27.7.07

Iraque X Arábia Saudita: Batalha à brasileira

Iraquianos comemoram a vaga na final da Copa da Ásia: O país se une, apesar das diferenças, em prol da seleção.

Se o leitor mais desapercebido pensar que mudamos a temática do blog, se engana. Apesar das notícias que chegam até nós referentes aos países do Oriente Médio não serem das melhores, essa batalha não tem interferência americana e o local de disputa é neutro e justo: O campo de futebol. E o que está em disputa não é o petróleo, o Ouro Negro. Vencer essa partida garante o triunfo de ser a melhor seleção asiática.

Iraquianos e Sauditas farão a final da Copa da Ásia - evento disputado simultâneamente em quatro países: Malásia, Indonésia, Vietnã e Tailândia - neste domingo. De um lado, a Arábia Saudita, maior vencedora do torneio ao lado da seleção japonesa e da seleção iraniana, com três conquistas (1984,1988,1996) e liderada pelo brasileiro Hélio dos Anjos. De outro, a surpreendente seleção do Iraque, que tem como melhor participação no torneio um quarto lugar em 1976 e tem Jorvan Vieira como treinador.

Comparando campanhas e tradição futebolística, a Arábia seria amplamente favorita no confronto. Mas o Iraque mostrou na Copa da Ásia que sabe como usar a adversidade a seu favor. Os "Leões da Mesopotâmia" caíram em um Grupo A que pintava a Austrália como favorita ao título, fazendo com que eles, teoricamente, disputassem a segunda vaga do grupo com a anfitriã Tailândia e Omã. Após empate com os tailandeses, a equipe de Jorvan, segundo ele muito contestado pela imprensa local, surpreendeu e venceu os australianos por três a um. E o empate com Omã lhes garantiu a primeira colocação do Grupo A, por si só um feito notável. Nas quartas-de-final, boa vitória sobre a seleção vietnamita por dois a zero. E na semi-final, mais uma molecagem: garantiu o empate com a Coréia do Sul em 0 a 0 e garantiu passaporte na final na disputa de pênaltis. Muita festa no Iraque, país que passa por momento político de reconstrução e reafirmação, apesar da intervenção norte-americana em seu território. O principal jogador da equipe é o atacante Younis Mahmoud, que marcou três vezes na Copa da Ásia e já soma 30 gols com a camisa da seleção iraquiana.

Os sauditas são mais tradicionais no continente, começando pelo seu técnico, velho conhecido de alguns torcedores brasileiros como os do Sport, Vasco e Goiás. Três vezes campeões da Ásia e quatro Copas do Mundo consecutivas na bagagem (1994,1998, 2002 e 2006) credenciavam os "Falcões Verdes" como um dos favoritos ao título. Integrante do Grupo D, ao lado de Coréia do Sul, Indonésia e Bahrein, os sauditas não encontraram dificuldades para garantir o primeiro lugar da chave. Um caminho mais tortuoso na fase de mata-mata fortaleceu a equipe na Copa da Ásia. Vitórias sobre o Uzbequistão e sobre o Japão, atual bicampeão do torneio, mostraram a força dessa tradicional seleção asiática. O princiapal destaque e um dos artilheiros da competição com quatro gols é o atacante e capitão da equipe Yasser Al-Qahtani. Conhecido como "O Atirador", o avante de 26 anos marcou um dos gols da Árabia Saudita na Copa da Alemanha no empate com a Tunisia em dois a dois, o que mostra a sua experiência e importância dentro do grupo saudita.

Principalmente aos iraquianos, estar na final já é uma vitória. O país passa um momento delicado e a presença militar norte-americana não agrada aos cidadãos locais. Nessa Copa da Ásia de tão bons e surpreendentes resultados, o futebol tem sido uma válvula de escape para os iraquianos, tanto para o bem quanto para o mal. Se por um lado, alguns se aproveitam da aglomeração de torcedores iraquianos para cometerem atentados, por outro, o futebol mostra como é possível manter a convivência pacífica entre etnias religiosas tão diferentes, como é o caso de sunitas e xiitas. Em entrevista ao Portal G1, o técnico Jorvan Vieira destaca a união entre eles em prol da seleção local: "Aqui, eles brincam, se beijam, se abraçam, dão as mãos e até tocam música árabe juntos. O ambiente é o melhor possível".

Os caminhos do futebol são realmente surpreendentes. Mesmo com todo o capital que o profissionalismo exige que seja investido para se manter uma equipe competitiva, mesmo com os interesses mercadológicos de todos envolvidos no universo da bola, o esporte mais popular do mundo é capaz de coisas inimagináveis em situações corriqueiras. E o comando de Jorvam frente à seleção iraquiana prova isso. Numa região como o Oriente Médio, onde o conflito parece tão latente, mais e mais brasileiros tentam a sorte no futebol daquela região. Mesmo movido pelos petrodólares, a ajuda que eles dão para o desenvolvimento do futebol local é imensa. E a final dessa Copa da Ásia mostra toda a competência brasileira, apesar das dificuldades.

2 comentários:

Dassler Marques disse...

Oi André, perdão por não te responder antes.

De antemão lhe parabenizo pelo ótimo resumo, muito importante pra mim, que confesso, tinha poucas informações da Copa da Ásia.

Tenho a sensação de que já nos falamos antes, mas não lembro bem. Estou correto?

vou adicionar o blog em meus favoritos!

abraço

Gerson Sicca disse...

Pena que os atentados tenham retirado a alegria desse momento importante para o Iraque. No meio de tanta tragédia, uma vitória no futebol seria um pequeno momento de alegria.