16.7.10

Numa fria

No processo de reformulação do elenco do Palmeiras, um duro golpe: na calada da noite, o Palmeiras anunciou a venda do bom meia Cleiton Xavier ao Metalist Kharkiv, da Ucrânia. É claro que esta é uma negociação cheia de nuances, como um dos últimos atos do desaparecimento da Traffic do futebol palmeirense – entre os titulares do atual elenco, apenas o zagueiro Danilo pertence à parceira.

Mesmo com a pressão da parceira, o jogador também tem voz em uma eventual negociação ao exterior. É fato que pesou o lado financeiro para o meia de 27 anos, que em 90 jogos pelo Palmeiras, marcou 16 gols em pouco mais de um ano e meio de clube. Mas uma ida ao time que está se consolidando na disputa como a terceira força do país é vantajosa para um jogador que se fizesse um bom Brasileirão, poderia jogar por uma equipe de mais expressão?

O jogador afirmou que havia deixado seu destino nas mãos do empresário e da Traffic, já que tinha o sonho de atuar no futebol europeu, seja onde fosse. Ao saber do time ucraniano, Cleiton admitiu até mesmo um ponta de surpresa com o destino desconhecido. Já era tarde.

O Metalist Kharkiv foi terceiro colocado nas ultimas quatro Vyscha Liha (o Campeonato Ucraniano), nunca venceu um campeonato nacional (sequer nos tempos de União Soviética) e o único título de sua história foi a Copa da União Soviética de 1988, longínquos 22 anos distantes. Apesar de ser a segunda maior cidade da Ucrânia, no cenário do futebol Kharkiv está distante de Kiev, e na última década, Donetsk. E se apresenta em um cenário que tal polarização não mudará tão cedo, já que se trata das cidades que tem as equipes mais ricas do país (Dínamo e Shakhtar).

Na teoria, a liga ucraniana é a sétima no coeficiente da Uefa, à frente de destinos escolhidos por brasileiros como Portugal e Turquia. Na prática, é um campeonato pouco visto ate mesmo na própria Europa. E o Metalist Kharkiv é desconhecido, já que apenas faz aparições esporádicas e sem brilho na Copa da Uefa (atual Europe League). Quando o atleta ruma para o Dínamo de Kiev ou o Shakhtar Donetsk, há a esperança (ou a desculpa) de títulos locais, além da aparição numa vitrine como é a Champions League.

Outra aquisição recente do futebol ucraniano foi a do atacante André, peça fundamental no Santos de Dorival Júnior, de ótima aparição neste primeiro semestre. Enquanto o Santos parece fazer de tudo para não ceder às tentações das propostas por Neymar, o Santos não hesitou em aceitar uma proposta de 8 milhões de euros do Dínamo de Kiev pelo jovem talento, que poderia ter futebol e paciência para esperar por uma proposta mais vantajosa, tanto financeiramente, quanto para sua carreira, já que André está prestes a completar 20 anos.

É difícil contra-argumentar contra valores tão exorbitantes. Mas ao contrário do futebol árabe, a maioria da mão de obra brasileira que ruma ao leste europeu é formada por jogadores de enorme potencial ou já consagrados em grandes clubes do Brasil. Lá estão jogadres como Alex, Ilsinho, William, Fernandinho, Jádson, entre outros. O que me faz pensar que poderia haver um pouco mais de paciência de empresários e procuradores, que parecem querer empurrar o jogador para a região de qualquer jeito.

Ou Cleiton e André terão que penar algumas temporadas até serem vistos por uma equipe de porte médio de um grande centro europeu ou voltam daqui um ano, provavelmente por empréstimo, a algum time do Brasil, alegando na difícil adaptação no frio da região. Não vejo alternativas diferentes.

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