22.9.10

"Neymargate": mais do mesmo

No mar de dirigentes ruins/péssimos que assola o futebol brasileiro, pensou-se que o presidente do Santos, Luiz Álvaro Ribeiro de Oliveira, fosse diferente. Suas entrevistas e atitudes desde que assumiu o Santos no lugar do “eterno” Marcelo Teixeira mostravam isso - principalmente nos planos de renovação de contrato de Ganso e Neymar, meninas dos olhos do clube. Porém, o “Neymargate” mostrou que na hora em que precisou ser mais racional, o cartola agiu igual a todos os outros que presidem clubes brasileiros: com excesso de paternalismo e passionalidade. Parece uma característica intrínseca a todos eles. Assim como já havia ocorrido com o presidente Luiz Gonzaga Belluzzo à frente do Palmeiras, principalmente na reta final do Brasileirão de 2009.

No episódio em que todos erraram (Neymar, Dorival Júnior e Santos), o maior perdedor é o clube da Baixada Santista. Perdeu um técnico de qualidade e interrompeu um trabalho vencedor, quase que impossibilitou que o clube tentasse voltar à briga pelo título nacional e colocou uma pressão absurda sobre os ombros de sua maior estrela, que mostrou imaturidade no estopim dos fatos, de apenas 18 anos.

No comunicado oficial, o Santos fala em “crise de autoridade excessiva”, “atitude intempestiva” e “quebra da hierarquia”. Mesmo que o técnico não tenha cumprido/comunicado com aquilo que havia sido acordado entre ele e a direção santista – na minha visão, o único equívoco de Dorival no episódio – o tato do clube com o erro de Dorival não foi o mesmo em relação ao da atitude de Neymar. Algo óbvio, dado que os interesses mercadológicos sobre Neymar são gigantes, principalmente após a recusa de transferência ao Chelsea. A disparidade de julgamentos não leva em conta que Neymar só começou a se apresentar como aspirante a craque exatamente pelas mãos de Dorival. Ou seja, mesmo para os tais “investidores” do atacante, a saída de uma das pessoas que melhor lidou com Neymar, falando estritamente no campo de jogo, também pode ser prejudicial ao jogador.

Algumas perguntas ficarão para o futuro incerto do jogador e do próprio Peixe. Como o elenco passará a tratar de Neymar no futuro? Ele suportará a enorme pressão que foi depositada em seus ombros ao fim deste episódio? Até que ponto o novo treinador poderá ser flexível com Neymar? A base de dois títulos em 2010 - algo que o Santos não conquistava desde a era Pelé, em 1968 - está se desfazendo. André, Wesley, Robinho, e agora, Dorival. Na troca de acusações que se seguiu nesta quarta entre as duas partes, o maior perdedor foi o próprio Santos, que sai muito enfraquecido do episódio. E perdendo a oportunidade de mostrar que seu comando era ocupado por um cartola de mentalidade diferente do lugar-comum que impera há muitos anos no futebol brasileiro.

Um comentário:

Erick Amirat disse...

É lamentável, ao meu ponto de vista, você mandar embora um técnico com currículo vencedor no comando da equipe e que foi humilhado publicamente pela "estrela" da equipe, um garoto de 18 anos. O principal problema será ver como irá se comportar o Neymar após esse episódio. Será que ele irá crescer mentalmente e perceber o erro que fez ou vai crescer sobre o clube que lhe deu visibilidade para o mundo ???