20.6.07

França caribenha

Sonho verde: Guadalupe sai do ostracismo e atinge semi-final da Copa Ouro

Lilian Thuram rouba a bola no setor defensivo e passa para o lateral-direito Pascal Chimbonda. Chimbonda avança pela linha de fundo, corta dois adversários e cruza. Franck Ribery domina a bola com o peito, dribla o zagueiro, chuta da entrada da pequena área e marca um golaço. Gol da França? Não, gol de Guadalupe...
Guadalupe é uma ilha caribenha de colonização francesa, que sequer é habitada por 500 mil pessoas. O arquipélago não possui autonomia própria, é, na verdade, um Departamento Ultra-Marinho da França. O fato de não ser propriamente um país faz com que Guadalupe não seja filiada à FIFA, apenas à Concacaf. Até mesmo a sua entidade nacional de futebol, a Liga Guadalupense de Futebol, é subordinada a França.
Por não fazer parte da FIFA, Guadalupe não pode participar das Eliminatórias para Copas do Mundo. Dessa maneira, a seleção do território concentra todas suas forças para a disputa do qualificatório da Copa Ouro (espécie de Copa América da América do Norte e Central).
E surpreendentemente, neste ano, Guadalupe foi muito bem e credenciou-se, de forma inédita, para a Copa Ouro-2007, conquistando uma das quatro vagas reservadas às equipes caribenhas. No caminho, Guadalupe passou por Martinica (principal rival da equipe), Saint-Martin, Dominica, São Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda e República Dominicana. Derrotas apenas para a Guiana (por duas vezes), Cuba e Haiti.
Após este bom retrospecto, todo mundo acreditava que Guadalupe já estaria satisfeita apenas por estar entre as doze maiores seleções da Concacaf. Ledo engano.
O empate em um gol com o Haiti (na estréia) e a vitória por 2 a 1 em cima do Canadá mostrou que a equipe tinha potencial para galgar vôos maiores na competição. Nem mesmo a derrota para a Costa Rica por 1 a 0, tirou o brilho da campanha e a conseqüente classificação às quartas-de-final do torneio.
Para muitos, Guadalupe já havia chegado longe demais. Ninguém acreditava que frente a um adversário mais tradicional, Honduras, a equipe verde atingiria outro sucesso. Resultado final: Guadalupe 2, Honduras, 1. E pensar que os hondurenhos comandados por Leon (meia do Genoa, da Itália) haviam batido o poderoso México, na primeira fase e, pelo mesmo placar...
O próximo desafio da zebra caribenha serão os próprios mexicanos, inclusive. Apesar de ser o maior detentor de títulos da Copa Ouro (quatro), Los Chicos ainda não mostraram seu melhor futebol. Ninguém duvida que Guadalupe possa surpreender novamente...
A equipe do Guadalupe é modesta. Ela é formada em quase sua totalidade por jogadores que atuam na Segunda Divisão francesa ou no semi-profissional campeonato guadalupense. Exceção feita a presenças de quatro jogadores: o defensor David Sommeil, do Sheffield United; o atacante Aurelien Capouen, do Nantes; e o goleiro Franck Grandel e o centroavante Loic Loval, ambos do Utrecht – HOL.
Mesmo assim, grande parte do sucesso de Guadalupe deve-se a outro nome: Jocelyn Angloma. O jogador que já passou por grandes clubes europeus, como Paris Saint-Germain, Internazionale, Olympique de Marselha e Valencia, estava encerrando sua carreira em um clube do território, o Etoile de Morne-à-l'Eau, quando decidiu aceitar o convite da federação e jogar pela seleção de Guadalupe.
O curioso é que o veterano Angloma atuou pela seleção francesa durante aproximadamente cinco anos. Em 36 partidas com os Le Bleus o lateral-direito marcou, inclusive, um gol. Hoje, aos 41 anos, Angloma adaptou-se. Virou meio-campista e principal articulador da equipe. Seus números melhoraram progressivamente: após 12 jogos, já anotou 4 tentos.
Você deve estar se perguntando: pode isso? Pode sim. Como Guadalupe não é filiada à FIFA, qualquer atleta nascido neste território pode jogar pela seleção francesa, sem nenhum problema. Isso faz com que Angloma possa jogar livremente pelo país. Algo que jogadores da seleção da França, como Thuram, Chimbonda e Ribery também podem fazer. Basta querer...

Raio-X da Zebra:
Nome da federação: Ligue Guadeloupéenne de Football
Como chegou: 4º lugar na Copa das Nações do Caribe
Participações na Copa Ouro: Estreante
Ranking da Fifa: -
Primeira partida internacional: em 1934, na Martinica: Guadalupe 0X6 Martinica
Maior goleada aplicada: em 2001, no Haiti: Guadalupe 11X0 Ilhas Virgens
Maior goleada sofrida: em 1975, na Martinica: Guadalupe 2X8 Martinica
Campanha no último ano (até 20/06): 29 jogos, 17 vitórias, 3 empates e 9 derrotas. 56 gols marcados e 34 gols sofridos.
Time-base: Grandel; Fleurival, Vertot e Sommeil; Commingues, Auvray, Angloma, Socrier e Tacalfred; Capoue e Loval. Técnico: Roger Salnot.

2 comentários:

Arthur Virgílio disse...

Uma pena que essas seleções se apagam na mesma rapidez que surgiram. Lembra do Senegal? Foi muito bem em 2002 e depois sumiu do cenário futebolístico.

André Augusto disse...

Sempre é bom fugir da mesmice...legal aparecerem seleções e times zebrando por ae...da um tempero legal...