5.7.10

Porque odiamos amá-lo?

Muitos brasileiros tiveram a frustração da eliminação da Copa “aliviada” pela goleada sofrida pela Argentina diante da ótima Alemanha de Müller, Özil, Klose e cia. A tristeza deu lugar para as gozações com o maior rival, sem títulos mundiais há 24 anos – chegará a 28, em 2014. Os principais alvos: Messi – que não fez uma Copa ruim, mas também não desequilibrou quando foi preciso – e o controverso, polêmico e autêntico técnico Maradona.

Dentro de campo, com a bola nos pés, nem ouso compará-lo com Pelé. Os números e história falam por si só em favor do Rei. Mas certamente, Maradona é aquele cara que você gostaria de sentar no bar para tomar uma cerveja, tal sua simpatia e autenticidade. Enquanto Pelé parece inatingível em todos os locais onde aparece, com aquele ar monárquico, Diego é mais terreno, mais “mortal” – apesar de ser um verdadeiro Deus aos olhos dos argentinos.

Ao contrário de Dunga, que gosta de fazer o tipo “paizão rígido”, Maradona faz questão de descer do pedestal em que o colocam e trata a todos os seus comandados como iguais. Mesmo que não entenda nada de táticas e técnicas de futebol, como ficou novamente provado nesta Copa, ele traz o elenco para si adotando o estilo “paizão liberal” – vide a liberação de churrascos, sexo e vinho na concentração da Argentina. Ou o carinho com que ele trata ao falar de Messi, maior craque argentino da atualidade e constantemente comparado a ele. Não que os métodos sejam os ideais. Mas são a cara de Diego.

Mesmo antagonicamente, Dunga também tinha o grupo da Seleção em suas mãos. Porém, o método que ele utilizou – o da parceiragem, do agradecimento e "ditadura" - acabou condenando a equipe na Copa. Ao fechar com aquele grupo, onde muitos de seus pupilos estavam longe do bom momento técnico, o ex-capitão se viu sem opções quando precisou mudar a equipe. Já Maradona pecou por não chamar os medalhões, principalmente o ótimo lateral Javier Zanetti. Certamente, o veterano da Inter ajudaria a resolver o problema que minou a Argentina contra os alemães: o lado direito da defesa, que ele conhece tão bem.

Mesmo não admitindo, muitos vezes por puro orgulho, que brasileiro não reagia positivamente ao ver Maradona à beira do campo ou durante os treinos? O modo paternal como ele tratava os jogadores, com carinho e paciência? Até um fato que poderia ser considerado anti-profissional, como fumar charuto durante os treinos? E claro, as provocações para com o maior rival, garantia de matérias diferentes ante a um padrão de discursos treinados, como eram as chatíssimas coletivas do Brasil de Dunga.

Maradona não é técnico. É como se fosse um torcedor argentino, desses que ficam no bar cornetando, dando instruções ao time. Não precisa vender a imagem de “time de guerreiros” para provar o comprometimento de sua equipe. Essa “humanidade” que nos aproxima de El Pibe, que faz com que as tirações de sarro para com ele, quando a Argentina toma uma surra, sejam mais carregadas – como acontece com um amigo nosso que torce para o time rival - mostra como é bom ter uma figura como a dele no meio do futebol, cada vez mais quadrado, plastificado e dominado pelo media training dos discursos ensaiados e sem graça.

É saudável ter tal irreverência e paixão por perto. A recepção de 10 mil argentinos aos jogadores (e principalmente ao técnico e maior ídolo) no aeroporto de Ezeiza neste domingo fala por si só. Neste caso, gostamos do jeito "politicamente incorreto" de Dieguito. Muitos odeiam ter que amá-lo e admitir: fora do campo de jogo, Maradona é um dos principais pontos desta Copa, de Jabulanis e vuvuzelas.

7 comentários:

Pedro Leonardo disse...

Difícil definir Maradona. Uma pessoa autêntica, com altos e baixos, que passou por problemas sérios, figura midiática. Bacana ver a forma como ele se doou. Um gênio com coração de hincha. Mas que poderia ter levado um time mais equilibrado.

Fábio disse...

Será que a "autenticidade" do Maradona também não é uma criação midiática? Acho difícil pensar que não... E claro, de muito sucesso, pois ele saiu da Argentina questionado e é só ver como foi recebido na volta.
Acho que a diferença do Dunga e do Maradona na beirada do campo está apenas na máscara que ambos vestiram, pois os dois não sabem nada de tactica. Um, mais preocupado com a imprensa fez o papel do pai bravo e severo. (na moda entre os treinadores brasileiros) Primeiro pela campanha de 2006, depois, imaginem se ele liberasse o vinho na concentração brasileira. Já o Pibe, quis ganhar o povo e fez o papel de pai liberal e próximo ao que o André chamou de torcedor de bar. Todos atores e muito bem instruídos por seus assessores.

André Augusto disse...

Fábio, sinceramente não acho que nem Dunga, nem Maradona vestiram máscaras. A postura deles faz parte de sua personalidade como ex-atletas e treinadores. É só puxar a história de ambos e ver que as atitudes são semelhantes tanto antes, quanto agora. Só achei o discurso de Dunga dos "guerrreiros" mais falso aos meus olhos do que os paternais de Maradona.

Vinicius Grissi disse...

É uma figura especial e certamente foi o grande "destaque" da Copa fora de campo. Não pela capacidade, mas pelo personagem no qual se transformou.

Como técnico, porém, não passa de uma grande piada.

Arthur Kleiber disse...

Muito bom!

Felipe Brisolla disse...

O Maradona definitivamente não é uma figura moldada por assessores. Ele sempre foi assim. Passional, egocentrista, dramático e patriota. É um ídolo na Argentina muito além de suas conquistas no futebol. É o espelho desse povo. Um dos diretores do OLÉ certa vez me explicou que os nossos vizinhos se identificam no Maradona, tanto nas virtudes quanto nos defeitos. Talvez isso explique porque mesmo depois do fracasso, dois terços da população o quer como treinador. Maradona é Maradona...

William Douglas disse...

matou a pau andré.
Independente do que aconteça, o Maradona foi o personagem desta Copa. Faltam figuras como ele no futebol, cada vez mais feito de entrevistas pasteurizadas, muito "profissionalismo" e pouca paixão