17.3.11

Geração J.League

*Texto redigido originalmente para a seção "Meninos ganham campeonatos", do Olheiros

A geração japonesa que surpreendeu a todos chegando à final do Mundial Sub-20 de 1999 foi um dos marcos do crescimento e da popularização do futebol no país. Nos campos da Nigéria, ícones futuros dos Samurais Azuis como Shinji Ono, Junichi Inamoto, Naohiro Takahara e Yasuhito Endo ajudaram a equipe nipônica a cair de pé, mesmo com a goleada por 4 a 0 na final contra a Espanha – dos futuros campeões do mundo Casillas e Xavi, entre outros.

O vice-campeonato veio na esteira da criação da J.League, que profissionalizou o futebol do país em 1993. O crescimento do torneio nacional fortaleceu a seleção japonesa, que conseguiu disputar sua primeira Copa do Mundo em 1998. Além disso, seu futuro foi lapidado com os atletas que surpreenderam com o vice-campeonato do torneio de juniores – um ano depois, três jogadores daquele elenco foram campeões asiáticos com o time principal. “Tive sorte de encontrar uma geração muito boa, que chamo especialmente de ‘Geração J. League’”, disse o francês Philippe Troussier, que comandou a equipe Sub-20 e a principal entre 1998 a 2002 e ajudou a moldar as bases de crescimento da seleção nipônica.

Pontapé inicial

Mesmo com o interesse inicial dos japoneses pelo futebol, jogado nas universidades desde as décadas de 1920 e 1930, o esporte bretão acabou não se desenvolvendo por completo (em parte, por causa do país destruído na Segunda Guerra Mundial). Por isso, a primeira aparição da seleção japonesa aconteceu apenas nos Jogos Olímpicos de 1968, na Cidade do México, quando conquistaram a medalha de bronze – seleções mais tradicionais como Brasil, França e Espanha mandaram elenco de desconhecidos ao torneio.

Ainda assim, o futebol local ficou estagnado no semi-amadorismo. Os times, basicamente, ostentavam o nome de grandes multinacionais nipônicas e acabavam despertando pouco interesse, já que a intenção primordial dessas empresas era meramente publicitária, com seus atletas, na grande maioria das vezes, sendo seus funcionários. Estrangeiros, como o brasileiro Ruy Ramos, só chegaram no fim dos anos 70 ao Japão.

No final da década de 1980, os cartolas do país começavam a discutir as bases para a criação de uma liga nacional. Com o suporte das grandes corporações, os times adotaram nomes referentes às cidades nas quais eram estruturados e formaram a J. League, que deu seu pontapé inicial em março de 1993.

Além da familiarização do futebol para um novo e emergente mercado, que trouxe diversos craques (entre eles, Zico, Leonardo, Dunga e Gary Lineker), o investimento na formação de novos atletas passou a acontecer de forma mais acentuada. E com a chegada de mais times à divisão de elite (pulou de 10, em 1993, para 18, em 1998), uma nova fornada de talentos da base surgiria naturalmente. “Esses jovens estiveram em contato com vários jogadores estrangeiros. Era o começo da J. League, em 1993. Quando eles conceberam a liga, a primeira estratégia era trazer alguns técnicos e atletas de fora, lideranças como Lineker e Dunga. E essa ideia influenciou os garotos”, analisa Troussier.

Campeã asiática de 1992 – atuando em seus domínios, ainda na era pré-J.League – a seleção japonesa não era presença constante nas competições continentais (disputou a Copa da Ásia pela primeira vez somente em 1988). Porém, os japoneses quase foram à Copa de 1994, perdendo a classificação no último jogo, contra o Iraque. Contudo, a vaga inédita ao Mundial viria na edição seguinte. Mas, eliminada ainda na primeira fase, sem vitórias e apenas com um gol marcado em três jogos, a Federação Japonesa (JFA) resolveu apostar em Troussier, de passagem marcante pelo futebol africano e conhecido como “bruxo branco”.

Mudança de hábito

Formada inteiramente por atletas da J.League, o elenco do Japão Sub-20 chegava com poucas pretensões à Nigéria (foram quadrifinalistas em 1995 e 1997). Ainda assim, surpreendeu, em um grupo formado com times mais experientes no cenário internacional como Inglaterra, Estados Unidos e Camarões.

A derrota de virada na estreia diante dos africanos por 2 a 1 parecia confirmar a vocação de coadjuvante dos japoneses. Contudo, os comandados de Troussier deram início a uma arrancada espetacular, batendo os americanos (3 a 1) e ingleses (2 a 0) e garantindo a ponta daquela chave no saldo de gols. Com um futebol de velocidade e de muita disciplina tática, o matador Takahara, o meia Masashi Motoyama e o cerebral capitão Ono – que esteve no grupo que foi ao Mundial da França – mostravam a vocação ofensiva do time.

O mata-mata trouxe a primeira vitória suada diante de Portugal, de Simão Sabrosa, nas penalidades. Nas quartas, diante do embalado México (havia goleado a favorita Argentina nas oitavas por 4 a 1), Ono e Motoyama comandaram o triunfo por 2 a 0. Depois, o tarimbado Uruguai caiu diante dos Samurais Azuis por 2 a 1. Como um sonho, os nipônicos se viram na final diante da Espanha. Mas a ausência de Ono, suspenso, e a qualidade incontestável espanhola, somadas à apatia do time na decisão, resultou em um elástico placar de 4 a 0. Nada que tirasse o mérito da grande campanha, que traria um excelente legado.

Adubando os Samurais

Um país que fortaleceu sua liga local e as suas categorias de base tendo uma geração de novos jogadores, que alcançou bons resultados e estava prestes a sediar uma Copa. O entusiasmo com o futebol e o crescimento dos Samurais Azuis foi natural. Depois da semente plantada no mundial da Nigéria, a equipe principal começaria a ser ensaiada no torneio de futebol das Olimpíadas de Sydney, em 2000. Koji Nakata, Inamoto, Tomoyuki Sakai, Motoyama e Takahara juntariam forças com os futuros craques Shunsuke Nakamura e Hidetoshi Nakata para levar o Japão até as quartas de final, quando caiu nos pênaltis diante dos EUA.

Remanescente da equipe que esteve na Nigéria e também campeão da Ásia no início de 2011, Endo caminha para bater o recorde de jogos pelos Samurais Azuis. Takahara é o quinto maior artilheiro da história dos nipônicos. Inamoto brilhou na Copa de 2002. E muitos jogadores desta geração, alguns de presença constante na seleção nos anos seguintes, abriram portas para os jogadores do país no cobiçado mercado europeu. A primeira safra “profissionalizada” de atletas foi a grande responsável por elevar o status do futebol japonês pelo mundo.

Ficha Técnica

Clube/Seleção: Japão
Treinador: Philippe Troussier
Competição: Mundial Sub-20
Ano: 1999
Escalação: Minami; Teshida, Tsujimoto, Koji Nakata e Ogasawara (Kaji); Endo, Sakai, Motoyama e Ono; Nagai e Takahara

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