"Não conheço nenhuma fórmula de sucesso. Mas conheço, com certeza, a do fracasso: querer agradar a todos." (John Kennedy)
Essa frase é um lema adotado pelo ex-técnico da Seleção, Carlos Alberto Parreira, e essa filosofia começa a fazer escola com o atual técnico, Dunga. Execrado como um dos principais culpados da má campanha do Brasil na Copa de 1990 e exaltado como um dos símbolos de raça e determinação da Copa de 1994, Dunga pretende basear seu trabalho à frente do Brasil naquele elenco campeão na Copa dos Estados Unidos. Mais do que seguir alguns dos preceitos de Parreira, Dunga vai além e declara abertamente o pragmatismo na obtenção de resultados. Depois do "Gol como um mero detalhe" de Parreira, Dunga adota o "Time bom é o que vence". E compara duas seleções distintas, tanto em técnica quanto nos resultados obtidos: A seleção do Mundial de 1982, de futebol vistoso e derrotada pela Itália com a Seleção de 1994, de futebol burocrático mas que tirou o Brasil de um jejum de 24 anos sem um título mundial. Dunga declarou ao Estado de S. Paulo desta sexta que achava a Seleção de 1982 fantástica mas com uma resalva: "Aquela seleção não teve a química para vencer. Ter técnica é ótimo, mas a técnica não resolve todos os seus problemas".
Sobre o Brasil de 1982, é consenso de que se trata de uma das seleções mais injustiçadas e inesquecíveis da história das Copas do Mundo. Muito mais que o Brasil de 1950, a Hungria de Puskas, Csibor e Hidekguti em 1954 ou o Carrossel Holandês de 1974, todas vice-campeãs de Copas. A Seleção de 1982, dirigida por Telê Santana, causou muita comoção entre toda a imprensa esportiva da época ao ser eliminada pela Itália na segunda fase do Mundial da Espanha. Até aquela partida, que completou 25 anos neste último dia 5 de julho, a Seleção fazia campanha impecável : Brasil 2 X 1 URSS; Brasil 4 X 1 Escócia; Brasil 4 X 1 Nova Zelândia e Brasil 3 X 1 Argentina, totalizando 13 gols marcados e três sofridos. O meio-campo daquela seleção era revolucionário, pois contava com Cerezo e Falcão jogando mais recuados, com Sócrates e Zico armando as jogadas. No entanto, Cerezo e Falcão foram precursores dos volantes modernos, que marcam, mas que conseguem avançar com muita qualidade. Por isso, a movimentação daquela equipe confundia os adversários e o Brasil encantava na primeira fase da Copa. Mas então, porque aquela Seleção perderia para uma Itália que havia se classificado para a segunda fase na bacia das almas? Muitas teorias são defendidas, como a falta de cautela em dar a opção do contra-ataque para a Azzurra, mas o que melhor pode definir o que ocorreu naquele 5 de julho no Estádio Sarriá em Barcelona, marcado como a "Tragédia do Sarriá", é o artigo escrito pelo psicanalista Tales A.M Ab'Sáber, membro do departamento de psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e professor da Escola da Cidade, para o Caderno Mais da Folha em maio de 2002. Entitulado "82, a seleção recalcada", Tales traça um paralelo muito interessante sobre fatores (psicológicos ou não) que envolveram a Seleção de 1982. Muitos intelectuais daquela época exaltavam a Seleção de Telê, como por exemplo o famoso historiador Eric Hobsbawn, que afirmava categoricamente: "Quem, tendo visto a seleção brasileira em seus dias de glória, negará sua pretensão à condição de arte?"
Talvez a química em vencer aquele jogo não estivesse tão presente naquela partida contra a Itália ou a química de Paolo Rossi estivesse mais intensa, mas o fato é que, mesmo sem triunfar, aquela Seleção tinha um "quê" diferente. Talvez um "quê" que Dunga não vislumbre - e que talvez nem caiba na realidade de hoje - para a Seleção Brasileira.
Mas mesmo a Seleção de 1994, apesar do pragmatismo, tinha uma disposição tática mais pertinente que a dos quatro volantes de Dunga. No time de Parreira, mesmo com os brucutus Mauro Silva e Dunga, Zinho e Raí armavam e fechavam na marcação com eficiência. E mesmo com a saída de Raí do time titular em meio a competição, Parreira liberou Zinho para armar e colocou Mazinho para marcar e atacar. A Seleção de Dunga, pautada na de 94, tenta fazer isso. Mas 45 minutos de jogos na Copa América foram suficientes para Dunga atestar a ineficiência de Diego e Anderson na armação e o técnico incumbiu a Júlio Baptista a função de municiar o ataque. E é onde a tentativa de eficiência torna-se ineficiente. Com um Brasil engessado no meio campo, cabe a Robinho buscar o jogo e se distânciar de Wagner Love, que isolado na frente perde suas características de tabela e de velocidade. À excessão de Robinho - com lampejos de futebol do tempo de Santos - a Seleção torna-se um bando, onde o goleiro e a defesa não inspiram confiança, o meio campo se anula preoupado apenas com a marcação e o ataque depende de Robinho. Não é questão de jogar bonito como em 1982, mas de ser eficiente e coerente como em 1994 ou em 2002.
Nessa Copa América, a Argentina joga com três volantes e consegue cadenciar o jogo. A Venezuela se empolga por jogar em casa e Paraguai e Peru exploram as caracteristicas de seus principais jogadores, fazendo com que a limitação do restante de seus respectivos elencos produza condições para que os mais técnicos possam atuar livremente. O Brasil está restrito a Robinho, uma ilha de talento cercada de volantes ineficientes por todos os lados. E o que Dunga precisa se conscientizar que não pode agir mais como o Capitão da Seleção, onde ele funcionava como o coração da equipe em campo, mas que agora ele é o cérebro pensante, onde todas as suas ações interferem na "coordenação motora" da equipe, que aliás vai muito mal de saúde.
Essa frase é um lema adotado pelo ex-técnico da Seleção, Carlos Alberto Parreira, e essa filosofia começa a fazer escola com o atual técnico, Dunga. Execrado como um dos principais culpados da má campanha do Brasil na Copa de 1990 e exaltado como um dos símbolos de raça e determinação da Copa de 1994, Dunga pretende basear seu trabalho à frente do Brasil naquele elenco campeão na Copa dos Estados Unidos. Mais do que seguir alguns dos preceitos de Parreira, Dunga vai além e declara abertamente o pragmatismo na obtenção de resultados. Depois do "Gol como um mero detalhe" de Parreira, Dunga adota o "Time bom é o que vence". E compara duas seleções distintas, tanto em técnica quanto nos resultados obtidos: A seleção do Mundial de 1982, de futebol vistoso e derrotada pela Itália com a Seleção de 1994, de futebol burocrático mas que tirou o Brasil de um jejum de 24 anos sem um título mundial. Dunga declarou ao Estado de S. Paulo desta sexta que achava a Seleção de 1982 fantástica mas com uma resalva: "Aquela seleção não teve a química para vencer. Ter técnica é ótimo, mas a técnica não resolve todos os seus problemas".
Sobre o Brasil de 1982, é consenso de que se trata de uma das seleções mais injustiçadas e inesquecíveis da história das Copas do Mundo. Muito mais que o Brasil de 1950, a Hungria de Puskas, Csibor e Hidekguti em 1954 ou o Carrossel Holandês de 1974, todas vice-campeãs de Copas. A Seleção de 1982, dirigida por Telê Santana, causou muita comoção entre toda a imprensa esportiva da época ao ser eliminada pela Itália na segunda fase do Mundial da Espanha. Até aquela partida, que completou 25 anos neste último dia 5 de julho, a Seleção fazia campanha impecável : Brasil 2 X 1 URSS; Brasil 4 X 1 Escócia; Brasil 4 X 1 Nova Zelândia e Brasil 3 X 1 Argentina, totalizando 13 gols marcados e três sofridos. O meio-campo daquela seleção era revolucionário, pois contava com Cerezo e Falcão jogando mais recuados, com Sócrates e Zico armando as jogadas. No entanto, Cerezo e Falcão foram precursores dos volantes modernos, que marcam, mas que conseguem avançar com muita qualidade. Por isso, a movimentação daquela equipe confundia os adversários e o Brasil encantava na primeira fase da Copa. Mas então, porque aquela Seleção perderia para uma Itália que havia se classificado para a segunda fase na bacia das almas? Muitas teorias são defendidas, como a falta de cautela em dar a opção do contra-ataque para a Azzurra, mas o que melhor pode definir o que ocorreu naquele 5 de julho no Estádio Sarriá em Barcelona, marcado como a "Tragédia do Sarriá", é o artigo escrito pelo psicanalista Tales A.M Ab'Sáber, membro do departamento de psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e professor da Escola da Cidade, para o Caderno Mais da Folha em maio de 2002. Entitulado "82, a seleção recalcada", Tales traça um paralelo muito interessante sobre fatores (psicológicos ou não) que envolveram a Seleção de 1982. Muitos intelectuais daquela época exaltavam a Seleção de Telê, como por exemplo o famoso historiador Eric Hobsbawn, que afirmava categoricamente: "Quem, tendo visto a seleção brasileira em seus dias de glória, negará sua pretensão à condição de arte?"
Talvez a química em vencer aquele jogo não estivesse tão presente naquela partida contra a Itália ou a química de Paolo Rossi estivesse mais intensa, mas o fato é que, mesmo sem triunfar, aquela Seleção tinha um "quê" diferente. Talvez um "quê" que Dunga não vislumbre - e que talvez nem caiba na realidade de hoje - para a Seleção Brasileira.
Mas mesmo a Seleção de 1994, apesar do pragmatismo, tinha uma disposição tática mais pertinente que a dos quatro volantes de Dunga. No time de Parreira, mesmo com os brucutus Mauro Silva e Dunga, Zinho e Raí armavam e fechavam na marcação com eficiência. E mesmo com a saída de Raí do time titular em meio a competição, Parreira liberou Zinho para armar e colocou Mazinho para marcar e atacar. A Seleção de Dunga, pautada na de 94, tenta fazer isso. Mas 45 minutos de jogos na Copa América foram suficientes para Dunga atestar a ineficiência de Diego e Anderson na armação e o técnico incumbiu a Júlio Baptista a função de municiar o ataque. E é onde a tentativa de eficiência torna-se ineficiente. Com um Brasil engessado no meio campo, cabe a Robinho buscar o jogo e se distânciar de Wagner Love, que isolado na frente perde suas características de tabela e de velocidade. À excessão de Robinho - com lampejos de futebol do tempo de Santos - a Seleção torna-se um bando, onde o goleiro e a defesa não inspiram confiança, o meio campo se anula preoupado apenas com a marcação e o ataque depende de Robinho. Não é questão de jogar bonito como em 1982, mas de ser eficiente e coerente como em 1994 ou em 2002.
Nessa Copa América, a Argentina joga com três volantes e consegue cadenciar o jogo. A Venezuela se empolga por jogar em casa e Paraguai e Peru exploram as caracteristicas de seus principais jogadores, fazendo com que a limitação do restante de seus respectivos elencos produza condições para que os mais técnicos possam atuar livremente. O Brasil está restrito a Robinho, uma ilha de talento cercada de volantes ineficientes por todos os lados. E o que Dunga precisa se conscientizar que não pode agir mais como o Capitão da Seleção, onde ele funcionava como o coração da equipe em campo, mas que agora ele é o cérebro pensante, onde todas as suas ações interferem na "coordenação motora" da equipe, que aliás vai muito mal de saúde.
3 comentários:
Ótima reportagem e comparações muito bem apontadas, André.
Essa seleção, invariavelmente ou não, procura ser como a de 1994, atuando com um meio-campo rígido, mas jogando com muita eficiência - a última, que ainda está em falta. A vitória é a principal meta dos dois times de Dunga - 1994 e o atual. É impossível resgatar o mesmo talento de 1982, porém, é perfeitamente possível jogar com o mesmo espírito daquela seleção.
Abraço, Felipe Leonardo
Se engana aquele que acha que a goleada contra o time de baladeiros do Chile foi devido a superioridade tática do Brasil.
O maior problema de vencer assim, é que se tapa o sol com a peneira, e a falsa sensação de problemas resolvidos supera a realidade no comando da seleção!
Dunga é um sujeito que até um dia pode ser um grande treinador. Mas, na minha opinião, foi precipitada sua ida a seleção.
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