9.1.10

O estopim da CAN

Muito questionada pela sua periodicidade – de dois em dois anos – os defensores para que a competição continental africana tenha intervalos mais largos ganharam, mesmo que involuntariamente, mais um forte argumento. Togo não tem mais condição psicológica alguma de disputar a CAN, já que sua delegação foi atacada por um grupo separatista da região de Cabinda, que alvejou o ônibus em que estavam jogadores e comissão técnica de Togo nesta sexta-feira, a três dias da estréia dos togoleses diante de Gana. Dois jogadores - Serge Akakpo (Vasilui/ROM) e Kodjovi Obilale (Pontiviy/FRA) foram feridos, enquanto o motorista que conduzia o veículo, o assessor Stanislas Ocloo e o assistente Abalo Amélété acabaram falecendo após o atentado. O bom senso fez com que a seleção togolesa deixasse a disputa. E se houvesse solidariedade entre os outros atletas e seleções de outras nações, se solidarizariam com Togo seguindo seu exemplo em deixar a CAN.

A região de Cabinda, no norte do país – rica em petróleo - sofre com conflitos separatistas desde a independência de Angola, em 1975. Mesmo com condições desfavoráveis para receber atletas e torcedores para as disputas da CAN, a cidade é uma das sedes da competição, recebendo cinco jogos do Grupo B – Costa do Marfim, Gana, Togo e Burkina Faso – fato que é no mínimo, um ato de imprudência. Porém, na opinião do diretor de comunicação da Confederação Africana de Futebol (CAF), Souleymane Habuba, Togo não seguiu as recomendações da entidade. “O regulamento da CAF é claro, os times deviam viajar de avião e não de ônibus”, afirmou.

Cada vez mais interessante de se assistir, a CAN tem em suas partidas muitos jogadores que poderão brilhar no mundial da África do Sul, que começará em menos de seis meses. Realizá-la a cada dois anos é incabível, dentro de um calendário mundial já saturado. E é onde falta a mão forte da FIFA, que poderia intercalar as competições continentais no vácuo de tempo entre as Copas do Mundo, por exemplo. Mas acima de qualquer discussão técnica e temporal, está a humanitária. Não dá para continuar uma competição tão importante após uma agressão tão brutal e covarde, numa triste mistura entre politicagem e esporte, onde os togoleses foram simples iscas para trazer a discussão dos conflitos de Cabinda – resquício da violenta época da Guerra Civil angolana, que matou mais de 500 mil pessoas em quase 30 anos - à mídia mundial.

Sou apreciador da CAN e do futebol africano e esse episódio não tem nenhuma relação com a capacidade do continente africano em realizar uma Copa do Mundo. Mas essa edição do torneio deveria ser suspensa imediatamente e aproveitando o embalo, a competição deveria ser melhor pensada e planejada. Porque colocar uma sede numa região marcada pelo conflito é algo que ultrapassa a ingenuidade e a falta de bom senso.

LEITURAS SOBRE O TEMA:

Cancelem a CAN, do blog da Trivela
Ao tornar Cabinda sede da CAN, governo de Angola colocou jogadores em risco, Blog de Mauro César Pereira

*Atualização (23:52) - Na noite deste sábado, o elenco de Togo voltou atrás e decidiu participar da CAN, em memória aos mortos no atentado. Porém, o atacante do Nantes, Thomas Dossevi fez uma ressalva importante: "Não somos covardes. Estamos decepcionados com a organização do evento. Primeiro, eles olham para os seus interesses", declarou.

Um comentário:

formatted error free disse...

o q garante agora q nao haja mais atentados?

http://tchicoesperto.blogspot.com/2010/01/hospitalidade.html