintal" venezuelano? Em teoria, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai brigariam pelas vagas diretas. A repescagem tem o Equador (participante de Mundiais desde 2002), que também tem boa experiência internacional, mas é irregular. Já a Colômbia tem bons valores individuais, mas sofre para enquadrá-los em um esquema de jogo, fato que deixou a seleção cafetera de fora dos últimos três mundiais.

2.7.11

Caminho errado

Messi, Agüero, Pastore, Higuaín, Di Maria, Tevez, Diego Milito. Se sobram opções de frente para a argentina (pelos nomes, até mais que a da Seleção Brasileira, por exemplo), a parte defensiva da Argentina segue sendo o calcanhar de Aquiles da equipe, agora comandada por Sérgio “Checho” Batista. Além do gol bizarro sofrido diante da Bolívia, na estreia da Copa América, muitos viram a falta de padrão tático. E diga-se de passagem, essa era uma das maiores críticas à Albiceleste na “Era Maradona”, quando o time sucumbiu na Copa do Mundo de 2010 diante da ótima e organizada Alemanha por 4 a 0.

Pela indiscutível qualidade do melhor do mundo, Lionel Messi, muito falou-se em “jogar como o Barcelona”. Vejo que a Argentina tem que deixar tal inspiração de lado, visto que o seu suporte defensivo não comporta o esquema, que prima pela ofensividade, mas tem uma série de pilares para que o time de Guardiola não seja alvejado de chutes ao gol de Victor Valdés.

Além de ter goleiros longe de passar segurança, a defesa argentina tem um problema crônico: a falta de ritmo de jogo, além do entrosamento – um dos fatores de sucesso do Barça, a manutenção da base. Titulares de Batista, Burdisso e Gabi Milito formam nova dupla na seleção. Mas enquanto Burdisso é constante na zaga da Roma, Gabi sofreu com as constantes contusões e não é nem um reserva confiável no Barcelona. Tanto que quando Puyol se contundiu, na reta final da última temporada, Guardiola se sentiu mais seguro em improvisar o também reserva Mascherano na zaga. Reserva imediato, Ezequiel Garay também pouco atuou pelo Real Madrid e 2010/11.

Na meia cancha, Mascherano, Cambiasso e Banega pularam na frente. Apesar da capacidade dos dois últimos de chegar à frente, mesmo como volantes de origem, estão longe de Xavi e Iniesta (mais meias do que volantes). Javier Pastore, cobiçado por diversos times de ponta pela ótima temporada no Palermo, poderia ser utilizado como enganche, auxiliado por Cambiasso e fazendo com que Messi – que sem o apoio devido, fez partida discreta – não tivesse que recuar tantas vezes para buscar a bola. Agüero, outro de ótima temporada, também provou ontem (não só pelo golaço salvador) que não pode ser banco do bom Lavezzi.

Sem dúvida, a Argentina ainda pode crescer durante a Copa América e sair da seca de títulos que já dura 18 anos. Mas o que a Albiceleste precisa agora é de um “efeito Muricy”, guardadas as devidas proporções. Um treinador que arrume o time de trás para frente, já que a força ofensiva argentina é indiscutível, assim como era o Santos antes da chegada de Muricy. Foi fortalecendo a defesa e o meio-campo que ele endireitou o Peixe até a conquista da Libertadores.