20.2.11

Quase fenomenais

Antes do clássico diante do Santos, neste último domingo, Ronaldo foi até o gramado do Estádio do Pacaembu para se despedir dos torcedores corinthianos e receber diversas homenagens por toda a sua brilhante carreira, recém-encerrada na última semana. Em diversas declarações e em sua própria camisa de despedida, o Fenômeno diz que aprendeu a amar o Timão, exaltando seus torcedores. Porém, se seguisse à risca aos desejos de seu coração, o atacante teria ido para o Flamengo, do qual é torcedor confesso, no final de 2008. Acabou optando pelo projeto do time de Parque São Jorge, mais ambicioso – e que inaugurou a tendência de voltas apoteóticas de grandes craques brasileiros do passado.

Operado de outra grave contusão no joelho, em fevereiro de 2008, o camisa 9 fez a parte final da recuperação na Gávea, chegando a envergar o uniforme de treinamento do Fla e se condicionando no rubro-negro. Com as declarações de amor e admirador do time, parecia natural que Ronaldo defendesse seu clube de coração. Mas o Flamengo não foi o único time que quase teve o Fenômeno em suas fileiras. Mesmo com todo o talento do jovem atacante, ele poderia ter estourado para o mundo bem longe de Belo Horizonte, onde surgiu com brilho no Cruzeiro.

Após dar seus primeiros chutes pelo São Cristóvão, Ronaldo tinha metade do seu passe ligada ao ex-jogador Jairzinho (conhecido como Furacão, campeão do Mundo e artilheiro da Copa de 1970), que o descobriu em 1989, em um torneio de futebol de salão realizado no Rio, levando-o aos Cadetes (alcunha do time carioca que o revelou). Em 1992, o ex-camisa sete da seleção ofereceu a revelação ao recém-fundado Paraná Clube. Por 50% de seus direitos, os paranistas desembolsariam cerca de R$ 150 mil. Mas os diretores não “pagaram para ver”, considerando tal aposta muito alta para um franzino garoto de 16 anos, de acordo com o site Parana Online.

Porém, não foi só o Paraná que deixou o Fenômeno escapar. Na busca incessante de um clube para seu pupilo, Jairzinho também ofereceu o atacante ao São Paulo de Telê Santana, no início de 1993. Porém, o vitorioso técnico, responsável pela resposta final, estava na Europa, curtindo merecidas férias após o recém-conquistado primeiro campeonato mundial do Tricolor, como mostra reportagem de época do jornal Estado de S. Paulo. Sem a resposta final do comandante (que tinha olho clínico para jovens talentos, vide o sucesso do “Expressinho”, em 1994), Ronaldo acabaria comprado pelo Cruzeiro no mesmo ano, por R$ 250 mil

Antes de arrebentar no Brasileirão daquele ano, com 12 gols, o então garoto se juntou ao elenco profissional da Raposa que excursionou pela Europa. Particularmente, impressionou a muitos em Portugal, em série de amistosos com clubes locais. E no empate entre Benfica e Cruzeiro, em agosto e 1993, o então técnico dos encarnados Jesualdo Ferreira só fala do garoto. Entrava em campo, novamente, o destino. A sondagem feita junto à direção do clube mineiro revelou que o atacante poderia ser do Benfica por dois milhões de dólares. Mas os portugueses atravessavam grave crise financeira – inclusive, com rescisões por atraso de salários – e não tinham o dinheiro. Quando voltaram à carga por ele, Ronaldo já havia sido negociado com o PSV, em 1994, por seis milhões (valorização de 300%!). “Era impossível não ficar admirado. Tinha uma mobilidade e uma potência anormais para um miúdo de 16 anos. Em poucos minutos deu para projetar um grande futuro”, declarou o técnico ao site Maisfutebol.

Profissionalmente, Ronaldo atuou por apenas sete clubes em uma carreira de 18 anos. Mesmo com sua trajetória podendo ser escrita com outros personagens ou enredo, parece consenso que, desde jovem, tratava-se de um grande talento. E sua história corroborou uma trajetória fenomenal.

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