21.6.08

Português afiado à beira de campo

Dois técnicos que têm o português como a língua-mãe assumem comandos de potências européias com um objetivo principal: trazer uma Champions League, cravando definitivamente o nome do clube entre as principais forças tradicionais no Velho Continente. É o desafio assumido recentemente por Felipão, no comando do Chelsea, e José Mourinho, na Internazionale.

Felipão, apesar de não ter conquistado nenhum título de expressão com a Seleção lusitana, chega com a moral de ter dado um “upgrade” do status de Portugal, em relação a sua representatividade no mundo das esquadras nacionais. De uma campanha vexatória na Copa de 2002 – onde Portugal conseguiu a façanha de não se classificar em um grupo de Coréia do Sul, EUA e Polônia -, Felipão levou a equipe ao vice-campeonato europeu (que apesar de decepcionante, não deixou de mostrar a subida de nível da equipe) e a um quarto lugar na Copa de 2006.

Após toda a campanha vitoriosa, a qual se iniciou em Santa Catarina com a conquista da Copa do Brasil pelo surpreendente Criciúma, passando pela conquista de Brasileiros e Libertadores por Grêmio e Palmeiras e culminando com a conquista do penta na Copa de 2002 – onde bancou Ronaldo e barrou Romário – Felipão chegava, em 2003, ao seu primeiro desafio na Europa, em uma seleção que ainda tinha como recordação o seu melhor momento na Copa no longínquo ano de 1966, com Eusébio e cia., na conquista do terceiro lugar da competição. Começou barrando o experiente Vítor Baía e promovendo a entrada do luso-brasileiro Deco, o que causou protesto de muitos medalhões da equipe, como Luís Figo e Rui Costa. No entanto, blindado pelo caso Romário, em 2002, Felipão seguiu seu trabalho, viu a estrela do goleiro Ricardo brilhar na Euro 2004 e passou bem perto de conquistar a Eurocopa, já que os caprichos dos deuses do futebol resolveram dar aquele título ao pragmático futebol da Grécia.

A consolidação de uma nova base, formada por jogadores da Euro, mais os emergentes atletas que estavam surgindo no futebol português, como Tiago, Hugo Viana e Cristiano Ronaldo levaram Portugal a sonhar com uma final de Copa, após ter eliminado seleções do porte de Inglaterra e Holanda. Mesmo assim, o quarto lugar elevou Felipão ao status de herói nacional na terrinha. Cinco anos e meio depois, após outra frustrante derrota frente a Alemanha, Felipão ruma ao Chelsea depois de ter recusado anteriormente uma proposta de dirigir a própria Seleção inglesa. Os Blues apostam no seu estilo agregador e disciplinador para fazer com que o ego do elenco do time londrino não extrapole, para que finalmente o milionário Chelsea alcance o tão sonhado status de campeão europeu. E com as contratações certas, "Big Phil" pode atingir a mais esse objetivo na sua já vitoriosa carreira. Scolari caminha a passos largos para se consagrar como o melhor e mais vitorioso técnico brasileiro da história, na minha opinião.

Outro que tem um grande desafio é José Mourinho. Conhecido como um grande tático e de temperamento explosivo, Mourinho chega para acabar com a seca européia da equipe nerazzurri. Há quase 35 anos, a Inter não sabe o que é estar no topo da Europa. A atual bicampeã italiana não hesitou em trazer o português, que estava sem trabalhar desde a saída do Chelsea. Campeão europeu pelo Porto, foi bicampeão inglês pelos Blues, mas fracassou na tentativa de conquistar a Europa novamente, o grande plano de Abramovitch.

Auxiliar de grandes nomes do cenário europeu, como Bobby Robson e Louis Van Gaal, Mourinho passou por Benfica e União Leiria, antes de brilhar no Porto, onde se consagrou. Suas maiores virtudes são a visão de jogo e a inteligência, que incrementados aos milhares de euros de Moratti e ao calor dos tiffosi interistas têm tudo para dar uma boa química.

Apesar do estilo turrão que a mídia passa, Mourinho me surpreendeu no bate-papo do pré-jogo entre Brasil e Argentina na última quarta. Mostrando-se sóbrio, ponderado e com colocações inteligentes, o português estava no Mineirão observando alguns de seus futuros comandados – Júlio César, Maicon, Adriano, Zanetti, Burdisso e Julio Cruz – e fez observações interessantes não só acerca dos seus futuros comandados, mas sobre o futebol europeu e brasileiro. Também disse que seu estilo explosivo só acontece dentro do campo de jogo, quando a adrenalina sobe.

Mas a sua personalidade forte é inconfundível e já deu as caras na Inter, ao afirmar categoricamente ao diário luso Record: "Eu trabalho, eu escolho, eu treino. Todas as decisões são minhas. Eu é que mando aqui". Além da briga pelos títulos italiano e europeu, Mourinho busca um número para incrementar o currículo: está a apenas dois jogos de completar 100 partidas sem perder jogos em casa nas equipes que comandou (50 pelo Chelsea e 38 pelo Porto).

Sem dúvida, um grande desafio na carreira de ambos. E pode ser um recomeço, no caso de Mourinho, que saiu desgastado do Chelsea. Ou a afirmação do estilo Felipão, de tanto sucesso no Brasil e em Portugal.

Um comentário:

Anônimo disse...

Felipão sai vitorioso, mesmo sem ter dado um grande título à seleção portuguesa. Ele aumentou o nível do futebol português, além de ter trazido mais profissionalismo. Não foi a toa que os portugueses ficaram tristes com a sua decisão de ir pro Chelsea. Abraços.