20.3.11

Mão amiga

Com o goleiro Lukasz Fabianski fora desta temporada (lesão no ombro) e a nova aposta Szczesny com uma contusão no dedo, o técnico do Arsenal, Arsène Wenger, se viu apenas com Almunia apto para jogar. Por isso, o francês – que só pode contratar um jogador vinculado a outro clube na janela de transferências de agosto – não hesitou em chamar um velho conhecido do descanso para usar novamente as luvas de arqueiro: Jens Lehmann, 41 anos, volta para compor o elenco, após curtir apenas seis meses de aposentaria dos gramados, quando encerrou a carreira pelo Stuttgart.

A fase do Arsenal parece mais negra do que nunca. O gigante clube londrino, que atravessa seca de títulos desde 2005, vinha bem na Champions League, está na briga com o Manchester United pela Premier League e alcançou a final da Copa da Liga Inglesa (coincidentemente, sua última conquista), diante do Birmingham. Porém, um elenco jovem e devastado por lesões – além da dupla de goleiros poloneses, Fàbregas, Walcott, Djourou, Vermaelen, Alexandre Song e Diaby povoam o departamento médico – passou como um furação na temporada dos Gunners, no espaço de 20 dias desde o final de janeiro: a eliminação diante do Barcelona, na ainda inédita busca continental; a surpreendente derrota para os Blues na decisão, com uma falha patética da dupla Koscielny-Szczesny; outra eliminação, desta vez diante do Manchester United, pela Copa da Inglaterra, ainda na fase de oitavas; por fim, o empate contra o modesto West Brom, pela Premier League, que deixou a equipe a cinco pontos do líder Man United (com um jogo a mais), dificultando a reconquista do título nacional, que não acontece desde 2003/04 com o invicto time de Lehmann, Campbell, Ashley Cole, Vieira, Pirès, Bergkamp e Henry, imbatível por impressionantes 49 jogos e que tinha na equipe alguns talentos descobertos por Wenger, casos dos franceses Vieira e Henry, pliares do time.

A política de jovens de Wenger é, como conceito, muito boa. Mas a acentuação e a massividade em contratações de jovens talentos vem prejudicando o Arsenal, competitivamente falando, nos últimos anos. Desde a saída do próprio Lehmann do Arsenal, em 2008, a equipe não efetiva um goleiro à altura. O irregular Manuel Almunia era o sucessor natural do arqueiro alemão, mas nunca se estabilizou e perdeu o posto de titular após duas temporadas. Jovens como o italiano Vito Mannone, Fabianski e o próprio Szczesny (20 anos e alçado a titular nesta temporada) foram, de certa forma, jogados na fogueira. E ainda não corresponderam.

A volta de Lehmann, em si, não é passível de crítica, dada a situação de inúmeras lesões no elenco. Mas a repatriação do goleiro é, de certa forma, irônica. Trata-se do último atleta representante de uma geração vitoriosa dos Gunners, que arrebataram duas Premier Leagues e outros três vices nacionais na primeira metade da década passada, além das taças inglesas e do honroso vice-campeonato europeu de 2005/06, perdido para o ótimo Barcelona de Frank Rijkaard.

Desde então, o clube se sacrificou para a construção de sua nova casa, o Emirates Stadium, de US$ 770 milhões, que o podou no investimento em grandes montantes para contratações. Porém, passados quase cinco anos de sua inauguração, os próprios diretores do Arsenal já disseram ter disponibilizado meios para a vinda de bons reforços. Que a presença do velho goleiro alemão relembre Wenger que é sim preciso se investir em talentos com experiência e rodagem. Entre eles, os preciosos tesouros que o treinador francês tanto sonha em desvendar possam surgir com mais naturalidade e com menor pressão. E numa equipe vitoriosa, o que facilita todo esse processo.

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