26.9.10

Um técnico de extremos

*Redigido originalmente para o Olheiros
Polêmico, Raymond Domenech teve participação na geração mais vitoriosa dos França

Um defensor versátil e viril, conhecido como “Le Boucher” (o açougueiro, em francês). Ator amador de teatro, já assumiu a culpa por ter lesionado um adversário em sua época de jogador, por achar vantajoso aparecer na mídia. Declarou que o mundo seria melhor se não existisse a imprensa. Contudo, casou-se com uma jornalista em 2008, pedindo sua mão em rede nacional, pouco após a eliminação humilhante da França na Euro. Foi preso nos Estados Unidos em 1994, por vender ingressos daquela Copa no mercado negro. Este ser humano paradoxal é Raymond Manuel Albert Domenech, certamente, o técnico mais complexo e odiado da história do futebol francês.

Polêmico, nunca escondeu que era adepto da astrologia na hora de escolher seus atletas. Excêntrico, foi o que por mais vezes comandou a França, na era profissional. Mas, de alguma forma, se fez presente nos melhores e piores momentos dos Bleus, em sua fase mais vitoriosa da história. Além do vice na Alemanha e do fiasco desportivo e moral na Eurocopa de 2008 e na Copa da África do Sul, ajudou a revelar os jovens talentos integraram os elencos do inédito título de 1998 e da conquista da Eurocopa de 2000. Esse é o indecifrável Domenech.

De açougueiro a astrólogo

Como jogador, o descendente de catalães atuou principalmente como lateral – tanto na direita, quanto na esquerda. Apelidado de “Açougueiro” por Aimé Jacquet (que comandaria os Bleus em 1998), comandou Domenech no Lyon e no Bordeaux. Teve relativo sucesso como jogador, ao conquistar a Copa da França, em 1973 (Lyon) e 1982 (Paris Saint-Germain), além de dois Campeonatos Franceses (pelo Strassbourg, em 1978/79 e Bordeaux, em 1983/84).

Após a transferência para o FC Mulhouse, em 1984, pendurou as chuteiras pouco depois e logo assumiu o comando da equipe, oscilante da segundona francesa. Na equipe da região da Alsácia, o técnico teve seu primeiro e arrebatador contato com a astrologia. Após uma série de maus resultados, Domenech se consultou com um astrólogo local, que fez um mapa astral do elenco. Detectado o “problema”, o Mulhouse voltou à boa fase, fato suficiente para convencê-lo a usar o artifício ao longo de sua carreira.

Começou a deslanchar ao quase conduzir a modesta equipe à elite, sendo eliminado em uma espécie de playoff pelo Lyon por duas vezes seguidas (1986/87 e 1987/88). Os resultados chamaram a atenção de Jean-Michel Aulas, empresário bem sucedido do ramo de informática que havia adquirido o controle financeiro do OL em 1987 – do qual é presidente até hoje. Com um projeto ambicioso em mãos chamado de “OL – Europe”, Aulas queria tirar a equipe do ostracismo da segunda divisão francesa para torná-la como uma das forças europeias em 20 anos. E chamou o ex-jogador do Lyon para dar o pontapé inicial do projeto, na temporada 1988/89. Pouco mais de 11 anos após deixar Gerland, Domenech, então com 36 anos, aceitou o convite.

Faísca para a ascensão do Lyon

Aulas deu carta branca ao novo treinador e o Lyon conseguiu o acesso com o terceiro título da segunda divisão em sua história. E até hoje, a equipe permanece na elite francesa.

Apesar de não ter conquistado títulos pelo OL, Domenech plantou a semente idealizada por Aulas: em sua segunda temporada à frente do time, conseguiu conduzi-lo para disputar a Copa da Uefa de 199/92, após 16 anos de ausência em torneios continentais. Depois de cinco anos, resolveu deixar a equipe, aceitando convite da Federação Francesa de Futebol (FFF) para assumir os Bleuets, a seleção sub-21.

Pedras fundamentais

Foi semifinalista do Europeu da categoria, em 1994 e 1996. Nos elencos, surgiram atletas como Zinedine Zidane, Lilian Thuram, Patrick Vieira, Vincent Candela e Robert Pires (os dois últimos de escorpião, o signo proibido pelo técnico). Além deles, jogadores como Claude Makélélé e Sylvain Wiltord, frequentadores assíduos dos Bleus na última década. A geração pós-Olimpíadas de 1996 trouxe Henry e Trezeguet. Foi campeão do Torneio de Toulon em 1997 e 2004, alcançou o vice europeu em 2002 e também dirigiu outras seleções de base, como o Sub-20 no Mundial da categoria, em 2001. Com os principais nomes da França na última década passando pelo seu crivo.

Com o fracasso francês na Copa de 2002 (eliminada na primeira fase) e na Euro 2004 (eliminada pela campeã Grécia nas quartas) a FFF resolveu apostar no único técnico que poderia mesclar a geração de 1998 com os novos valores franceses. Domenech assumiria o posto de técnico da França em julho de 2004, substituindo Jacques Santini.

Do vice a vergonha da Copa

Após anunciar que não jogariam mais pela França, Domenech convenceu Zidane, Thuram e Makélélé a retornarem, ainda em 2005. As eliminatórias para a Copa de 2006 foram relativamente calmas. A polêmica veio durante o período pré-Copa, quando barrou o lateral Anthony Réveillère, o meia Robert Pires e o volante Benoit Pedretti. Coincidentemente, todos escorpianos. “Escorpiões sempre terminam matando uns aos outros”, Domenech já havia declarado, quando ainda treinava o Sub-21. Outra polêmica aconteceu na substituição ao atacante Djibril Cissé, contundido às vésperas da competição. Afirmando que preferia um jogador com as características do centroavante (que era de Leão), convocou Sidney Govou, do mesmo signo. Giuly, que estava em ótima fase no Barcelona, foi novamente preterido.

Antes do Mundial da Alemanha, o lado midiático do comandante voltou à tona. Ele “marcou” um encontro com os torcedores do país no dia 9 de julho de 2006, data da final da Copa. A promessa foi cumprida, mas a primeira fase foi dura. Após empates com Suíça e Coréia do Sul, a classificação só veio na vitória sobre o Togo. O segundo lugar na chave deixou a equipe no caminho da Espanha, sensação do torneio até então. Foi quando a estrela de Zidane voltou a brilhar e o time, a melhorar seu desempenho. Vitórias importantes sobre a Fúria, o Brasil e outra sensação, Portugal. Na final parelha com os italianos, o chute de Trezeguet no poste na disputa por penais enterrou o sonho do bi. Mas os Bleus sairiam de cabeça erguida, bem diferente da situação que viveriam quatro anos depois.

Na Eurocopa de 2008, um desempenho pífio: apenas um gol nos três jogos da fase de grupos e a eliminação precoce na primeira fase. Era o início do inferno astral (literalmente falando) com os medalhões da França. A classificação ao Mundial da África do Sul foi árdua e cheia de desentendimentos. Críticas da imprensa local, de Zidane (já aposentado) e de jogadores de seu próprio elenco, como Henry e Trezeguet, que raramente atuavam juntos na seleção. O gol controverso proporcionado pela mão de Henry, diante da Irlanda nas eliminatórias, colocou mais lenha na fogueira.

O fracasso no continente africano foi só mais um ingrediente no caldeirão borbulhante que se tornou a seleção. A crise explodiu após a derrota por 2 a 0 sobre o México, onde Domenech e Anelka se desentenderam, ainda no intervalo da partida. Após o episódio, o treinador cortou o atacante do Chelsea em meio à Copa. Um verdadeiro motim se instaurou no elenco, que se negou a treinar antes do jogo diante dos sul-africanos, liderados por Evra e Henry. A derrota para os donos da casa mostrou o último ato de Domenech: ao final da partida, recusou-se a cumprimentar o técnico adversário, o brasileiro Parreira. Massacrado pela mídia, foi demitido por carta. Comandou a equipe por seis anos e 79 partidas.

Zidane afirmou que Domenech não era um treinador, não tinha pulso. É fato que as vaidades e excentricidades fizeram com que o foco fosse perdido. Mas a geração campeã do mundo tem contribuição do técnico, que familiarizou muitos novos talentos às seleções de base. O Lyon de Aulas é uma realidade no continente, quase 20 após a passagem de Domenech, que deu o pontapé inicial do projeto Europa. “Só o resultado interessa. No final, serei Deus ou Diabo”, disse ele, antes da Copa de 2010. Uma declaração emblemática.

3 comentários:

Gol de Mão disse...

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