16.6.08

Pagando o preço

Desorganizado, Brasil sucumbe ante a forte marcação e a força ofensiva paraguaia. Mesmo começando a partida com três volantes.

Toda escolha vem sempre acompanhada de uma gama de opções. E ao bancar a escolha de Dunga, a CBF sabia que o técnico teria de mostrar serviço. O futebol pragmático, pautado estritamente nos resultados, encontrou as primeiras dificuldades na disputa da última Copa América. Após a avalanche de críticas – tanto pelo excesso de volantes sem função do time, quanto pela arrogância de Dunga no trato com torcedores e jornalistas – veio o êxito contra a Argentina, em um incontestável 3-0. Apesar de muitos manterem as criticas, Dunga empurrou esse título goela abaixo de seus “perseguidores”. Fez críticas até para a Seleção de 1982, dizendo que faltava “quimica de vencer” a Seleção de Telê Santana.

Pois bem, o ônus de toda essa prepotência é a volta do futebol pragmático e sem critério para a Seleção canarinho. Os empates diante de Colômbia e Peru, a vitória injusta diante do Uruguai, além dos fracos desempenhos nos últimos amistosos contra o fraco Canadá e a ascendente Venezuela não parecem sensibilizar Dunga, que insiste no esquema engessado de três volantes, onde ele não arma o time de acordo. As jogadas se repetem nas infiltrações pelo meio, ou mesmo com os atacantes enfiados, favorecendo balões e ligações diretas. Visivelmente com medo do anúncio de que o Paraguai jogaria com três atacantes – como ocorreu de fato – Dunga entrou com um time que dava a Diego toda a responsabilidade da armação de jogadas do Brasil. Robinho precisava voltar a toda hora para buscar jogo, isolando Luis Fabiano na frente, o que acarretou ao atacante poucas oportunidades reais de gol. O primeiro tempo foi praticamente um jogo ataque contra defesa, onde a forte marcação paraguaia sobre a linha de frente brasileira rapidamente recuperava a bola, abrindo bolas para Haedo Valdez e Cabañas, enquanto Santa Cruz abria espaços em meio à zaga.

A volúpia ofensiva que acarretou o time após a entrada de Anderson e a expulsão de Verón – para mim, deveria ter entrado em lugar de Josué desde o início da partida – foi castigada com o contra-ataque que terminou com o gol do oportunista Cabañas. Depois, o que se viu foi uma equipe sem organização, que passou a atuar um pouco mais pelos lados e insistia nos cruzamentos. Anderson, o mais lúcido da equipe, ainda tentou remates de longa distãncia, criando as chances mais perigosas do escrete canarinho.

Dunga não fala em crise, mas em cobrança. E insiste em colocar a culpa no desgaste proporcionado pelo final de temporada europeu, como afirmou ao UOL Esportes: “Foram dois amistosos, viagens desgastantes. Não podíamos acelerar o ritmo de treinamento, por causa do estado físico dos jogadores depois da temporada na Europa. É muito complicado. Mas temos que reconhecer o mérito do Paraguai e tentar reverter essa situação contra a Argentina em casa". O que não entendo é que diante deste desgaste, ele insiste em convocar jogadores que não jogam regularmente, como Gilberto Silva, Rafael Sóbis e a dupla Mineiro-Josué, que não vêm fazendo no futebol alemão o sucesso dos tempos de São Paulo. Essa política de “só quem joga na Europa presta” se mostra cada vez mais ineficaz em relação a esses atletas.

Infelizmente, com qualquer que seja o resultado que aconteça no jogo frente à Argentina na quarta, Dunga terá sua prova de fogo apenas nas Olimpíadas. Enquanto isso, os torcedores vão preferindo outros programas no horário das partidas do Brasil. Muitos prefiriram a Eurocopa, na derrota do time misto de Portugal diante dos suíços, ou mesmo a emocionante classificação da Turquia frente a República Tcheca. Toda essa situação ocasionada naquela final de Copa América, que fortaleceu Dunga no cargo mesmo após uma campanha irregular, culminada com o título.

Enquanto isso, há cinqüenta anos...

Pelé e Garrincha atuavam juntos pela primeira vez na seleção, no jogo contra a URSS, no dia 15 de junho de 1958, válido pela primeira fase da Copa de 1958, disputada na Suécia. Com os dois em ação juntos, o Brasil jamais saiu derrotado de campo. E na estréia da dupla, atuação em grande estilo. Na biografia “Estrela Solitária – Um brasileiro Chamado Garrincha”, brilhantemente escrita por Rui Castro, ele se inspira no relato da partida feita pelo repórter Ney Bianchi ao periódico Manchete Desportiva, descritos por ele como “os maiores três minutos da história do futebol”, frente ao futebol cientifico praticado pelos soviéticos, do excelente goleiro Lev Yashin. Um pouco de nostalgia em tempos de futebol tão escasso para a Seleção.

[...]”Monsieur Guigue, gendarme nas horas vagas, ordena o começo da partida. Didi centra rápido para a direita: 15 segundos de jogo. Garrincha escora a bola com o peito do pé: 20 segundos. Kuznetov parte sobre ele. Garrincha faz que vai para a esquerda, não vai, sai pela direita. Kuznetov cai e fica sendo o primeiro João* da Copa do Mundo: 25 segundos. Garrincha dá outro drible em Kuznetov: 27 segundos. Mais outro: 30 segundos. Outro. Todo o estádio levanta-se. Kuznetov está sentado, espantado: 32 segundos. Garrincha parte para a linha de fundo. Kuznetov arremete outra vez, agora ajudado por Voinov e Krijveski: 34 segundos. Garrincha faz assim com a perna. Puxa a bola para cá, para lá e sai de novo pela direita. Os três russos estão esparramados na grama, Voinov com o assento empinado para o céu. O estádio estoura de riso: 38 segundos. Garincha chuta violentamente, cruzado, sem ângulo. A bola explode no poste esquerdo da baliza de Iashin e sai pela linha de fundo: 40 segundos. A plateia delira. Garrincha volta para o meio do campo, sempre desengonçado. Agora é aplaudido.
A torcida fica de pé outra vez. Garrincha avança com a bola. João Kuznetov cai novamente. Didi pede a bola: 45 segundos. (…). Vavá a Didi, a Garrincha, outra vez a Pele, Pele chuta, a bola bate no travessão e sobe: 55 segundos. O ritmo do time é alucinante. É a cadência de Garrincha. Iashin tem a camisola empapada de suor, como se já jogasse há várias horas. A avalanche continua. Segundo após segundo, Garrincha dizima os russos. A histeria domina o estádio. E a explosão vem com o gol de Vavá, exactamente aos três minutos.”
[...]

5 comentários:

Arthur Virgílio disse...

Paraguai foi melhor e o Brasil não jogou nada é simples. Contra a Argentina, se o Dunga ajudar, o time pode sair dessa situação.

Legal que aqui no Opinião, Cabanas foi tratado como oportunista e não elefante.

Anônimo disse...

O maior problema do Brasil é o meio-campo. Não dá para Josué e Mineiro serem titulares com Anderson e Elano no banco.

Felipe Brisolla disse...

O Dunga é ridículo... além de arrogante e teimoso, ele tem paixão por um esquema mais parecido com a Grécia de 2004 do que qualquer outra seleção do Brasil...

Não gosto e não consigo torcer contra o Brasil, mas uma derrota para Argentina e a queda nas olimpíadas podem derrubá-lo da seleção..

Tomara...

Gerson Sicca disse...

Onde está o padrão de jogo? O Brasil venceu uma Copa América e não conseguiu definir como vai jogar?
Nenhum paraguaio joga na Europa? Não estão eles em início de temporada?
Cabañas e Cáceres não estão desgastados, com viagens em razão dos jogos da Libertadores e campeonatos nacionais? Em relação ao segundo, o calendário argentinonão é parecido com o europeu?
Pelo menos um alento: a Argentina não jogou nada contra o Equador.

Felipe Moraes disse...

Time amarrado, medroso, inseguro.
E hoje tem Argentina pela frente...

Abraço,
Felipe Leonardo