6.11.09

Igualdade ibérica (e européia)

Futuros galácticos custarão ainda mais caro aos cofres do Real Madrid com o fim da regalia tributária para jogadores estrangeiros na Espanha.

A montagem de uma nova leva galáctica ao Real Madrid no futuro está comprometida – ou ao menos, se tornará mais custosa -, já que nesta semana, a Câmara baixa espanhola (algo semelhante a Câmara dos Deputados brasileira) aprovou projeto de lei que aumenta a tributação de 24% para 43% aos estrangeiros que trabalham na Espanha e tem ganhos superiores a 600 mil euros por ano. Concebida inicialmente para atrair a chegada de investidores internacionais para a Espanha, a lei caiu como uma luva aos badalados e bem pagos jogadores de futebol. Por conta isso, a lei de isenção foi batizada como “Lei Beckham”, já que entrou em vigor em 2004, temporada em que o inglês chegou a peso de ouro ao Real Madrid.

Nem é preciso dizer que como tudo que atinge diretamente o bolso das pessoas, o anúncio causou polêmica e divisão no futebol espanhol: de um lado, os futebolistas espanhóis – principalmente entre médios e pequenos – que acham justa a uniformidade da mordida do Leão a todos os atletas. De outro, os astros do futebol espanhol, presidentes dos clubes da elite espanhola, além do presidente da Liga de Fútbol Profesional (LFP), José Luis Astiazarán, que organiza os principais torneios do país. À sombra da discussão, times ingleses, italianos e alemães – citando apenas as ligas mais fortes – comemoram o fim da Lei Beckham, já que adotam leis semelhantes de tributação igualitária com taxas próximas aos 43% da Espanha sobre os impostos e agora poderão competir em igualdade com os exorbitantes salários espanhóis em busca dos craques.

Na prática, a lei entraria em vigor apenas em 1º de janeiro de 2010, valendo apenas para os jogadores contratados a partir desta data. Atualmente, 67 jogadores da primeira divisão ultrapassam o teto da lei. Real Madrid com 13 jogadores – Cristiano Ronaldo, Kaká, Benzema, Van der Vaart, Van Nistelrooy, Pepe, Diarra, Dudek, Metzelder, Gago, Higuaín, Drenthe, Lassana Diarra e Marcelo – e Barcelona, com sete - Ibrahimovic, Henry, Keita, Touré, Chygrynskiy, Maxwell e Abidal (Alves não entra, já que reside há mais de cinco anos na Espanha) – dominando a lista. "Deveria haver uma igualdade tanto para eles [estrangeiros] como para nós [espanhóis] em todos ao aspectos”, afirmou o zagueiro Mané, do Getafe. “É um passo para a Europa e o mundo para igualar seu futebol. Nós vivemos com essa desvantagem e sabemos do que estamos falando. Para os jogadores, significará uma diminuição de seus salários, mas eles já ganham bem o suficiente. Para os clubes os contratos agora serão mais caros”, analisou ao site Deutsche-Welle o diretor do Bayern de Munique e presidente da Associação de Clubes Europeus (ECA), Karl-Heinz Rummenigge. O vice-presidente do Milan, Adriano Galliani, e o ídolo madridista Raúl foram outros que comemoraram a nova resolução.

Mesmo não mostrando tal veemência, o presidente da UEFA, Michel Platini, acaba por se mostrar favorável, ao dizer que tal artifício “é assunto da Espanha”, assim como a proibição de estampa de patrocínios de bebidas e sites de apostas em países como a França, por exemplo. São posições com as quais o presidente é amplamente favorável, assim como a implantação do sistema “6+5” no futebol europeu, para favorecer a revelação de novos talentos e a valorização dos atletas nativos dentro da própria Europa, freando a importação de talentos africanos e sul-americanos. Além disso, a nova medida vai equiparar os principais campeonatos europeus, já que a concorrência entre os grandes clubes será maior e mais justa; favorece o surgimento de novos valores nas categorias de base espanholas e eliminar qualquer tipo de regalias dadas aos estrangeiros; por fim, pode "amenizar" a polarização de La Liga entre Barcelona e Real Madrid, que conquistaram sete das nove ligas espanholas disputadas nessa década.

2 comentários:

Rafael Igor disse...

É uma disparidade muito grande de tributação. Mas é uma decisão que deve ser tomada, a priori, por interesses espanhóis. Se a Espanha acha certo o fim da "Lei Beckham", bom para o futebol, que tem mais um fator desequilibrador em contratações eliminado.

Arthur Kleiber disse...

Nao acho que havera uma diminuicao do poderio de Barca e Real na liga espanhola, pois ainda sim eles continuam sendo os mais ricos. Mas, como vc disse, outros grandes clubes de fora vao comemorar. Leonardo, na temporada passada enquanto ainda era dirigente, disse que nao fosse pelos impostos, Henry seria jogador do Milan.