30.11.08

Ferguson descobre o Brasil

Que jogador brasileiro é sinônimo de diferencialidade – algo a mais que a pura dedicação tática da maioria dos europeus – é fato. Mesmo assim, o futebol inglês nunca foi um grande utilizador da mão-de-obra dos atletas tupiniquins como Itália, Espanha e Portugal, por exemplo. Mas a história está mudando gradualmente. Nunca a Premier League foi tão brasileira, contando em 2008/09 com 20 atletas (22 se consideramos os naturalizados Deco e Eduardo da Silva) mais o técnico Felipão. Antes dessa verdadeira legião, poucos foram os brasileiros que fizeram sucesso na terra da rainha, como Mirandinha (ex-Palmeiras) na década de 80 pelo Newcastle e Juninho (ex-São Paulo), que teve fagulhas de futebol no Middlesbrough.

Clubes como o Manchester United só contaram com brasileiros recentemente. O primeiro foi Kléberson, ainda embalado pela excelente Copa do Mundo conquistada na Ásia. Em 2003, o volante paranaense teve bom começo no time de Sir Alex Ferguson, mas depois caiu no ostracismo e só reapareceu no Flamengo, neste Brasileirão. Depois do fracasso de Kléberson, Ferguson demorou a utilizar novamente um brasileiro nos Red Devils. O meia Anderson, adquirido junto ao Porto em 2007/08, foi prontamente adaptado ao elenco por Ferguson, chegando a atuar como uma espécie de segundo volante, dando qualidade à saída de bola da equipe nas vezes em que era utilizado. Com isso, o brasileiro ganhou espaço na Seleção de Dunga – fez parte do elenco campeão da Copa América 2007 e do bronze olímpico em Pequim 2008 – e teve sua contribuição na dobradinha na conquista da Premier League e da Champions League na temporada passada.

Inspirados no exemplo de Anderson, outros três brasileiros novatos desembarcaram em Old Trafford: o meia Rodrigo Possebon, 19, e os gêmeos e laterais Fábio e Rafael da Silva, 18. “Apalavrados” desde 2007 em negociação com o Fluminense, os gêmeos só puderam ter sua contratação oficializada em julho deste ano, por conta dos irmãos terem menos de dezoito anos à época. Fábio havia se destacado mais que Rafael na campanha irregular do Brasil no Mundial Sub-17, disputado na Coréia do Sul em 2007, onde a Seleção foi precocemente eliminada nas oitavas por Gana.

Mas a instabilidade na lateral-direita do United, que ora utiliza os improvisados Brown e O’Shea, ora utiliza um Gary Neville de futebol muito limitado devido as recentes contusões, fez com que Rafael fosse sendo inserido gradualmente no time. Com isso, Ferguson vai lançando-o aos poucos na equipe principal. E o lateral vai agradando o chefe. “O garoto é atrevido e tem um grande talento. É um menino corajoso para jogar, sem medo de arriscar as jogadas. Ele tem a famosa mentalidade brasileira do "me dê a bola, quero jogar", e toda vez que pegamos a bola, ele pede, se apresenta para jogar. É um grande atributo para um jogador jovem” afirmou Ferguson ao GloboEsporte.com, após a boa atuação na derrota do Manchester United para o Arsenal por 2-1, onde o lateral entrou com personalidade e marcou o gol de honra.

Mesmo com apenas 18 anos, Rafael mostra personalidade e bom futebol. Com dificuldades na parte de marcação – como é de praxe na maioria dos alas de qualidade formados no futebol brasileiro – ele vem se aperfeiçoando e ganhando mais espaço na equipe. A prova foi a titularidade no clássico disputado neste domingo frente ao Manchester City, outra legião brasileira em Manchester. Mesmo com o arisco Robinho caindo pelo seu setor, o lateral mostrou bom futebol, apoiou e ainda marcou Robinho em seu campo de defesa, ajudando o United a bater o City por 1-0. Um prodígio para o futuro surge na direita, que atualmente já tem bons nomes como Maicon, Daniel Alves e Rafinha.

Atento, o Manchster United já possui dois olheiros no Brasil em busca de novos Andersons e Rafaéis. Prova disso foi a última investida dos ingleses a respeito da possbilidade de contratação do meia Douglas Costa, revelação precoce do Grêmio. Enquanto isso, o escocês já começa a lapidar um futuro talento, tanto para o Manchester, quanto para a Seleção.

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