30.8.07

Choque de Gestão


A empresa aérea irlandesa Ryanair recentemente inovou o mercado oferecendo uma proposta irrecusável a seus clientes: vôos grátis. Como é possível uma companhia aérea não cobrar passagem? Eles cobram por todos os serviços de bordo, e vendem espaços para propagandas nas poltronas. A partir dessa curiosidade quero comentar a passagem de David Beckham pelo Real Madrid. Comprado pela bagatela de 36 milhões de euros Beckham incrementou o time de nomes estrelares que ficou conhecido como galáticos. Como acompanhamos os galáticos não foram tão
brilhantes como o esperado, e o time acabou desmontado. Fracasso? Depende do ponto de vista. Com a vinda de Beckham o Real Madrid pode subir em 60% o valor que cobrava por anúncios. As camisetas com o nome do astro venderam sem parar e pagaram grande parte do valor do seu passe, logo nas suas primeiras semanas no Santiago Bernabéu. O valor cobrado por amistosos disparou, e o mercado asiático passou a contratá-los. Saldo da conta: Beckham rendeu ao real, segundo o próprio clube, 440 milhões de euros, em 4 anos.

Enquanto isso os grandes clubes brasileiros, salvo as raras exceções, amargam constantes contas no vermelho, não conseguem segurar os jovens talentos nem por uma temporada, e não podem fazer grandes contratações. Elas só aparecem se algum grupo estrangeiro resolve lucrar em cima da paixão nacional, nada de andar com as próprias pernas. No mundo em que vivemos, de capitalismo globalizado, os clubes perderam o momento, fazendo a manutenção de suas estruturas paternalistas pseudodemocráticas, ignorando noções básicas de gestão e vendendo barato uma mina de ouro, com um público consumidor que os trata não como clubes, mas como verdadeiras religiões. Além disso, os times se mostram cegos ao não adaptar seus produtos à capacidade de consumo da maioria de seus torcedores, mantendo os materiais ditos “oficiais” de suas marcas com preços astronômicos, limitando-os a uma pequena classe com alto poder de consumo, ou obrigando o pobre trabalhador brasileiro a empenhar metade de seu salário com uma camiseta. E depois criticam a pirataria...

O pior é que essa oligarquia que “administra” os clubes está arraigada em várias estâncias, formando um poderoso cartel (clube dos 13) que obriga autoridades a se dobrarem a suas decisões, e controlando a confederação brasileira, haja vista a manutenção eterna do cargo de seu presidente. A resposta ao atraso se materializa no nível do campeonato brasileiro, baixíssimo como sabemos, mas só vai ter seu desfecho quando o público responder abandonando estádios e marcas, e cobrando efetivamente mudanças na direção de seus clubes do coração.

Um comentário:

André Augusto disse...

Esse negócio do marketing é tão presente que por vezes massacra o futebol. Esse mesmo Beckham, que se vê pressionado por ter de jogar nos EUA, mesmo baleado, por ter de cumprir obrigções com os patrocinadores.

E realmente falta uma cultura de melhor utilização desses recursos para o bem dos clubes
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