27.10.06

The Best!

Nota de cinco libras que homenageia George Best

Não é uma cultura muito comum no Brasil eternizar a maioria de seus ídolos no futebol. Com a exceção de Pelé, Garrincha (depois de morto) e mais alguns poucos, não é uma cena incomum ver grandes ex-jogadores na sarjeta, passando por privações e esquecidos pela mídia e pelo público.
Pois bem, mas porque estou falando sobre isso? Por ler essa semana que o Ulster Bank vai estampar o rosto de George Best nas notas de cinco libras, em edição limitada. Fora que o ponta norte-irlandês já é nome de aeroporto e tem diversas homenagens espalhadas por todo o Reino Unido, feitas principalmente pelas torcidas que ele fez mais felizes: a do Manchester United e a da seleção da Irlanda do Norte. O cara é um verdadeiro Deus por lá, muitos o chamam de “Pelé” da Europa. E ao contrário da fama de “bom-moço” que Pelé ostenta em todo o mundo, Best era o típico bad-boy. Mulherengo, alcóolatra, indisciplinado, polêmico e mesmo assim, venerado. Aproveitando a ocasião de um ano de seu falecimento, vamos acompanhar um pouco da história desse excelente ponta norte-irlandês, um dos grandes gênios do futebol mundial.

A Carreira

Nascido no dia 22 de maio de 1946, em Belfast, Irlanda do Norte, filho de Dickie e Anne, George nutria o amor pelo futebol desde muito pequeno. Sua mãe dizia que “a bola estava sempre com George”. Ainda criança, o futuro ponta já se destacava entre os garotos de sua idade, no distrito de Crengagh. Aos 11 anos, ele ganhou uma bolsa de estudos para ir estudar na escola local, Grosvenor High. Mas no currículo esportivo de suas nova escola, só havia espaço para o rugby, esporte muito tradicional nas terras britânicas. Então George começou a “cabular aula” e seu comportamento mudou , pois estava infeliz – não tinha seus velhos amigos de infância e nem a bola de futebol. Expulso da nova escola, os pais dele resolveram colocá-lo de volta à sua velha escola, com seus velhos amigos, e claro, com a inseparável bola de futebol.
Já na adolescência, George começou a jogar pelo Glentoran, time local do leste de Belfast e suas atuações pelo time não tardaram a chamar a atenção de olheiros. Bob Bishop, descobridor de talentos do Manchester United ficou entusiasmado ao ver o arisco garoto em ação e logo quis levá-lo para jogar pelos Red Devils. Radiante com o talento que tinha em mãos, rapidamente enviou um telegrama para o treinador do ManU na época, Matt Busby, que decretava; “Achei um gênio pra você”. Best assinou com o Manchester United em 1961.
Mas logo no início de sua chegada a Manchester, quase que o jovem George colocou tudo a perder. Apenas 24 horas após o desembarque em Manchester, ele e seu colega Eric McMordie, que também foi jogar no clube inglês, resolveram fugir de volta a Belfast. Busby, em conversa com o pai de George, decretou que os dois fujões voltassem dentro de duas semanas. E assim se fez. Best tornou-se profissional em 1963 e no mesmo ano, com 17 anos, fez sua estréia pelo time principal do Manchester United, em setembro, contra o West Bromwich Albion. E o homem a marcá-lo seria o galês Graham Williams. Best o infernizou durante todo o jogo e após o apito final, Williams apertou a mão de Best e disse que queria cumprimentá-lo olhando em seu rosto, pois durante a partida ele só o enxergava de costas, avançando em direção ao gol.
Pouco depois da partida contra o West Bromwich, Best ficou doente e retornou a Belfast, para passar o Natal junto à família. Enquanto o United preparava seu novo contrato, os dirigentes pediram a Best que voltasse para a partida no sábado seguinte, contra o Burnley, que havia goleado o ManU pouco tempo antes. George disse que o faria, mas com a condição de que ele pudesse retornar a Belfast logo após a partida. O clube concordou e ele voltou. Marcou seu primeiro gol pelo time principal e ajudou os Red Devils a se vingarem da goleada sofrida anteriormente. A partida terminou em 5 a 1.
A partir daí, George havia se tornado o mais novo “Busby Babe” (pupilo de Busby) e formou o maior ataque do Manchester de todos os tempos, ao lado de Dennis Law e Bobby Charlton. Foram dois campeonatos ingleses (1965 e 1967) e uma Liga dos Campeões (1968).
No caminho da campanha vitoriosa do título europeu, após ter marcado dois gols contra o Helsinki, o Manchester United iria jogar as finais contra o poderoso Benfica, de Eusébio. Mesmo com as ordens expressas de Matt Busby para George “prender a bola”, em apenas doze minutos de jogo, o ponta já havia marcado dois gols. O Manchester venceria a partida por 5 a 1, e George sairia aclamado de campo, com um sombrero mexicano na cabeça. Best era mais que uma realidade em Manchester. Era ídolo.
Best pode ser considerado o primeiro craque “pop” do futebol. Recebia mais de mil cartas por semana, abria seus próprios pubs. Ele era conhecido como “El Beatle”, pois seu visual se assemelhava aos dos famosos garotos de Liverpool, febre mundial do rock na época. Também era presença constante nos tablóides da época, por seus problemas com bebida e envolvimento com diversas mulheres.
No mesmo ano em que venceu a Liga dos Campeões, George Best foi eleito o melhor jogador da Europa (Bola de Ouro). Mas a saída de Matt Busby do comando dos Red Devils, em 1970 e os constantes casos de indisciplina de Best começaram a selar sua saída de Manchester. Antes disso, ele chegou a marcar seis gols em um mesmo jogo. Foi contra o Northrampton, ainda em 1970, após ter retornado de mais uma suspensão por indisciplina. George permaneceu no Manchester até 1974, de onde saiu com apenas 26 anos . Foi embora e deixou muitas saudades. Afinal, ele anotou 138 gols em 466 jogos, sendo o quarto maior artilheiro de todos os tempos do clube. Depois de sua saída do ManU, ele nunca mais foi o mesmo jogador brilhante de outrora.
Após sair de Manchester, ele atuou por diversos clubes menores do Reino Unido, Austrália e dos Estados Unidos. Chegou a encerrar a carreira, mas sempre dava um jeito de retornar aos gramados. Mesmo com os problemas de indisciplina e alcoolismo, encerrou a carreira definitivamente aos 37 anos, no Brisbane Lions, da Austrália.
Pela seleção norte-irlandesa, estreou com apenas 16 anos, em 1963. Foram 37 jogos pela seleção e nove gols, em 13 anos de seleção. Um jogo em particular, em 1967, contra a Escócia foi especialíssmo para Best. Ele ganhou o jogo praticamente sozinho contra os escoceses, em partida realizada no Windsor Park, Irlanda do norte. Esse dia ficou conehcido como “Dia Internacional George Best”. Pat Jennings, outro grande jogardor norte-irlandês afirmou que Best foi o jogador mais refinado com quem ele já havia atuado, a favor ou contra ele, e que guarda com carinho memórias dele. Apesar de toda a sua genialidade em campo, Best não conseguiu levar a seleção de seu país a uma Copa do Mundo. Talvez essa seja uma de suas maiores frustrações na carreira.
Para o torcedor brasileiro, poderia definir George Best, em seu comportamento, como uma mistura de Edmundo e Romário. Mulherengo assumido, era sempre visto com garotas bonitas, muitas delas modelos e misses. Afirmava que tinha nascido com um grande dom, mas que as vezes, esse dom transformava-se em algo destrutivo para ele. Naquela época, era comum os torcedores ingleses atirarem latas de cerveja em direção ao campo. Quando George chegava próximo às laterais, ele simplesmente abaixava e as bebia. Após encerrar a carreira, ele escreveu livros e foi comentarista de futebol na TV, ente outras atividades.

Após algumas internações e tentativas de vencer o alcoolismo que o acometia, George conseguiu um transplante de fígado, em 2002. Era a esperança que precisava para continuar a sua batalha pela vida. Mas em outubro de 2005, Best foi novamente internado com complicações por conta de uma pneumonia. Ficou internado em um hospital em Belfast por um mês e meio, até falecer em 25 de novembro de 2005.
Seu funeral foi digno de grandes chefes de estado mundiais, com mais de 100 mil pessoas nas ruas da capital Belfast, todos querendo dar seu último adeus ao ídolo. Ele vislumbrou a Fundação George Best, que atualmente pesquisa os efeitos do álcool nas pessoas, para evitar que outros, assim como ele, sofram dos malefícios que as bebidas alcoólicas podem trazer.
Jogando na mesma época em que monstros sagrados do esporte bretão, como Pelé, Garrincha, Bobby Charlton e Eusébio, Best também foi destaque. O próprio Rei Pelé afirmou que Best foi o melhor jogador de seu tempo. Numa história que se assemelha em alguns aspectos com a do nosso gênio Garrincha, George Best é aclamado em toda Europa, principalmente no Reino Unido. Por lá, é comum ver os seus fãs dizerem “Maradona good, Pelé better, George Best”. O próprio Best qustionava a comparação de Pelé como melhor jogador de todos os tempos. “ Se Pelé tivesse jogado pela Irlanda do Norte e eu pelo Brasil, será que todos diriam a mesma coisa?” indagava George a um amigo dele, jornalista.
Na minha opinião, não chega a tanto, mas fica claro, por tudo o que foi dito através dessas linhas, que Best foi um gênio da bola. Linhas que George Best escreveu com suas arrancadas, suas polêmicas e sua genialidade. Para quem não o conhece, acompanhe alguns lances de Best no vídeo abaixo.


Perfil:

Nome Completo: George Best
Nascimento: 22 de Maio de 1946, em Belfast, Irlanda do Norte
Falecimento: 25 de novembro de 2005
Apelidos: The Belfast Boy, O quinto Beatle.
Clubes: Manchester United (1963-1974), Stockport County (1975), Cork Celtic (1976), Fulham (1976-1977), Los Angeles Aztecs (1976-1978), Fort Lauderdale Strikers (1979), Hibernian FC (1979-1980), San Jose Earthquakes (1980-1981), Bournemouth (1983) e Brisbane Lions (1983)
Títulos: 2 Ligas Inglesas
1 Liga dos Campeões

Frases Célebres:
“Gastei muito dinheiro em carros velozes, mulheres bonitas e em bebidas. O resto eu desperdicei”
“Ele não chuta de pé esquerdo, não sabe cabecear, não sabe desarmar e não marca muitos gols. Fora isso, ele é bom”
(Sobre David Beckham)
“Se eu tivesse nascido feio, vocês nunca teriam ouvido falar de Pelé”
“Em 1969, eu dessiti do álcool e das mulheres. Foram os piores 20 minutos da minha vida”
“Eu parei de beber somente quando estava dormindo”
"Dizem que eu tentei dormir com sete misses mundo. Não é verdade. Foram apenas quatro. As outras três vieram atrás de mim.”
“Pelé me disse que eu era o melhor jogador do mundo. Essa foi a maior homenagem que recebi.”

6 comentários:

Romano locali disse...

ae mestre coxinha...
mto completo seu texto, rapaz....
curti.... lembro de qd ele morreu e vcs comentaram... e li algo tbm no estdão da época....
parabéns ae!!!!
td de bom, meu caro... e continue assiM!!!

Felipe Brisolla disse...

Grande reportagem André!!Grande mesmo! Em todos os sentidos...e parabéns pelo comentário pessoal no final. Concordo! São matérias como essas que farão o Blog crescer! Um abraço!

Thiago Barretos disse...

George Best realmente foi um gde jogador e merece como ngm uma homenagem como essa...
Alem do mais, o cara sempre foi falastraum, baladeiro, fugia da msmice e era um cara autentico.
Certamente o mundo esportivo sente falta de jogadores q tenham essa habilidade e q sejam taum sinceros

GABRIEL RUIZ disse...

Passando aqui pra conhecer, dei uma olhada nos últimos 4 posts, mas não li na íntegra.
Gostei do visual e neste momento estou a ouvir o Eurogol!
grande abraço
parabéns pelo blog!

Felipe Moraes disse...

André, belo post esse! Já considero este como meu preferido do Opinião FC.
Eu considero George Best um dos maiores craques da história do futebol. Seu estilo de levar a bola ao ataque com muita qualidade me chama muito a atenção, e me faz recordar do maior jogador europeu de todos os tempos: Johan Cruyff.
Best faz parte da grandiosa história do Manchester United, e em 1968, provou sua qualidade levando o clube ao título europeu.

Um Abraço, Felipe Leonardo

Alexandre Azank disse...

Parabens pelo post de qualidade e profundida informativa. Em embora denso, possui um excelente trabalho de pesquisa.

Continue assim! Abraço