Dois técnicos que têm o português como a língua-mãe assumem comandos de potências européias com um objetivo principal: trazer uma Champions League, cravando definitivamente o nome do clube entre as principais forças tradicionais no Velho Continente. É o desafio assumido recentemente por Felipão, no comando do Chelsea, e José Mourinho, na Internazionale.Felipão, apesar de não ter conquistado nenhum título de expressão com a Seleção lusitana, chega com a moral de ter dado um “upgrade” do status de Portugal, em relação a sua representatividade no mundo das esquadras nacionais. De uma campanha vexatória na Copa de 2002 – onde Portugal conseguiu a façanha de não se classificar em um grupo de Coréia do Sul, EUA e Polônia -, Felipão levou a equipe ao vice-campeonato europeu (que apesar de decepcionante, não deixou de mostrar a subida de nível da equipe) e a um quarto lugar na Copa de 2006.
Após toda a campanha vitoriosa, a qual se iniciou em Santa Catarina com a conquista da Copa do Brasil pelo surpreendente Criciúma, passando pela conquista de Brasileiros e Libertadores por Grêmio e Palmeiras e culminando com a conquista do penta na Copa de 2002 – onde bancou Ronaldo e barrou Romário – Felipão chegava, em 2003, ao seu primeiro desafio na Europa, em uma seleção que ainda tinha como recordação o seu melhor momento na Copa no longínquo ano de 1966, com Eusébio e cia., na conquista do terceiro lugar da competição. Começou barrando o experiente Vítor Baía e promovendo a entrada do luso-brasileiro Deco, o que causou protesto de muitos medalhões da equipe, como Luís Figo e Rui Costa. No entanto, blindado pelo caso Romário, em 2002, Felipão seguiu seu trabalho, viu a estrela do goleiro Ricardo brilhar na Euro 2004 e passou bem perto de conquistar a Eurocopa, já que os caprichos dos deuses do futebol resolveram dar aquele título ao pragmático futebol da Grécia.A consolidação de uma nova base, formada por jogadores da Euro, mais os emergentes atletas que estavam surgindo no futebol português, como Tiago, Hugo Viana e Cristiano Ronaldo levaram Portugal a sonhar com uma final de Copa, após ter eliminado seleções do porte de Inglaterra e Holanda. Mesmo assim, o quarto lugar elevou Felipão ao status de herói nacional na terrinha. Cinco anos e meio depois, após outra frustrante derrota frente a Alemanha, Felipão ruma ao Chelsea depois de ter recusado anteriormente uma proposta de dirigir a própria Seleção inglesa. Os Blues apostam no seu estilo agregador e disciplinador para fazer com que o ego do elenco do time londrino não extrapole, para que finalmente o milionário Chelsea alcance o tão sonhado status de campeão europeu. E com as contratações certas, "Big Phil" pode atingir a mais esse objetivo na sua já vitoriosa carreira. Scolari caminha a passos largos para se consagrar como o melhor e mais vitorioso técnico brasileiro da história, na minha opinião.
Outro que tem um grande desafio é José Mourinho. Conhecido como um grande tático e de temperamento explosivo, Mourinho chega para acabar com a seca européia da equipe nerazzurri. Há quase 35 anos, a Inter não sabe o que é estar no topo da Europa. A atual bicampeã italiana não hesitou em trazer o português, que estava sem trabalhar desde a saída do Chelsea. Campeão europeu pelo Porto, foi bicampeão inglês pelos Blues, mas fracassou na tentativa de conquistar a Europa novamente, o grande plano de Abramovitch.Auxiliar de grandes nomes do cenário europeu, como Bobby Robson e Louis Van Gaal, Mourinho passou por Benfica e União Leiria, antes de brilhar no Porto, onde se consagrou. Suas maiores virtudes são a visão de jogo e a inteligência, que incrementados aos milhares de euros de Moratti e ao calor dos tiffosi interistas têm tudo para dar uma boa química.
Apesar do estilo turrão que a mídia passa, Mourinho me surpreendeu no bate-papo do pré-jogo entre Brasil e Argentina na última quarta. Mostrando-se sóbrio, ponderado e com colocações inteligentes, o português estava no Mineirão observando alguns de seus futuros comandados – Júlio César, Maicon, Adriano, Zanetti, Burdisso e Julio Cruz – e fez observações interessantes não só acerca dos seus futuros comandados, mas sobre o futebol europeu e brasileiro. Também disse que seu estilo explosivo só acontece dentro do campo de jogo, quando a adrenalina sobe.
Mas a sua personalidade forte é inconfundível e já deu as caras na Inter, ao afirmar categoricamente ao diário luso Record: "Eu trabalho, eu escolho, eu treino. Todas as decisões são minhas. Eu é que mando aqui". Além da briga pelos títulos italiano e europeu, Mourinho busca um número para incrementar o currículo: está a apenas dois jogos de completar 100 partidas sem perder jogos em casa nas equipes que comandou (50 pelo Chelsea e 38 pelo Porto).
Sem dúvida, um grande desafio na carreira de ambos. E pode ser um recomeço, no caso de Mourinho, que saiu desgastado do Chelsea. Ou a afirmação do estilo Felipão, de tanto sucesso no Brasil e em Portugal.
Um comentário:
Felipão sai vitorioso, mesmo sem ter dado um grande título à seleção portuguesa. Ele aumentou o nível do futebol português, além de ter trazido mais profissionalismo. Não foi a toa que os portugueses ficaram tristes com a sua decisão de ir pro Chelsea. Abraços.
Postar um comentário