23.9.09

África do Sul contra o tempo

POR WILLIAM DOUGLAS
Obras no Green Point Stadium: a arena será entregue em dezembro deste ano

Uma corrida contra o tempo para receber a próxima Copa do Mundo. Este é o clima na África do Sul, nove meses antes do evento esportivo mais importante da história do continente. Em Cape Town, uma das nove cidades que receberá jogos, ainda há algum trabalho para concluir as obras do Green Point Stadium, futuro palco de sete partidas, incluindo uma das semifinais do torneio.

A nova arena começou a ser erguida em 2007, no lugar onde havia outro estádio. A promessa é que a obra seja entregue em dezembro. Com capacidade para receber 68 mil pessoas, o estádio também será adaptado para receber rugby, o esporte em que os sul-africanos são os melhores do mundo, além de shows musicais. Dados oficiais estimam o gasto para construção da arena em quase R$ 1 bilhão, financiados pelo poder público, que pretende fazer a concessão da obra após a realização do Mundial. Além de finalizar a obra do estádio, o país tem outros desafios, como transporte público e segurança.

Em clima de Copa

É possível perceber o clima de Copa ao conversar com quase todos sul-africanos. A professora Desiree’ M’Call, por exemplo, comprou ingressos para três jogos, apesar de não ter o hábito de freqüentar estádios.“Estou ansiosa com a chance de ver estes jogos aqui”, conta a professora, que acredita em um efeito dominó no futuro. “Acho que depois da Copa as pessoas irão mais aos estádios, teremos estádios grandes e confortáveis”, aposta. A professora também aproveitou para ir ao local conferir o andamento das obras. Isso porque a arena pode ser visitada às quartas-feiras, quando há uma apresentação sobre a história do estádio.

Mundial para todos

Com a Copa do Mundo em um país marcado pelas desigualdades sociais, a Fifa adotou uma postura inédita e distribuirá 120 mil entradas para sul-africanos carentes. A medida agradou a professora Desiree’, apesar de ela já ter pago por suas entradas. “Muitas pessoas que ganharão os bilhetes estão envolvidas na construção dos estádios e não têm condições de comprar. Eles trabalham e preparam o espetáculo, que será de todos.”

Promessa é revolução no transporte

Van aguarda passageiros no centro da cidade: ônibus mais confortáveis devem ser implantados antes do Mundial. Um dos principais desafios para as cidades sul-africanas no próximo ano será o transporte público. Em Cape Town, os ônibus são velhos e a estação de trem é precária (não há metrô, apesar de a cidade contar com aproximadamente 1,2 milhão de habitantes). A saída, é usar táxis e vans. A promessa é que novos ônibus sejam comprados, mas há resistência por parte dos proprietários de vans. Em outras cidades que receberão jogos da Copa, como Pretória, há movimentos de resistência dos perueiros contra os novos ônibus, já que eles temem perder o emprego. Porém, para a professora Desiree’ a melhora é inevitável, e será um dos legados que a Copa deixará. “Muita coisa está sendo feita. Teremos transporte público novo. Além disso, muitas pessoas estão trabalhando em coisas que ficarão para depois, como melhores restaurantes e hotéis”, acredita.

Atrasos surpreendem coreano

Um ano antes do Mundial, os primeiros fanáticos já chegaram na África do Sul para ver a Copa. Um deles é o sul-coreano Cheol Ho Park, 24 anos. Porém, ele se espanta ao ver os atrasos da África do Sul e lembra que, em 2001, um ano antes de a Coréia do Sul receber a Copa, a situação era bem diferente em seu país. “Em 2001, nós tínhamos tudo pronto. Os estádios estavam concluídos, o tráfego era bom. Além disso, na Coréia existem muitos hotéis e motéis para receber as pessoas, e aqui na África do Sul são poucos”, aponta, já citando outro problema grave: “Aqui, as ruas são perigosas”, alerta o coreano, preocupado com a segurança.

Que soem as vuvuzelas

Durante a Copa das Confederações deste ano, as infernais vuvuzelas (cornetas usadas pelos sul-africanos) se tornaram o símbolo do país que receberá a Copa em 2010. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, defendeu o uso do instrumento, dizendo que era “o som da África.” Mas, ao visitar o país, dá para perceber que o próximo mundial será marcado por muito mais que as vuvuzelas. Os olhos do planeta vão olhar para um país desigual, com mazelas e sofrimentos, mas no qual o futebol tem um simbolismo especial: o da esperança de que construir um futuro melhor é possível.

2 comentários:

Leandrus disse...

Que todas essas dificuldades mostradas no texto sirvam de exemplo para o Brasil durante o processo de preparação para receber a Copa de 2014. Problemas com prazos e transportes já foram vistos no Pan de 2007 e não precisam ser repetidos num futuro próximo.

Agora, muito legal essa iniciativa de distribuir ingressos entre aqueles que não pode pagar pelos mesmos (que devem ser muito caros). Só espero que não levem tantas vuvuzelas: tudo bem que é da tradição do país, mas é chato pra diabo...

Gerson Sicca disse...

André, não sei como é a "geografia da insegurança" na África, ou seja, se a bagunça é generalizada.
Quanto a isso, acredito que o Brasil terá menos problemas, pois a estrutura social no Brasil criou suas formas de isolamento, bem garantidas pelos governos. Será possível ter áreas turísticas seguras no Brasil sem maiores dificuldades.
o maior exemplo disso é o Rio: enquanto o pau come das favelas e subúrbios, na zona sul da cidade, especialmente Leblon e Ipanema, dá para andar no calçadão da praia à noite e até jogar um futevôlei sem maior stress.
Abraço!