2.2.11

Para quebrar a banca

Coincidência ou não, no mesmo dia em que anunciou seu primeiro superávit desde a compra por Roman Abramovich (por 70 milhões de libras, mais pagamentos de dívidas de 90 milhões), o Chelsea resolveu apostar todas as suas fichas para a recuperação nesta Premier League e principalmente, na busca pela Champions League – maior obsessão desde que o clube passou às mãos do mecenas russo. Duas contratações cruciais para sanar os problemas da equipe comandada por Carlo Ancelotti, o atacante Fernando Torres e o zagueiro David Luiz, juntos, custaram impressionantes 73 milhões de libras. Para se ter uma ideia, somente o valor dessas duas transferências corresponde a pouco mais de 10% de todo o dinheiro usado pelo bilionário Abramovich em contratações, desde que oficializou a aquisição do clube londrino, em 2003 (investia no clube desde 2000): 700 milhões de libras.

Dono do maior "flop" do futebol mundial – a vinda de Shevchenko, junto ao Milan, por 46 milhões de euros –, o Chelsea havia "sossegado" no mercado das contratações bombásticas, acabando por manter várias de suas estrelas, contratando alguns bons jogadores e tentando investir um pouco mais em jovens talentos a serem lapidados em sua base (Mancienne, Kakuta, Di Santo, Bruma). Porém, o time acabou envelhecendo, nenhuma grande promessa foi puxada para o time de cima e o clube viu o Manchester United voltar ao topo do futebol dentro da Inglaterra e da própria Europa. A tríplice coroa de 2009/10 (Inglês, Copa da Inglaterra e Copa da Liga) mostrava uma base ainda respeitável. Mas a saída do zagueiro Ricardo Carvalho, as contusões que assolaram o elenco e o "isolamento" de Drogba como único fazedor de gols (Anelka mostra irregularidades e Kalou não é de confiança) fez o time perder terreno novamente nesta temporada: Manchester United e City, Arsenal e até o Tottenham vêm mostrando futebol mais consistente. E no último dia de janela, era hora de sacudir a ilha.

Torres e Drogba são goleadores, possuem técnica e podem, perfeitamente, causarem estragos. Mesmo com bom porte físico, não são atacantes de movimentação previsível. Em suma, uma dupla respeitável. Atrás, o promissor David Luiz, já integrante do renovado brasil de Mano Menezes, deve formar dupla com Terry (que não vinha atuando 100% fisicamente há tempos), além do suporte do brasileiro Alex, em fase final de recuperação. Mas o investimento, como qualquer outro, possui riscos. E consideravelmente grandes. De passagem consistente pelo Liverpool (142 partidas e 81 gols, cerca de 0,58 gol/jogo), na sua temporada de estreia pelos Reds, o camisa 9 anotou 30 vezes em 41 presenças, em 2007/08. Porém, no último ano e meio em Merseyside, conviveu com uma fase irregular e seguidas lesões. Decisivo na final da Euro 2008, com o gol do título espanhol, "El Niño" já não brilhara tanto pela Fúria. Foram apenas cinco gols em 18 partidas neste ano. Mas a médida no clube continuava boa. Porém, o desempenho pelo Liverpool também registou queda. Na Copa do Mundo de 2010, não mostrou a mesma estrela, perdeu a posição e também ficou fora de diversos jogos da sua equipe. Nesta temporada, foram apenas 12 bolas na rede, em 29 presenças (pelos Reds, 9 gols em 22 jogos da Premier League). Contudo, os 26 anos do espanhol mostram que ele pode chegar ao auge em breve.

David Luiz ainda é jovem. E ao contrário de Torres, é seu primeiro desafio em uma liga de primeiro escalão (a melhor da atualidade, na minha visão). E o exemplo pode ser seu próprio ex-companheiro de Benfica, o meio-campo Ramires: contratado no início desta temporada, por 22 milhões de euros, o ex-cruzeirense vinha de excelentes temporadas com a camisa encarnada. Contudo, mesmo com o tato apurado de Ancelotti para com os brasileiros, o camisa 7 demorou para embalar. Só agora, pouco depois da metade de 2010/11, o brasileiro começa a reeditar suas boas jornadas pelo Chelsea.

Há dez pontos do ainda invicto e líder Manchester United, na Premier League, a cartada principal deverá ser a rápida inclusão de ambos no esquema tático do técnico italiano para a fase mata-mata da cobiçada Champions. A chegada à zona de classificação do torneio continental para a próxima temporada deve ser mesclada a uma espécie de laboratório, para que os reforços possam se integrar nos afunilamentos do torneio europeu. E ajudar o Chelsea a chegar longe, o mais rápido possível. Ainda assim, a aposta é a médio prazo. Mas a jogada foi alta e ousada.

Um comentário:

Filipe "Larsson" Prado disse...

Depois que operou, Torres teve dificuldade pra jogar o que já jogou. E acredito que o ambiente do Chelsea não seja o mais propício - muita pressão - a uma boa recuperação. Vai repetir Shev.