24.9.10

Luxemburgo em xeque

Desde que explodiu no futebol brasileiro, em 1990, nunca o técnico Vanderlei Luxemburgo viveu um momento tão negativo em sua carreira, de muitas conquistas no geral. A goleada sofrida por 5 a 1 para o Fluminense mostrou um time nervoso, sem comando, e principalmente, sem o comprometimento daquelas que deveriam ser as suas referências em campo: Diego Souza, Diego Tardelli, Daniel Carvalho e até mesmo o destemperado Fábio Costa – que apesar dos abismos mentais, sempre foi bom goleiro embaixo dos três paus. Excetuando Tardelli, uma das estrelas do Galo no Brasileirão de 2009, todos os outros foram indicações do técnico ao presidente do clube, Alexandre Kalil - outro que ajuda a derrubar o time, com seus constantes destemperos.

Com elenco qualificado que deveria passar longe da zona de rebaixamento, parece faltar pulso e o mínimo de padrão de jogo ao time, que emocionalmente também mostra-se em frangalhos. A parcela maior do fracasso recai sobre o treinador, que sai do time falando em “se reciclar”. Será que ele será capaz de mudar o seu modo de gerir os times, quase sempre regados a jogadores caros e poquíssimo aproveitamento de jogadores da base?

O último grande trabalho de Luxemburgo foi com o Santos, onde conseguiu levar a equipe até a semifinal da Libertadores de 2007, eliminado pelo Grêmio. Dali em diante, sua carreira vem em declínio. O último título de expressão foi o campenato nacional de 2004, também com o time da baixada. O Palmeiras, que foi campeão Paulista de 2008, tinha tudo para explodir naquele mesmo Brasileirão. Mas o técnico acabou fracassando, saiu em atrito com os dirigentes alviverdes e praticamente expulsando um dos destaques daquele time, o então promissor Keirrison. Voltou ao Santos do ex-presidente Marcelo Teixeira. Mas não conseguiu emplacar aquele time, que já tinha as pérolas Neymar e Ganso. Após sua saída – ocasionada pela vitória do candidato de oposição, Luiz Álvaro de Oliveira Ribeiro - , Dorival Júnior, seu sucessor, conduziu um time baseado no talento dos garotos à dobradinha Paulista/Copa do Brasil. Os mesmos garotos que não renderam o que podiam nas mãos do antigo técnico.

Foi campeão mineiro de 2010, é verdade. Mas venceu um estadual praticamente desprezado pelo Cruzeiro, focado na Libertadores. Reformulou o elenco, com a saída de 17 atletas. E deixa o lado alvinegro de Belo Horizonte com 29% de aproveitamento no Brasileirão, com o maior número de derrotas no torneio (15) e como a pior defesa do campeonato (45 gols), mesmo diante de times como Goiás – que vive crise política aguda – e o “sem identidade” Grêmio Prudente, ainda mais frágil após perder os poucos destaques da equipe no começo da temporada. Presente na zona de degola desde a décima rodada. Um fracasso abissal e o pior trabalho de sua carreira dirigindo uma equipe grande.

A crise de Luxa é ainda pior que a de 2000, quando foi demitido da Seleção Brasileira e teve seu nome envolvido em problemas com a receita e falsidade ideológica (ou seja, extracampo). O impasse do técnico – que até a perna quebrou este ano, durante um rachão descontraído – é exclusivamente na área técnica. Se o São Paulo não tentar colocá-lo no cargo (a menina dos olhos do Morumbi atualmente é Dorival), Luxemburgo só deve voltar ao futebol em 2011. E tudo indica que não será para uma equipe de ponta, como as que disputam uma Libertadores, por exemplo. Até porque, mesmo em baixa, Luxemburgo ainda custa caro aos clubes, salarialmente falando.

A pergunta é: será que ele conseguirá dar a volta na carreira dirigindo uma equipe média, sem tantos recursos para trazer grandes jogadores (ou jogadores de sua confiança), já que sempre trabalhou com ampla gama de possibilidades? Caso não haja nenhuma reviravolta, essa será a grande reciclagem em sua carreira. E que pode decidir que rumo tomará o técnico de 58 anos.

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