10.2.08

O conjunto prevalece

Entrosamento e jogo conjunto: decisivos para o Egito atropelar os badalados e favoritos na conquista do hexacampeonato da Copa Africana de Nações.

No início da Copa Africana, os holofortes estavam acesos nos jogadores africanos badalados do futebol europeu: Drogba, Eto’o, Essien, Martins. No entanto, no final, os que fizeram a diferença foram atletas como Essan El-Hadary e Mohammed Aboutrika (ambos do Al-Ahly), Hosny (Ismailly) e Amr Zakr (Zamalek), todos jogadores de clubes egípcios. O triunfo na Copa Africana, conquistada pelo Egito, nos mostra que não é possível se montar uma equipe se valendo apenas de valores individuais. É necessário agregá-los em um conjunto, numa filosofia de jogo. Fazê-los render em prol da equipe, e não olhando para si próprio. É o que falta as seleções africanas para que elas possam finalmente alcançar algum destaque em torneios internacionais, assim como a Grécia na Euro 2004 e a Coréia do Sul com uma semi-final de Copa do Mundo, em 2002.


Chaves do hexa - Entrosamento

Como dito na introdução, o grande trunfo dos egípcios é a força do elenco. Do elenco campeão em 2006, manteve-se a base. Além do técnico Hassan Sherata, outros dez jogadores do elenco atual estavam presentes na última competição, onde o Egito chegou ao título jogando em seus domínios. E numa competição onde os jogadores das outras seleções vinham de diversas partes da Europa, o entrosamento era um dos diferenciais dos Faraós. Some-se a isso o fato de que dos 23 jogadores do elenco, 17 atuam na liga local, a Egypt Premier League e outros dois jogam em países árabes. Apenas quatro jogadores atuam no futebol europeu. E isso faz a diferença, pois o fato do técnico ser egípcio e a maioria dos jogadores atuarem dentro de seu país de origem faz com que o time adquira rapidamente o estilo de jogo pedido pelo técnico.

Esquema tático

Jogando em um 3-4-1-2, onde Sherata fortalecia a defesa, liderada por Ibrahim Said. Shady, zagueiro mais técnico e Gomaa, mais pesado e melhor no jogo aéreo, fechavam a defesa, comandada pelo ótimo goleiro El-Hadary. No meio, o técnico promoveu algumas mudanças ao longo da CAN, pela gama de opções que tinha no banco. Ahmed Hassan, voltando de contusão, ficou no banco inicialmente. Sherata utilizava Hassan ou Zidan – jogador mais técnico da equipe –na função do “número um”, na transição entre meio e ataque. Vindo de trás, Hosny e Shawky marcavam e davam rapidez na saída de bola, enquanto Fathi e Moawad ficavam nas alas. A referência era Zaky, que mostrou melhor futebol a partir da fase mata-mata. Aos poucos, Aboutrika também foi conquistando seu espaço no time, ora atuando como meia, ora como segundo atacante.

A variabilidade de opções se mostrou um fator importante, pois o técnico egípcio escalava o time de acordo com o adversário.

Jogadores-chave

El-Hadary – O goleirão foi tão decisivo quanto os meias e atacantes do time. Melhor goleiro do torneio, segurou o ímpeto de Drogba nas semi-finais da CAN, quando a equipe dos Elefantes partiu pra cima dos Faraós. A exemplo de 2006, quando pegou os pênaltis para a conquista do penta, foi peça fundamental para a conquista de 2008.

Hosny Abd Rabo – O camisa oito foi o grande faz-tudo dessa equipe. Marcou, saiu bem para o jogo e foi incisivo nas bolas paradas e de longa distância. Os quatro gols, além das assistências foram fundamentais para a conquista egípcia.

Amr Zaky – O centro-avante passou quase desapercebido na primeira fase, quando anotou apenas um golzinho contra a fraca Zâmbia, em jogo onde o Egito já tinha garantida a classificação para a próxima fase. Mas na hora que o bicho pegou, ele estava lá. Gols decisivos contra Angola e Costa do Marfim dão a ele boa parte dos créditos deste título.

Mohammed Aboutrika – Ganhou sua posição durante a CAN e ainda marcou gols importantes. Em 2006, garantiu o título após converter o pênalti derradeiro contra a Costa do Marfim. Jogando novamente o torneio em Gana, o meia-atacante sacramentou a vitória na final após belo passe de Zidan.

Nos jogos decisivos, onde se creditava toda a esperança em Drogba e Eto’o, a zaga do Egito se mostrou enorme, minimizando a ação das estrelas africanas. E a organização e a calma que faltaram a times como Nigéria, Gana, Costa do Marfim e Camarões, sobrou ao Egito. Que fez jus a esse hexacampeonato pela técnica e “falta de estrelismo” mostradas nos campos ganeses. O Egito sai de Gana ratificado como o grande campeão do continente africano, ao conquistar seu sexto título (1957, 1959, 1986, 1998, 2006 e 2008), deixando os rivais camaroneses para trás, com apenas quatro títulos (1984, 1988, 2000 e 2002).

O grande mistério, no entanto, é outro: Será que o Egito consegue se classificar para a Copa do Mundo - fato que não ocorre desde 1990, na Itália - sem “amarelar” novamente? É hora de pôr as lições aprendidas nessa CAN em prática, pois contar com um time que joga um futebol tão consciente e coletivo seria muito benéfico para aumentar o nível técnico de uma Copa.

7 comentários:

Rafael Zito disse...

E ae Andre blz cara??

Análise minuciosa e pontual!! Um time solido, com mta mobilidade e ciente do q tem de fz!

Realmente é um misterio o fato de não irem pra uma copa desde 1990.

Deixei essa pergunta finalizando meu texto sobre esse assunto lá no blog do qual faço parte, dá uma olhada lá depois... www.esportejornalismo.blogspot.com

Parabéns a vc e a equipe do OPINIÃO... coloquei o link do blog de vcs lah no qual faço parte.

abraço e continuarei visitando vcs.

O Esporte É disse...

Parabéns pela análise.
Dá pra perceber quando se acompanha os jogos e analisa de verdade. Este post fez juz ao nome do blog, opiniao mesmo, mas sem deixar a informação de lado, parabéns.
Pena que as TVs abertas ainda não dão o valor devido para a Copa da África, é um ótimo torneio.

Gerson Sicca disse...

A África sub-saariana ainda convive com um grau absurdo de amadorismo e de indisciplina tática. Por isso times como o Egito e a Tunísia(duas copas seguidas) continuam aparecendo no continente

Thiago Fagnani disse...

Realmente, não sei por que o Egito não está se classificando para os últimos mundias!!

Que bela análise, mandou muito!!

Abraços

www.esportejornalismo.blogspot.com

Net Esportes disse...

Muito legal ver o Egito se dar bem contra as badaladas estrelas africanas do futebol europeu, eles mereciam ir para a Copa sim...... vamos ver

http://netesporte.blogspot.com/

ILCO disse...

E o campeão egipcio (Al Ahly?) é treinado por um português: MAnuel José.

Gostei do Blog, vou voltar

Persio Presotto disse...

muito bom. perfeita a análise. abs, pp