O presidente boliviano Evo Morales protesta contra o veto da FIFA jogando futebol em Chacaltaya, a 5.395 metros de altitude.
Muitos dizem que uma das virtudes encontradas na prática do futebol é sua universalidade. Todos podem praticar o futebol livremente, pois ele não exige muito para ser jogado. Basta uma bola, gols e um lugar “plano”, onde todos possam correr sem dificuldade. E desde que o futebol surgiu como o conhecemos hoje, por volta do final do século XIX, os empecilhos para a sua prática eram poucos.
Mas uma decisão polêmica tomada pela FIFA veio a mexer num dos pilares da livre prática do esporte bretão, já em âmbito profissionalizado: A partir de agora, cidades que estejam situadas a mais de 2.500 metros do nível do mar estarão proibidas de receber jogos internacionais. Alegando a preservação da integridade física dos atletas, a entidade máxima do futebol justificou o seu veto. Ou seja, as cidades afetadas não poderão receber jogos das eliminatórias e torneios internacionais. No entanto, será que essa proibição tem cunho somente de preservar os atletas? Houve algum tipo de estudo detalhado dos reais efeitos da altitude no metabolismo dos jogadores?
O que me parece é que o argumento da FIFA parece encobrir interesses maiores, principalmente de países tradicionais no cenário do futebol mundial. Inicialmente, os maiores beneficiados com o veto seriam Brasil, Argentina e Uruguai, países que pleiteavam há tempos o direito de não jogar nas alturas. Do outro lado, os países mais afetados pelo veto já começaram a se mobilizar. Bolívia, Peru, Colômbia e Equador já se manifestaram totalmente contra a nova imposição da FIFA e prometem brigar até o fim pelo direito de mandarem os jogos em qualquer local de seus respectivos territórios.
Outra observação a ser feita é que esta medida afeta diretamente aos países andinos. Na Europa, os principais centros de prática do futebol não chegam a atingir 2 mil metros de altitude. Na Ásia, onde existem diversas regiões que se encaixariam nesse veto da FIFA - como o Himalaia, Nepal e o Tibete – não são centros onde a prática do futebol é maciça. A África também não é afetada, pois a cidade mais alta do continente é a capital da Etiópia, Adis Adeba, que está situada a pouco mais de 2.400 metros do nível do mar. Na Oceania, a cidade de Cabramburra, Austrália, é considerada a mais alta no continente, com apenas 1.500 metros de altitude, enquanto na América do Norte, Estados Unidos e Canadá também não teriam seus principais centros afetados. Já no México, conhecido pela sua geografia acidentada, o veto não afetará a sua capital, a Cidade do México (2.250 m), onde a seleção mexicana manda suas partidas, mas afetaria algumas cidades com equipes tradicionais do futebol local, como Toluca (2.660 m).
Assim, a partir da nova decisão da FIFA, Bolívia, Equador e Colômbia não poderão mais realizar os jogos entre seleções em suas capitais, respectivamente La Paz (3.700m), Quito (2.800m) e Bogotá (2.650m). Mesmo com o questionamento da autonomia de escolha dos locais, a questão do mando de jogos entre seleções é discutível e se houvesse um consenso entre as federações, tais problemas poderiam ser contornados. No entanto, os clubes sediados nessas cidades seriam podados do direito de mandar um jogo de Copa Libertadores, por exemplo. Teriam de migrar para cidades localizadas abaixo do limite do veto, afetando o direito dos torcedores de incentivar o clube de coração em seus estádios.
Esse post não defende que sejam disputados jogos em condições extremas de risco aos atletas, mas o modo arbitrário pela qual a decisão da FIFA foi tomada, na calada da noite e sem uma discussão e pesquisas mais amplas. Muitos fisiologistas do esporte, como o Dr. Emerson Silami Garcia, pesquisador do Laboratório de Fisiologia do Exercício (LAFISE, da UFMG), acharam a decisão da FIFA acertada. “A exposição a grandes altitudes, principalmente quando acompanhada de exercícios físicos intensos como o futebol, é potencialmente perigosa para a saúde humana, podendo causar desde leve desconforto até a morte. Em altitudes acima de 1500 metros, ocorre uma redução significativa na capacidade física aeróbia (relacionada com exercícios prolongados). A partir da altitude de aproximadamente 2800 metros, quando a ascensão é rápida (por exemplo, quando a pessoa viaja do Rio de Janeiro para Quito de avião) os efeitos são mais acentuados. As doenças de altitude que mais causam preocupação são o edema pulmonar de altitude elevada e o edema cerebral de altitude”. O chamado “Mal da Montanha” causado pela falta de oxigênio, também é um dos males que podem afetam os atletas.
A decisão tomada pelo presidente da FIFA, Joseph Blatter, foi baseada em um relatório do Flamengo após a viagem a Potosí (4.100m), após jogo válido pela Libertadores deste ano. O dossiê foi avalizado pela CBF e enviado a Blatter. O mesmo Blatter que em 1996 foi contra este mesmo tipo de medida. Na época, a FIFA desejava impedir a realização de partidas de futebol em cidades a mais de 3.000 metros de altitude. O atual presidente da FIFA se colocou ao lado dos bolivianos, principais afetados pela aprovação da nova regra. "Eu nasci nas montanhas. Meu povo na Suíça está diante das montanhas mais altas da Europa. Por isso não tenho medo da altura", disse Blatter. Inclusive, a frasede Blatter recebeu o reconhecimento da Federação Boliviana de Futebol, que a estampou numa placa em frente ao Estádio Hernando Siles, em La Paz.
Então, o por quê da mudança brusca no posicionamento de Blatter? Essa e muitas outras incógnitas prometem polemizar ainda mais o assunto. Os países andinos, liderados pelo polêmico presidente boliviano Evo Morales, prometem enviar uma comissão à FIFA para pleitear o direito a prática universal do futebol. Países como o Chile e a Argentina já manifestaram seu apoio aos bolivianos e o Brasil ficará isolado nessa questão, já que a CBF é amplamente favorável a medida.
Mas uma decisão polêmica tomada pela FIFA veio a mexer num dos pilares da livre prática do esporte bretão, já em âmbito profissionalizado: A partir de agora, cidades que estejam situadas a mais de 2.500 metros do nível do mar estarão proibidas de receber jogos internacionais. Alegando a preservação da integridade física dos atletas, a entidade máxima do futebol justificou o seu veto. Ou seja, as cidades afetadas não poderão receber jogos das eliminatórias e torneios internacionais. No entanto, será que essa proibição tem cunho somente de preservar os atletas? Houve algum tipo de estudo detalhado dos reais efeitos da altitude no metabolismo dos jogadores?
O que me parece é que o argumento da FIFA parece encobrir interesses maiores, principalmente de países tradicionais no cenário do futebol mundial. Inicialmente, os maiores beneficiados com o veto seriam Brasil, Argentina e Uruguai, países que pleiteavam há tempos o direito de não jogar nas alturas. Do outro lado, os países mais afetados pelo veto já começaram a se mobilizar. Bolívia, Peru, Colômbia e Equador já se manifestaram totalmente contra a nova imposição da FIFA e prometem brigar até o fim pelo direito de mandarem os jogos em qualquer local de seus respectivos territórios.
Outra observação a ser feita é que esta medida afeta diretamente aos países andinos. Na Europa, os principais centros de prática do futebol não chegam a atingir 2 mil metros de altitude. Na Ásia, onde existem diversas regiões que se encaixariam nesse veto da FIFA - como o Himalaia, Nepal e o Tibete – não são centros onde a prática do futebol é maciça. A África também não é afetada, pois a cidade mais alta do continente é a capital da Etiópia, Adis Adeba, que está situada a pouco mais de 2.400 metros do nível do mar. Na Oceania, a cidade de Cabramburra, Austrália, é considerada a mais alta no continente, com apenas 1.500 metros de altitude, enquanto na América do Norte, Estados Unidos e Canadá também não teriam seus principais centros afetados. Já no México, conhecido pela sua geografia acidentada, o veto não afetará a sua capital, a Cidade do México (2.250 m), onde a seleção mexicana manda suas partidas, mas afetaria algumas cidades com equipes tradicionais do futebol local, como Toluca (2.660 m).
Assim, a partir da nova decisão da FIFA, Bolívia, Equador e Colômbia não poderão mais realizar os jogos entre seleções em suas capitais, respectivamente La Paz (3.700m), Quito (2.800m) e Bogotá (2.650m). Mesmo com o questionamento da autonomia de escolha dos locais, a questão do mando de jogos entre seleções é discutível e se houvesse um consenso entre as federações, tais problemas poderiam ser contornados. No entanto, os clubes sediados nessas cidades seriam podados do direito de mandar um jogo de Copa Libertadores, por exemplo. Teriam de migrar para cidades localizadas abaixo do limite do veto, afetando o direito dos torcedores de incentivar o clube de coração em seus estádios.
Esse post não defende que sejam disputados jogos em condições extremas de risco aos atletas, mas o modo arbitrário pela qual a decisão da FIFA foi tomada, na calada da noite e sem uma discussão e pesquisas mais amplas. Muitos fisiologistas do esporte, como o Dr. Emerson Silami Garcia, pesquisador do Laboratório de Fisiologia do Exercício (LAFISE, da UFMG), acharam a decisão da FIFA acertada. “A exposição a grandes altitudes, principalmente quando acompanhada de exercícios físicos intensos como o futebol, é potencialmente perigosa para a saúde humana, podendo causar desde leve desconforto até a morte. Em altitudes acima de 1500 metros, ocorre uma redução significativa na capacidade física aeróbia (relacionada com exercícios prolongados). A partir da altitude de aproximadamente 2800 metros, quando a ascensão é rápida (por exemplo, quando a pessoa viaja do Rio de Janeiro para Quito de avião) os efeitos são mais acentuados. As doenças de altitude que mais causam preocupação são o edema pulmonar de altitude elevada e o edema cerebral de altitude”. O chamado “Mal da Montanha” causado pela falta de oxigênio, também é um dos males que podem afetam os atletas.
A decisão tomada pelo presidente da FIFA, Joseph Blatter, foi baseada em um relatório do Flamengo após a viagem a Potosí (4.100m), após jogo válido pela Libertadores deste ano. O dossiê foi avalizado pela CBF e enviado a Blatter. O mesmo Blatter que em 1996 foi contra este mesmo tipo de medida. Na época, a FIFA desejava impedir a realização de partidas de futebol em cidades a mais de 3.000 metros de altitude. O atual presidente da FIFA se colocou ao lado dos bolivianos, principais afetados pela aprovação da nova regra. "Eu nasci nas montanhas. Meu povo na Suíça está diante das montanhas mais altas da Europa. Por isso não tenho medo da altura", disse Blatter. Inclusive, a frasede Blatter recebeu o reconhecimento da Federação Boliviana de Futebol, que a estampou numa placa em frente ao Estádio Hernando Siles, em La Paz.
Então, o por quê da mudança brusca no posicionamento de Blatter? Essa e muitas outras incógnitas prometem polemizar ainda mais o assunto. Os países andinos, liderados pelo polêmico presidente boliviano Evo Morales, prometem enviar uma comissão à FIFA para pleitear o direito a prática universal do futebol. Países como o Chile e a Argentina já manifestaram seu apoio aos bolivianos e o Brasil ficará isolado nessa questão, já que a CBF é amplamente favorável a medida.
A chiadeira também tem base na evolução desses países no futebol. Antes, eram belíssimos sacos de pancada de brasileiros, argentinos e uruguaios. Agora, a altitude favorece os donos da casa, quando vencem. E se essa proibição for ratificada, pode-se abrir um precedente sem limites para o questionamento outras condições climáticas e de relevo para a prática do futebol, como o frio e o calor intenso ou mesmo a baixa umidade do ar, que afetam os atletas tão ou mais severamente do que a altitude. Será que todos querem somente o bem dos jogadores? Essa exclusão é realmente necessária?
Para quem deseja se aprofundar sobre a polêmica, pode conferir as colunas de Ubiratan Leal, do Trivela e do inglês Tim Vickery, da BBC. É a guerra nas alturas!
Para quem deseja se aprofundar sobre a polêmica, pode conferir as colunas de Ubiratan Leal, do Trivela e do inglês Tim Vickery, da BBC. É a guerra nas alturas!
7 comentários:
Eu acho que as partidas tem de serem jogadas onde tiver um time de futebol...
Estamos prestes a ver o q há muito não acontecia, países boicotando a Copa do Mundo. Pelo menos as eliminatórias, q no limite, é uma fase da Copa. Evo Morales e seu "patrão" Hugo Chaves são completamente capazes de tomar atitudes dessa magnitude. O q ao meu ver estão em seu direito. Não se pode impedir uma seleção de jogar em sua capital, isso é uma afronta ao bom senso.
Só mais uma pergunta: O Rússia vai ser proibida de jogar com temperaturas abaixo dos 10º negativos? Será q é só porque a Rússia é politicamente muito mais forte que países latino-americanos?
enfim...
A seleção boliviana está tão ruim nos últimos anos. Quem sabe não chama o Evo Morales para dar uma força.
Essa proibição é uma verdadeira palhaçada. Se fosse assim, deveria ser impedido de se jogar na neve, no calor...
André, valeu pela visita :)
Como achou o blog? hehe
Quanto ao tópico em questão, por um lado, é claro que deve ser extenuante jogar numa altitude dessas. Por outro, privar um time de jogar em casa, com sua torcida, em seu campo, no local onde conseguiu a classificação, é ridículo.
Jogar a mais de 35º ou abaixo de -5º vai ser proibido? Jogar às 12h na Bahia vai ser proibido? Enfim, lamentável a atitude da FIFA. Que agora também anuncia a proibição de comemoração de gols com máscaras e quaisquer outros "adereços".
Se quiser entrar em contato comigo, manda pra braitnermoreira@yahoo.com.br :)
Acredito que a decisão da FIFA foi acertada, afinal se for pra liberar em altas altitudes, deve se liberar realizações de Copas do mundo no gelo, da groenlandia.
Afinal, se a condição local interfere no resultado, passsa a ser injusto e desgastante aso atletas.
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