14.5.09

Jogo da vida

Para o Barcelona, um clima inicial de "ressaca", por ter adiado a festa do título espanhol em mais uma rodada, após o gol de empate sofrido nos descontos da partida contra o Villarreal, no Camp Nou. Mas nessa final de Copa do Rey, a oportunidade para iniciar a conquista da "Tríplice Coroa" na temporada 2008/09. Para o Athletic Bilbao, o jogo do ano. O time, além do tradicionalismo no futebol espanhol, é uma das principais bandeiras do movimento separatista basco e passou por algumas dificuldades financeiras antes do início desta temporada. Por conta disso, teve que estampar um patrocinador na camiseta., imaculada há mais de 110 anos (conforme já postado aqui no blog). Além disso, o último título de expressão dos Leones foi conquistado há exatos 25 anos, quando a equipe fez a dobradinha La Liga – Copa do Rey. Inclusive com a vitória na final daquela Copa sobre o Barcelona de Maradona num jogo de nervos ocorrido no Santiago Bernabéu, com saldo final de 60 feridos após o apito final.

Anúnicio escrito em catalão e basco para boicote do hino espanhol no Mestalla.

Mesmo com o Bilbao dando mais importância a final e a grande disparidade técnica entre as equipes, a final teve elementos característicos. Com o Rei Juan Carlos presente no Estádio Mestalla – palco da final – catalães e bascos presentes no estádio formaram um uníssono de vaias quando notada a presença do monarca e na execução do hino espanhol. Rivais que se uniram por uma causa comum: a luta política e ideológica pela separação de regiões autônomas espanholas – neste caso, Catalunha e País Basco. Com enorme repercussão, as vaias aos símbolos espanhóis foram lamentavelmente censuradas pela transmissora do jogo, a estatal TVE. O fato, que acabou por acalorar ainda mais as discussões e aumentar a polêmica envolvida, acabou custando o cargo do diretor de esportes da emissora espanhola, Julián Reyes.

Em campo, um Athletic aplicado e raçudo tentava peitar o técnico Barcelona, time do futebol mais vistoso do mundo no momento. E a surpresa veio com o gol de cabeça de Toquero, no início do jogo. Mesmo diante de um Atheltic incendiado e com gana de vencer, o Barcelona mostrou sangue frio e logo impôs o seu melhor futebol. E o que prometia ser uma final disputada entre unhas e dentes acabou virando um show blaugrana. Comandados por Messi e Xavi, impiedosos 4-1 enterraram o sonho dos fanáticos bilbaínos de pôr fim ao incômodo jejum e de empatar com o Barelona como o maior campeão da competição – com a vitória nesta quarta, 25 a 23 para os blaugranas.

No Bilbao, a certeza do dever cumprido, atestada pela bonita festa de sua torcida no Mestalla. No Barcelona, moral com dois títulos virtualmente conquistados – um empate separa a equipe de Guardiola do título de La Liga – e faca cerrada entre os dentes para enfrentar o perigoso, equilibrado e competente Manchester United em Roma pela final da Champions, daqui duas semanas. E na Espanha, mais uma pequena mostra do quanto o futebol se reflete na política e na cultura do país, desde os dolorosos anos da ditadura franquista.

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