29.6.07

Bandeiras e Tabus

A nudez da assistente Ana Paula de Oliveira e a suposta revelação de um jogador homossexual na TV mostram o quanto o futebol é um meio machista. A sociedade brasileira é, mas o futebol potencializa toda essa tendência. No seio da sociedade, mulheres cada vez mais conquistam seu espaço, são responsáveis por famílias e cargos de confiança. Os homossexuais são responsáveis por organizar no Brasil a maior reunião do gênero em todo o mundo, a Parada GLBT, além de começarem a conquistar espaço nas artes, cultura e mídia em geral. Mas no futebol, o simples fato de se mencionar coisas que já se tornaram “comuns” na cultura brasileira são motivo de alarde nas mesas-redondas, nos botecos e afins.

Mesmo concordando com a igualdade, há alguns pontos a serem colocados. No caso da Ana Paula, talvez esse não seja o melhor momento de sua carreira para aceitar posar nua. Com erros capitais nas partidas entre Santos e São Paulo pelo Paulistão, e de Botafogo versus Figueirense pela semi-final da Copa do Brasil, ela foi posta de lado pela comissão de arbitragem da Federação Paulista de Futebol (FPF). Foi obrigada a apitar jogos de quarta divisão e jogos festivos, o que por si só é uma humilhação a um profissional que alcançou o patamar técnico que Ana Paula alcançou. Por que Ana Paula não pode errar e árbitros como Carlos Eugênio Simon, Héber Roberto Lopes e Márcio Resende de Freitas, autores de erros grotescos em diversos jogos decisivos, erram e não são punidos como a auxiliar? Isso só mostra o machismo nada velado que rege o mundo do futebol. No entanto, na minha opinião, acho que faltou bom senso a Ana Paula. Sabendo que estava num mau momento da carreira e sendo ela uma das pioneiras da arbitragem feminina no Brasil, porque ela acenou positivamente com a proposta da Playboy? Se tanto ela lutou para ser reconhecida pelo seu trabalho, ela toma essa outra decisão que pode reforçar o machismo que tanto a massacra como profissional. Claro que o dinheiro deve ter sido ótimo, mas a ponto de ela correr o risco de pôr todo o seu trabalho a perder. Será que valerá a pena? Para ver o quanto é difícil conquistar algum respeito no campo da arbitragem, nessa semana, a Federação Alemã de Futebol anunciou que a juíza Bibiana Steinhaus vai apitar jogos da segunda divisão do país. A alemã, de 28 anos, é filiada à FIFA desde 2005 e apitava jogos das divisões inferiores da Alemanha. Ela será a primeira mulher a apitar jogos do tipo por lá. Imaginem o quanto ela não ralou para chegar a esse nível.

A questão da homossexualidade no futebol é muito mais delicada. Antes da polêmica envolvendo o dirigente do Palmeiras José Cyrillo Jr. e o jogador do São Paulo Richarlyson, onde o cartola afirmou que o atleta do Tricolor era gay, toda a discussão gerada pelo infeliz comentário foi alimentada pelo alvoroço de um suposto anúncio da homossexualidade de um jogador de um clube grande de São Paulo no Fantástico. Mas antes desse episódio, o diário Lance já havia feito em sua manchete um trocadilho infeliz envolvendo o jogador. Quando Richarlyson marcou o gol contra, na partida frente ao Palmeiras, a manchete do jorna no dia seguintel “Que time é teu” mostrou-se uma brincadeira de muito mau-gosto, levando em consideração a importância que o Lance tem no cenário do jornalismo esportivo nacional.

Mas assumir a homossexualidade no futebol é tabu. No discurso, todos dizem que aceitam e que não há problema, mas nos bastidores não ocorre dessa forma. O homossexualismo existe no futebol, como em qualquer outro setor da sociedade, mas não é admitido no futebol por este se tratar de um antro que mostra a masculinidade exacerbada de dirigentes, atletas, imprensa e torcedores. Caio Maia, do site Trivela, destaca bem um exemplo desta passagem ao citar em sua coluna o exemplo do jogador Justin Fashanu, que atuou pelo Nottingham Forrest da Inglaterra nos anos 80. Atleta assumidamente gay e negro, o jogador incomodava a muitos no meio do futebol inglês, que declaradamente assumiam o preconceito contra ele. O jogador acabou se suicidando oito anos depois de assumir a sua opção sexual.

De lá pra cá, os homossexuais conseguiram diversas conquistas, mas o tabu parece longe de ser quebrado, infelizmente. Atletas podem posar nus, homossexuais ganham espaço na mídia. Para muitas pessoas, manter esteriótipos como corpos sarados e artistas gays faz parte dos interesses mercadológicos. Mas que clube quer associar sua marca a um atleta gay? Enquanto a hipocrisia reinar no futebol, o espaço para esse tipo de profissioinais será cada vez menor e mais reprimido.

3 comentários:

Sidarta Martins disse...

Eu torço para que ambos botem pra quebrar. Com gente preconceituosa não tem muito jeito de conversar e argumentar. É uma disputa que precisa ser vencida.

Abraços,

Arthur Virgílio disse...

A situação de ambos é complicada. A Ana Paula já pôs a carreira a perder por posar nua e o Richarlyson caso assuma a homossexualidade não jogará mais em nenhum time, culpa do machismo que reina no mundo da bola.

Anônimo disse...

olá a todos do blog!

não acompanho muito futebol, nem gosto, mas parabéns pelo trabalho que vcs vem desenvolvendo. vou repassar para os amigos que apreciam o assunto.

abraços


Vinícius Lepore