Sem amarelar, Espanha se impôs e ratificou a condição de melhor equipe do mundo, iniciada com a conquista da Euro 2008
Acabou o estigma. Apesar do amarelo em sua bandeira, o título da Copa do Mundo é vermelho. De paixão, de aplicação, de bom futebol. Campeã europeia e do mundo. Com justiça, a Espanha entra no restrito grupo das seleções campeãs mundiais. Um trabalho realizado com planejamento, sem mudanças bruscas – mesmo com a mudança de treinador após a Eurocopa de 2008. A vitória da técnica sobre a força. É importante ter um elenco de jogadores aplicados (ou "guerreiros", como se vende por aí). Mas não é necessário se pautar apenas nisso, quando há um montante de jogadores técnicos e talentosos. E o título da Espanha provou isso.
Na Copa do Mundo da África do Sul, a Espanha foi constante, desde a inesperada derrota diante da Suíça, que atiçou os críticos da Fúria, que precocemente viram na derrota diante do anti-futebol do ferrolho suíço um prenúncio de uma nova “amarelada” espanhola, que nos últimos mundiais chegava com bons nomes, mas que não conseguiam produzir em prol da equipe, como um todo.
Na finalíssima disputada no belo Estádio Soccer City, cada um jogou como vinha atuando na Copa: a Espanha tomava as iniciativas ofensivas sem afobação, tocando a bola e pensando o jogo, como em um tabuleiro de xadrez; a Holanda, pragmática, esperava o adversário no campo de defesa, apostando na dinâmica de Robben e Sneijder. E só. E mesmo tardia, a vitória premiou quem mais procurou vencer a partida, como mostraram as boas entradas de Jesus Navas e Fàbregas na partida - apesar do equívoco na substituição de David Villa por Fernando Torres.
Com a bola nos pés, como sempre, a Espanha começou com a iniciativa da partida e a Holanda parecia cometer o erro da Alemanha na semifinal: ficar acuada na defesa, vendo a Espanha tocar e achar uma brecha na defesa adversária. Porém, a Holanda viu que tal tática a condenaria na partida e passou a diminuir os espaços desde a defesa espanhola. Mas para isso, deixou aflorar o jogo violento de seus defensores. De Jong e Van Bommel devem agradecer ao árbitro Howard Webb por terminarem a final em campo. Até o habilidoso Sneider saiu de suas características e cometeu diversas faltas durante a final
Na segunda etapa, a Espanha permanecia com a iniciativa de atacar e a Holanda adotou os contra-ataques, com a volúpia gradual da Fúria em resolver a partida. Robben perdeu chance incrível, defendida por Casillas - um dos personagens desta final. A Espanha pecava em hesitar na finalização ou no preciosismo com a bola, como Iniesta fez em algumas oportunidades. Robben tentava algumas ações, enquanto Sneijder, sumido em boa parte da partida, era perigoso apenas executando passes no miolo de zaga adversário.
A pressão espanhola, finalmente, deu resultado com a expulsão de Heitinga, já na prorrogação. Com as três substituições feitas, a Holanda ficou com um buraco na defesa e não suportou ao ímpeto ibérico. Tanto que no gol do título, quem afastou o cruzamento de Fernando Torres e tentou bloquear o chute heróico de Iniesta foi o meia Van der Vaart.
Em meio ao mix de emoções por um inédito título mundial, uma emocionante homenagem do elenco espanhol ao defensor Dani Jarque, do Espanyol, que morreu de um mal súbito em agosto de 2009. Jogadores de Barcelona, Real Madrid, Valencia e Sevilla, entre outros, lembravam o colega. Outra prova do coração pulsante deste elenco, onde Casillas já chorava copiosamente com o gol, que viria a ser o da primeira Copa do Mundo vencida pela Fúria.
A vitória da Espanha reflete um pouco o encantamento que muitos de nós tivemos com o Barcelona campeão de tudo em 2008/09. Seis jogadores daquele time fantástico foram titulares neste domingo (o sétimo culé era o recém-contratado David Villa). Tal fato mostra que uma seleção campeã, primordialmente, tem que se basear em jogadores que estão em bom momento, em detrimento de se montar um elenco apenas com jogadores de confiança. A Espanha é, de fato, a merecida e comprovada campeã do mundo.
Bola dentro: Forlán melhor da Copa
Candidatos a melhor da Copa, Robben, Sneijder e Villa pouco apareceram na grande final. Iniesta teve ótima participação e foi eleito como o melhor em campo, mas pecou em muitos momentos por não fazer o trivial.
Em decisão surpreendente – considerando os padrões Fifa – o atacante Diego Forlán foi eleito o melhor jogador da Copa. Decisão acertada da entidade, em minha visão, se considerarmos que o uruguaio foi o principal jogador da equipe mais limitada tecnicamente entre as quatro finalistas e que jogou bem e com versatilidade. Ora como atacante, ao lado do bom Luís Suárez, ora como enganche (armador de jogadas), deixando Cavani em seu lugar no comando de ataque. Thomas Müller, também com justiça, foi eleito como a revelação, além do prêmio Bola de Ouro concedido ao artilheiro. Mesmo empatado em cinco gols na tabela de artilheiros da Copa com Villa, Forlán e Sneijder, dos pés do camisa 13 saíram três assistências para gols do ataque mais positivo deste Mundial.
2 comentários:
Concordo tanto com a análise da final quanto das premiações. Justíssimo. E, volto a dizer, como aliás acho que já escrevi em post certa vez, a vitória da Espanha prova, ao lado do Barcelona, que torcer para o futebol ofesivo, bonito E vitorioso não é uma coisa de saudosista: é perfeitamente possível conseguir tudo isso sem se render aos "modernos" do futebol, baseado na força e correria.
Ótima análise, André! Realmente esse "coração pulsante" da Espanha fez toda a diferença nos momentos decisivos da Copa e livrou a Fúria do estigma de amarelona - se bem que deram azar, pois estão creditando todo o sucesso espanhol na conta do Polvo Vidente. Hehe!
E também concordei com a eleição do Forlán como melhor da Copa. Jogou bem do primeiro ao último jogo, sempre decisivo e, ainda, responsável por armar as jogadas ofensivas do Uruguai. Sai valorizado à beça.
Abraço!
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