15.3.11

Inter, cada vez mais "nazionale"

Se em seu elenco profissional a Internazionale de Milão faz jus ao seu nome – além do agora naturalizado Thiago Motta, apenas os goleiros reservas Castellazzi e Orlandoni, os zagueiros Ranocchia e Materazzi e o atacante Pazzini são italianos –, no futebol da velha bota, a equipe nerazzurri volta a ser o último bastião de resistência do país nas competições europeias. A virada épica desta última terça-feira sobre o Bayern, em Munique, evitou que uma situação de dez anos atrás voltasse a se repetir: a de não ter nenhum time italiano na fase de quartas de final das principais competições continentais (Champions League e Europa League).

Tida como uma das principais ligas do planeta, a Serie A do Calcio vem perdendo força gradualmente. Somente contando com a hegemonia da própria Inter, atual pentacampeã nacional, o país perdeu uma vaga de acesso à Champions para a Alemanha. Agora, serão apenas dois lugares na fase de grupos e um na fase eliminatória, segundo o coeficiente estabelecido pela Uefa para distribuir vagas ao torneio. Na última semana, Milan e Roma caíram na Champions, enquanto o atual terceiro lugar do italiano Napoli foi surpreendido pelo Villarreal na Europa League.

Depois do escândalo que envolveu o futebol da bota em 2006, conhecido como Calciocaos, que trouxe à tona resultados arranjados e aliciamento indevido de atletas nas temporadas 2004/05 e 2005/06 – que envolveu times como a Juventus, Milan, Fiorentina e Lazio, entre os principais –, a Itália viveu momentos isolados no campo, que ainda não haviam sofrido diretamente as consequências do episódio que se arrastou nas páginas policiais e pelos tribunais: a conquista da Copa do Mundo de 2006 (que ocorreu concomitantemente à revelação dos escândalos) e o título da Champions League do Milan, em 2006/07, conquistado, em grande parte, graças às jornadas inspiradas do meio-campo Kaká. Só em 2009/10 que a já hegemônica Inter, orquestrada pelo treinador José Mourinho, voltou ao topo da Europa, que não via há 45 anos.

Ouvido pelo jornal italiano La Reppublica, o atual técnico do Chelsea, Carlo Ancelotti, (que comandou o Milan em sua última conquista europeia) não se surpreendeu com a perda da vaga italiana na principal competição de clubes no mundo. “A crise do futebol italiano é transitória: pouco investimento, talento e muitas dificuldades na seleção. Em outras épocas, as táticas italianas faziam diferença, mas os outros nos alcançaram. As últimas 16 Ligas dos Campeões foram vencidas nos contra-ataques. Não há muito o que inventar no futebol. Nós não aprendemos, mas os outros, sim”, cravou.

Mesmo com o campeonato nacional mais disputado dos últimos cinco anos (Milan é o líder, mas a rival Inter e a surpreendente Udinese fazem campanhas de recuperação nas primeiras posições, enquanto Napoli e Lazio patinam após bom início), o futebol italiano atravessa mau momento, que se evidenciou com mais força após a eliminação vexatória ainda na primeira fase da Azzurra na última Copa do Mundo, na África do Sul. Os poucos investimentos na contratação de grandes jogadores e o pouco espaço dado para os pratas da casa nas equipes principais do país são algumas das razões listadas em um artigo de Fabrizio Bocca, jornalista do La Reppublica (antes do título europeu da Inter), ainda em 2010. Ainda assim, boa parte dessa realidade ainda é muito latente no Calcio. Enquanto isso, após a classificação heroica na Bavária, a Inter continua a carregar sozinha a bandeira italiana nos campos da Europa.

Nenhum comentário: