26.11.06

Em busca da credibilidade perdida

Por André Augusto e Jota Assis

Há pouco mais de um ano, assistimos a uma série de denúncias de corrupção no futebol brasileiro, que culminou com a anulação de 11 jogos do Brasileirão 2005. A denúncia foi feita pela revista Veja e o protagonista de toda essa calamitosa situação foi o árbitro Edilson Pereira de Carvalho, até então integrante do quadro da FIFA. O árbitro havia negociado com um grupo de investidores para garantir o resultado de algumas partidas. Os investidores se beneficiavam com o esquema, apostando em sites ilegais. Segundo a revista, por jogo, o árbitro recebia entre 10 e 15 mil reais. O empresário Nagib Fayad, o Gibão, confessou que fez pagamentos ao árbitro paulista, para que houvesse a manipulação de alguns jogos do campeonato brasileiro.

Em outubro do ano passado, Edilson foi julgado pela 1º Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e em decisão unânime foi banido do futebol. O arbitro paulista foi enquadrado nos artigos 241 (dar, prometer ou aceitar vantagens para influenciar no resultados dos jogos) e 275 (proceder de forma atentatória dignidade do desporto). Os dois artigos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) prevêm que, no caso de sua violação, o infrator seja banido de suas funções. O responsável pela anulação dos jogos foi o então presidente do STJD, Luiz Zveiter.

O único árbitro condenado pelo escândalo da “Máfia do Apito” foi Edilson Pereira de Carvalho, réu confesso. Outros supostos envolvidos, como Paulo José Danelon e os empresários responsáveis pelos sites continuam sendo investigados. Como os envolvidos são réus primários, a sentença tende a se abrandar acarretando o cumprimento de serviços comunitários.

Com a anulação desses jogos, o campeão brasileiro de 2005, Corinthians, pôde disputar novamente duas partidas que havia perdido antes da anulação dos jogos pelo STJD (contra Santos e São Paulo), e conseguiu recuperar quatro pontos. Com isso, o time de Parque Sâo Jorge conquistou o tetracampeonato brasileiro, ficando 3 pontos à frente do segundo colocado, o Internacional.

E de lá pra cá, o que foi feito? Pelo menos, a Federação Paulista está tomando algumas medidas que visam evitar esse tipo de escândalo. Uma delas é colocar alguns policiais administrando cargos referentes a arbitragem da federação - Coronel Marinho é o presidente da comissão de arbitragens, Coronel Silas Santana está na ouvidoria da comissão e o delegado Bento da Cunha é o corregedor. Tanto policiamento já resultou no afastamento de alguns árbitros do quadro da federação, por conta de alguma irregularidade. O jornalista André Rizek mostra em seu blog algumas das medidas tomadas pela FPF, na busca pela transparência da arbitragem.

Tímidos passos, mas que servem de exemplo para outras federações pelo mundo afora, que assiste estarrecido a proliferação de negócios sujos no futebol.

De olho no Apito

Cerca de um ano após a repercussão nacional da “Máfia do Apito”, a imagem dos árbitros ficou manchada no futebol brasileiro. É quase consenso entre jornalistas, cartolas e atletas que o nível das arbitragens, em relação ao ano passado, caiu bastante. Mesmo que indiretamente, o episódio refletiu negativamente entre a categoria de árbitros profissionais. Medidas foram tomadas, alguns dos responsáveis punidos e nesse cenário, os árbitros tentam ganhar novamente a credibilidade no meio futebolístico.

Sobre o assunto, o presidente do Sindicato dos Árbitros do Estado de São Paulo (SAFESP), Sérgio Corrêa da Silva (foto:futebol interior) explica ao Opiniao FC como foi a reação da categoria diante do escândalo que abalou o futebol nacional.

Opiniao FC - A repercussão do "Caso Edílson" foi impactante no cenário futebolístico brasileiro. Na sua opinião, o episódio manchou a classe dos árbitros? Quais as medidas que você sugeriria para evitar novos casos como esse?
Sérgio Corrêa - A repercussão foi péssima, mas devemos entender que foi algo isolado, de dois árbitros que, por motivos financeiros, deixaram-se levar por apostadores. Eles não pensaram nos companheiros, nos familiares, nos amigos, nos jogadores que trabalham de forma extenuante para vencer suas partidas, nos dirigentes de arbitragens que confiaram neles e muito menos nos torcedores, principais responsáveis por movimentar o esporte mais popular do Brasil e do mundo. Eles mereceram o cartão vermelho que receberam de todos. A medida para se evitar que isso volte a acontecer é a eterna vigilância. A CBF e a FPF tomaram várias medidas, endureceram ainda mais no controle da documentação entregue, criou-se a corregedoria e a ouvidoria dos árbitros, entre outras medidas especiais.

Opiniao FC - Também houve, neste ano, o episódio na Itália de manipulação de resultados, que puniu árbitros, dirigentes e clubes. Como o sindicato viu este episódio?
SC - Com a mesma tristeza, pois é um setor de que gostamos de estar e não podemos aceitar tais desvios. O árbitro, além de ser honesto, deve também parecer ser honesto.

Opiniao FC - O sindicato defende a profissionalização dos juízes para exercer apenas a função de árbitro, sem outras profissões paralelas?
SC - Sim, desde que haja garantias para os árbitros, pois eles estão subordinados às Federações e estas aos clubes. Não podemos correr o risco de um árbitro não ter seu contrato renovado, pois se isto ocorrer, diferentemente dos jogadores ele irá ficar sem emprego (ele não poderá mudar de Federação, pois quem vai desejar um árbitro cujo contrato não foi renovado por sua entidade inicial? A legislação trabalhista é dura, pois os encargos sociais ultrapassam 100%.

3 comentários:

Thiago Barretos disse...

É lamentável que situações como essa possam ocorrer com tanta frequência.
O pior é saber que a manipulação de resultados acontece em todos cantos do mundo: Itália, Alemanha, França, Brasil...
E diga-se de passagem, que já passou a hora da FIFA pronunciar-se sobre o assunto e se for o caso, até criar uma pena para cada caso em geral

Alexandre Azank disse...

Infelizmente, a courrupção de árbitros sempre ocorreu tanto aqui com na Europa.Vai da varzea até o os grandes torneios! É preciso punir com severidade os desonestos para que sirvão de exemplo para os demais!
Parabens pela entrevista!

Felipe Brisolla disse...

Recuso-me a comentar um post com a foto desse cretino...