15.8.08

Premier League 2008/09: Pés-no-chão e entrosamento

Felipão é a grande aposta do Chelsea para quebrar a hegemonia do Manchester United

O bicampeonato conquistado pelo Manchester United coroou uma temporada marcada pelo equilíbrio das equipes tradicionais e o abismo entre o resto das equipes. Manchester United, Chelsea e Liverpool gastaram cifras estratosféricas e não viram suas vagas na Champions League serem ameaçadas – apesar de esporádicas incursões de Man City e Everton na zona de classificação. Já a briga pela vaga na Copa UEFA e pelo rebaixamento foi mais emocionante, tamanha era a semelhança e a qualidade técnica da maioria dessas equipes. Para esse ano, o script parece ser o mesmo, apesar da política de contratações das equipes ter diminuído drasticamente, tanto em quantidade, quanto em qualidade. A maior movimentação no mercado da bola foi a contratação de Felipão para o comando técnico do Chelsea. A volúpia das equipes durante a janela de transferências é menor e a maioria das equipes mudou pouco em relação a base da temporada passada.

Na parte vermelha de Manchester, nenhuma contratação até aqui. Apesar de ter uma base excelente – demonstrada dentro de campo com a dobradinha de títulos Premier League/Champions League – é inegável que a equipe precisa melhorar o seu elenco para continuar dominando a Europa. A importante a manutenção de Cristiano Ronaldo – alvo de forte assédio do Real Madrid – pode ser considerada o maior reforço dos Red Devils até aqui. No entanto, a especulação é forte sobre Dmitar Berbatov, do Tottenham, que cairia como uma luva, pois a equipe de Sir Alex Ferguson não tem um “fazedor de gols” de ofício, apesar da marcante ofensividade do tridente Tevez-Rooney-Ronaldo. A defesa também necessita de peças para compor o elenco, já que Ferdinand e Vidic não tem reservas à altura. Bons laterais também seriam bem-vindos em Old Trafford. Mesmo com essas arestas, o Man United ainda tem uma pontinha de favoritismo em 2008/09.

Marcados pelo quase em 2007/08, o Chelsea parece elaborar um efetivo projeto ambicioso para um velho sonho: a conquista da Europa. Roman Abramovitch não hesitou em trazer aos Blues a filosofia vencedora de Felipão. “Big Phil” promete reeditar a família Scolari na terra da rainha e para isso, trouxe dois atletas de sua confiança, ambos oriundos da seleção lusitana: Deco (enxotado do Barcelona) e Bosingwa prometem turbinar o time, que ainda ganhou o reforço da renovação de contrato de Frank Lampard, o maestro da equipe. Apesar das fortes investidas em Kaká e Robinho – este último ainda pode vir – Felipão promete investir em peças do elenco que não são primordialmente titulares, como Shevchenko e Wright-Philips, por exemplo. E todos sabem que para um campeonato longo, é importante ter um elenco forte e equilibrado, como o Chelsea possui.

Apesar da boa campanha, onde perseguiu o Manchester United por boa parte da Liga passada, o Arsenal pecou pela falta de opções e experiência de seu jovem elenco. Para essa temporada, Arsène Wenger – com a política pés no chão dos Gunners – continuará apostando mais ainda na molecada. Isso porque o elenco sofreu a baixa de um trio de jogadores experientes: Flamini (Milan), Gilberto Silva (Panathinaikos) e Hleb (Barcelona), além da saída de Lehmann, veterano goleiro desgastado e em má fase. Além do aumento da responsabilidade da dupla Fabregas/Adebayor em conduzir as ações ofensivas do time, Wenger aposta suas fichas na maturação do jovem Samir Nasri, 21, contratado junto ao Marseille. O meio-campista é mais um da linha “substituto de Zidane”, mas é convocado regularmente pela seleção francesa e precisava atuar em um clube maior e em uma liga de maior competitividade para mostrar o seu real valor. Podemos ver o Arsenal lançar mais uma linha de jovens promissores como Denílson, Carlos Vela e Fran Mérida, além da gradual volta de Eduardo da Silva, contundido gravemente na temporada passada. Lá atrás, com um Almunia que não inspira muita confiança, sobrará para o capitão Gallas a tarefa de segurar o rojão na defesa. E se os Gunners não abrirem o olho, esta promete ser uma árdua e longa temporada.

Em Liverpool, Rafa Benítez não tem todo o prestígio de outrora. Ainda assim, a manutenção da base – que demorou a engrenar e reagiu tarde no campeonato passado – é um dos trunfos do elenco. A principal contratação dos Reds é o irlandês Robbie Keane, o qual promete dar mais opções de ataque ao time, cujo ataque conta com o brigador Kuyt e o goleador Fernando Torres – principal jogador do Liverpool na temporada passada ao lado de Gerrard. Outros jogadores vieram para dar opções ao elenco de Benítez, entre eles os laterais Andrea Dossena e Phillip Degen, além do promissor arqueiro brasileiro Diego Cavalieri. Resta saber se o Liverpool pode mostrar tudo o que joga desde o início, além da capacidade de demonstrar ser um time mais constante, algo que lhe faltou na temporada passada.

Entre os médios, destaque para o Tottenham de Juande Ramos. Vencedor da Copa da Liga Inglesa 2007/08, Ramos acena fazer o mesmo tipo de trabalho feito em Sevilla no White Heart Lane, ao trazer jovens promissores e efetivos ao invés de caros jogadores world-class. A aposta nos meias Luka Modric – um dos destaques da Croácia na última Euro - e Giovani dos Santos mostra que o leque de opções faz o torcedor sonhar com uma vaga na Champions, já que a base que reagiu no último campeonato foi quase mantida. Quase, porque o Tottenham pode estar prestes a perder sua ótima dupla de ataque, já que Robbie Keane foi para o Liverpool, enquanto Berbatov sofre forte assédio do Man United. Se a perda de Berbatov se concretizar, os Spurs terão de sair rapidamente às compras. O Portsmouth – campeão da Copa da Inglaterra – quer se firmar de vez no pelotão intermediário. A contratação do grandalhão Crouch promete turbinar o ataque Pompey. Apesar da perda importante do meia Muntari (Inter), o Portsmouth conta com figurinhas tarimbadas do quilate de Campbell e James, além de possuir um elenco de jogadores bons, como Niko Kranjcar. E Harry Redknapp é bom técnico para trabalhar um elenco com essas características. Outras equipes do porte de Aston Villa, Everton, Blackburn, Newcastle e Man City – do brasileiro Jô - fizeram contratações modestas e prometem rechear o meião da tabela.

O Bolton tenta sair do limbo ao contratar Johan Elmander, bom atacante sueco trazido junto ao Toulouse, para apagar a péssima temporada passada, quando quase caiu para a segundona mesmo tendo um elenco digno de disputar vagas na Copa UEFA. Já os recém-promovidos Hull City, Stoke City e West Bromwich adotaram a mesma política de equipes como o Fulham, Sunderland, Wigan e Middlesbrough: a contratação de “refugos”, jogadores bem rodados no futebol europeu. Com isso, as chances de uma campanha pífia como a do Derby County, último colocado em 2007/08 (11 pontos, 20GP e 89GC em 38 partidas) são grandes.

Os investimentos mais modestos e a movimentação menor no mercado mostram a política exagerada de gastos ocorrida em 2007/08. E além da técnica a chave para vencer a Premier League será o entrosamento. Mesmo sem contratações bombásticas, o Campeonato Inglês ainda continua sendo o melhor campeonato europeu, na minha visão. E talvez, com a diminuição dos gastos, o abismo entre as quatro forças e as outras 16 equipes diminua um pouco e deixe a competição ainda melhor

2 comentários:

Felipe Moraes disse...

Bela análise, André.
Concordo, o campeonato deve ficar ainda melhor nesta temporada, com os clubes arriscando pouco no mercado.

Abraço,
Felipe Moraes

Ricky_cord disse...

O Manchester é o grande favorito. Scolari começou bem mas não acredito que tenha sucesso. Acredito que o Arsenal pode fazer boa figura