31.3.09

Final vespertina

Vila Belmiro, quinta-feira, 02 de abril, quinze para as quatro da tarde. Apesar de dia e horário parecerem esdrúxulos, estarão em campo nesse exato momento as duas equipes que farão a primeira decisão do Campeonato Paulista de 2009: Santos e Portuguesa.

Com tudo praticamente decidido na parte superior da tabela, dominada quase que durante todo o campeonato pelos clubes mais populares do Estado (Corinthians, São Paulo e Palmeiras), restou ao Peixe e à Lusa definir qual deles passará para a fase semifinal.

A maior dificuldade do Santos no decorrer da competição foi conseguir manter-se numa campanha regular. Ao mesmo tempo em que bateu o São Paulo e goleou o encardido Santo André por 3 a 0, os praianos perderam pontos teoricamente fáceis quando empataram em casa com o Mirassol e o Paulista ou quando sofreram uma derrota para o Marília (jogo que ocasionou, inclusive, a demissão do ex-treinador Márcio Fernandes).

Contratado em meados de fevereiro, o atual técnico Vágner Mancini mostra ter muito mais experiência e conhecimento tático que seu antecessor. Afinal, não só melhorou o poderio ofensivo alvinegro mudando o esquema para o 4-3-3 como também deu uma organizada na defesa, que levou apenas um gol nas últimas cinco partidas.

E não é somente na tática que a escalação do Santos aparece diferente. Diante da má fase de alguns medalhões, como Roni, Molina e Lúcio Flávio, jovens promessas como Neymar e Paulo Henrique tornaram-se titulares quase que absolutos. Até mesmo Kléber Pereira, autor de boa parcela dos gols da equipe em 2008, anda sumido em campo.

Após a queda para a Série B Nacional, poucos acreditariam que a outrora abalada Portuguesa chegaria no Paulista com condições de disputar a próxima fase. Na estreia, a derrota para o Guarani e a saída de Estevam Soares apenas reafirmariam essa teoria. Veio então, a segunda rodada. Mesmo com um novo insucesso (agora diante do São Paulo), a Lusa já deu sinais de melhora. E daí para frente, não perdeu mais.

Sob o comando do novo treinador Mário Sérgio o time do Canindé tornou-se regular e cresceu no campeonato. Apesar da campanha convincente, a diretoria lusitana não poupou o cargo de Mário Sérgio. A briga do treinador com um dos atletas mais talentosos do elenco (Fellype Gabriel), a eliminação precoce na Copa do Brasil diante do Icasa e suas constantes invenções táticas, culminaram em uma nova demissão na Lusa.

Com Paulo Bonamigo há menos segredos táticos. No seu 3-4-1-2, lateral joga de lateral e atacante, de atacante. Na função de “1” cabe ao reintegrado Fellype Gabriel armar a equipe. Já pelos flancos, há opções tanto pelo lado direito com César Prates ou Marco Antônio, quanto pelo esquerdo com Athirson e Edno (artilheiro dos lusitanos).

Times um tanto quanto combalidos, porém tradicionais se enfrentam num jogo em que qualquer outro resultado diferente dos três pontos quase elimina as chances de um deles prosseguir no torneio. Ah, se o horário não fosse tão ruim...

28.3.09

Pastelão paranaense

O futebol brasileiro sempre foi “criativo”, no que diz respeito a formulação de regulamentos para os campeonatos. Tanto pela inventividade quanto nas manobras para beneficiar os grandes. Milhares de turnos, cruzamentos esdrúxulos e combinações improváveis eram vistas desde o Campeonato Brasileiro até os estaduais diversos. Quem não se lembra da polêmica do Campeonato Brasileiro de 1987, na queda de braço entre o Clube dos 13 e a CBF? Ou a Copa João Havelange, concebida para fugir da decisão judicial que ordenava o Gama na 1ª divisão do futebol nacional? Além de não conseguir barrar o time candango, os playoffs finais reuniam times da primeira, segunda e terceira divisões na disputa pelo título, que quase sagrou o São Caetano - da terceirona - campeão nacional.

Em novos tempos de pontos corridos, os estaduais ainda estão aí para desafiar a capacidade de interpretação de cartolas, jogadores e torcedores em relação aos regulamentos. Posto isso, em pleno 2009, os cartolas do Campeonato Paranaense pareciam com pressa de redigir o regulamento para o certame deste ano. Apresentado em novembro do ano passado, o campeonato definia a classificação de oito das 15 agremiações participantes para a segunda fase, onde a equipe que somasse mais pontos nessa fase final seria declarada campeã paranaense. E mais. Primeiro e segundo colocados da primeira fase entrariam com pontos extras na fase final – dois e um, respectivamente.

Mas o pior estava por vir. Era o regulamento dos mandos de campo da segunda fase. Como seriam necessárias sete rodadas para se conhecer o campeão, os dirigentes pensaram em dar um mando a mais para os quatro melhores da primeira fase, onde elas jogariam quatro jogos em casa e três fora, ordem que se inverteria aos quatro últimos classificados ao octogonal. Pensaram, mas no papel a história era outra (regulamento na íntegra, aqui):
Art. 9º - Na segunda fase do CAMPEONATO, as 8 (oito) EPD classificadas se enfrentam em turno único, com mando de campo da EPD que teve melhor classificação geral na fase anterior do CAMPEONATO.
Um bom interpretador de textos veria na revisão que o artigo nono daria o mando das sete partidas ao vencedor da primeira fase - no caso, foi o Atlético/PR. E os dirigentes do Furacão não hesitaram em procurar o STJD, mesmo com a FPF propondo aos clubes que acatassem a fórmula de quatro mandos aos melhores da primeira fase. No entanto, o maior beneficiado foi o único a se manter irredutível ao "remendo" no regulamento e chegou as vias de fato. Por oito votos a um, o STJD determinou que fosse cumprido o artigo nono e a FPF teve que rasgar o regulamento: mandos de acordo com a classificação, com o Atlético jogando toda a fase final em Curitiba e o Paranavaí, oitavo colocado, jogando fora de casa todo o octagonal.

Mesmo correto em procurar seus direitos, faltou bom senso a diretoria do Atlético, que ainda ironizou: "O que fica de lição é que um regulamento precisa ser bem redigido”, segundo informou Cosme Rímoli em seu blog. O presidente da FPF Hélio Cury - reeleito em 2008 - ainda tentou minimizar os estragos: "Muda muito pouco. Só essas equipes [Iraty, Cianorte e Paranavaí] perderam mandos”. Além de perder os mandos, a FPF ainda não se pronunciou quanto ao ressarcimento do prejuízo financeiro que essas equipes terão por conta da perda de renda nas bilheterias e eventuais custos com viagens.

Pra completar a lambança, a Federação remanejou os quatro jogos da primeira rodada para este domingo, sendo que três deles seriam em Curitiba e no mesmo horário, às 15:30hs , por conta da partida do Brasil nas Eliminatórias. A Secretaria de Segurança Pública teve de intervir para antecipar um jogo – por sorteio, Atlético x J. Malucelli – para as 20:30hs deste sábado, alegando não ter efetivo suficiente para as três partidas das equipes curitibanas. É ou não é o país (do futebol) da piada pronta, como diria José Simão?

27.3.09

Que o início continue em 1971

Primeiro Campeão Brasileiro?
Bahia, campeão da Taça Brasil de 1959

Nesta semana muito se falou sobre a entrega de um relatório que luta pelo reconhecimento dos campeonatos nacionais disputados de 1959 a 1970. Caso a reivindicação seja aceita pela CBF, os campeões dos dois torneios que antecederam o Campeonato Brasileiro (Taça Brasil e Robertão) aumentariam o seu estoque de premiações.

No total, seis equipes sagraram-se campeãs durante esse período: Santos (6 vezes), Palmeiras (2 vezes) e Botafogo, Fluminense, Cruzeiro e Bahia (um cada). O principal argumento desses clubes que lutam por essa igualdade é afirmar que na época em que eram disputados, esses torneios tinham o mesmo peso que o atual campeonato nacional. Bom, para mim, não é bem assim.

Comecemos com a Taça Brasil. A Taça Brasil foi um torneio disputado de 59 a 68 e apesar de ser o único campeonato nacional da época, era um campeonato que não tinha e nunca teve a mesma representatividade do Brasileirão. E olha que servia até para classificar os representantes do país na principiante Copa Libertadores. Afinal, a sua criação ocorreu exatamente para este fim.

Tratava-se de um torneio “tiro-curto”, no qual participavam apenas alguns campeões estaduais, enfrentando-se num sistema eliminatório. Qualquer semelhança com a Copa do Brasil não é mera coincidência. Isso sem falar no privilégio que os representantes paulistas e fluminenses tinham ao entrar no torneio apenas na fase semifinal. Seria esse o motivo de, após 10 anos de disputa, apenas dois times de outro estado conseguiram levantar o caneco?

Por outro lado, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, popularmente conhecido como Robertão, já apresentava um pouco mais de critérios. Aboliram-se os “mata-matas” e, agora, cerca de 80% dos participantes permaneciam inalterados de uma edição para outra. Mesmo assim, o seu caráter extra-oficial e sua pequena duração não o credencia suficientemente.

Além disso, abro espaço para outro questionamento. Se em dois anos, houve a disputa da Taça Brasil e do Robertão (67 e 68) concomitantemente, qual será o critério utilizado para definir o “Campeão Brasileiro”? Dois campeões? Vale lembrar que em 67, o Palmeiras ganhou ambos. Seria o primeiro bicampeão de um ano só.

Na verdade, acho lamentável ver os dirigentes dos maiores clubes do Brasil gastarem suas energias com assuntos meramente publicitários. Por que, ao invés de reunirem-se para criar “dossiês” históricos, esses senhores não pensam em parcerias internas que ajudem a melhorar a situação do futebol do país?

Tanto faz, ser hepta, octa, decacampeão. De nada adianta teimar no reconhecimento de títulos antigos que tem menor importância, se qualquer nova promessa brasileira debanda para clubes sem a menor tradição mundial em troca de míseras milhas de euros.

25.3.09

Diferentes invencibilidades

Nelsinho, Mano e Adílson: em comum, invencibilidade em 2009 e "longevidade" em seus respectivos cargos.

Há pouco menos de dois meses do início do Campeonato Brasileiro, vemos os diversos desempenhos dos 20 clubes da Série A nos estaduais com algumas disparidades. Não há nenhuma equipe incontestavelmente melhor que a outra. Cinco equipes permanecem invictas nos Estaduais – Cruzeiro, Inter, Sport, Corinthians e Palmeiras – mas apenas três delas – Corinthians Cruzeiro e Sport – caminham invictas em 2009. No entanto, tal invencibilidade não é exatamente sinônimo de um futebol vistoso e imponente. Por vezes, é até o contrário.

O Cruzeiro* (17J, 12V/5E – 47GP e 11GS) começou a temporada arrasador. Com ótimo desempenho na Libertadores – onde praticamente está classificado, salvo um desastre – acabou caindo de rendimento nos últimos jogos, onde sofreu para vencer o fraco Universitário de Sucre e amargou três empates consecutivos no Campeonato Mineiro – nos quais marcou um gol apenas – vendo o rival Atlético/MG terminar na primeira colocação da fase classificatória, mesmo com a ótima vitória por 7-0 diante do Democrata. Mesmo com a esdrúxula fórmula do campeonato – onde se classificam oito dos doze participantes às quartas – numa provável final diante do Galo, o rival teria a vantagem de dois resultados iguais. A falta de opções confiáveis nas laterais e algumas contusões podaram a equipe de Adílson Batista fazer valer sua superioridade técnica no certame mineiro. Destaques para as diversas opções de ataque, principalmente Wellington Paulista e Kléber. É um time que mais maturado e com alguns reforços precisos, pode começar o Brasileirão com boas chances, além de pintar como um dos favoritos à Libertadores na fase decisiva.

Mais surpreendente ainda é o Sport* (19J, 17V/2E – 46GP e 11 GS). Soberano no Pernambucano e na Libertadores, conseguiu emplacar duas séries de vitórias consecutivas em 2009 – de oito jogos, quebrada em fevereiro e de nove, quebrada nesta semana com o empate em casa diante do Ypiranga. Tem a possibilidade de conquistar o Pernambucano com folgas – venceu o primeiro turno e lidera o segundo com três pontos à frente do Santa Cruz – e de classificar antecipadamente para a fase decisiva da Libertadores, inclusive podendo eliminar seu principal adversário de chave jogando na Ilha: o desesperado Palmeiras, derrotado nas duas primeiras rodadas da competição continental. Nelsinho acerta a mão na mistura de jogadores rodados, tais como Magrão, Dutra, Durval e Paulo Baier, aos novos talentos, como o goleador Ciro. Equipe compacta e versátil, ainda ganhou o reforço do arisco Vandinho, que pode fazer boa dupla com Ciro. O Leão, ao lado do Inter e do próprio Cruzeiro, vem mostrando o futebol mais constante do país até aqui, no que diz respeito a técnica e ao plano de jogo elaborados por Nelsinho Baptista.

O caso mais curioso é o do Corinthians* (18J, 11V/7E – 35GP e 14GS). A disparidade no ataque - no comparativo com Cruzeiro e Sport - deve-se ao fato de muitas incertezas e contusões. Souza não vem dando certo, Jorge Henrique, Otacílio Neto e Dentinho revezam-se entre o banco, suspensões e contusões, enquanto Ronaldo volta ao futebol competitivo aos poucos. Mesmo fora de forma, o Fenômeno já marcou quatro tentos em cinco partidas, se igualando na vice-artilharia da equipe ao lado de Otacílio Neto e Jorge Henrique, utilizados desde o início desta temporada. Muito longe dos 100%, o Timão vai criando a "Ronaldodependência", um pouco prematura por conta da condição física do atacante. Invicto em 2009, o Corinthians ainda não está classificado às semifinais do Paulistão, onde apenas três pontos separam a equipe de Mano da zona de classificação, sendo que os principais rivais pelas três vagas restantes possuem três (São Paulo e Portuguesa) e quatro derrotas no campeonato (Santos). O excesso de empates aponta uma clara irregularidade do time, que sente a falta de um elenco mais qualificado diante das diversas contusões ocorridas até aqui. Pontos positivos para o meio-campo versátil formado por Cristian e Elias - responsáveis por suprir a inconstância de Douglas em 2009 – o lateral/ala André Santos, voltando à boa forma de 2008, as bolas paradas de Chicão e o ótimo retorno de Ronaldo, pelo menos até aqui. Mas a consistência mostrada na Série B e a serie invicta em casa - são oito meses sem derrota - serão postas à prova diante de adversários mais qualificados, tanto no Brasileirão quanto no afunilamento da Copa do Brasil.

Mesmo com equipes de trajetórias distintas entre si em 2008, um ponto a ser destacado entre os três times invictos até aqui é a longevidade de seus treinadores. Todos estão há mais de um ano no cargo – assumiram seus cargos em dezembro de 2007. Uma mentalidade que comprovadamente deu certo com Abel Braga no Inter campeão da Libertadores e do Mundial em 2006 e de Muricy Ramalho no São Paulo tricampeão nacional e que, aos poucos, mostra que é a fórmula mais acertada para se montar uma base vencedora.

*Na temporada 2009

23.3.09

Dupla (im)previsível

Nessa temporada européia, algumas reviravoltas e surpresas: A Bundesliga mais disputada dos últimos anos, times ameaçando a supremacia do Lyon na França, a Premier League se emparelhando novamente após duas derrotas consecutivas do Manchester United. No entanto, dois jogadores quase sempre se destacam após as rodadas do fim-de-semana: Messi e Ibrahimovic fazem gols atrás de gols. Um mais plástico do que o outro. E conduzem suas respectivas equipes rumo à conquista dos nacionais como principais protagonistas de tais feitos.

Soberana no Calcio, a Inter ainda tenta se adaptar ao estilo Mourinho de jogar. A inconstância de um parceiro de ataque e jogos pouco efetivos dos meias de criação deixam a Inter cada vez mais dependente de Ibrahimovic. E o sueco corresponde as expectativas interistas, com a equipe sobrando diante dos rivais. Artilheiro do Italiano com 19 gols – ao lado de Di Vaio, do Bologna -, Ibra contabiliza um golaço atrás de outro. Contra a lanterna Reggina, neste final de semana, o camisa oito marcou mais dois tentos, o último deles um verdadeiro golaço. Após se livrar de três marcadores, tocou por cima do arqueiro Puggioni (vídeo abaixo). Um gol de categoria e inteligência, características que vem melhorando no sueco, principalmente após sua transferência da Juventus para a Inter, da qual se tornou o principal jogador dos últimos anos.



O caso de Messi é ainda mais complexo e interessante. O argentino se sobrepõe aos outros bons jogadores do Barcelona de Pep Guardiola. O técnico monta um esquema que prima pela ofensividade: são 84 gols em 28 partidas, numa impressionante média de três gols por partida de La Liga. Além do letal tridente formado por ele, Henry e Eto’o – responsável por 59 dos 84 gols da equipe catalã – ainda conta com o auxílio de meio-campistas versáteis e talentosos. Mesmo com a versatilidade e disciplina de Xavi, o oportunismo e rapidez de Eto’o e a calma e inteligência de Henry, Messi agrega muita noção tática, rapidez, habilidade e imprevisibilidade. No massacre do Barcelona frente ao Málaga por 6-0, um gol com a marca do camisa 10: velocidade, habilidade e rapidez de raciocínio frente a zaga adversária (vídeo abaixo).



Vitima do isolamento frente ao arrumado Manchester United, Ibrahimovic não pôde evitar o fiasco da Inter na Champions League, mesmo aparecendo bem nas duas partidas. Já Messi, auxiliado pelo excelente momento do Barça, pode ser o diferencial na luta dos catalães contra a supremacia inglesa na Champions. O teste contra o Bayern promete. E mesmo com alguma disparidade entre Inter e Barcelona como conjuntos, Messi e Ibrahimovic formam, neste momento, a dupla de atacantes mais letais e imprevisíveis do mundo neste momento. Tanto é que os dois atacantes brigam pela Bola de Ouro, concedida ao maior artilheiro da temporada européia. E vão brigar também pela coroa de melhor do planeta, na posse de um irregular Cristiano Ronaldo em 2008/09.

20.3.09

Campeonato Paulista ou Paulistano?

Excesso de estrelas?
Os times grandes estão muito bem ou é o interior que está nivelado por baixo?


Bairrismos à parte, entre todos os torneios regionais, o Campeonato Paulista sempre foi considerado o mais difícil de ser conquistado. Parte desse mérito deve-se ao fato de times do interior geralmente encresparem com equipes grandes.

Tanto que nos últimos anos, pelo menos uma zebra perambulou entre os 4 times melhores classificados. Botafogo (2001), Portuguesa Santista (2003), Santo André (2005), Noroeste (2006), São Caetano e Bragantino (2007) e Ponte Preta e Guaratinguetá (2008) exemplificam esta estatística. Isso, para não citar a fatídica final caipira de 2004, vencida pelo São Caetano em cima do Paulista.

Na atual temporada, porém, a história é muito diferente. A supremacia dos gigantes do Estado é visível. A cinco rodadas do término da 1ª fase, Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos aparecem na ponta da tabela. E mesmo com Portuguesa e Santo André ainda presentes na briga, os grandes não dão mostras de que ficarão fora das finais.

Há muitas explicações para o fiasco dos pequenos. Alguns dirão que as contratações do G-4 foram mais acertadas nessa temporada do que em outrora. Outros dirão que o fato dos europeus não “importar” tantos atletas brasileiros neste ano, fortaleceu o elenco dos grandes. Talvez. Até acredito que são argumentos que, de certa forma, até contribuem para essa situação.

Certo mesmo é que fazia tempo que eu não via tantas equipes do interior com um futebol tão medíocre. Times desorganizados taticamente e recheados com atletas extremamente jovens ou veteranos fora de forma tornaram-se a tônica do torneio. Não à toa, a briga para não cair é intensa. A diferença de pontos do 17º colocado, o Noroeste (o primeiro que cai), para o 8º colocado, a Ponte Preta, é de míseros seis pontos.

Basta averiguar a campanha desses times. O Mirassol, por exemplo, permaneceu quatro rodadas invicto, mostrando um futebol ofensivo, com toques rápidos e precisos. Até arrancou um bom empate contra o Santos. Veio a 5ª rodada e a goleada sofrida em casa, diante do Santo André por 3 a 0 mostrou as falhas de posicionamento da equipe auriverde, que até o momento, já tomou 3 gols ou mais, em cinco partidas.

Até mesmo o Noroeste, que desde seu retorno sempre dificultou a vida dos grandes, apresenta uma campanha bem abaixo da crítica. A falta de planejamento do Norusca no início da competição, quando trouxe mais de 30 reforços, custou caro. Alguns atletas, como Valdiran, foram dispensados sem disputar um jogo sequer. Deve ser por isso que a equipe bauruense ainda não saiu da zona de rebaixamento desde então.

Mas, acredito que o pior ainda está por vir. São exatamente essas campanhas pífias e irregulares das equipes do interior paulista que engrossam o coro de jornalistas, dirigentes, torcedores e patrocinadores que não apoiam a preservação dos Estaduais. Por isso, vale o recado. Seria bom, a maioria dos clubes do interior utilizar o ano de 2009 como aprendizado para voltarem em 2010 muito mais competitivos.

Se, em três ou quatro anos, essa desigualdade solidificar-se no Estado, eu arriscaria que os campeonatos locais poderiam sumir do mapa. Caso isso ocorra, a situação dos clubes ficará ainda mais alarmante. Sem atuar o ano todo diante dos grandes times do Estado, o desinteresse do torcedor aumenta. E esse, é o primeiro passo rumo ao ostracismo. Que diga o Novorizontino, vice-campeão estadual de 1990.

19.3.09

Cotas de bom senso

Clássico paulista neste ano de 2009 virou prato cheio para a imprensa esportiva local. Tudo porque os grandes paulistas não parecem falar a mesma língua: exigem as mesmas coisas, mas parecem não querer agir para que elas efetivamente aconteçam. O assunto da vez é, novamente, a tão falada destinação de ingressos à torcida da equipe visitante, cuja importância se sobrepõe a um confronto decisivo para a classificação de Santos e Corinthians no Paulistão.

Ao destinar cerca de 6% da carga equivalente a 34 mil ingressos do Pacaembu para o clássico alvinegro deste domingo, o Corinthians novamente reabriu uma ferida que ainda doia, anteriormente amenizada pela louvável atitude conjunta entre Corinthians e Palmeiras, na divulgação e promoção feita no dérbi realizado em Presidente Prudente no último dia 08 de março. Uma atitude motivada em grande parte pela intransigência do São Paulo no Estádio do Morumbi, no clássico contra o Corinthians, em fevereiro. Mas que teve início com o próprio Palmeiras, no episódio do gás de pimenta – ainda não esclarecido totalmente – durante as semifinais do Paulistão 2008 na partida disputada no Parque Antártica ao invés do Morumbi. Na minha visão, o estopim para as posteriores atitudes do clube em relação ao próprio Palmeiras e aos outros “co-irmãos” Corinthians e Santos. E que se agravou com o entrave entre São Paulo e FPF, na polêmica da última partida do Brasileirão 2008, envolvendo o árbitro Wagner Tardelli, o presidente da FPF Marco Pólo Del Nero e o São Paulo.

Acontece que o tão falado "Estatuto do Torcedor" (na íntegra aqui) não tem nada em seus artigos especificando a cota que deve ser destinada aos visitantes. Esclarece que a o organizador do evento – no caso, o mandante da partida – é o responsável por todos os preparativos, desde confecção de ingressos, venda em pelo menos cinco postos de venda diferentes com antecedência de pelo menos 72 horas a partida, além das medidas cabíveis para a segurança do torcedor. Além disso, os preços dos ingressos – respeitando a hierarquia de setores no estádio – deve ser igual para locais e visitantes. O Santos sempre destinou cerca de 10% de entradas para clássicos disputados na Vila Belmiro, o Palmeiras recentemente começou a utilizar do mesmo artifício nos no Parque Antártica, o São Paulo no Morumbi e por fim, o Corinthians no Pacaembu. Sucessão de fatos que quebra uma tradição das disputas dos grandes jogos paulistas no Morumbi, por conta de seu porte e capacidade. E cada um dos "brigões" feriu o Estatuto com atitudes distintas nos últimos confrontos entre si.

No entanto, em outros estados que utilizam especificamente um estádio de grande porte para receber os clássicos – Maracanã e Mineirão, por exemplo – o estardalhaço no que diz respeito a divisão de ingressos nos clássicos é quase nenhum, a exemplo do que ocorria entre os paulistas – mesmo utilizando-se do privado Morumbi – até pouco tempo atrás. Apesar do equívoco dos dirigentes em relação à carga de ingressos e local do jogo, eles não estão totalmente errados. Mas a falta de entendimento entre os grandes paulistas prejudica a eles mesmos. Proprietário do Morumbi, o São Paulo perde renda de aluguéis e cota sobre rendas pela utilização de seus domínios, o que invariavelmente traz mais gastos do clube para a sua manutenção. Prova disso é que em 2008 – por conta da reforma do Pacaembu em parte do primeiro semestre – o Corinthians foi responsável por quase 10% da renda bruta obtida nas rendas do Morumbi, à época. E apesar de reconhecer a importância que possui o Corinthians, como locatário, na receita para a manutenção do estádio, a diretoria tricolor insiste em bater apenas na tecla da autossuficiência. E como disse o diretor de futebol do São Paulo, João Paulo de Jesus Lopes, a importância do Corinthians (e aqui acrescento dos outros grandes também) na utilização do Morumbi torna-se mais um trunfo político para a valorização do estádio para a Copa de 2014: "A opção do Corinthians em jogar lá mesmo depois da liberação do Pacaembu é bem-vinda, porque consolida o Morumbi como o estádio da cidade", afirmava o dirigente à época das finais da Copa do Brasil 2008, onde o Corinthians arrecadou cerca de R$ 1,4 milhões com a renda da primeira partida contra o Sport. Também perdem os rivais por não utilizarem um estádio mais estruturado e de maior capacidade, e consequentemente com maior apoio das arquibancadas e mais renda nas bilheterias.

Responsável - ao menos na teoria - pelas interferências na resolução da polêmica, a FPF lava as mãos, já que o presidente Marco Polo Del Nero se preocupa mais em reverter a suspensão de 90 dias imposta pelo STJD a ele por conta dos desdobramentos do “Caso Tardelli”. No Brasileirão, a CBF deve seguir o mesmo caminho da neutralidade. Enquanto isso, dirigentes dos clubes continuam batendo boca pela imprensa e causando polêmicas, o que se reflete diretamente nas arquibancadas. Se os próprios dirigentes não chegam a um denominador comum, porque o torcedor o faria? As declarações – indiretamente – soam como desculpas para o aumento dos confrontos entre torcedores rivais. As consequências, todos nós conhecemos.

Atitudes como as tomadas no último dérbi Corinthians-Palmeiras deveriam ser a regra, não exceção. Promover o espetáculo, faturar em cima das grandes marcas e de toda a mística e a história sobre a rivalidade ajudaria a todos mutuamente, sem a matemática maçante e exata das cotas. Mas quem vai dar o primeiro passo? Em um momento onde se cogita o tal "cadastro" do torcedor que vai aos campos - na minha opinião, medida totalmente paliativa - políticos e dirigentes deveriam se preocupar em colocar o Estatuto em prática, na sua totalidade. Porque nesses entraves entre entidades e agremiações, quem fica no meio do fogo cruzado é o torcedor, o qual não possui mínimas garantias de assistir uma partida de futebol em segurança. E que cada vez mais, é tratado como gado, não como o potencial consumidor que é.

17.3.09

Fórmula da insanidade: o que vale é vencer e só!

Max Mosley, presidente da FIA, e responsável pelo "engenhoso" regulamento

Na manhã desta terça-feira, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) anunciou mudanças drásticas no sistema de disputa da Fórmula 1. Após alterações radicais na parte técnica, que visam maior competitividade e menos corridas modorrentas, os dirigentes apelaram e lançaram a seguinte regra: o campeão da temporada será o piloto que acumular mais vitórias, os pontos servirão apenas para critério de desempate. Com o fim da era Schumacher uma alteração no regulamento via-se necessária com a volta da valorização aos vitoriosos. No entanto, os cartolas perderam a mão e extrapolaram. Poderiam ter resolvido a pendenga aumentando a vantagem de pontos entre os primeiros colocados.

A medida não desagradou apenas os torcedores, mas pilotos, equipes, patrocinadores e grande parte da imprensa especializada. Após o anúncio, que não é retroativo, pipocaram hipóteses de possíveis campeões e grandes alterações no quadro de vencedores. Um dele foi o seguinte: Felipe Massa teria sido campeão em 2008, já que terminou o ano com seis vitórias contra cinco de Hamilton. Diante disso lanço uma pergunta: teriam os dirigentes coragem de punir o inglês naquela fatídica corrida da Bélgica, no qual Lewis venceu nas pistas cortando uma chicane e perdeu no tapetão, dando a vitória ao brasileiro? Aos que apóiam as novas regras com o argumento que Hamilton lutaria pela vitória no Brasil, não se contentando apenas com o quinto lugar, lanço outra: a última corrida da temporada teria sido uma das mais emocionantes, senão a mais da história, caso existisse essa regra? Certamente não, pois as Ferraris nadariam de braçada devido a adaptação do equipamento e logo na vigésima volta “saberíamos” quem seria o campeão. Porém, essas divagações são irrelevantes, vamos as previsões do que pode e deve acontecer nesta temporada.

A Fórmula 1 é uma categoria desigual, no qual não permite muitos vencedores. Os circuitos tem características específicas que dão vantagem a X ou Y escuderia, assim, em determinadas pistas no qual a vitória é praticamente impossível, melhor é abandonar a prova e poupar o equipamento para a próxima, por exemplo.

Outro ponto a ser destacada é o fim da importância de dois pilotos competitivos na mesma equipe. Eles dividiriam as vitórias, competiriam entre si, o que é uma tremenda desvantagem para ela. Vamos pensar: Kimi Raikkonen vence as duas primeiras, Hamilton as duas seguintes e Massa, apesar de ter brigado insistentemente pela vitória, termina em segundo nas mesma corridas, ficando com 32 pontos. O que importa? Absolutamente nada. Quem a Ferrari vai privilegiar, numa medida extremamente correta por sinal, o brasileiro que tem mais pontos ou o finlandês que tem duas vitórias? As chances de Massa tornar-se segundo piloto já na quinta corrida do ano são imensas e óbvias. No programa Limite, da ESPN, o jornalista Flávio Gomes citou um internauta do seu blog que deu uma opinião acertada, dizendo que daqui em diante o que torna-se importante são duplas de equipe no estilo: Lewis Hamilton + Otávio Mesquita ao invés de Felipe Massa + Kimi Raikkonen. É o fim da regularidade, voto para a roleta russa. Com isso, Barrichello pode ser campeão do mundo, isso mesmo campeão do mundo. A Brawn GP tem verba para correr apenas as quatro primeiras etapas. Vamos supor que Rubens – ok vai, vamos usar como exemplo o Button - vença as quatro primeiras provas e a escuderia não tenha verba para continuar no circo da Fórmula 1, fechando as portas. Nas corridas restantes as vitórias são divididas entre os pilotos de Ferrari, Mclaren e uma ou outra vitória, no acaso, para a BMW e a Toro Rosso. Seria justo umA equipe que completou apenas quatro provas seja campeã? Seria correto, honesto?

Os que apostam que a nova Fórmula trará mais competitividade, ultrapassagens, utilizo o seguinte argumento. As ultrapassagens, as disputas, se virem nessa temporada, serão devido as alterações técnicas e aerodinâmicas e não por essa estupidez da FIA. Os carros não ultrapassavam por mera aerodinâmica e não por falta de “culhão” – me perdoem o termo - dos pilotos.

Enfim, ficou claro que este blogueiro detestou a idéia, achando-a estapafúrdia e maluca, premiando a roleta russa em inúmeros casos. E vocês internautas, o que pensam a respeito?

15.3.09

Essencial

Duas coisas faltaram ao Chelsea da era Felipão: o faro de gol do atacante Drogba – vivia as turras com o brasileiro – que marcou três gols e foi titular nas seis partidas pós-Felipão e a versatilidade do meio-campo Essien. Sua volta aos campos, após seis meses se recuperando de uma contusão no joelho, não poderia acontecer da melhor forma: duas partidas - Juventus e Manchester City – e dois gols anotados.

Mesmo não tendo as características do meia goleador, o ganês desenvolve importante função no elenco dos Blues, trazendo o equilíbrio defensivo, iniciando a transição do ataque com qualidade e chegando como elemento surpresa vindo de trás, como nos gols que marcou em suas últimas aparições. Além da excelência na marcação e na boa transição ao ataque, também atua bem quando é utilizado como ala direito.Muito se fala em versatilidade dos volantes como chave para se montar um bom time no futebol moderno. Como o próprio São Paulo com Jean e Hernanes ou mesmo o Cruzeiro de Ramires. Jogadores com bom poder de marcação, excelente passe e ótimo arremate. Tanto que no caso de Hernanes e Ramires, chegam até a atuar mais como meias de ligação do que propriamente como volantes. Algo que falta na estática e engessada dupla de volantes de Gilberto Silva e Felipe Melo/Josué, com a qual Dunga simpatiza tanto.

Voltando a Essien, o ganês será um dos pilares do esquema de Hiddink no Chelsea junto a segurança de Cech, o toque refinado de Lampard e os gols de Drogba. Mesmo não apresentando um futebol vistoso, o Chelsea vai fazendo da eficiência sua marca registrada desde que a troca de técnicos aconteceu, já que nos sete jogos do Chelsea de Hiddink, os Blues não marcaram mais de dois gols por partida, mas contabilizam seis vitórias e um empate.

12.3.09

English Champions League

Após os resultados dos confrontos válidos pelas oitavas de final da Champions League, algo fica incontestável: a supremacia inglesa na mais importante competição entre clubes do mundo. Pelo segundo ano consecutivo, todos os clubes ingleses que iniciaram a fase de grupos chegam vivos até as quartas-de-final. Novamente, 50% da Champions é dos ingleses. Nos confrontos com os campeões das principais ligas rivais à Premier League, eliminação relativamente fácil.

Nos confrontos contra o bicampeão espanhol Real Madrid, o Liverpool não encontrou maiores dificuldades. A maior tradição do Real – nove títulos contra cinco dos Reds – não foi suficiente frente a equipe comandada por Rafa Benítez, uma especialista nos confrontos eliminatórios nesta década. E o Real Madrid amargou a quinta eliminação consecutiva na fase de oitavas, mostrando um futebol apático, mesmo com a melhora de produção da equipe na liga espanhola após a chegada de Juande Ramos. Já a tricampeã Inter de José Mourinho sucumbiu facilmente diante do atual campeão Manchester United. Mesmo sem um largo placar agregado no confronto (2-0), o Manchester mostrou grande superioridade frente aos interistas. Na primeira partida disputada no Giuseppe Meazza, os Red Devils só não saíram com a vitória graças a brilhante atuação do goleiro Júlio César. Em Old Trafford, a Inter tentou segurar o ímpeto dos ingleses entrando apenas com um atacante, apostando no embate entre meio-campistas para equiparar o encontro. No entanto, o ímpeto do United foi avassalador e a Inter só não saiu goleada graças a Júlio César, novamente.

O equilíbrio entre Chelsea e Juventus foi grande nas duas partidas. E mesmo com Guus Hiddink iniciando agora seu trabalho nos Blues, conseguiu levar o confronto nos detalhes. O mais frágil e que atravessa fase mais delicada entre os ingleses nesse momento, o Arsenal, ainda conseguiu arrancar uma dramática classificação nos pênaltis. Mas desfalcado de seu principal jogador – Fabregas volta aos campos em abril - e com a má fase de Adebayor, os jovens do Arsenal torcem pela sorte nas bolinhas para enfrentarem um adversário mais frágil – neste caso, Porto ou Villarreal - para seguir em frente. Com a classificação dos quatro ingleses, os ingleses atestam sua supremacia nas quartas-de-final pelo terceiro ano consecutivo: foram três clubes em 2006/07 e os quatro que iniciaram a competição em 2007/08 e 2008/09, contrastando com o único inglês presente em 2005/06 – o Arsenal, derrotado na final contra o Barcelona.

Aliás, penso que o Barcelona é o único time capaz de enfrentar a força dos ingleses de igual para igual. Apesar de não ser uma equipe equilibrada como um Manchester United, o Barça joga o futebol mais vistoso entre os europeus, com o tridente Messi-Henry-Eto’o em grande fase e com diversas opções de meio campo, como Xavi, Keita, Yaya Touré, Iniesta, Hleb e Busquets. Mas a defesa é o ponto falho dos catalães – a segunda mais vazada entre os oito finalistas, com nove gols -, que ainda possuem no gol um inconstante Victor Valdés. O Bayern é outro que se apresenta um baita pedregulho aos ingleses. Melhor ataque entre os sobreviventes – 24 gols, 12 nos últimos dois jogos – o tridente Ribéry-Toni-Klose é o ponto forte da equipe. Mas se confrontar os ingleses, os bávaros estarão diante do primeiro adversário mais qualificado nesta Champions, já que o caminho do Bayern até aqui na competição foi tranquilo.

Enquanto isso, na Itália...

Os clubes italianos não conseguiram classificar nenhum representante para esta fase desta Champions. O mau desempenho dos clubes italianos nesta fase piora gradualmente: três representantes em 2005/06, dois em 2006/07 e apenas um em 2007/08. O enfraquecimento dos clubes locais – apesar do título do Milan em 2006/07 com contribuição decisiva e brilhante de Kaká - aconteceu após o escândalo do Calciocaos que explodiu no futebol italiano, em 2006. Tanto é que na Copa UEFA, há apenas um representante italiano nas oitavas – a Udinese, que venceu o primeiro confronto contra o atual campeão Zenit por 2-0 -, já que Fiorentina, Milan e Sampdoria foram eliminados no início do mata-mata da competição (por Ajax, Werder Bremen e Metalist/UCR, respectivamente). O fortalecimento da Inter e o enfraquecimento dos outros grandes - ao menos, por ora - contribuíram para a queda do nível técnico do Calcio. E fora da Itália, a Inter vem colecionando diversas decepções quando falamos em Champions, mesmo com bons times.

A chance de pelo menos dois ingleses nas semifinais é enorme, dependendo do sorteio dos confrontos que será realizado no próximo dia 20 de março. E conforme a dança das bolinhas, a chance de uma segunda final inglesa consecutiva na Champions aumenta consideralvelmente.

10.3.09

Renascimento

Não, este não é mais um texto sobre a nova volta de Ronaldo, mas também envolve um atacante de camisa nove, com feitos bem mais modestos no futebol que o Fenômeno. Há pouco mais de um ano, após entrada violentíssima do zagueiro Martin Taylor, o brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva teve a contusão mais grave de sua carreira: fraturou gravemente a perna na altura do tornozelo, numa das imagens mais fortes ocorridas no futebol em 2008. À época, o camisa nove do Arsenal poderia até ter a perna amputada, o que só não aconteceu graças a rápida e eficiente intervenção da equipe médica do clube, ainda dentro de campo na prestação dos primeiros socorros. A grave contusão custou a Eduardo a última Eurocopa, da qual seria fatalmente titular na seleção croata comandada por Slaven Bilic.

Após uma lenta recuperação de quase um ano, o atleta de 26 anos retornou aos Gunners oficialmente em 16 de fevereiro, a pouco mais de uma semana de seu aniversário, em partida válida pela FA Cup (Copa da Inglaterra) diante do Cardiff. Marcou dois gols – um de cabeça e outro em penalidade sofrida por ele mesmo -, na vitória por 4-0. No entanto, acabou distendendo um músculo da perna, foi substituído e ficou mais três semanas no departamento médico.

Refeito da nova lesão, voltou ao time comandado por Arsène Wenger novamente em uma partida da Copa da Inglaterra, desta vez diante do Burnley neste último domingo. Atuando com a equipe recheada de reservas – visando a partida deste meio de semana contra a Roma, pela Champions – Eduardo entrou desde o começo da partida, com a tarja de capitão. Apesar da fragilidade dos Clarets - na sétima posição da segunda divisão inglesa - Eduardo atuou bem a vontade e foi um dos destaques da vitória por 3-0, marcando um golaço de “parafuso” no ângulo do goleiro Jensen. Explico: apesar de já ter marcado um gol com a perna que havia sido contundida – a esquerda -, o tento foi através de pênalti. No lance contra o Burnley, Eduardo pegou o cruzamento de Song de primeira com a parte de fora do pé esquerdo, quando o mais lógico seria virar o corpo para “chapar” a bola ou mesmo chutar de direita. justo na parte afetada pela fratura, até soando como uma resposta para quem ainda duvidava de sua condição de jogo, pois o chute foi totalmente consciente.

A volta ainda é gradual. Mas com Eduardo com ritmo de jogo, será de grande valia ao Arsenal, que ainda luta para prosseguir na Champions (venceu o primeiro duelo das oitavas contra a Roma por 1-0) e para buscar uma colocação melhor na Premier League, onde faz campanha irregular e é apenas quinto, atrás do Aston Villa.

Já que a onda agora é falar de Ronaldo e o início de seu terceiro "renascimento", nada como nos espelharmos no caso de Eduardo, que mostra mais um exemplo de superação.

Gol de "parafuso" marcado por Eduardo da Silva contra o Burnley

8.3.09

O novo “Bad Boy” do futebol brasileiro

Apesar de recentes casos de conduta anti-profissional no futebol brasileiro, parecia que esse tipo de jogador – além de péssimo profissional, pavio curto – havia sumido dos campos tupiniquins, tendo como seu último grande “representante” Edmundo. Conhecido pelo temperamento curto e pela grande habilidade, Edmundo poderia ter sido muito mais na carreira do que foi. Passagens destacadas por Vasco, Palmeiras, Flamengo e Corinthians tiveram manchas das confusões causadas pelo Animal, como a briga contra o sãopaulino André Luis em 1994, ou contra Zandoná – quando defendia o Flamengo contra o Vélez em 1995. Terceiro maior artilheiro do Brasileirão de todos os tempos (153 gols) e segundo maior artilheiro de uma única edição (29 gols em 1997), Edmundo conviveu entre as glórias e as polêmicas. Acabou encerrando sua carreira com queda do Vasco para a Série B em 2009, mesmo sobressaindo diante da mediocridade da maioria daquele elenco.

Depois do “auge” de Edmundo, apareceram jogadores como Luís Fabiano – o qual deu uma esfriada boa no seu gênio – e o pra lá de temperamental Fábio Costa. Ambos são do tipo que o torcedor sabia que a qualquer momento poderiam explodir. Porém, suas ações violentas eram menos "corriqueiras", por assim dizer. Mas o primeiro grande bad boy do futebol brasileiro foi Almir Pernambuquinho, ex-Vasco, Santo, Flamengo e Brasil. Ponta de habilidade diferenciada, esteve entre os pré-convocados para a Copa de 1958 e esteve no elenco do Santos bicampeão do Mundo, em 1962 e 63. Por outro lado, já havia brigado com meio mundo dentro e fora de campo. Entre as confusões mais célebres do atacante estão o episódio contra os uruguaios, no Sul-americano de 1959 e contra o time inteiro do Bangu, na final do Carioca de 1966. O "Divino Delinquente" - como se referia Nélson Rodrigues a Almir - acabou falecendo em decorrência de uma briga num bar carioca, em 1973.

Eis que Kléber – até então, saído como um jogador “pacato” do São Paulo – voltou da Ucrânia para jogar com a camisa do Palmeiras. Um dos principais atletas do elenco em 2008, virou ídolo da torcida pela demonstração de raça e gols. Mas ao mesmo tempo, se especializou em arrumar confusões e ser expulso por agressões e suspenso por excesso de cartões amarelos. Durante sua passagem no Palestra Itália, acumulou 12 cartões amarelos e três vermelhos em 30 jogos disputados apenas no Brasileirão 2008. Médias dignas de um zagueiro botinudo.

Em 2009, o Gladiador chegou ao Cruzeiro como parte da transação do bom atacante Guilherme ao Dínamo de Kiev e já mostrou seu cartão de visitas: quatro jogos com a camisa celeste, cinco gols e duas expulsões. E já recebeu punição dp presidente Zezé Perrella, após discussão através da imprensa com o diretor de futebol Eduardo Maluf, que questionava o novo ato de indisciplina dele. Trata-se de um dos grandes atacantes em atividade no futebol brasileiro, mas precisa urgentemente da ajuda de um psicólogo para apaziguar o lado agressivo, por vezes violento do atacante cruzeirense. em campo. Do contrário, pode ter uma carreira prejudicada ou manchada por conta de suas ações intempestivas dentro de campo.

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5.3.09

Ele (ainda) não está pronto

Depois de toda a polêmica e forte trabalho de recuperação, Ronaldo estreou oficialmente com a camisa do Corinthians. Há quase quinze anos, o Fenômeno não defendia um clube brasileiro e desde outubro de 2005 não atuava oficialmente no país - vitória brasileira sobre a Venezuela por 3-0 válida pelas Eliminatórias da Copa de 2006. Exageros à parte de torcida e imprensa – tanto de quem acredita na sua recuperação quanto naqueles que atestam o final de sua carreira – eu vejo esse acontecimento por dois prismas: O primeiro é a volta de um ícone para casa. Apesar de ter jogado profissionalmente por São Cristóvão e Cruzeiro, Ronaldo saiu muito menino do Brasil e passou a ser conhecido mundialmente após sua explosão no Barcelona, depois de boas temporadas pelo PSV. Como mencionei no post sobre “Ícones em Extinção”, Ronaldo possui as características para ser considerado como tal, mas não de um clube. E sim da representação máxima do futebol tupiniquim, a Seleção Brasileira. Disputou quatro Copas – três como titular absoluto -, esteve em duas finais e tem dois Mundiais e um vice. Três vezes melhor do mundo, maior artilheiro de todas as Copas do Mundo e segundo maior artilheiro da Seleção de todos os tempos (75 gols em 112 jogos), somente atrás de Pelé.

Para muitos amantes do futebol, principalmente na faixa entre 20 e 30 anos, Ronaldo – ao lado de Romário – foi o maior ídolo que todos viram jogar. Vê-lo em campos brasileiros soaria até utópico, mas ele estava ali, em Itumbiara. Mesmo com um exagero – até natural, por tudo que ele representou e ainda representa no auge de seus 32 anos – foi importante para o torcedor e para o próprio Ronaldo vê-lo atuar oficialmente, diante de um adversário que fosse mais frágil. Com a classificação praticamente assegurada quando substituiu Jorge Henrique, a partida ficou em segundo plano. E a grande maioria ficou contente por tê-lo ali, com a bola nos pés. Visivelmente fora de forma para um jogador profissional, Ronaldo arriscou algumas jogadas tímidas, pedaladas e arrancadas. O drible curto diante dos zagueiros do Itumbiara, próximo à grande área mostrou que a velha habilidade ele não perdeu. No entanto, mais do que ritmo de jogo, Ronaldo precisa continuar se esforçando para poder atuar em alto nível, como um verdadeiro profissional.

É aí que entra o outro lado. Ronaldo afirmou que quer ser titular contra o Palmeiras e a maioria da imprensa faz coro com o atacante. No bom campo do Estádio Juscelino Kubitschek, ele pôde fazer sua estréia com tranqüilidade, contra um adversário frágil. Contudo, diante de um Palmeiras embalado no Paulista, mas que beira uma crise pelo mau desempenho na Libertadores, seria insensato colocá-lo com o peso de titular - leia-se resolver o jogo, marcar gols. No campo irregular do Prudentão e contra uma equipe de maior nível técnico, não creio que Ronaldo ainda esteja apto para iniciar a partida, por conta de suas limitações físicas - não técnicas. Pode entrar no decorrer dela, dependendo das circunstâncias.

Ainda assim, com prós e contras e despido de clubismos, esse retorno de Ronaldo foi importante para ele e o torcedor brasileiro em geral que gosta de futebol e o viu em grande forma. Resta saber se ele manterá o foco no restante do processo de recuperação e se poderá atuar aquém de sua capacidade física de outrora, tanto pela idade quanto pelas cirurgias nos joelhos. E quem, em sã consciência, não passaria aquela bola estava em posse de Douglas, para um Ronaldo cara a cara com o goleiro?

4.3.09

Oito ou oitenta

Derrota para o Colo-Colo na Libertadores mostra algumas disparidades do Palmeiras de Luxemburgo.

O Palmeiras do Paulistão é líder, três pontos à frente do Corinthians e com um jogo a menos. Dez pontos de vantagem sobre a quinta colocada Portuguesa faltando oito rodadas para o final deixam o Palmeiras muito perto da classificação às semifinais. Fatos que teoricamente deixariam o Palmeiras tranqüilo para disputar o difícil Grupo 1 da Libertadores, de longe o mais equilibrado. Mas a confiança que sobra na disputa do campeonato regional, falta na hora de jogar a competição continental – vedete de diretoria e torcida. Porque perder em casa para o Colo-Colo com um a menos é falta de tranquilidade e “malandragem” de Libertadores.

Mesmo sobrando no Paulista em relação aos rivais, o parâmetro do Paulistão anda baixo. Ainda que os quatro grandes alternem bons e maus momentos, nenhuma surpresa do interior parece atrapalhar o destino deles se enfrentarem no mata-mata. Equipes como o Santo André, Barueri, Ponte e Guaratinguetá estão sendo menos pedras no caminho do que se esperava no começo da temporada, tal como ocorreu ano passado, quando Guará e Ponte fizeram uma das semifinais. E o mal que acometeu o Palmeiras de Luxemburgo após a conquista do estadual em 2008 parece se repetir neste início de temporada: ado favoritismo exacerbado, com a equipe cercada de grandes expectativas que cegam as deficiências da equipe.

E como em 2008, o calcanhar de Aquiles palmeirense é a defesa. As aquisições de Danilo e Edmilson ainda não corrigiram as carências do setor e a falta de um ala direito é gritante desde que Élder Granja - em má fase apos o início de 2008 - deixou de render quando fazia parte do elenco. O colombiano Armero fez falta conta os Caciques, enquanto o polivalente Marcão é recém-contratado e nada fora do comum. Em jogos do próprio Paulistão, contra São Caetano e Portuguesa, pôde-se perceber o problema que Luxemburgo tinha nas mãos. E a exceção da atípica goleada contra um Santos – então em plena crise – sempre que o Palmeiras pegou um adversário mais compacto ou de mais valores individuais, sucumbiu. Como já havia ocorrido em Quito, contra a organizada LDU de Manso e nesta terça, contra o Colo-Colo de Barrios e Torres.

Ainda faltam quatro rodadas e a situação palmeirense não é tão catastrófica, mas o alerta está ligado. Luxemburgo terá de vencer na Ilha do Retiro para manter a chave embolada e decidir a sorte do time nos jogos em casa contra o próprio Sport e a LDU. O problema é a relação entre Luxemburgo e a torcida do Verdão, delicada desde a derrocada na reta final do brasileirão 2008 e que culminou na agressão sofrida por ele por alguns integrantes da torcida. A rusga estava em trégua devido a boa campanha no Paulistão, mas a derrota diante dos chilenos colocou o dedo na ferida. O comportamento da torcida é exagerado, de fato. O Palmeiras é um time em formação, com excelente capacidade ofensiva. Cleiton Xavier e Keirrison se entendem bem, Diego Souza é bom jogador e Armero é uma grata surpresa no flanco esquerdo.

No entanto, o futuro de Palmeiras e o próprio ciclo do técnico dentro do time depende de como ele administrará esses problemas. E mesmo acreditando numa classificação do Palmeiras, o técnico nunca foi muito bom em apagar incêndios desse tipo, devido a arrogância que por vezes o cega. Uma eventual derrota para o Corinthians domingo deixará as coisas piores, talvez insustentáveis dependendo das circunstâncias.

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1.3.09

Campeonato local forte, seleção fraca?

Dias atrás, o treinador do campeão mundial Manchester United, Alex Ferguson, disse que os times de ponta da Inglaterra não podem “perder” tempo para lapidar jovens talentos ingleses, quando o mais fácil é comprar jogadores estrangeiros. “Quando você é um clube ‘top-four’, tem que entender que precisa de sucesso imediato. Não pode esperar três ou quatro anos por um jogador, como talvez possa acontecer com clubes que não brigam por títulos todos os anos”, afirmou o escocês para a revista Shortlist. Essa declaracão veio de encontro com a intenção da FIFA de colocar em prática o “6+5”, uma proposta na qual os clubes seriam obrigados a iniciar as suas partidas com pelo menos seis atletas nativos país de origem da equipe. Ferguson, claro, é contra.

Mas enquanto os clubes ingleses dominam o cenário interclubes europeu, o English Team sofre. O maior reflexo disso foi a vexaminosa não classificação para a disputa da fase final da última Eurocopa. Resta saber qual a preferência dos súditos da rainha: se orgulhar de ter a liga nacional mais rica e forte do planeta e, em consequência disso, ver a seleção nacional penar para apresentar um bom futebol, apesar dos bons valores que possui.

Ao começar a escrever esse texto, me veio uma ideia: o tetracampeonato mundial da Itália em 2006 e o europeu da Espanha em 2008 teriam alguma relação com a mudança da hegemonia no continente? Acredito que sim. Antes da Inglaterra, os italianos tinham o status de melhor liga do mundo, coisa que a Espanha passou a se orgulhar algum tempo depois. E o que acontecia com suas equipes em Copas e Eurocopas? Um vexame atrás do outro.

Com os milhões de dólares de todo o mundo direcionados para a Premier League, jogadores de todos os cantos passaram a atuar por lá. Com isso, sobrou espaço para que surgissem bons nomes nos times italianos e espanhóis, antes dominados pelos estrangeiros. Os títulos conquistados pelos latinos podem comprovar que a mudança foi benéfica para o escrete nacional. Mais italianos e espanhóis puderam mostrar o seu valor.

Na Inglaterra, nem mesmo os treinadores são ingleses: um italiano dirige a seleção, e entre os clubes ‘top-four’, como disse Ferguson, estão um francês, um holandês, um espanhol e um escocês (Arsenal, Chelsea, Liverpool e Manchester, respectivamente). Cinco nacionalidades diferentes para cinco equipes, e nenhum deles inglês! Os quatro times citados tem mais estrangeiros do que ingleses como titulares. Ou seja: não há treinadores nem jogadores com o pensamento na seleção. Como disse Ferguson, o que importa são os títulos e o dinheiro. Como esperar bons resultados do English Team?