Uma dívida com a vida

Pernas mais grossas e carreiras mais curtas. A equação do brasileiro na Europa

POR FÁBIO LEOPISSI

Está começando a era Patômica. Ele fez apenas três jogos oficiais com a camisa do Milan e já desponta como destaque da equipe rossonera. Há quanto tempo não se via alguém ser mais destaque que o Kaká em uma partida? Pois ele conseguiu! Ninguém fala do Ronaldo, que mais uma vez está machucado. O "mundo rubro-negro italiano" só comenta sobre as patadas da jovem ave que parece querer bater suas asas e voar rumo a eleição de melhor jogador do mundo. Exemplos não lhe faltam, Kaká está com a coroa e Ronaldo, que mais freqüenta o departamento médico, também já foi Rei.

E é aí o ponto que quero discutir. Traçar um paralelo entre o Pato e o Ronaldo. Dias atrás, falando sobre mais uma contusão do Fenômeno, um grande amigo disse: "um dia o corpo ia cobrar esse ganho muscular que ele teve em 6 meses!" Ele não é fisiologista, médico ou algo assim, tampouco entende de futebol – às vezes confunde lance legal com falta, volei com futebol – mas pode ter razão.

Digamos que o corpo realmente tenha, ou esteja, cobrando Ronaldo. Esse é, portanto, infelizmente, o fim da carreira de um dos maiores atacantes da história do futebol mundial e um dos maiores devedores também, pois, o tanto que esse rapaz ficou no departamento médico na carreira não é fácil. Vamos mais adiante, se esse amigo com espírito fisiologista diz que isso é uma constante, que o corpo vai cobrar um dia os abusos, será que chegou a hora de Ronaldinho Gaúcho começar a pagar? O ganho muscular dele é fenomenal, compare as duas fotos. Claro que ele ainda é novo, tem muita lenha para queimar, entretanto, se seguir o saldo devedor de Ronaldo, não chegará a disputar a Copa de 2014 no Brasil.

Chegamos então, no que um acadêmico chamaria de problema: nossos talentos estão saindo cada vez mais cedo do país (ruim mas aparentemente sem solução), estão ganhando uma massa muscular e um porte gigantesco antes mesmo do final do seu crescimento (parece bom a princípio), mas se o corpo não esquecer a dívida, ou pelo menos, não deixar para cobrar depois dos 35 anos, nossos maiores craques não passarão dos 30 anos de idade. Estarão em decadência com 28, com o auge aos 22.

Voltemos então as patas frias. Alexandre Pato chegou ao Milan com 17 anos, aos 20 será o melhor do mundo, repetirá aos 21. Aos 24 terá uma má fase, se recupera, mantém o futebol e com 28 anos lá vem o boleto para pagar. O Pato vira frango e mais um talento no recall eterno.

Comparado a Ronaldo e seu chará Gaúcho, Kaká não cresceu nas mesmas proporções, está maior e mais forte, porém não um monstro. Será uma filosofia do Milan? Tomara que sim. É óbvio que o Pato precisa de um pouco mais de tamanho para encarar os fortes zagueiros europeus, lá, não como cá, um contato de corpo na área não é falta, mas não precisa ser um Frankenstein da bola. Melhor para ele, para quem assiste, para seu time (se o Milan poupou o Kaká de tamanha bizarrice, esperamos que faça o mesmo com ele) e bom para o bolso de Alexandre Pato que não será cobrado pela vida aos 30 anos. É esperar para ver.