26.11.09

Carta ao senhor presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras, Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo


Caro Professor,

O senhor passou dos limites. A cada nova atitude mostra-se comum, igual aos demais que nos acostumamos a ver ao longo destes tantos anos de futebol. Seu passado, construído a duras penas, a base de balas, sangue e muito suor, parece que não lhe deu respaldo para se diferenciar dessa corja de presidentes torcedores. Cartolas que são incapazes de pensar duas vezes ao incitar fanáticos, doentes, que agem em muitas oportunidades como se não tivessem cérebro.

Lamentável ver que o senhor se igualou a esses dirigentes. Porém, não sejamos hipócritas. Óbvio que o verbo “matar”, esbravejado por sua pessoa na quadra da Mancha, talvez não signifique chegar as vias de fato. Mas acredite que para alguns, as suas palavras soaram como hino, como atestado de imensas barbaridades que já cometeram ao longo de suas vidas à frente de suas “organizadas”. A maioria dos que lá estava foi ao delírio ao ouvir suas palavras. Pessoas que – um amigo costuma dizer que essa gente tem a seguinte profissão: torcedor organizado, pois tem tempo de sobra para arquitetar atitudes impensadas – agem impunemente e que acabam virando massa de manobra na mão de diretorias corruptas, desorganizadas e despreparadas. Não estou dizendo que é o caso da sua administração.

Não é necessário afirmar aqui que o senhor tem o direito de dizer o que quiser, quando quiser e na hora que quiser. Graças ao senhor e muitos outros honrados “homens” hoje podemos nos manifestar da forma que quisermos. Minha geração tem essa dívida com a tua. Mas o senhor há de convir que suas palavras são, no mínimo, imprudentes... isso para sermos brandos, vai. Convenhamos que no auge da sua empolgação o senhor exagerou... perdeu a mão, como muito se diz por aí. Sua posição de presidente de um dos clubes mais vitoriosos da história do futebol brasileiro não permite que se comporte como se fosse um fanático torcedor de arquibancada. Dessa forma, além de encher sua oposição de argumentos (infelizmente, argumentos válidos), está contribuindo para depreciar a instituição que aprendeu a amar, respeitar, torcer, vibrar, sofrer...enfim. O senhor não é mais aquele torcedor que se sentava à frente da TV ou nas arquibancadas do Palestra. Aliás, é também, mas principalmente hoje é muito mais que isso. Sua figura é a pessoa jurídica do clube, podemos assim dizer. Alguém que responde pelo desatino dos atletas em campo, pela gorda e extensa folha de pagamentos, pelas escolhas certas e erradas ao longo das competições e do ano. É impressionante como parece que o senhor não percebeu tudo isso.

Apenas para citar e concluir, as declarações pós derrota sobre o Fluminense também demonstraram um certo desequilíbrio, convenhamos! Na ocasião, o senhor pareceu um descontrolado, alguém prejudicado que não mostrava forças para reagir e só restava esbravejar, chutar o balde e atirar tudo no ventilador. Não olhou para trás e notou as imperfeições do seu time, dos seus atletas. Comportou-se como torcedor opinando em sites de relacionamentos da internet. Foi puro coração e esqueceu de apontar os defeitos de um elenco que em nove partidas conquistou apenas uma vitória. Preferiu tampar o sol com a peneira e culpar única e exclusivamentem o árbitro, que ao contrário do senhor possui um passado pouco abonado. Preferiu fechar os olhos, pelo menos publicamente, diante da degringolada geral que o time dava a cada jogo, e culpar o juiz, o gramado, o céu, a chuva... enfim.

Aonde tudo isso vai parar? Já não consigo dimensionar. O único fato que me ocorre é que sua administração vem sofrendo rasteiras... o pior é que são rasteiras de si próprio! Triste, muito triste professor Belluzzo, pois apostei todas as minhas fichas no senhor (não que isso importe muito, mas enfim). Espero não ter jogado todas ralo abaixo... quem sabe ainda não consigo recuperar algumas que já perdi?

4 comentários:

Felipe Brisolla disse...

O homem que recebe ligações do Lula sobre a política monetária nacional deveria saber se porta em público. Uma pena mesmo. Sempre tive uma ótima imagem do Belluzo... Mas incitar os marginais dessa forma é um pecado. Sem perdão!

André Augusto disse...

Infelizemente, ele tombou ante a paixão (por vezes irracional) do futebol. Um intelecto tão exaltado por todos, a esperança de um pensamento diferente da cartolagem brasileira cai por terra nos dois episódios dignos de torcedor da turma do amendoim.

Como vc disse, ele REPRESENTA a instituição Palmeiras, e como tal, deveria ter um pouco de bom senso antes de executar tais ações. Mesmo ele alegando que estava numa festa privada, tudo o que ele faz/fala toma proporções públicas, o que faz com que o argumento dele caia por terra.

É óbvio que ele não falou no sentido de matar ninguém. Mas para alguns animais que gostam de se fardar de torcedores organizados para barbarizar, tal declaração pode ser um sinal. Além de ofender um rival gratuitamente.

Mesmo mais instruído que os seus psrceiros de clube dos 13, Belluzzo teve uma atitude digna de Eurico, Marcelo Teixeira, Andrés Sanches e tantos outros péssimos dirigentes que impedem o crescimento de seus clubes e tanto mal fazem ao futebol brasileiro. É realmente uma pena!

Arthur Kleiber disse...

Eu tb acho que ele não queira matar ninguém literalmente. Mas fica difícil acreditar depois de ele dizer que daria porrada no Simon se o encontrasse na rua, além de incitar outras pessoas para fazer o mesmo. Será mesmo que o Belluzzo é assim tão diferente? Aposto que muitos dos animais presentes nas organizadas só agem de maneira bossal quando em grupo ou raivosos, exatamente como fez o presidente palmeirense.
Lamentável...

Vinicius Grissi disse...

Uma pena.

É exatamente como foi dito: um homem certamente diferenciado pela inteligência, acabou caindo no lugar comum dos boçais dirigentes que temos no Brasil.