Clássico paulista neste ano de 2009 virou prato cheio para a imprensa esportiva local. Tudo porque os grandes paulistas não parecem falar a mesma língua: exigem as mesmas coisas, mas parecem não querer agir para que elas efetivamente aconteçam. O assunto da vez é, novamente, a tão falada destinação de ingressos à torcida da equipe visitante, cuja importância se sobrepõe a um confronto decisivo para a classificação de Santos e Corinthians no Paulistão.
Ao destinar cerca de 6% da carga equivalente a 34 mil ingressos do Pacaembu para o clássico alvinegro deste domingo, o Corinthians novamente reabriu uma ferida que ainda doia, anteriormente amenizada pela louvável atitude conjunta entre Corinthians e Palmeiras, na divulgação e promoção feita no dérbi realizado em Presidente Prudente no último dia 08 de março. Uma atitude motivada em grande parte pela intransigência do São Paulo no Estádio do Morumbi, no clássico contra o Corinthians, em fevereiro. Mas que teve início com o próprio Palmeiras, no episódio do gás de pimenta – ainda não esclarecido totalmente – durante as semifinais do Paulistão 2008 na partida disputada no Parque Antártica ao invés do Morumbi. Na minha visão, o estopim para as posteriores atitudes do clube em relação ao próprio Palmeiras e aos outros “co-irmãos” Corinthians e Santos. E que se agravou com o entrave entre São Paulo e FPF, na polêmica da última partida do Brasileirão 2008, envolvendo o árbitro Wagner Tardelli, o presidente da FPF Marco Pólo Del Nero e o São Paulo.
Acontece que o tão falado "Estatuto do Torcedor" (na íntegra aqui) não tem nada em seus artigos especificando a cota que deve ser destinada aos visitantes. Esclarece que a o organizador do evento – no caso, o mandante da partida – é o responsável por todos os preparativos, desde confecção de ingressos, venda em pelo menos cinco postos de venda diferentes com antecedência de pelo menos 72 horas a partida, além das medidas cabíveis para a segurança do torcedor. Além disso, os preços dos ingressos – respeitando a hierarquia de setores no estádio – deve ser igual para locais e visitantes. O Santos sempre destinou cerca de 10% de entradas para clássicos disputados na Vila Belmiro, o Palmeiras recentemente começou a utilizar do mesmo artifício nos no Parque Antártica, o São Paulo no Morumbi e por fim, o Corinthians no Pacaembu. Sucessão de fatos que quebra uma tradição das disputas dos grandes jogos paulistas no Morumbi, por conta de seu porte e capacidade. E cada um dos "brigões" feriu o Estatuto com atitudes distintas nos últimos confrontos entre si.
No entanto, em outros estados que utilizam especificamente um estádio de grande porte para receber os clássicos – Maracanã e Mineirão, por exemplo – o estardalhaço no que diz respeito a divisão de ingressos nos clássicos é quase nenhum, a exemplo do que ocorria entre os paulistas – mesmo utilizando-se do privado Morumbi – até pouco tempo atrás. Apesar do equívoco dos dirigentes em relação à carga de ingressos e local do jogo, eles não estão totalmente errados. Mas a falta de entendimento entre os grandes paulistas prejudica a eles mesmos. Proprietário do Morumbi, o São Paulo perde renda de aluguéis e cota sobre rendas pela utilização de seus domínios, o que invariavelmente traz mais gastos do clube para a sua manutenção. Prova disso é que em 2008 – por conta da reforma do Pacaembu em parte do primeiro semestre – o Corinthians foi responsável por quase 10% da renda bruta obtida nas rendas do Morumbi, à época. E apesar de reconhecer a importância que possui o Corinthians, como locatário, na receita para a manutenção do estádio, a diretoria tricolor insiste em bater apenas na tecla da autossuficiência. E como disse o diretor de futebol do São Paulo, João Paulo de Jesus Lopes, a importância do Corinthians (e aqui acrescento dos outros grandes também) na utilização do Morumbi torna-se mais um trunfo político para a valorização do estádio para a Copa de 2014: "A opção do Corinthians em jogar lá mesmo depois da liberação do Pacaembu é bem-vinda, porque consolida o Morumbi como o estádio da cidade", afirmava o dirigente à época das finais da Copa do Brasil 2008, onde o Corinthians arrecadou cerca de R$ 1,4 milhões com a renda da primeira partida contra o Sport. Também perdem os rivais por não utilizarem um estádio mais estruturado e de maior capacidade, e consequentemente com maior apoio das arquibancadas e mais renda nas bilheterias.
Responsável - ao menos na teoria - pelas interferências na resolução da polêmica, a FPF lava as mãos, já que o presidente Marco Polo Del Nero se preocupa mais em reverter a suspensão de 90 dias imposta pelo STJD a ele por conta dos desdobramentos do “Caso Tardelli”. No Brasileirão, a CBF deve seguir o mesmo caminho da neutralidade. Enquanto isso, dirigentes dos clubes continuam batendo boca pela imprensa e causando polêmicas, o que se reflete diretamente nas arquibancadas. Se os próprios dirigentes não chegam a um denominador comum, porque o torcedor o faria? As declarações – indiretamente – soam como desculpas para o aumento dos confrontos entre torcedores rivais. As consequências, todos nós conhecemos.
Atitudes como as tomadas no último dérbi Corinthians-Palmeiras deveriam ser a regra, não exceção. Promover o espetáculo, faturar em cima das grandes marcas e de toda a mística e a história sobre a rivalidade ajudaria a todos mutuamente, sem a matemática maçante e exata das cotas. Mas quem vai dar o primeiro passo? Em um momento onde se cogita o tal "cadastro" do torcedor que vai aos campos - na minha opinião, medida totalmente paliativa - políticos e dirigentes deveriam se preocupar em colocar o Estatuto em prática, na sua totalidade. Porque nesses entraves entre entidades e agremiações, quem fica no meio do fogo cruzado é o torcedor, o qual não possui mínimas garantias de assistir uma partida de futebol em segurança. E que cada vez mais, é tratado como gado, não como o potencial consumidor que é.
Um comentário:
Briguinha desnecessária. Está na hora dos clubes andarem de mãos dadas, para melhorar a situação.
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