4.3.11

"Diferenciados"

No combalido mundo dos cartolas do futebol, qualquer atitude ou nova mentalidade fora do comum – seja um novo dirigente que chega para substituir os “perpétuos”, seja uma personalidade de outra área que tenta dar jeito na velha e ultrapassada fórmula de se gerir o produto futebol – virou esperança. Luiz Gonzaga Belluzzo (renomado economista, intelectual e ex-presidente do Palmeiras), Patrícia Amorim (presidente do Flamengo) e Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro (presidente do Santos) foram taxados de “diferenciados”, quando assumiram seus respectivos cargos, recentemente. Mas todos caíram no lugar-comum de seus antecessores.

A gestão Belluzzo foi tão desastrosa que reaproximou o nefasto Mustafá Contursi do centro de poder do clube. O eleito Arnaldo Tirone é ligado ao dirigente, que ficou 12 anos no poder, enquanto José Angelo Vergamini, também ligado ao ex-cartola do Verdão, foi reeleito para o Conselho Deliberativo. Patrícia Amorim, apesar de boas atitudes em sua chegada, demitiu Zico da diretoria executiva (injustamente, como um dos culpados pela má campanha do time no Brasileirão de 2010) e entrou na megalomania, como a contratação da frustrada dupla Deivid e Diogo, que juntos somavam quase R$ 1 milhão mensais de vencimentos. A mandatária do Flamengo chegou ao absurdo de declarar que “dirigente não ganha jogo, mas ganha título”, referente ao episódio do reconhecimento do justo hexacampeonato do Flamengo com a ratificação do título brasileiro de 1987. Pleiteado há mais de duas décadas, por diversos presidentes, o tal título vem sendo usado pela CBF para tentar minar o frágil Clube dos 13 e retomar o controle perdido sobre o que resta do futebol tupiniquim.

Sucessor de Marcelo Teixeira, Luiz Álvaro também pintou como um diferenciado. Ao contratar o técnico Dorival Júnior e apostando fortemente em suas categorias de base, o cartola contabiliza atitudes positivas. Mas as duas últimas trocas de técnico do time foram dignas dos velhos e folclóricos dirigentes. O ótimo Dorival tombou na queda de braço em que deveria ter sido fortalecido pela própria direção, que resolveu tomar o lado de Neymar, temendo que sua joia se desvalorizasse no mercado, curvando-se a diversos interesses e deixando escapar o técnico que elevou o status do futebol do aspirante a craque.

Para esta Libertadores, a aposta era Adílson Batista, de bom trabalho no Cruzeiro (vice-campeão da Libertadores de 2009), mas arranhado pelos atritos na breve passagem pelo Corinthians. O presidente do Peixe sabia (ou deveria saber) das características de seu novo contratado, contestado até mesmo pela imprensa mineira, por conta das diversas “experimentações” que o técnico costuma fazer em seu elenco – para mim, seu maior defeito como treinador. Com várias contratações e tendo de encaixar Neymar e os outros garotos que chegavam da Seleção Brasileira sub-20 que estava no Sul-Americano da categoria, parecia óbvio que seu elenco estava em formação. Porém, uma derrota inesperada diante de um ainda combalido Corinthians e dois empates (Deportivo Táchira na Libertadores e São Bernardo, no Paulistão) foram suficientes para derrubar o treinador. O diagnóstico do presidente: o “DNA” ofensivo do Santos havia mudado.

Ou seja, os 21 gols marcados pelo Santos nos outro oito jogos oficiais de 2011 (média de 2,62 por jogo) foram pelo ralo por uma eventual seca de dois gols em três partidas. Agora, a diretoria santista se vê “mendigando” (não vejo termo mais apropriado que esse) pela vinda de Ney Franco, responsável pelo Brasil sub-20, o que soa mais patético do que a própria demissão de Adílson, pressionado (nem tanto assim) por parte da torcida. E não existem boas opções ou nomes de primeira linha disponíveis no mercado.

Um atestado de que, na hora em que a situação apertou, Luiz Álvaro foi pelo caminho mais previsível. Como já fizeram todos os outros, desde que o futebol é futebol.

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