30.1.11

Senhor(es) do banco

Corinthians e Grêmio têm jogos decisivos nesta quarta-feira, pela fase preliminar da Libertadores, contra Tolima e Liverpool, respectivamente. Um mau resultado pode minar precocemente as equipes da principal competição de 2011, trazendo prejuízos financeiros e crise com os torcedores. Precavidos, ambos jogarão pelos seus estaduais com um time repleto de reservas na rodada anterior, visando preservar seus atletas fisicamente. E se a Federação Paulista ou Gaúcha tivesse redigido uma cláusula que obrigasse essas equipes a escalar força máxima, visando apenas os interesses das competições estaduais?

Guardados os devidos campeonatos, elencos e proporções, foi o que aconteceu com o modesto Blackpool, recém-promovido à Premier League nesta temporada, após 40 anos de ausência. Na última semana, os cartolas que organizam o torneio puniram os Tangerines, por escalar uma equipe “reserva” na partida contra o Aston Villa, em 10 de novembro. O critério usado pelos homens de sapato social foi a análise das partidas da equipe nos dois meses anteriores à partida contra os Villans, onde levaram em conta o cálculo dos atletas que mais fizeram aparições nesse período, considerando-os como titulares. A multa foi de 25 mil libras (R$ 66 mil), por ferir regras da Premier League, ao “enfraquecer” o time de propósito.

Vale lembrar que a mesma punição foi dada ao Wolverhampton, na temporada passada, em fevereiro de 2010. A diferença crucial foi a abordagem feita pelo técnico Nick McCarthy, dos Wolves. Brigando para fugir do rebaixamento, ele deixou explícito que dificilmente bateria o poderoso Manchester United. Tendo a partida seguinte contra o Burnley, rival direto na zona de degola, ele poupou jogadores para tentar ganhar os pontos contra o adversário direto, escalando os “reservas” contra os Red Devils, três dias antes.

A discussão, no entanto, pauta-se pela ética. O técnico do Blackpool, Ian Holloway, ao contrário de seu colega à época, ficou furioso com a punição e pediu demissão – rechaçada pela diretoria do clube. A primeira falha vem dos próprios clubes, que não ousam questionar uma regra interpretativa, por mais óbvia que ela pareça. Se o objetivo dos cartolas da Premier League é valorizar o campeonato, deveriam usar outros artifícios, frente ao extenuante calendário do futebol do país. Contra o Aston Villa, os Tangerines fizeram o terceiro jogo no intervalo de dez dias. E o time “reserva” perdeu por 3 a 2, buscando o empate por duas vezes e caindo apenas aos 44 do segundo tempo, com o gol de Collins. Vale lembrar que, das 20 equipes do torneio, os Tangerines possuem o orçamento mais modesto. Mesmo assim, ocupam o 12º lugar, seis pontos distantes da zona de rebaixamento – da qual eram os mais cotados a frequentar, nas análises feitas no início da temporada.

O fato é que o Blackpool não entrou para perder; o jogo contra o Villa foi disputado, mesmo não sendo brilhante tecnicamente, o que não desvalorizou o espetáculo (com cinco gols) ou o produto, no caso, o torneio; Holloway escolheu os 11 iniciais dentre a relação de 25 jogadores que é exigida pela Premier League. A análise feita pelos engravatados não leva em conta o calendário, que massacra os pequenos, que obviamente não tem um elenco tão homogêneo quando comparados aos grandes, por exemplo. A escolha foi feita, primordialmente, olhando súmulas. e sem levar em conta índices técnicos e físicos, acompanhados de perto pelo staff do próprio clube. Em suma: a Premier League, não Ian Holloway, definiu os onze titulares do Blackpool.

O futebol na Inglaterra é plural e democrático, no que diz a participação de clubes – grandes, pequenos e até amadores – na terra dos inventores do futebol. O preço é a disputa do Campeonato Inglês, Copa da Inglaterra (FA Cup) e Copa da Liga Inglesa (Carling Cup). Aliadas ao final do ano, com o tradicional Boxing Day (com diversos jogos entre o natal e Ano Novo), os clubes dependem, mais do que nunca, de todo o elenco. E os cartolas da Premier League (ao menos ultimamente) não puniram nenhum grande por tal infração, quando chegava a hora de confrontar equipes mais frágeis, compartilhando calendário com jogos decisivos dos campeonatos continentais como a Champions League ou a Europe League, por exemplo. Tanto que todos os comandantes das equipes tradicionais do país (Carlo Ancellotti, Alex Ferguson e Arsène Wenger, por exemplo), deram declarações efusivas a favor das decisões de Holloway. "Penso que foi severo. Outros clubes já mudaram seus times e os grandes já o fizeram milhares de vezes", cravou Harry Redknapp, técnico do Tottenham, à BBC.

O clube, acima de tudo, vai zelar pelos seus interesses. A função das federações e dos organizadores é, primordialmente, achar um denominador comum para que haja a maior igualdade possível e que os participantes possam jogar num campeonato com dignidade. e justiça O que vêm fazendo os homens de Ian Holloway, até aqui, com bravura. Que estiveram longe de ferir a ética. Quem tem de arcar com a escalação de “titulares” ou “reservas” é a própria agremiação. Mas dentro do próprio torneio, que mostrará se tais decisões eram ou não as mais prudentes.

28.1.11

Dando o sangue pelo time

O quão longe você iria para poder ajudar o seu time? No futebol e nos esportes coletivos, em geral, que agrupam várias pessoas em prol de uma paixão, há muitos tipos de loucuras que os torcedores mais fanáticos fazem em nome da paixão – a grande maioria, gestos inusitados, mas nobres. Na Bulgária, os torcedores do Pirin Blagoevgrad – clube búlgaro que fica na cidade de Blagoevgrad (a 101 km da capital, Sofia) –, literalmente, darão o sangue pelas Águias.

Integrante da A PFG (a primeira divisão local), o clube está afundado em dívidas, que segundo a diretoria, chegam a US$ 300 mil, referentes a salários de atletas, funcionários e outros tipos de débitos em atraso. Nenhuma novidade, ainda mais quando quando vivenciamos o futebol brasileiro, onde tais notícias são corriqueiras. Mas o fato é que na maioria das ligas europeias, as equipes só tem licença para atuar profissionalmente caso comprovem que possam pagar todas as suas despesas em dia. E o presidente do comitê responsável pela liga búlgara, Krasin Krustev, deu prazo ao Pirin para quitar suas dívidas até o próximo dia 31 de março. Caso contrário, a equipe seria relegada à terceira divisão, onde seria rebaixada ao amadorismo.

É aí que entra o sangue dos torcedores. Na Bulgária, ao contrário do Brasil, a pessoa que recebe uma transfusão de sangue tem que pagar por ele. Com isso em mente, os aficcionados resolveram arregaçar as mangas e doar seu sangue, em prol da paixão pelo Pirin – que além de afundado em débitos, está na zona de rebaixamento da liga local, na 14ª posição entre 16 equipes.

Mesmo considerada uma equipe de menor expressão no futebol búlgaro (resultado de uma fusão de duas equipes da cidade que ostentavam o mesmo nome, em 2008), é uma espécie de celeiro de talentos para a seleção. A maior estrela do futebol local na atualidade, o atacante Dimitar Berbatov, do Manchester United, foi formado no Pirin. Após sete anos na base, transferiu-se ao CSKA Sofia (um dos grandes do país) e estourou no futebol europeu no Bayern Leverkusen, que depois o vendeu ao Tottenham. E contribuiu formando dois jogadores do fabuloso elenco que alcançou o quarto lugar na Copa do Mundo de 1994 (melhor participação do país): os atacantes Petar Mihtarski e Ivaylo Andonov.

Inclusive, a campanha de venda de sangue é apoiada por Ivan Berbatov, pai do centroavante do United, que aponta a omissão das autoridades locais para com o principal clube da cidade, que rotineiramente tem que recorrer às categorias de base para manter a equipe, já que os seus destaques rumam rapidamente aos times grandes de lá, como o CSKA, Lokomotiv, Levski e o Litex Lovech.

E mexer com sangue não é novidade para as Águias de Blagoevgrad. Em abril de 2010, após uma série de maus resultados, os cartolas decidiram sacrificar um cordeiro dentro do estádio do clube, usando o sangue do animal nos gols para tirar a zica. A equipe conseguiu permanecer na elite, na última temporada. Porém, o problema atual é mais sério e necessita de rapidez e muitas doações para ser solucionado. Resta saber se boa parte dos 76 mil habitantes da cidade doarão a preciosidade que correm em suas veias para salvar a equipe do ostracismo total.

26.1.11

Testes e preferências

Mano Menezes prossegue seu trabalho de renovação à frente da Seleção, ao ter convocado os jogadores que enfrentarão a França, que atravessa momento semelhante, no fatídico estádio de Saint-Denis, em Paris, no próximo dia 9 de fevereiro. Fiel ao seu estilo, o treinador brasileiro mostrou sensatez em deixar os jogadores que atuam no Brasil, em início de temporada, para chamar àqueles que estão a todo o vapor nos campeonatos europeus.

Evidentemente, o destaque maior da lista são as voltas do goleiro Júlio César, convocado pela primeira vez após a eliminação para a Holanda (defendida aqui), e do zagueiro Luisão – outro integrante do elenco presente à África do Sul. Era hora de alguns daquele elenco se mesclarem aos que devem formar a base para o próximo Mundial (ainda falta a volta de Maicon e de Kaká, quando este estiver 100%).

Outros jogadores, esquecidos há algum tempo, também fizeram por merecer a convocação, casos de Hernanes (que deve ser aproveitado como meia, não como o volante da época do São Paulo), Hulk (principal destaque do disparado líder do Potuguês, o Porto) e Gomes, que finalmente mostra alguma regularidade no gol do Tottenham. Os meias Renato Augusto e Jádson (convidado a ser naturalizar ucraniano, para defender a seleção do leste europeu), que também crescem de produção em Leverkusen e Shakhtar, respectivamente, marcam as estréias justas com a camisa canarinho.

Mas, salvo raras exceções, não vejo com bons olhos algumas "lembranças". Especificamente, o caso do zagueiro Breno (Bayern de Munique), o atacante André (Dínamo de Kiev) e do volante Sandro (Tottenham). Ambos com idade olímpica, são bons jogadores e tem potencial para integrar a equipe olímpica, caso os garotos do sub-20 assegurem uma das vagas ao torneio, que estão em jogo no Sul-Americano da categoria, no Peru. Por opção técnica (seja ela correta ou não), ambos são reservas em seus clubes. E, para vestir a camisa da seleção, penso que um dos pré-requisitos aos jogadores é a atuação regular em suas equipes de origem. Ainda mais no caso dos jovens, que só fizeram o nome pelo que jogaram no Brasil.

Sandro nem foi inscrito na relação dos atletas dos Whites que disputaram a fase de grupos da Champions e pouco atuou na Premier League. André é preterido pelos famosos atacantes ucranianos do Dínamo, como Shevchenko, Milevskyy e Kravets, ficando margeado dos titulares, ao lado do também encostado e brasileiro Guilherme. Chegou a ser eleito a pior contratação do futebol local em 2010, em votação feita pelo site especializado Football Ukrania. Depois de estourar no São Paulo, Breno se machucou por longo tempo e foi pouco aproveitado até mesmo quando foi emprestado ao Nurnberg, na temporada passada. Ainda precisa se firmar, para reeditar os bons tempos jogados nos gramados tupiniquins.

Talvez fosse hora de Mano olhar mais aos garotos de sub-20 para depois avaliar a necessidade de tais testes, ao chamar jogadores “parados”. E fazer mais testes com brasileiros em alta, como o volante Luiz Gustavo, 23 anos, transferido recentemente ao Bayern após temporadas sólidas pelo Hoffenheim – o time que o brasileiro Carlos Eduardo, lembrado por Mano, jogou antes de se transferir aos russos do Rubin Kazan. Inclusive, o brasileiro foi sondado para defender a sólida seleção alemã. Ou mesmo o atacante Nenê, em alta no PSG e artilheiro da Ligue 1. Filipe Luiz, do Atlético de Madrid, seria uma boa opção de teste, no lugar de André Santos, distante das jornadas no Corinthians, quando sob a batuta de Mano.

No geral, Mano vem conduzindo bem o processo para reconstruir o Brasil. É preciso apenas aparar algumas arestas e não deixar com que certas preferências não viciem o seu trabalho à beira do campo.

Goleiros:
Júlio César (Internazionale/ITA), Gomes (Tottenham/ING), Neto (Fiorentina/ITA)
Defensores:
Daniel Alves (Barcelona/ESP), Rafael (Manchester United/ING), Marcelo (Real Madrid/ESP), André Santos (Fenerbahçe/TUR), Breno (Bayern Munique/ALE), David Luiz (Benfica/POR), Thiago Silva (Milan/ITA), Luisão (Benfica/POR)
Meio-campistas:
Lucas (Liverpool/ING), Ramires (Chelsea/ING), Sandro (Tottenham/ING), Elias (Atlético de Madrid/ESP), Hernanes (Lazio/ITA), Anderson (Manchester United/ING), Renato Augusto (Bayer Leverkusen/ALE), Jadson (Shakhtar Donetsk/UCR)
Atacantes:
Robinho (Milan/ITA), Pato (Milan/ITA), André (Dynamo Kiev/UCR), Hulk (Porto/POR).

24.1.11

Solução?

Com as principais equipes do futebol paulista quase não gastando dinheiro em novos reforços, a novidade da semana foi a surpreendente ida de Rivaldo para o São Paulo.

Refém de um meia articulador há tempos, o Tricolor Paulista flerta desde o início do ano com vários nomes: Thiago Neves, Alex, Wágner... Sem acertar com ninguém, optou pela política do bom-e-barato preferindo arriscar em um veterano, que apesar de consagrado, está longe de ser uma unanimidade entre os são paulinos.

Antigo sonho da diretoria do Morumbi, Rivaldo será importante dentro e fora de campo, passando experiência e maturidade a jovens promessas como Lucas, Casemiro, Henrique e companhia. Apesar de estar parado desde seu retorno ao Brasil, o novo 10 Tricolor, ao menos cuida melhor de seu preparo físico do que alguns ex-colegas de seleção e está “fininho”.

Se por um lado a idade pesa (já que está prestes a completar 39 anos), a categoria e a habilidade sempre estarão presentes quando a bola chegar a seus pés. Sem querer realizar comparações, vale lembrar que com esta idade Romário sagrou-se artilheiro do Brasileiro de 2005...

Ainda reluto para definir se a decisão do São Paulo fora acertada, mas de qualquer forma não deixa de ser uma grande oportunidade para o torcedor mais jovem poder acompanhar mais um craque deste quilate desempenhando seu futebol, ao lado de Roberto Carlos, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho.

21.1.11

A felicidade morava no vizinho

Quando contratado como meia, Leonardo teve ótima passagem pelo Milan. As quatro temporadas na equipe rossoneri e o papel importante na conquista do scudetto de 1998/99, com 12 gols em 27 jogos, aliadas ao seu intelecto diferenciado (em se tratando de atletas de futebol) fizeram não só com que ele voltasse à Itália para encerrar a carreira no clube, em 2003. Diretor técnico e consultor do Milan na América do Sul, ajudou a trazer Kaká, Pato e Thiago Silva. Os dois últimos, jogadores importantes da equipe de hoje, enquanto Kaká foi peça-chave nas principais conquistas dos últimos anos, antes de partir para o Real Madrid.

Após a queda de Carlo Ancelotti, atual técnico do Chelsea, ele foi alçado ao cargo. Mesmo sem experiência, ele conhecia bem a realidade do clube e o elenco. Sem grandes reforços, tentou "ressucitar" Ronaldinho e ficou sem Pato por um bom tempo. O terceiro lugar, que dava ao Milan a passagem de retorno à Champions (não havia disputado em 2009/10), não foi suficiente para mantê-lo no clube. Que sob a batuta de Max Allegri e com reforços significativos, como Robinho e Ibrahimovic (Leonardo dependia demais de Borriello e do velho Inzaghi), lidera o Calcio e caminha para tentar quebrar a hegemonia da atual pentacampeã italiana Inter, arquirrival milanista.

Órfã do técnico José Mourinho, a Inter tentou prosseguir no caminho das glórias com Rafa Benítez, que apesar da capacidade e bom trabalho no Liverpool, saiu extremamente desgastado na Inglaterra. E o seu (justo) pedido de reforços após a conquista do Mundial de Clubes da Fifa, em dezembro, foi a desculpa para que a diretoria interista o demitisse. E o outrora rival Leonardo foi convocado e assumiu o time, sem titubear – após consultar o ex-clube, recebeu sinal verde e desejo de boa sorte.

A paixão e a química, ao que parece, foram instantâneas. Baseada em seu ótimo início, de cinco vitórias em cinco jogos, os elogios não param de acontecer. O presidente Massimo Moratti o classificou de "inteligente e brilhante". Materazzi desdenhou de Benítez, dizendo que o espanhol era "um guarda de trânsito dirigindo uma Ferrari" e dizendo que queria vê-lo comandar, ao lado de Mourinho, a equipe nerazzurri. Leonardo não ficou atrás, dizendo que a Inter possui o "DNA da vitória" – com Benítez, a equipe chegou a amargar série de cinco jogos sem perder. A diferença para o Milan, que chegou a ser de 13 pontos, atualmente foi reduzida para seis, tendo os rivais com uma partida a mais. Na "era Leonardo", a equipe já anotou 15 gols em cinco partidas, com sete sofridos. Com o espanhol no comando, o time atingiu apenas seis gols em nove jogos, entre setembro e novembro.

Há de se analisar o fato que o treinador espanhol saiu no momento em que o Inter, acometido por seguidas lesões de jogadores importantes como Stankovic, Milito, Chivu e Maicon. Mas é evidente que o empenho dos atletas aumentou visivelmente, como visto nas declarações. O fortalecimento do meio-campo, com a entrada do volante Thiago Motta em lugar do meia-atacante Pandev acentuou virtudes como a armação de jogadas com Stankovic (e que será feita por Sneijder, quando este estiver apto a jogar), a chegada com qualidade de Cambiasso e as incisivas jogadas de Maicon, pela direita. Some-se a isso o retorno total do lesionado Milito e a temporada fantástica pela qual atravessa o camaronês Eto'o (27 jogos em 24 gols) que inclusive, defendeu seu ex-treinador das críticas. Mas manteve o faro de gol em dia, com o brasileiro.

A Inter volta à briga de um dos campeonatos mais disputados dos últimos anos, com as ainda frágeis, mas boas equipes do Napoli e Lazio também entre os primeiros, além do Milan. E o sucesso do novo técnico pode causar algum tipo de reação em atletas do seu antigo elenco. A reação de Gattuso, logo após o anúncio do técnico, mostra isso. "Ele até fez um bom trabalho na temporada passada, mas sempre dizia que o trabalho de técnico não era para ele. Evidentemente, o Deus do dinheiro pode produzir milagres. Espero que ele não ganhe nada na Inter", disparou o volante ao jornal Corriere della Sera. O reencontro entre eles, em 3 de abril, será apenas mais um ingrediente para a briga pelo scudetto desta disputadíssima Série A.

17.1.11

Paulistinha para ter um Paulistão

Tradicionais, a briga pelo fim da participação dos grandes clubes nos estaduais é uma das grandes discussões que tomam conta do futebol brasileiro, principalmente neste início de temporada no país. Mesmo com a importância de outrora – muito minimizada pelo crescimento de importância de Copa do Brasil e Libertadores, disputadas simultâneamente com os estaduais – um mau desempenho neste torneio acaba colocando a cabeça do treinador dos grandes times a prêmio, como é culturalmente tradicional por aqui.

Há muitos anos, o Paulista desbancou o Carioca para se tornar o maior e mais rentável estadual do país. A vantagem da dupla Rio-São Paulo – com torneios tecnicamente muito mais interessantes do que outros do eixo Sul-Sudeste, é a despolarização. Além de quatro equipes grandes – São Paulo leva vantagem por ter times médios e pequenos mais fortes, mesmo com o enfraquecimento do interior nos últimos anos. Desde 2000, somente em dois anos (2000 e 2009), os quatro primeiros foram Peixe, Timão, Tricolor e Verdão – excetuando-se 2002, onde os rivais não estiveram no torneio, disputando o Rio/São Paulo. E dos dez torneios da década, cinco tiveram somente dois ou menos grandes triunfando entre os quatro melhores, abrindo espaço para equipes como Botafogo-SP, Ponte Preta, São Caetano, Santo André, Paulista, Noroeste, Bragantino, Grêmio Prudente e Guaratinguetá (agora, "rebatizado" de Americana) brilharem.

E justamente pelo ano passado, que viu Corinthians e Palmeiras fora das semifinais, com Santos e São Paulo se degladiando numa das partidas decisivas, enquanto os modestos e esforçados Santo André e Prudente estavam na outra, a Federação Paulista resolveu incrementar o já apertado calendário da competição. No lugar de quatro, oito clubes no mata-mata. Uma partida de quartas de final, outra na semifinal (com mando da melhor campanha) e duas na final. De 20 equipes, oito avançam e quatro caem. O campeonato, além de já estar inchado, passa a ter o início "relaxado", favorecendo os grandes, que contam com uma pré-temporada risível de dez ou quinze dias.

É importante manter os clubes do interior vivos, mais há muitos que não tem condições mínimas de figurarem na primeira divisão ou viram clubes-vitrine de empresários, como o caso do próprio Americana, em mudança controversa de sede de Guaratinguetá, movida estritamente por motivos econômicos e facilidades, contrastando com a festa feita por Linense e São Bernardo, que veem em suas agremiações formas de representar a cidade.

Que o calendário precisa ser repensado, não é novidade. Com um brasileiro longo, a Copa do Brasil deveria passar para o segundo semestre. Assim, as equipes que não disputassem a Libertadores poderiam jogar um estadual mais "folgado", com tempo de preparação adequada ao nacional. As classificadas ao torneio continental poderiam usar o torneio, calmamente, como laboratório. Haveriam menos datas e mais tempo de preparação.

Clubes e dirigentes defendem sair dos estaduais para excursionar em busca de dólares. O Paulistão paga bem (cerca de R$ 9,5 mi aos grandes). Porque não otimizar uma primeira divisão competitiva, com 12 clubes fortes, quatro semifinalistas e quatro rebaixados e deixar a segunda divisão regional forte e coma maiores subsídios da FPF? A desorganização de datas e brigas políticas entre a FPF e a CBF, neste caso, podem abreviar ainda mais a real importância de por o patromônio do clube em campos esburacados e sem condições de jogo por um campeonato secundário. É preciso se repensar o maior estadual do Brasil.

13.1.11

Delac: o novo paredão do Leste

Redigido originalmente para a seção "Fique de Olho", do Olheiros
Acompanhe as análises e toda a cobertura Copa São Paulo de Futebol Junior pelo Olheiros (@olheiros)

Considerado um dos melhores goleiros da década, Petr Cech reina absoluto no gol do Chelsea desde julho de 2004. E a supremacia do gigante tcheco no gol, indiretamente, abriu caminho para que o clube londrino observasse na região do Leste Europeu – que inclui quase que a totalidade dos países pertencentes à cortina de ferro soviética, na época da Guerra Fria, como os Bálcãs e a antiga Tchecoslováquia – mais potenciais talentos para defender sua meta no futuro.

Em 2007, chegou a Stamford Bridge Jan Sebek, compatriota de Cech. Com 19 anos, o arqueiro vai ganhando espaço entre os Reserves. Já em 2009, a região teria um novo candidato para a posição: o bósnio Matej Delac, de 1,91m e 18 anos, que chamou a atenção do caça talentos Frank Arnesen e assinou um pré-contrato com os Blues, logo após ter ido à Londres para integrar a delegação da Croácia de Slaven Bilic em um amistoso contra a Inglaterra, com apenas 17 anos. Mesmo já acertado, Delac ainda não se integrou totalmente ao clube e acabou emprestado ao Vitesse, da Holanda, para adquirir mais experiência – já havia sido cedido ao seu clube de origem, o Inter Zapresic. Mas não se enganem com a demora: o Chelsea aposta alto em mais um “paredão do Leste”.

Recorde e personalidade

Delac não nasceu com vocação para a posição. Em um mundo onde a esmagadora dos garotos quer ser meia ou atacante, certos fatores externosacabam selecionando os futuros arqueiros. Em seu caso, a altura foi fundamental para mandá-lo às balizas. E deu certo.

Um turbilhão de eventos levou o jovem goleiro aos holofotes do futebol local. Delac viajou à Portugal para realizar testes com o Benfica, logo após uma boa atuação com a seleção croata sub-15. Porém, o acerto financeiro com o Inter Zapresic, time local que o revelou, não aconteceu. O que foi ótimo para sua carreira.

Entre contusões e desfalques, assumiu o gol dos Keramicari (cerâmicos, em croata) em meio a temporada 2008/09. E fez história na sua primeira aparição como titular, em fevereiro de 2009. Jogado “na fogueira”, tornou-se o mais jovem atleta a jogar pela Prva HNL, a liga croata: 16 anos e 185 dias. Passeando pelo meio da tabela, o Inter vencia o NK Zagreb fora de casa por 1 a 0. Mas um pênalti aos 40 minutos da etapa final poderia ter selado o empate. Porém, Delac virou herói ao pegar a cobrança do veterano atacante Davor Vugrinec – integrante da Croácia na Copa de 2002 e passagens por clubes pequenos da Itália.

Muito celebrado pelos companheiros de equipe, a fama no país foi quase que instantânea. “Depois da minha estreia, recebi 38 pedidos de amizade no Facebook, apenas em algumas horas. Nem queria acreditar. As pessoas agora passam na rua e cumprimentam-me. É demais!”, declarou ao site oficial da Uefa. Terminaria aquela temporada com 15 aparições entre os titulares e outro pênalti defendido.

Novo Cech?

Delac continuaria como o arqueiro titular do Inter na temporada seguinte, com mais 23 partidas – desfalcaria a equipe por conta da convocação para a Croácia sub-19. Em agosto de 2009, o goleiro estava na Inglaterra com a seleção croata, para um amistoso. E a estadia na terra da rainha, além de marcar sua primeira convocação para a equipe principal, também selaria o acordo mais importante de sua precoce carreira: o acerto com o Chelsea.

Ainda sob o efeito de suspensão prévia por conta da transferência ilegal de Gael Kakuta – aliciado sem o consentimento de seu clube, o Lens –, o diretor das categorias de base Frank Arnesen fechou um pré-contrato com o talentoso arqueiro e o Inter Zapresic: em valores não revelados pelas partes (especula-se que o negócio ficou em 3 milhões de libras), o Chelsea teria a preferência de assinar contrato com Delac por cinco temporadas, assim que ele chegasse aos 18 anos. De quebra, ele permaneceria no seu clube de origem, por empréstimo.

Mesmo no futebol croata, os Blues não deixaram de acompanhar seu mais novo talento. Além de pagar os salários do camisa 1, o clube londrino mandava alguns DVDs ao jovem, para ir se familiarizando com os métodos e a história do clube. “Ele é muito jovem, mas está tendo grande experiência em seu país. Achamos que ele poderá se tornar um grande goleiro no futuro”, analisou o técnico da equipe principal Carlo Ancelotti, que o viu em ação durante alguns treinos no CT da equipe, em Cobham, em dezembro do mesmo ano. Na janela de transferências de 2010/11, o Chelsea o repassou aos holandeses do Vitesse, de onde deve voltar direto aos reserves do clube, ao final desta temporada.

Paredão croata

Natural de Gornji Vakuf-Uskoplje, atual Bósnia-Herzegovina – uma das cidades mais atingidas pela guerra croata-bosníaca (junho de 1992 a fevereiro de 1994), Delac nasceu em agosto, no início do conflito que se seguiu a independência da Croácia da antiga Iugoslávia. A região foi alvo de disputa por croatas, bósnios e sérvios. Radicado mais tarde em Zapresic, localizada na região metropolitana da capital Zagreb, a opção por defender a seleção croata foi natural. Tanto que ele é convocado regularmente às equipes de base dos Vatreni desde o sub-15.

Testado em alguns amistosos, as boas aparições logo o conduziram ao time que disputava as Eliminatórias para o Europeu sub-19, em outubro de 2008. Com o objetivo principal de garantir uma das vagas do continente ao Mundial sub-20 de 2011, na Colômbia, a Croácia chegara à fase final do torneio como zebra.

Com Delac defendendo a meta, o time vendeu caro a derrota diante da Espanha e arrancou um empate sem gols com a Itália. A vaga às semifinais veio com uma sonora goleada diante de Portugal por 5 a 0. Contra os donos da casa, a França, um irônico Déjà vu: há 12 anos, no mesmo mês de julho deste último Europeu sub-19, a Croácia caia diante dos donos da casa na Copa do Mundo de 1998 – na melhor participação da equipe em um Mundial – por 2 a 1, de virada, numa semifinal. O resultado e as circunstâncias se repetiram no torneio continental. Mesmo a derrota diante dos futuros campeões não apagou a bola atuação dos comandados do técnico Ivica Grnja, que viu seu goleiro cotado como um dos destaques da competição.

A boa performance na base e no campeonato nacional, mais uma combinação de imprevistos, fizeram o treinador Slaven Bilic chamá-lo como terceiro goleiro da equipe que enfrentaria a Inglaterra, pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2012, em agosto de 2009. Com 17 anos recém-completados à época, Delac tornou-se o mais jovem atleta convocado pela Croácia.

O novo integrante da legião do Leste Europeu do Chelsea se espelha em Cech e Reina e sonha em defender um pênalti de Cristiano Ronaldo. Para isso, é acompanhado com muita atenção pelos londrinos, já que os atuais goleiros da equipe principal, como Hilário e Turnbull, não agradam tanto aos torcedores. E para este arqueiro acostumado a desafios desde cedo, a chance de integrar o elenco principal pode não soar tão absurda, em um futuro próximo. Sob a supervisão próxima do ídolo Petr Cech.

Ficha técnica

Nome completo: Matej Delac
Data de nascimento: 20/08/1992
Local: Gornji Vakuf-Uskoplje, Bósnia e Herzegovina
Seleções de base que defendeu: Croácia sub-15, sub-16, sub-17 e sub-19 e sub-20
Clubes: Inter Zapresic, Chelsea e Vitesse (empréstimo)

12.1.11

Hora de voltar

Maicon e Júlio César, em ação pelo Brasil: peças importantes que devem voltar logo à lista de convocados de Mano

Na seleção ideal, divulgada pela Fifa e votada pela própria federação internacional de jogadores (FIFPro), a zaga era composta por Maicon (29 anos) e Lúcio (32 anos), dois dos pilares da Inter de Milão que ganhou tudo, mas que tiveram desempenho discreto na Copa do Mundo da África do Sul com o Brasil.

Mano Menezes chegou com o discurso de renovação à Seleção. E ela era necessária, principalmente no meio-campo, engessado na era Dunga, e no ataque. O ex-técnico do Timão conservou apenas Robinho e Dani Alves inicialmente, em relação grupo de convocados para os amistosos que marcaram sua caminhada no comando do time, contra EUA, Ucrânia e a queda diante da Argentina de Messi. Porém, contra a França, em fevereiro, Mano precisa começar a injetar experiência para a base que disputará a Copa América neste ano. E ela passa por nomes como o goleiro Júlio César (só não foi eleito o melhor de 2010 por conta da temporada de Casillas), Maicon e Kaká (28 anos) – apesar da qualidade indiscutível, a idade de Lúcio tornaria inviável que mantivesse o mesmo ótimo nível até 2014.

O goleiro segue soberano no gol nerazzurri. Seu único "pecado" em 2010 foi mesmo a falha no jogo contra a Holanda, pelas quartas de final da Copa. Mano testou o bom Victor, chamou o questionável Jefferson e o jovem Neto – que está de malas prontas para a Fiorentina. Mas nenhum deles chega próximo a excelência do camisa 1 do Brasil nos últimos anos (foi eleito pela IFFHS como um dos dez melhores da posição na última década).

As diferenças entre Maicon e Daniel Alves, primordialmente, são de estilos. Enquanto o lateral da Inter é mais agudo no ataque e defende melhor, o do Barcelona é mais técnico e habilidoso, bate melhor na bola e pode criar jogadas diferentes das do rival de posição. Mas independente da escolha para a camisa 2, ambos devem estar numa eventual lista de Mano. Indiscutivelmente, são os melhores em suas posições não só no Brasil, como no planeta. Tanto que, além da seleção divulgada durante o prêmio da Fifa, nesta semana, Maicon já havia sido eleito como o melhor defensor da Uefa na última temporada, em parte, pelo excelente desempenho com a Inter na Champions conquistada pela equipe de Milão.

O caso de Kaká inspira mais cuidado, já que o meia jogou a Copa no sacrifício, errou em algumas atitudes, mas também acabou chamuscado pela eliminação brasileira. Tudo poderia ser diferente caso seu chute colocado não tivesse sido brilhantemente defendido por Stekelemburg, que evitou o 2 a 0 brasileiro que dificultaria a coisa para os holandeses. Porém, o meia de 28 anos vem retornando aos poucos e 100% clinicamente aos campos. Alguns minutos contra o Getafe e o gol na partida seguinte contra o Villarreal, (não marcava pela equipe espanhola desde abril de 2010) neste início de janeiro, mostram que José Mourinho deve recuperar sua confiança. Algo que Mano, que já declarou estar observando o camisa 8 do Real, não pode deixar de ponderar. Acredito que seja mais fácil para o destaque brasileiro nos últimos anos voltar ao bom futebol do que Ronaldinho Gaúcho, recentemente repatriado ao Flamengo e que acabou chamado na hora errada pela seleção no amistoso diante da Argentina, quando vinha em declínio no Milan.

Caso mantenham o nível habitual, a tarimba desses atletas é imprencindível para uma seleção de tantos jovens e bons valores, como David Luiz, Thiago Silva, Lucas, Neymar e Pato, por exemplo. Acredito que em breve, a sensatez de Mano deverá reconduzir esses jogadores ao escrete canarinho.

9.1.11

Até Passione deve acabar antes...

A novela da volta de Ronaldinho para o futebol brasileiro já cansou. Seja os times interessados na contratação do jogador, seja todo o meio do futebol, ou até mesmo aqueles que não ligam para o esporte, ninguém aguenta mais a demora na definição do futuro do gaúcho. O que é triste, já que, como o André comentou logo abaixo, sua volta seria positiva em todos os sentidos.

Mas ele não precisava disso. Prestes a completar 30 anos, já eleito duas vezes o melhor do mundo, campeão do mundo e europeu, milionário, Ronaldinho não precisava disso. É difícil saber se é seu irmão e empresário Assis quem está dificultando as coisas, como alegam Grêmio ou Palmeiras, ou se é a indecisão do atleta. Seja como for, a culpa é sua, já que, pelo menos ao que parece, o craque deixa o irmão tomar todas as decisões.

Acredito que a melhor opção teria sido o Grêmio, e não apenas por ser o clube do coração. Comparando o clube gaúcho com Palmeiras e Flamengo, é o de melhor estrutura, os salários não estão atrasados - pelo menos sabemos que a situação no time paulista é extremamente crítica e no carioca não é diferente -, tem o melhor time e vai disputar a Copa Libertadores. Já é um time pronto, enquanto o alviverde e o rubro-negro ainda estão em busca de uma cara.

Chega uma etapa da vida que o dinheiro é, ou deveria ser, menos importante. Se o objetivo de Ronaldinho com a volta ao país é recuperar a confiança em seu futebol e mostrar ao técnico Mano Menezes que tem condições de ganhar uma vaga na Seleção Brasileira e disputar a Copa do Mundo de 2014, o jogador deveria levar muitas coisas em consideração. Mas se são os milhões de reais e as baladas na bela e linda cidade maravilhosa que o atraem, paciência. Além disso, toda essa demora só serviu para provocar a fúria e decepção dos torcedores, principalmente dos gremistas. Quem perde é o futebol. Essa história não combina com o seu futebol... Mas que decida logo onde irá jogar, por favor!

6.1.11

A "Susan Boyle" dos Cavs

"Radio Man", ainda como um sem-teto: recomeço de vida como locutor do Cleveland Cavaliers, da NBA

No mesmo dia em que os líderes das Conferências Leste (Boston Celtics) e Oeste (San Antonio Spurs) iriam fazer seu confronto na NBA ou que Lebron James fez um trocadilho comparando as performances trio galáctico do Miami Heat (formado por ele, Dwyane Wade e Chris Bosh) com os Beatles, os "Heatles" – a equipe da Flórida acumula 19 vitória nos últimos 20 jogos – a notícia que mais repercutiu e chamou a atenção do basquete estadunidense estava fora das quadras e veio de Cleveland: os Cavaliers contrataram um sem-teto de 53 anos para ser locutor na Quicken Loans Arena, casa da equipe de Ohio, além de emprestar sua voz para futuros comerciais da equipe. A imprensa local logo o comparou com a cantora britânica Susan Boyle, que fez uma audição para um programa de calouros em seu país, virou hit na internet e alcançou o estrelato estritamente pelo seu talento, não por meio de dotes físicos ou padrões de beleza.

O novo empregado dos Cavs em questão é Ted Williams, um velho do Brooklin que vagava pelas ruas da cidade de Columbus. Os problemas com drogas e álcool fizeram com que perdesse tudo o que tinha, tornando-se um mendigo conhecido pela capital do Estado de Ohio. Tanto que era apelidado de Radio Man, dado o timbre impressionante de sua voz. Com quase 14 folhas de antecedentes criminais que incluíam roubo, assalto e posse de drogas, a vida de Williams mudou graças a uma reportagem feita pelo jornal “The Columbus Dispatch”, que contava sua história de vida e a fama local do mendigo-locutor com voz de ouro. Então, os jornalistas resolveram gravar um vídeo com Williams, onde ele resumia sua vida e falava das dificuldades que havia passado. Mas que estava limpo há dois anos. Em apenas dois dias, o vídeo virou hit no Youtube (abaixo), acessado por mais de 11 milhões de vezes (até o momento em que este post era redigido).



O talento do sem-teto foi visto pelos cartolas da equipe de basquete, que logo ofereceram a ele o trabalho de locutor e uma casa, próxima a arena dos Cavaliers. "Os Cleveland Cavaliers ofereceram-me um trabalho a tempo inteiro e uma casa! Uma casa! Uma casa!", disse um incrédulo Ted, em um programa de rádio local. E não foram só os Cavs que lhe ofereceram um trabalho. A MTV, um produtor de filmes para a NFL, um programa de talentos e até produtores ligados aos Simpsons tentaram contatá-lo. A história e o desfecho feliz para o locutor – que havia sido detido pela última vez em maio de 2010 –, obviamente, ganharam a imprensa esportiva do mundo.

A ação de marketing do clube, diante da enorme repercussão, foi rápida: no primeiro quarto do jogo desta quarta diante do Toronto Raptors, do brasileiro Leandrinho, a foto do novo funcionário dos Cavs apareceu na quadra e logo depois, um site criado para ele recebia mensagens de parabenização e incentivos, em tempo real.

Mesmo não sendo um esportista propriamente dito, é o segundo grande exemplo de reintegração de um ex-detento que tem uma chance de ouro para se reintegrar à sociedade por meio do esporte no país. O outro, muito mais alardeado pela performance na NFL, é o quarterback Michael Vick, do Philadelphia Eagles. De grande estrela e jogador mais pago da liga, em 2005, até a prisão por 18 meses, entre 2007 a 2009, pela promoção de rinha entre cães. Falido e sem ninguém para contratá-lo, acabou nos Eagles ganhando apenas o salário piso da liga. Mas uma série de fatores o colocou novamente como o principal quarterback da equipe e ele brilhou como um dos principais protagonistas do torneio, em sua temporada regular.

Em um país de sistema carcerário falido como é o Brasil, onde é urgente uma reestruturação completa, o esporte não poderia ser usado como uma das ferramentas para a reintegração – aquela sem o alarde da imprensa, conquistada pelos méritos – de detentos à sociedade?

3.1.11

Um novo filão

“Eu vou fazer um leilão
Quem da mais pelo meu coração
Me ajude voltar a viver
Estou aqui tão perto
Me arremate para você”

O trecho da letra acima, popularizada na voz da dupla sertaneja César Menotti e Fabiano, ilustra com clareza o momento que atravessa Ronaldinho e seu irmão e procurador Assis: um verdadeiro leilão para saber quem vai repatriar o craque (se é que ele realmente voltará ao Brasil). O caso é tão complexo que o Milan destacou seu vice-presidente de futebol, Adriano Galliani, para ficar no país até o desfecho da transferência.

Todos os interessados (Flamengo, Palmeiras e Grêmio) afirmam ter feito boas propostas., destacadas aqui pelo site GloboEsporte.com. Assis é visto negociando com todos os clubes, enquanto o craque não dá a menor pista de qual rumo seguirá em 2011 – o Blackburn entrou na briga e tem a proposta mais vantajosa ao Milan, que visa recuperar parte do investimento feito no brasileiro junto ao Barcelona, em junho de 2008, por quase 25 milhões de euros. No quesito salários, ainda usando como base o GloboEsporte, o Palmeiras tem o salário mais alto, além da dar um eventual valor da patrocínio nas mangas de seu uniforme.

Algo que parece concreto nessa complicada possível volta é que Ronaldinho não voltará “pelo coração”. Tanto é que o duo não cogita voltar ao Grêmio apenas por gratidão, já que o meia saiu pela porta dos fundos do Tricolor gaúcho, em negociação conturbada com o Paris Saint-Germain, em 2001. O empresário de Ronaldinho já reclamou da postura gremista, que não negociou mais após a primeira (e otimista, segundo a própria diretoria gaúcha) proposta. O Flamengo – aquele mesmo que quase caiu no Brasileirão pagando mais de 900 mil reais para sua dupla titular de ataque, formada por Deyvid e Diogo – parece estar mais perto da chegada do craque. O irônico é que uma das empresas que pode ajudar a pagar parte dos salários de Ronaldinho é a Traffic, que teoricamente, é parceira de longa data no futebol do Palmeiras. A night carioca, porém, apetece mais ao meio-campo, que não esconde sua preferência por uma baladinha.

A verdade que os êxitos da vindas de Ronaldo, Adriano, Fred e Robinho nos últimos anos inaugurou um novo filão no futebol brasileiro: craques insatisfeitos/encostados na Europa voltam ao Brasil para ficar mais perto dos familiares (e de todas as regalias oferecidas pelos clubes, além de outros fatores) ganhando um salário quase que equiparado ao nível oferecido no Velho Continente.

Dentro e fora de campo, tais negociações têm sido vantajosas aos clubes. No entanto, mesmo com uma verdadeira operação financeira para viabilizar tais chegadas, a maioria dos clubes acabam se planejando mal. É o caso do próprio Palmeiras, com a volta de Valdivia: o clube Alviverde fechou 2010 com débitos em parte dos vencimentos do elenco – inclusive o próprio chileno e Kléber, trazido junto ao Cruzeiro. Ambos reclamaram dos entreveros publicamente.No Flamengo, tal problema é recorrente nos últimos anos.

A vinda de Gaúcho para o futebol daqui é altamente positiva, já que o craque, se quiser mesmo jogar bola, ainda tem muita lenha para queimar. Vide Ronaldo, Adriano e Robinho, principalmente. Mas os problemas desses craques é exatamente fora das quatro linhas, com anuência dos dirigentes. Não adianta chegar Ronaldinho, se a zaga do Palmeiras não tiver reforços ou se o Flamengo não tiver atacantes em boa fase. O planejamento para viabilizar a vinda de estrelas e os lucros que eles podem trazer de imediato. Nada de títulos.

*Atualizado às 23:38